Bem-aventurados aqueles...
O
Evangelista S. Mateus propõe-nos hoje uma das mais belas páginas dos
Evangelhos: o “Sermão da montanha”, depois de nos ter dito que
Jesus, « começou
a percorrer toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas, proclamando o
Evangelho do Reino e curando entre o povo todas as doenças e
enfermidades. »
Provavelmente que estas
curas ― o espectacular causa sempre admiração e sensação! ― e o
ensinamento proposto por Jesus, foram depressa anunciados ao longe e
ao perto e por isso mesmo, « seguiram-no grandes multidões,
vindas da Galiléia, da Decápole, de Jerusalém, da Judeia e de além
do Jordão », multidões ávidas não só de sensacional, mas também
de ensinamentos claros, objectivos, e dados com amor e mansidão,
visto que, como diz o salmista, « o
Senhor ilumina os olhos dos cegos, o Senhor levanta os abatidos, o
Senhor ama os justos; o Senhor protege os peregrinos, ampara o órfão
e a viúva e entrava o caminho aos pecadores. »
Foi
numa dessas ocasiões de grande afluência, que « ao ver as
multidões, Jesus subiu ao monte e sentou-se. Rodearam-no os
discípulos e Ele começou a ensiná-los, dizendo », não só para os
discípulos que o rodeavam, mas também e sobretudo para aquelas
“multidões” que o seguiam :
« Bem-aventurados... »
Mas
bem-aventurados quem e porquê?
« Os
pobres em espírito, porque deles é o reino dos Céus;
os
que choram, porque serão consolados;
os
humildes, porque possuirão a terra;
os
que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados;
os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia;
os
puros de coração, porque verão a Deus;
os
que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus;
os
que sofrem perseguição por amor da justiça, porque deles é o reino
dos Céus »
E ainda
mais, mais forte...
« Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem,
vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós. »
E para
culminar estas bem-aventuranças, Jesus promete e afirma com força
aos que o escutam:
« Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa
recompensa ».
Estas
bem-aventuranças são na verdade um autêntico hino ao amor de Deus, à
sua misericórdia para connosco. Na verdade são bem-aventurados todos
aqueles que colocam as suas vidas e todo o seu ser nas Mãos de Deus;
que eles sejam “pobres em espírito”, que eles “chorem” por causa das
vicissitudes da vida, que sejam “humildes”, que tenham “fome ou sede
de justiça”, os que são “misericordiosos”, os que são “puros de
coração”, “os que promovem a paz”, os que sofrem perseguição” e de
maneira particular aqueles que por causa de Jesus, são insultados,
perseguidos, maltratados, caluniados e, muitas vezes martirizados...
E se assim acontece, é porque todos eles amaram, amaram ao ponto de
tudo aceitarem por amor de Cristo.
Para
melhor o compreendermos, bastará recordar os nomes de tantos santos,
muitos dos nossos tempos, que a Igreja elevou às honras dos altares:
Santa Teresa de Ávila, S. João da Cruz, S. Francisco Xavier, S. João
de Brito, Santo António de Lisboa e, mais perto de nós, Francisco e
Jacinta de Fátima, Rita Amada de Jesus e Alexandrina de Balasar.
Todos eles sofreram com amor perseguições, calúnias, insultos e o
martírio, para dois dos acima citados.
Mas
todos eles tinham esta certeza da promessa divina:
« Alegrai-vos e exultai, porque é grande nos Céus a vossa
recompensa ».
Bem-aventurados todos aqueles que praticam os dois primeiros
Mandamentos de Deus: “Amar a Deus sobre todas as coisas e o
próximo como a nós mesmos”.
Não
esqueçamos nunca o que dizia a bem-aventurada Madre Teresa de
Calcutá: “Nós seremos julgados pelo amor que demos”.
Assim
como não devemos esquecer o que S. Paulo afirma na epístola de hoje:
« Mas
Deus escolheu o que é louco aos olhos do mundo para confundir os
sábios ; escolheu o que é vil e desprezível, o que nada vale aos
olhos do mundo, para reduzir a nada aquilo que vale, a fim de que
nenhuma criatura se possa gloriar diante de Deus. »
Afonso
Rocha
Comentário para o 4º Domingo do Tempo Comum, ano A |