Deus ama cada um de
nós de maneira exclusiva
O
Evangelho deste dia começa com uma frase que não deixa
sombra de dúvidas àqueles que a lêem:
“Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim,
não é digno de Mim ; e quem ama o filho ou a filha mais do
que a Mim, não é digno de Mim”.
Quererá isto dizer que não devemos amar os nossos pais, os
nossos irmão, a nossa família, em geral?
Certamente que não, porque se assim fosse estaríamos em
falta no que respeita ao segundo Mandamento de Deus que nos
pede de amar-mos o nosso próximo como a nós mesmos.
Será que Jesus se tenha enganado quando proferiu uma frase
tão “abrupta”, tão “peremptória” e cheia de exclusividade?
Seguramente que não, porque Jesus conhecia perfeitamente a
Lei e, como Ele mesmo disse, Ele não vinha para abolir à
Lei, mas para a assumir, para a concluir, a tornar eficaz.
Então porque razão aplicou Ele uma sentença tão dura, quando
não bem interpretada? Por múltiplas razões e, a mais
importante delas resumindo-se a uma só palavra: AMOR.
Deus ama cada um de nós de maneira exclusiva e, esta
exclusividade implica que o amemos acima de todas as coisas,
o que implica o cumprimento do primeiro Mandamento da Lei.
Mas este “amor exclusivo” não nos impede de amarmos os
nossos pais, os nossos irmãos, a nossa família e todos os
filhos de Deus, crentes ou não crentes...
Amar a Deus e amar os nossos entes queridos, são dois amores
que sendo um só amor, são igualmente “exclusivos”, porque
diferentes um do outro, mesmo se saídos da mesma fonte, do
mesmo coração.
Por mais que procuremos explicar este binómio amoroso, nem
sempre nos é fácil compreendê-lo, porque o nosso
entendimento se debate então com a razão, que só pode julgar
daquilo que é concreto, daquilo que é palpável, cartesiano,
como dizem os filósofos.
O
amor a Deus não é temporal e por isso mesmo não se pode
medir de maneira cartesiana: só a nossa alma tem olhos para
ver e medir esse amor, mas nós nem sempre deixamos à nossa
alma a possibilidade desse discernimento, dessa tomada de
posição tão importante para a nossa subida espiritual...
Mas, visto que falámos de amor, devemos estar convictos que
o amor tal como as rosas tem um perfume beatífico, mas tem
também, como estas, espinhos agudos, penetrantes e
dolorosos, o que nos leva a dizer que como não há rosas sem
espinhos — falamos de rosas naturais —, também não há amor
sem sofrimento. Eis portanto porque razão Jesus diz logo a
seguir: “Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é
digno de Mim”. A Cruz de Cristo é não só o símbolo do
sofrimento, mas também e sobretudo o símbolo do amor, um
amor que é forte como a morte.
Cientes destes ensinamentos divinos, podemos melhor
compreender o que Jesus diz pouco depois: “Quem encontrar
a sua vida há-de perdê-la ; e quem perder a sua vida por
minha causa, há-de encontrá-la”.
De
facto, mais vale perder a vida quando ela não está voltada
para Deus, quando ela não se encaminha para Deus, para
melhor a encontrar, quando no momento da graça soubermos
dizer o nosso SIM ao Senhor, o Senhor que é Caminho, Verdade
e Vida.
A
vida de cada ser humano é feita de pequenas coisas — tal
como um rio, que só é rio graça aos seus afluentes, senão
nada mais seria do que um riacho — mas pequenas coisas que
juntas se transformam numa vida plena, numa vida que voltada
para Deus se torna uma vida cristã, capaz de gerar outras
vidas e estas outras ainda, produzindo neste movimento
contínuo um grande caudal, que se tornará rapidamente numa
enchente capaz de submergir aldeias e vilas, cidades e
nações, o mundo inteiro, quando bem dirigida e condicionada
no seguimento da meta que se fixou: Deus.
Mesmo quando bebemos — e sobretudo porque ali bebemos — na
fonte da água que apaga toda a sede, devemos continuar
vigilantes e lembrar a cada instante as palavras de Jesus:
“Se alguém der de beber, nem que seja um copo de água
fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo,
em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.
E
porque cada um de nós temos uma alma para salvar, sigamos o
preceito e sábio conselho de S. Paulo na sua Epístola aos
Romanos que acabámos de ler: “Considerai-vos mortos para o
pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus”.
Assim seja.
Afonso Rocha
Comentário para o XIII Domingo do Tempo Comum – A |