X Domingo do Tempo Comum - B

SOYEZ LES BIENVENUS SUR LE SITE D'ALEXANDRINA

     

X DOMINGO DO TEMPO COMUM
— B —

 

Leitura do Livro do Génesis  (Gen 3, 9-15)

Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?».

Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me».

Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?».

Adão respondeu: «A mulher que me destes por companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi».

O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?».

E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi».

Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e todos os animais selvagens. Hás-de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida. Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta há-de atingir-te na cabeça, e tu a atingirás no calcanhar».

 

Salmo 129 (130), 1-2.3-4ab.4c-6.7-8 (R. 7)

Do profundo abismo chamo por Vós, Senhor,
Senhor, escutai a minha voz.
Estejam os vossos ouvidos atentos
à voz da minha súplica.

Se tiverdes em conta os nossos pecados,
Senhor, quem poderá salvar-se?
Mas em Vós está o perdão,
para Vos servirmos com reverência.

Eu confio no Senhor,
a minha alma confia na sua palavra.
A minha alma espera pelo Senhor,
mais do que as sentinelas pela aurora.

Porque no Senhor está a misericórdia
e com Ele abundante redenção.
Ele há-de libertar Israel
de todas as suas faltas.

 

Leitura da Segunda Epístola
do apóstolo São Paulo aos Coríntios  (2 Cor 4, 13 - 5, 1)

Irmãos:

Diz a Escritura: «Acreditei; por isso falei».

Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos, e por isso falamos, sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele.

Tudo isto é por vossa causa, para que uma graça mais abundante multiplique as acções de graças de um maior número de cristãos, para glória de Deus.

Por isso, não desanimamos. Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia.

Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória.

Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis: as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.

Bem sabemos que, se esta tenda, que é a nossa morada terrestre, for desfeita, recebemos nos Céus uma habitação eterna, que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Marcos  (Mc 3, 20-35)

Naquele tempo,

Jesus chegou a casa com os seus discípulos. E de novo acorreu tanta gente, que eles nem sequer podiam comer.

Ao saberem disto, os parentes de Jesus puseram-se a caminho para O deter, pois diziam: «Está fora de Si».

Os escribas que tinham descido de Jerusalém diziam: «Está possesso de Belzebu», e ainda: «É pelo chefe dos demónios que Ele expulsa os demónios».

Mas Jesus chamou-os e começou a falar-lhes em parábolas: «Como pode Satanás expulsar Satanás? Se um reino estiver dividido contra si mesmo, tal reino não pode aguentar-se.

E se uma casa estiver dividida contra si mesma, essa casa não pode durar. Portanto, se Satanás se levanta contra si mesmo e se divide, não pode subsistir: está perdido.

Ninguém pode entrar em casa de um homem forte e roubar-lhe os bens, sem primeiro o amarrar: só então poderá saquear a casa.

Em verdade vos digo: Tudo será perdoado aos filhos dos homens: os pecados e blasfémias que tiverem proferido; mas quem blasfemar contra o Espírito Santo nunca terá perdão: será réu de pecado para sempre».

Referia-Se aos que diziam: «Está possesso dum espírito impuro».

Entretanto, chegaram sua Mãe e seus irmãos, que, ficando fora, O mandaram chamar.

A multidão estava sentada em volta d’Ele, quando Lhe disseram: «Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à tua procura».

Mas Jesus respondeu-lhes: «Quem é minha Mãe e meus irmãos?». E, olhando para aqueles que estavam à sua volta, disse: «Eis minha Mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

PONTOS DE REFLEXÃO

I LEITURA – Gen 3, 9-15.

Um dos mistérios que mais questiona os nossos contemporâneos é o mistério do mal… Esse mal que vemos, todos os dias, tornar sombria e deprimente essa “casa” que é o mundo, vem de Deus, ou vem do homem? A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus… Deus criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para imprimirmos à nossa existência uma dinâmica de vida, de felicidade, de realização plena.

O mal resulta das nossas escolhas erradas, do nosso orgulho, do nosso egoísmo e auto-suficiência. Quando o homem escolhe viver orgulhosamente só, ignorando as propostas de Deus e prescindindo do amor, constrói cidades de egoísmo, de injustiça, de prepotência, de sofrimento, de pecado… Quais os caminhos que eu escolho? As propostas de Deus fazem sentido e são, para mim, indicações seguras para a felicidade, ou prefiro ser eu próprio a fazer as minhas escolhas, à margem das propostas de Deus?

O nosso texto deixa também claro que prescindir de Deus e caminhar longe d’Ele, leva o homem ao confronto e à hostilidade com os outros homens e mulheres. Nasce, então, a injustiça, a exploração, a violência. Os outros homens e mulheres deixam de ser irmãos, para passarem a ser ameaças ao próprio bem-estar, à própria segurança, aos próprios interesses. Como é que eu me situo face aos meus irmãos? Como é que eu me relaciono com aqueles que são diferentes, que invadem o meu espaço e interesses, que me questionam e interpelam?

II LEITURA – 2 Cor 4, 13 – 5, 1

A segunda Carta de Paulo aos Coríntios apareceu num momento particularmente tenso da relação entre o apóstolo e essa comunidade cristã da Grécia. Algumas duras críticas de Paulo (na primeira Carta aos Coríntios) a certos membros da comunidade que viviam de forma pouco coerente com a fé cristã provocaram um certo desconforto na comunidade, que foi aproveitado pelos opositores de Paulo, que criaram um clima de hostilidade contra o apóstolo. Paulo foi acusado de estar a cuidar apenas dos seus próprios interesses e de pregar uma doutrina que não estava em consonância com o Evangelho anunciado pelos outros apóstolos. Na opinião dos seus detractores, o facto de Paulo não ter apresentado qualquer “carta de recomendação” que comprovasse a sua autoridade para anunciar o Evangelho significava que a doutrina por ele pregada não era digna de fé.
Ao saber do que se passava, Paulo foi a Corinto; mas essa ida não só não resolveu o problema, como até o radicalizou. Deve ter havido uma troca violenta de argumentos e de palavras e Paulo foi gravemente ofendido por um membro da comunidade. Algum tempo depois, Tito, amigo e colaborador de Paulo, partiu para Corinto com a missão de acalmar os ânimos e de tentar a reconciliação. Quando voltou, Tito trazia notícias animadoras: o diferendo fora ultrapassado e os Coríntios estavam, outra vez, em comunhão com Paulo. Foi então que Paulo escreveu a nossa segunda Carta aos Coríntios. Nela, o apóstolo explicava tranquilamente aos Coríntios os princípios que sempre orientaram o seu trabalho apostólico (cf. 2 Cor 1,3-7,16) e desmontava os argumentos dos adversários (cf. 2 Cor 10,1-13,10). Estávamos nos anos 56/57. Neste contexto, o texto de hoje situa-nos na opção pelo sentido da nossa vida em Cristo. Paulo apresenta duas fortes convicções de fé: «com este mesmo espírito de fé, também acreditamos, e falamos», que Deus há-de ressuscitar-nos com Jesus e vai levar-nos para ficarmos eternamente em comunhão com Ele; o homem interior renova-se em cada dia na medida em que intensifica o seu olhar nas coisas invisíveis que são eternas. Em consequência, há que renovar constantemente, sem desanimar, esta opção pela habitação eterna, em comunhão plena com Deus. Coisas essenciais, ditas de modo claro, a exigir coerência àqueles que querem continuar a viver como autênticos discípulos de Cristo.

EVANGELHO – Mc 3, 20-35

Toda a cena se passa numa “casa”. Que casa é essa? É uma casa onde Jesus está a pregar a Palavra e é uma casa onde «de novo acorreu tanta gente, de modo que nem sequer podiam comer». É também uma casa onde estão sentados/instalados alguns especialistas da Lei (escribas). A “casa” onde Jesus prega, onde se congrega a comunidade judaica e onde há escribas instalados, poderia ser uma figura da sinagoga, entendida como assembleia do Povo de Deus. O facto de se referir que a “casa” em questão estava situada na cidade de Cafarnaum (o centro a partir do qual irradia a actividade de Jesus na Galileia) poderia indicar que Marcos está a falar da comunidade judaica da Galileia, em cujas sinagogas Jesus acabou de passar (cf. Mc 1,39), anunciando a Boa Nova do Reino. Em qualquer caso, a “casa” representa essa comunidade judaica a quem Jesus dirige a pregação do “Reino”. A mensagem evangélica de hoje apresenta três diálogos de Jesus: dois com os seus familiares, no princípio e no fim, outro com os escribas, no meio
Fiquemo-nos pelos familiares de Jesus. Diz-se que vão a Cafarnaum para levar Jesus desta casa onde está para a sua casa em Nazaré. Muitas são as razões: muito tempo fora da família, notícias contraditórias sobre a sua actividade, mensagem em contraste com a doutrina oficial dos escribas e fariseus, contacto com os pecadores de quem é amigo, não seguimento da tradição dos antigos nem respeito pelo sábado; enfim, Jesus é considerado louco e herético. A intenção principal é reconduzi-lo ao caminho recto de um autêntico judeu. Há os que ficam de fora e os que estão dentro. Imagem actualíssima para nós hoje. Podemos andar por fora, arredios, ficar à porta, até nos chamarmos “católicos não praticantes”. Que significa isso? Faz sentido? Ou se é ou não se é. Aí está de novo a radicalidade da opção por Jesus. Ou ficamos for, ou estamos dentro da casa, unidos a Jesus, a escutá-l’O e a segui-l’O com todo o nosso ser, com todo o nosso coração.

Pe. José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga.

Pour toute demande de renseignements, pour tout témoignage ou toute suggestion,
veuillez adresser vos courriers à
 :

alexandrina.balasar@free.fr