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PONTOS DE
REFLEXÃO
I LEITURA-
PROV. 9,1-6
Todas as coisas criadas por Deus são boas, porque são expressão da Sua sabedoria.
O tema da Sabedoria personificada representa o ápice sapiencial do Antigo
Testamento.
O texto que nos é proposto é uma espécie de propaganda da “senhora sabedoria”; a
sua finalidade é levar os destinatários da mensagem a realizarem a opção
correcta – a opção que lhes garante a vida e a felicidade. Através de uma
parábola, o “sábio” autor deste texto apresenta a “senhora sabedoria” e o
convite que ela dirige a todos aqueles que querem descobri-la.
A “senhora sabedoria” é apresentada como uma dama fina, da alta sociedade, que
construiu uma “casa” (vers. 1). Essa “casa” tem, naturalmente, “sete colunas”,
pois o número sete é, no universo cultural judaico, o número da plenitude, da
perfeição. A “casa” da “senhora sabedoria” é, portanto, uma “casa” onde se pode
encontrar a perfeição, a plenitude.
Na sua “casa”, a
“senhora sabedoria” organiza um “banquete”… Prepara comida e vinho em abundância
e põe a mesa (vers. 2); depois, envia as suas servas para que levem a toda a
cidade o convite para participar na festa (vers. 3). Provavelmente, esta “casa”
para onde a “dona sabedoria” convida é a escola orientada pelos “sábios” de
Israel e onde se ensinava a “sabedoria”. A “comida” e o “vinho” devem referir-se
ao “alimento sapiencial” aí servido (quer dizer, a essas regras práticas
ensinadas pelos “sábios” nas escolas sapienciais, e destinadas a preparar os
alunos para enfrentarem os problemas do dia a dia, de forma a terem êxito nos
seus empreendimentos e a serem felizes).
II LEITURA –
Ef 5,15-20
Paulo convida à “vigilância”, que propõe como expressão de “sabedoria”.
A tentação da acomodação, da instalação, do “deixar correr”, do viver o
seguimento de Cristo de forma “morna” e pouco empenhada, do deixarmo-nos
envolver por comportamentos e valores pouco consentâneos com o nosso compromisso
com Cristo, é uma tentação real e que todos nós conhecemos bem. Como diz Paulo,
é uma estupidez termos descoberto a vida verdadeira e deixarmos que o homem
velho do egoísmo e do pecado nos domine de novo… O texto da Carta aos Efésios
que nos é proposto é um convite a não adormecermos, a repensarmos continuamente
as nossas opções e os nossos compromissos, a não nos deixarmos escorregar pelo
caminho da facilidade e do comodismo, a vivermos com empenho e entusiasmo o
seguimento de Cristo, a empenharmo-nos no testemunho dos valores em que
acreditamos. A opção que fizemos no dia do nosso Baptismo tem de ser confirmada
e revitalizada por uma infinidade de novas opções, todos os dias da nossa vida.
Paulo recomenda aos seus cristãos que não se embriaguem “com vinho, que leva à
vida desregrada”. Dizíamos acima que o embriagar-se com “vinho” representa,
nestas circunstâncias, o deixar-se seduzir por esses valores materiais que
afastam os homens dos valores eternos, dos valores do Reino… Pessoalmente, quais
são os valores a que eu dou mais importância? Algum desses valores constitui um
obstáculo para que eu viva, de forma verdadeiramente comprometida, os valores de
Jesus e do Evangelho
EVANGELHO – Jo
6,51-58
Ao prometer dar o pão da vida, Jesus não Se comprometeu a dar alguma coisa for a
d´Ele, mas ofereceu-Se em alimento “a Si próprio”, isto é, a Sua carne e o Seu
sangue.
Nas semanas anteriores, a liturgia disse-nos, repetidamente, que Jesus era o
“pão descido do céu para dar vida ao mundo”… O Evangelho deste domingo liga esta
afirmação com a Eucaristia: uma das formas privilegiadas de Jesus continuar
presente, no tempo, a “dar vida” ao mundo é através do “pão” que Ele distribui à
mesa da Eucaristia. A Eucaristia que as comunidades cristãs celebram cada
domingo (ou mesmo cada dia) não é um rito tradicional a que “assistimos” por
obrigação, para acalmar a consciência ou para cumprir as regras do
“religiosamente correcto”; mas é um encontro com esse Cristo que Se faz “dom” e
que vem ao nosso encontro para nos oferecer a vida plena e definitiva. Como é
que eu “sinto” a Eucaristia? Que importância é que ela assume na minha vida e na
minha existência cristã?
Participar no encontro eucarístico, “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus
é encontrar-se, hoje, com esse Cristo que veio ao encontro dos homens e que
tornou presente na sua “carne” (na sua pessoa física) uma vida feita amor,
partilha, entrega, até ao dom total de si mesmo na cruz (“sangue”). Participar
no encontro eucarístico, “comer a carne” e “beber o sangue” de Jesus, é acolher,
assimilar e interiorizar essa proposta de vida, aceitar que ela é um caminho
para a felicidade, para a realização plena do homem, para a vida definitiva.
Sentar-se à mesa da Eucaristia é também identificar-se com Jesus, viver em união
com Ele. Na Eucaristia, o alimento servido é o próprio Cristo. Por isso, é a
própria vida de Cristo que passa a circular nas veias dos crentes. Quem acolhe
essa vida que Jesus oferece torna-se, portanto, um com Ele. Comer cada domingo
(ou cada dia) à mesa com Jesus desse alimento que Ele próprio dá e que é a sua
pessoa, leva os crentes a uma comunhão total de vida com Jesus e a fazer parte
da família do próprio Jesus. Convém termos consciência desta realidade: celebrar
a Eucaristia é aprofundarmos os laços familiares que nos unem a Jesus,
identificarmo-nos com Ele, deixarmos que a sua vida circule em nós. Este crente,
identificado com Cristo, torna-se uma pessoa nova, à imagem de Cristo.
Padre José Granja |