XXVI Domingo do Tempo Comum Ano

SOYEZ LES BIENVENUS SUR LE SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - SEDE BEM-VINDOS AO SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

     

XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
— B —

 

Leitura do Livro dos Números     (Num 11, 25-29)

Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés.

Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo.

Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento.

Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: « Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento ».

Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse:

« Moisés, meu senhor, proíbe-os ».

Moisés, porém, respondeu-lhe:

« Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles! »

 

Salmo 18 (19), 8.10.12-13.14 (R. 9a)

A lei do Senhor é perfeita,
ela reconforta a alma.
As ordens do Senhor são firmes,
dão a sabedoria aos simples.

O temor do Senhor é puro
e permanece eternamente;
os juízos do Senhor são verdadeiros,
todos eles são rectos.

Embora o vosso servo se deixe guiar por eles
e os observe com cuidado,
quem pode, entretanto, reconhecer os seus erros?
Purificai-me dos que me são ocultos.

Preservai também do orgulho o vosso servo,
para que não tenha poder algum sobre mim:
então serei irrepreensível
e imune de culpa grave.

 

Leitura da Epístola de São Tiago     (Tg 5, 1-6)

Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança.

Condenastes e matastes o justo e ele não vos resiste.

 

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo
segundo São Marcos     (Mc 9, 38-43.45.47-48)

Naquele tempo, João disse a Jesus:

« Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco ».

Jesus respondeu:

« Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim.

Quem não é contra nós é por nós.

Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa.

Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar.

Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga.

E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena.

E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo não se apaga».

 

PONTOS DE REFLEXÃO

I LEITURA – Nm 11,25-29

Para ajudar Moisés na difícil tarefa e animação do povo peregrino no deserto, o Senhor infunde o espírito de Moisés sobre “setenta anciãos”, reunidos após indicação do próprio Deus. Sãos anciãos do povo, isto é, escolhidos  de entre os que já ocupam chefias e responsabilidades no contexto das diversas famílias de Israel.

O texto está colocado no interior dos quatro capítulos do Livro dos Números que narram a caminhada do povo de Israel no deserto, do Sinai até Farã. É uma caminhada recheada de murmurações e rebeldias, mas também de sinais de autêntica predileção e proximidade da parte de IHWH. Entre estas podemos recordar o envio e dádiva das codornizes, com a intenção imediata de matar a fome aos israelitas; e a formação do grupo dos “setenta anciãos”, como ajudantes e colaboradores valiosos de Moisés, na difícil tarefa de administrar a justiça entre o povo. A opção e a consequente designação atinge o ápice na “infusão” sobre eles do “espírito” de Moisés, um carisma divino, no início pessoal e agora partilhado.

O dom  de “profetizar” não fica encerrado no restrito número dos presentes junto à “tenda” da reunião, mas alcança também aqueles que, apesar de designados, tinham ficado no “acampamento”, e portanto fora do lugar indicado. O facto suscita admiração! Josué propõe a Moisés que corrija o erro. Mas este, “o homem mais humilde” entre todos os homens da terra, vê no episódio um sinal claro da liberdade com a qual Deus costuma conceder o Seu espírito. Sugere por isso, sapientemente, que não se levantem empecilhos demasiado cedo! Pelo contrário, convida todos os que inutilmente se preocupam com isso, a considerarem com alegria e sem ciúmes o que aconteceu.

O episódio, embora simples na sua dinâmica, abre um amplo horizonte sobre Deus e sobre a atuação eficaz  e generosa do seu espírito naqueles que se dispõem a acolhê-Lo.

II LEITURA Tg 5,1-6

Os ricos, protagonistas desta passagem da Carta de Tiago, fazem provavelmente parte da comunidade cristã. O autor censura-lhes os delitos e preanuncia o castigo que virá em breve, se não houver uma rápida conversão. A vinda iminente do Senhor fez-lhes abrir então os olhos e descobrir que, aquilo que parecia ouro brilhante é na realidade apenas “ferrugem”, inútil e corrosiva.

Este texto é sem dúvida o mais duro e cortante de toda a Carta de Tiago. Parece-nos que quase ouvir a sua voz acalorada e forte a discursar numa catequese! Merece atenção – sobre o ponto de vista estilístico- também o emprego cuidadoso dos verbos. O presente histórico fala e descreve a situação de pranto e desespero iminente em que, em breve, virão encontrar-se os ricos: embora na altura pareçam seguros e desdenhosos, depressa conhecerão a destruição e a ruína.

Depois, o passado lá está a testemunhar a grande quantidade de mal feito, a injustiça descarada e desdenhosa demonstrada por eles em relação aos mais fracos, aos “trabalhadores” que eles exploraram e a quem roubaram o “salário”, afinal a única garantia de vida no presente e para o futuro. Na verdade, os “protestos” dos pobres ainda não terminaram, e no entanto estão prestes a confundir-se  com os mesmos “gritos” desesperados dos ricos. Estes arruinaram-se com as próprias mãos, porque – afirma o autor com fina ironia e desprezo – se “saciaram” impiamente e “cevaram o seu coração para o dia da matança”. O futuro, depois, apenas lhes trará desventura e condenação. Eles pensavam possuir ainda alguma coisa, ao passo que as suas riquezas já “apodreceram” e a própria vida está a escorregar-lhes das mãos.

A  expressão “Senhor do Universo” quer indicar a parte que Deus vai assumir nesta circunstância. Ele não ficará apenas a olhar! Como sempre, colocar-Se-á ao lado dos “justos” e como defesa do pobre, porque os ricos chegaram inclusive a “condenação” e até a “matar”, ultrapassando todas as medidas.

EVANGELHO Mc 9,38-43.45.47-48

Jesus prossegue a Sua catequese aos discípulos, mediante algumas indicações práticas, expressas com uma linguagem no limite do “bom senso comum”. Convida-os a serem flexíveis e tolerantes para com os marginalizados e a viverem na caridade; a defenderem os mais “pequenos” do mal; a estarem atentos às tentações e à falsa segurança em si próprios.

João e os outros discípulos não conseguiram ainda pensar segundo a lógica de Jesus, seu Mestre, a qual é para Ele, na perspetiva da cruz, lógica de serviço e de humilde diaconia. Preferem nesse momento a lógica comum do sectarismo e da separação, ou seja, pretendem ter o exclusivo e o monopólio da salvação.

A comunidade que Jesus está a formar e a construir pacientemente a Seu lado deverá, pelo contrário, colocar-se no Seu seguimento, e portanto estar aberta a todos, sejam eles bons ou maus, grandes ou pequenos. Não deverá por isso fechar-se em si mesma, mas ser acolhedora também daqueles que se situam além e aquém do círculo visível e numerado dos Seus.

Na perspectiva de Jesus, quem luta pela justiça e faz obras em favor do homem, está do lado de Jesus e vive na dinâmica do Reino, mesmo que não esteja formalmente dentro da estrutura eclesial. A comunidade de Jesus não pode ser uma comunidade fechada, exclusivista, monopolizadora, que amua e sente ciúmes quando alguém de fora faz o bem; nem pode sentir-se atingida nos seus privilégios e direitos pelo facto de o Espírito de Deus actuar fora das fronteiras da Igreja… A comunidade de Jesus deve ser uma comunidade que põe, acima dos seus interesses, a preocupação com o bem do homem; e deve ser uma comunidade que sabe acolher, apoiar e estimular todos aqueles que actuam em favor da libertação dos irmãos.
Na segunda parte do nosso texto (vers. 42-48), temos outros “ditos” de Jesus que abordam outros temas. Constituem também indicações aos discípulos sobre as atitudes a assumir para integrar plenamente a comunidade do Reino. Nesses “ditos”, são usadas imagens fortes, expressivas, hiperbólicas, bem ao gosto dos pregadores da época, destinadas a impressionar profundamente os ouvintes. Não são expressões para traduzir à letra; mas são expressões que pretendem marcar a necessidade de fazer escolhas acertadas, de optar com radicalidade pelos valores do Reino.

Padre José Granja
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga (Portugal)

Pour toute demande de renseignements, pour tout témoignage ou toute suggestion,
veuillez adresser vos courriers à
 :

alexandrina.balasar@free.fr