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PONTOS DE REFLEXÃO
I LEITURA. Jr
31,7-9
O trecho apresenta
um dos poemas que compõem o “Livro da consolação” de Jeremias. Apresenta-se com
um oráculo, no qual o Senhor preanuncia, na primeira pessoa, o regresso dos
exilados de um país longínquo, regresso que inaugura um tempo de plenitude de
vida, de bens e de alegria sem fim, capaz de transformar todas as situações
dolorosas. De tudo isto são testemunhas os israelitas, que reconhecem nesse
acontecimento a salvação realizada por Deus.
A Palavra de Deus
anuncia o regresso de exilados á sua terra. A primeira reação da repatriação
será a de “enaltecer” o Senhor e, através do louvor, professar a gratidão pela
ação misericordiosa e poderosa através da qual Deus socorreu e salvou um “resto
de Israel”.
O conceito de
“resto” teve origem na propaganda político-militar assíria, e tinha por fim
desencorajar qualquer opositor, recordando-lhe que, dos seus inimigos, os
assírios deixavam somente um resto, para testemunhar o seu grande poder. Neste
texto, pelo contrário, o “resto de Israel” dá testemunho do poder do Senhor, que
das ruínas sabe reconstruir um povo próspero e numeroso. Nele não sobressaem
poderosos e nobres, mas sim pessoas doentes, débeis e humildes: Deus dirige para
estes o Seu olhar afetuoso, paterno. Ele fá-los compreender e ver as coisas de
forma diferente, compreendendo que o sofrimento pode tornar-se fecundo e que a
pobreza pode tornar-se terreno fértil, no qual o Senhor opera maravilhas.
II LEITURA. Hb
5,1-6
Esta passagem da
Carta aos Hebreus define a natureza do “Sumo Sacerdote”, segundo as indicações
do Antigo Testamento, e recorda que a dignidade sacerdotal só pode ser atribuída
por Deus. Segue-se a aplicação a Cristo da ideia de “Sumo Sacerdote”, com uma
particular atenção à ligação entre o Seu sacerdócio “segundo a ordem de
Melquisedec” e a filiação divina.
O autor da carta
aos Hebreus procura, antes de mais, identificar a identidade do Sumo Sacerdote
humano, da descendência de Aarão, concentrando-se na mediação entre Deus e os
homens que o Sumo sacerdote desempenhava , especialmente no sacrifício de
expiação.
Em segundo lugar,
sublinha o aspecto de “fraqueza” que caracteriza esta figura. Para que, então,
se realize a mediação entre Deus e os homens é necessária uma solidariedade
entre o Sumo Sacerdote e os pecadores, para com os quais ele deve ter
“compreensão” .
Finalmente, o Sumo
Sacerdote deve estar revestido de humildade, porque deve reconhecer que a sua
dignidade vem só de Deus. Pois bem, Cristo na Sua vida “não tomou para Si a
glória de Se tornar Sumo Sacerdote”, mas foi proclamado tal pelo próprio Deus na
sua Páscoa.
EVANGELHO. Mc
10,46-52
O Evangelho narra o
milagre de Jesus que conclui a secção do Evangelho de Marcos dedicada à viagem
do Mestre para Jerusalém e ao tema das exigências para um verdadeiro seguimento
de Jesus
O protagonista
fundamental, o cego e mendigo Bartimeu obtém de Jesus a cura graças à sua fé
tenaz e começa uma caminhada de discipulado. Pelo contrário, o comportamento da
multidão e dos discípulos, confusos com a cura, deixa muito a desejar, porque
serve de obstáculo ao encontro salvífico do homem com Deus.
Bartimeu antes de
encontrar Jesus, é “cego”, “mendigo” , está sentado “à beira do caminho”; depois
do encontro com Jesus recuperou a vista, já não pede esmola, caminha juntamente
com o Mestre em direção a Jerusalém. Esta transformação deveu-se à sua fé. A
caminhada de fé de Bartimeu realiza-se em etapas sucessivas. No princípio temos
a escuta da notícia de que Jesus passava, a que se segue uma súplica angustiada;
esta torna-se quase obstinada para ultrapassar a oposição daqueles que queriam
“que se calasse”. Sucessivamente Bartimeu aceita o convite de Jesus, “dá um
salto” e aproxima-se d´Ele”, deitando fora a “capa”, a sua única riqueza, mas
também o seu único empecilho para o seu caminhar. Já junto de Jesus, que lhe
pergunta o que quer, responde com um comovedor “Mestre”, que sublinha a relação
profundamente pessoal entre ele e o Senhor. Depois de ter recuperado a visão
coloca-se imediatamente no Seu seguimento.
No que diz respeito
a Jesus, sobressaem alguns dados instrutivos: Ele ouve a invocação; manda chamar
Bartimeu; para à espera dele; interroga-o sobre os seus desejos mais profundos ;
e, finalmente, restitui –lhe a visão. Além disso, ajuda-o a compreender o que
acontecera, ou seja, que não se trata apenas de uma cura, mas de uma experiência
de salvação, devida à “fé”.
Padre José Granja,
beneditino |