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PONTOS DE REFLEXÃO
I
LEITURA Dt 6,2-6
Nesta conhecida
página do Livro do Deuteronómio, Moisés exorta os israelitas para que a sua vida
de fé seja caracterizada pelo “temor” do Senhor e pelo “cumprimento” da Lei
divina. Esta obediência assegura ao povo poder gozar dos bens da promessa e, em
particular, do dom da terra. Moisés prossegue ensinando o “escuta” no qual a
escuta obediente e o amor integral ao Senhor são dois aspectos da mesma resposta
de Israel ao Deus da eleição e da Aliança.
O nosso texto convida o crente a amar a
Deus com um amor que implique a totalidade da vida do homem; ou, por outras
palavras, convida o crente a viver no "temor do Senhor". Como é que deve
expressar-se, em termos práticos, esse amor ao Senhor que nos vai no coração? É
através de declarações solenes e ocas de boas intenções? É através de fórmulas
fixas de oração que papagueamos de cor? É através de solenes ritos litúrgicos? O
nosso amor ao Senhor deve, sobretudo, manifestar-se em gestos concretos que
manifestem a nossa obediência incondicional aos seus planos, a nossa entrega
total nas suas mãos, a nossa aceitação dos seus mandamentos e preceitos.
II LEITURA Hb 7,23-28
A Carta aos Hebreus explana a doutrina
sobre o sacerdócio de Cristo, pertencente “à ordem de Melquisedec”, prosseguindo
a comparação com o sacerdócio de Aarão. Descobre uma diferença no sacerdócio de
Cristo, não só no “juramento” divino, como também na ausência de genealogia
humana e na sua perpetuidade. O versículo 26 mostra, além disso, as qualidades
que o tornam necessário, ao passo que os versículos 27-28 esclarecem acerca do
sentido da unicidade do “sacrifício” do Filho.
Uma das provas da superioridade do
sacerdócio de Cristo é a sua duração eterna, que contrasta com a mudança
contínua das gerações do sacerdócio levítico. Para o autor da Carta aos Hebreus,
a multiplicidade e a alternância são sinónimos de imperfeição. Porque o
sacerdócio de Cristo é eterno e a sua intercessão junto de Deus é contínua, ele
assegura, de modo definitivo, a salvação do crente (vers. 23-25). O autor
termina a sua reflexão com uma espécie de hino (vers. 26-28), que resume toda a
exposição anterior e que exalta as características do sacerdócio de Cristo. Ele
é o sumo-sa-cerdote "santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e
elevado acima dos céus" (vers. 26), porque pertence à esfera do Deus santo. Além
disso, Ele não tem necessidade de oferecer todos os dias sacrifícios pelos
pecados próprios e alheios, por-que se ofereceu a Si próprio, de uma vez por
todas, em sacrifício perfeito (vers. 27). Em jeito de conclusão, o autor
destaca, uma vez mais, o contraste entre a ordem imperfeita – que é a ordem da
Lei e do sacerdócio levítico – e a ordem perfeita, pro-metida por Deus e
realizada pelo sumo-sacerdote Jesus Cristo. No A.T, havia homens cheios de
fragilidades e de debilidades; aqui, está o sumo-sacerdote eterno, que é Filho
de Deus, que está junto de Deus e que intercede permanentemente pelos homens.
EVANGELHO Mc 12,28b-34
No meio da compilação das controvérsias
de Jerusalém, nas quais cada questão comporta uma pergunta teológica, aparece o
diálogo de Jesus com um escriba acerca do essencial da Lei. Na resposta ao Seu
interlocutor, Jesus indica o “primeiro de todos os mandamentos” no “amor de
Deus” e no “amor do próximo. O escriba mani-festa com vigor a sua
concordãncia e recebe de Jesus um encorajamento implícito a que vença qualquer
hesitação e acolha o anúncio do Reino.
O que é "amar a Deus"? De acordo
com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor a Deus passa, antes de mais, pela
escuta da sua Palavra, pelo acolhimento das suas propostas e pela obediência
total dos seus projectos para mim próprio, para a Igreja, para a minha
comunidade e para o mundo. Esforço-me, verdadeiramente, por tentar escutar as
propostas de Deus, mantendo um diálogo pessoal com Ele, procurando reflectir e
interiorizar a sua Palavra, tentando interpretar os sinais com que Ele me
interpela na vida de cada dia? Tenho o coração aberto às suas propostas, ou
fecho-me no meu egoísmo, nos meus preconceitos e na minha auto-suficiência,
procurando construir uma vida à margem de Deus ou contra Deus? Procuro ser, em
nome de Deus e dos seus planos, uma testemunha profética que interpela o mundo,
ou instalo-me no meu cantinho cómodo e renuncio ao compromisso com Deus e com o
Reino?
O que é "amar os irmãos"? De
acordo com o exemplo e o testemunho de Jesus, o amor aos irmãos passa por
prestar atenção a cada homem ou mulher com quem me cruzo pelos caminhos da vida
(seja ele branco ou negro, rico ou pobre, nacional ou estrangeiro, amigo ou
inimigo), por sentir-me solidário com as alegrias e sofrimentos de cada pessoa,
por partilhar as desilusões e esperanças do meu próximo, por fazer da minha vida
um dom total a todos. O mundo em que vivemos precisa de redescobrir o amor, a
solidariedade, o serviço, a partilha, o dom da vida. Na realidade, a minha vida
é posta ao serviço dos meus irmãos, sem distinção de raça, de cor, de estatuto
social? Os pobres, os necessitados, os marginalizados, os que alguma vez me
ma-goaram e ofenderam, encontram em mim um irmão que os ama, sem condições?
Padre José Granja
beneditino |