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SOLENIDADE DE NOSSO SENHOR JESUS CRISTO
REI E SENHOR DO UNIVERSO.
Pontos de reflaxão
I LEITURA Dan
7,13-14.
À aparição das
“quatro feras”, provenientes do mundo caótico e destinadas à instauração de um
poder desumano sobre a História, segue-se o juízo de condenação sobre elas por
parte de Deus, o “Ancião”. O Livro de Daniel introduz, então, a figura do “filho
do homem” apresentada na liturgia de hoje. Ele apresenta-se diante do “An-cião”
e recebe d´Ele a força e um domínio universal e eterno.
O autor do Livro de
Daniel pretende encontrar um sentido para a perseguição e para a resistência na
fé por parte dos seus correligionários, perante o poder opressivo e ímpio do rei
selêucida. Para isso propõe um olhar profético sobre o futuro, como sobre algo
que deve acontecer absolutamente. A História, através da visão de género
apocalíptico, é vista como uma sucessão de impérios violentos, como um período
de luta monstruosa entre um poder blasfemo e os crentes, cujo êxito será a
vitória final e certa de Deus! A esperança de libertação traduz-se na afirmação
de um juízo, chave de interpretação da História inteira e do seu sentido.
Concretamente, a
aparição de um “filho de homem” segue-se ao inapelável juízo de condenação de
tudo o que na História é portador de injustiça e de impiedade. Compreende-se
então a importância efectiva do título “filho de homem”, que não se contrapõe no
plano semântico a “filho de Deus”, mas sim a “filho da fera”. O filho de homem é
uma espécie de “figura teológica” com a qual, através de um mecanismo de
personalização do povo fiel e perseguido, Daniel oferece uma interpretação da
His-tória á luz da fé hebraica. O Deus de Israel, no meio de oposições mesmo
extremas, faz surgir um outro mistério ainda maior: Ele está plasmando um rosto
novo de Humanidade, um modelo de homem realmente conforme à Sua imagem divina.
II LEITURA Ap
1,5-8
Esta doxologia
solene do Livro do Apocalipse celebra o senhorio de Cristo Jesus. As três
aclamações dirigidas a Jesus com os Seus “títulos” de glória, segue-se uma
tripla celebração da Sua ação salvífica para com a Humanidade. A proclamação da
futura e gloriosa vinda de Cristo é acompanhada pelo reconhecimento universal da
Sua obra salvífica. Finalmente, intervém a voz do próprio Deus, que declara ser
o princípio e fim da História.
O tema que unifica
a doxologia cristológica é o senhorio de Cristo sobre a História. A Ele
pertencem todos os tempos: o presente, aquele em que a Igreja O confessa e O
louva; o passado, em que Ele realizou a Sua obra poderosa de salvação; o futuro,
no qual se cumprirá a Sua manifestação gloriosa e o reconhecimento universal.
O texto começa com
a aclamação a Cristo, mediante três “títulos” (“Testemunha fiel”, “Primogénito
dos mortos”, “Príncipe dos Reis”) que dependem do Salmo 88, texto
real-messiânico que o Apocalipse interpreta referindo-o à paixão de Jesus e à
Sua Ressurreição e exaltação.
Na Páscoa de Cristo
cumpre-se a obra de salvação para nós, obra que tem origem no Seu amor, que
abraça o passado e o presente (“Aquele que nos ama”), e tem como fruto a dádiva
aos crentes de uma nova dignidade real e sacerdotal (“Fez de nós um reino de
sacerdotes para Deus , Seu Pai”,)
Esta obra aguarda a
sua plena manifestação na vinda escatológica de Jesus como juiz (“Vem entre as
nuvens”); mas, não obstante a Sua glória e poder, Ele não renunciará a ostentar
os sinais da Sua Paixão (o peito “trespassado”), como testemunha da gran-deza do
Seu amor pela Humanidade. Assim, através da vinda de Cristo, o próprio Deus
“vem” continuamente na História humana e manifesta senhorio divino.
EVANGELHO Jo
18,33-37
Jesus comparece
diante do procurador romano Pôncio Pilatos, e é interrogado acerca do motivo
pelo qual os Seus adversários quereriam fazê-Lo condenar: a Sua pretensão de ser
“rei”. O interrogatório desenrola-se num diálogo em que se manifesta a
incom-preensão total de Pilatos perante uma soberania que recusa o uso da força.
O diálogo oferece a Jesus a ocasião de revelar a natureza da Sua missão e de
afirmar a Sua realeza.
Para o evangelista
João, o motivo da acusação, no processo romano contra Jesus, é o crime de
lesa-magestade, já que o réu pretendia ser rei, tornando-se, por conseguinte, um
opositor do império. É uma acusação falsa, que no entanto oferece a
oportuni-dade de esclarecer a verdadeira realeza de Jesus.
Ora, para Pilatos o
termo “rei” tem um valor exclusivamente político, e por isso esta sua visão
restrita impede-o de compreender a dimensão mais profunda e decisiva a que Jesus
o queria levar. Por outro lado, o Senhor não está interessado em provar a Sua
inocência: Ele quer sobretudo ajudar Pilatos a abrir-se para uma nova visão mais
ampla sobre o tema do poder e da justiça. Por conseguinte não responde à
interro-gação acerca das acusações de que é objecto , e continua a referir-Se
ao tema da Sua realeza, negando qualquer afinidade entre elas e a de tipo
terreno: “O Meu reino não é deste mundo.”
Pelo contrário, o
Seu reino “não é daqui”, vem do Alto, provém do âmbito do Pai e do Espírito
santo, e atua neste mundo como uma realeza que não produz morte, mas vida,
porque é amor que se comunica ao homem até à doação extrema de Si mesmo. Jesus
dá testemunho da “verdade”, isto é, da revelação de Deus, oferecendo-Se a Si
mesmo. Cabe ao homem “escutar a Sua voz”.
Padre José Granja
beneditino |