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PONTOS
DE REFLEXÃO
PRIMEIRA
LEITURA: Jr. 38, 4-6; 8-10
Estamos nos
últimos dias de Jerusalém, antes da sua capitulação às mãos dos
babilónios e do exílio do povo. A cidade está cercada e sofre com fome.
Jeremias continua a pregar a queda iminente da Cidade Santa e a
aconselhar a rendição ao exército
inimigo (cf. Jr 37,17;
38,17-18), mas os chefes do povo não querem ouvi-lo e o rei é
demasiado fraco para se lhes opor. O profeta sofre falsas acusações por
causa da Palavra de Deus.
A figura mais
inquietante desta página bíblica é o «rei». Se o
contraste insanável entre Jeremias e
os «chefes», construído sobre acusações falsas contra o profeta,
apresenta razões evidentes (os chefes defendiam a resistência até ao
fim), não se compreende a hesitação do rei Sedecias, o qual antes dá
ouvidos aos chefes (w. 4-5) e depois, aconselhado por um eunuco da corte
(porventura trata-se de um funcionário, v. 1), procura remediar a sua
atitude, fazendo que o profeta saia
da cisterna (w. 9-10). Apesar disso, o rei continua a não
confiar plenamente na palavra do profeta.
Sedecias é
mesmo a caricatura de um rei! Ele deveria governar o seu povo como um
pastor, mas, pelo contrário, deixa-se governar pelos seus chefes.
Sobretudo, como soberano de Israel, deveria fazer um discernimento sobre
a vontade do Senhor, mas mostra-se continuamente incerto e incapaz de
tomar decisões. Trata-se de um homem que não é mau, mas é simplesmente
incapaz de se decidir: ouve a todos e não escuta a Palavra de Deus.
SEGUNDA
LEITURA: Hb. 12, 1-4
Depois de ter
contemplado no capítulo 11 a fé de numerosas testemunhas do Antigo
Testamento, «Rodeados de tão grande número de testemunhas», versículo 1,
o capítulo 12 da Carta aos Hebreus coloca a ênfase sobre o testemunho de
Cristo, que está na origem da sua fé e lhe dá cumprimento. A Sua
confiança e determinação diante da
«cruz» (v. 2) deve amparar os cristãos perante os sofrimentos,
as perseguições e as adversidades (w. 3-4).
A segunda
leitura coloca em evidência duas temáticas: por um lado, o sacrifício de
Cristo, acusado injustamente, que passa através da morte para dar a
vida e o perdão dos pecados (w. 2c-3); por outro, a atitude dos
cristãos, os quais nas dificuldades devem manter «os olhos fixos» rí Ele
(v. 2a), para «correrem com perseverança para o combate» que se
apresenta diante deles (v. 1).
Não se trata
aqui apenas de uma «imitação» de Jesus. O sacrifício de Cristo é motivo
de confronto, de discernimento, a fim de que, fortalecidos na fé, os
cristãos possam viver a sua vida humana com participação plena.
É neste sentido que Jesus
dá início à fé e a leva a cumprimento (cf. 2b).
Ele é «autor» enquanto a fé tem n'Ele o único ponto de referência e só n'Ele pode o cristão colocar toda a sua esperança; «cumprimento» enquanto
Jesus com a salvação que brota da sua Cruz e da Sua ressurreição torna a
nossa fé capaz de actuar plenamente na vida.
EVANGELHO
Lc. 12, 49-53
A página do
Evangelho é certamente provocadora e também um pouco enigmática. Por um
lado, nota-se a iminência da Páscoa de Cristo (cf. v. 50); por outro,
Ele provoca-nos para tomarmos uma
decisão, cujo drama não nos esconde («fogo», «divisão»; cf.
4,51-53), e para um discernimento, de forma a podermos «julgar por nós
próprios», sem o apoio nem o aplauso de ninguém, «o que é justo», (w.
54-57)
Esta passagem
evangélica está carregada de uma linguagem provocadora e simbólica. Mas
contém uma mensagem muito clara e directa: o Evangelho de Cristo e a
vida cristã não são um «refúgio» cómodo para pessoas medrosas e tímidas.
Na Palavra de Jesus está presente uma carga de «violência» que não pode
ser iludida. Certamente não se trata de uma violência contra as
pessoas, mas de uma determinação, de uma decisão perante a vida.
A imagem do
cristão, que emerge desta página, é a de uma
pessoa chamada, custe o que custar, a
viver uma decisão e uma responsabilidade
na sua vida: a decisão de seguir Jesus até à Cruz e a
responsabilidade de ler, momento a momento, a vontade de Deus no
interior da História. E isto sem hesitações.
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