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PONTOS DE
REFLEXÃO
PRIMEIRA LEITURA
Hab
1,2-3; 2,2-4
O profeta Habacuc clama ao Senhor,
desafoga com Ele que lhe parece passivo perante a
«violência», a «iniquidade», a «opressão», a ilegalidade espalhada e maldosa.
Porque é que o Senhor permite tudo isto e não intervém? (1,2-3) Então Deus
responde, de maneira inequívoca. Para tudo isto - declara - está estabelecido um
termo, está fixada uma data segura, espera-a sem hesitar! (Cf. 2,2-3) Só quem
não tem fé é que sucumbirá, quem é «justo», pela sua fidelidade, viverá (2,4).
A situação desastrosa
da realidade, apresentada pelo profeta, poderia ser de algum modo a imagem da
sociedade de todos os tempos e de todas as latitudes: fica-se com a impressão
generalizada da subversão desinibida dos valores da honestidade, da rectidão, da
justiça social. A cidade dos homens parece ter-se convertido numa selva, onde a
«violência» reina soberana. E o Senhor não vê estas coisas, não escuta o grito
dos inocentes oprimidos, a oração dos justos? (1,2-3)
Nestas condições
muitos renunciam a uma visão de fé, abandonando-se a um fatalismo céptico,
privando a vida de todo o sentido. O crente não, não se resigna: ele interpela
insistentemente o Senhor, o qual no fim responde, reafirmando que os
acontecimentos do mundo, para além das aparências, estão firmemente nas Suas
mãos, que a iniquidade não terá a última palavra, que de resto já está fixado um
«final» para a violência e para a injustiça (2,2-3a). Mas os tempos e os
caminhos de Deus não são os nossos: trata-se por isso de «esperar», de ter
paciência ainda um pouco e surgirá então a intervenção de Deus (2,3b). Para
viver é necessária a «fidelidade»! (2,4)
SEGUNDA LEITURA
2Tm
1,6-8.13-14
O texto é uma
exortação a lutar fielmente pelo Evangelho. O «dom» recebido com a «imposição
das mãos» (v. 6), que consagrou Timóteo para o ministério, não é um
acontecimento do passado, mas sim um acontecimento que transformou para sempre a
sua vida e que deve ser renovado constantemente. Animado pela força do Espírito,
Timóteo não deve envergonhar-se do testemunho que deve prestar de Jesus, nem das
cadeias que Paulo traz por ele; pelo contrário, é chamado também ele a sofrer
pelo Evangelho, amparado pela força de Deus (cf. v. 8).
Temos aqui um veemente
apelo a servir o Evangelho com força e fidelidade. Para isso é necessário
«reanimar o dom» recebi do mediante a «imposição das mãos» (v. 6), gesto que
pode ter significados diversos (cf. Mt
9,18; 19,15; Hb 6,2), mas
que neste caso indica a consagração recebida por Timóteo, em vista da sua missão
pastoral. Esta consagração aconteceu mediante o Espírito, o qual infunde coragem
e força, e habilita paira o serviço dos irmãos (cf. v. 7).
Não há nada a temer
então! Timóteo não deve envergonhar-se de Jesus Cristo (cf. Rm
1,16), nem de Paulo que está no cárcere
por Ele; pelo contrário, deve estar pronto a
sofrer pelo Evangelho, contando com a força que vem de Deus (v. 8).
A conclusão
dos versículos 13-14, nos quais o Apóstolo convida o
discípulo a tomar como «modelo» as suas «palavras», supõe
os versículos 9-12 (omitidos pelo texto
litúrgico), nos quais Paulo afirma que ele sofre por Jesus Cristo, pelo
qual foi constituído «arauto, Apóstolo e mestre». Timóteo, portanto, é chamado a
seguir o seu exemplo, contando com o «auxílio do Espírito Santo que habita em
nós» e que nos dá a capacidade de sermos fiéis.
EVANGELHO
Lc 17,5-10
A leitura litúrgica
oferece à escuta da comunidade cristã dois textos diferentes, propostos juntos
simplesmente porque são contíguos no texto de Lucas. O primeiro apresenta o
pedido dos «Apóstolos» dirigido a Jesus (chamado «Senhor», o que acontece
somente em Lucas), para que lhes «aumente a fé». A resposta do Mestre é
desconcertante: se eles tivessem mesmo que fosse uma dose mínima de fé, fariam
coisas humanamente impossíveis (w. 5-6). Por outras palavras, eles não têm fé. O
segundo texto, referido apenas por Lucas, exprime o comportamento e a condição
do «servo» em relação ao seu Senhor (w. 7-10).
Estamos sempre no
contexto da viagem de Jesus para Jerusalém. Depois das catequeses sobre a
misericórdia (cf. Lc 15), sobre o uso dos bens terrenos (cf. 16,1.13), sobre a
pobreza e a riqueza (cf. 16,19-31), o Mestre trata brevemente de questões
diversas, que terminam com os dois temas propostos pela liturgia de hoje. Em
primeiro lugar, a fé (w. 5-6). Ao contrário do texto paralelo de Mt
17,19-20, Lucas introduz o motivo da fé sem um contexto particular; são
os «Apóstolos» que pedem ao Senhor uma dose maior de fé. A resposta de Jesus dá
a entender que não é uma questão de quantidade, mas de qualidade: um «grãozinho»
de fé autêntica seria suficiente para realizar prodígios. O segundo ensinamento
do Mestre (w. 7-10) diz respeito aos modos e ao sentido do serviço do discípulo:
em nítido contraste com uma mentalidade jurídica, muito espalhada no ambiente
judaico, e não só, de alguém se sentir gratificado pelas obras feitas, graças às
quais poderia ter direito à recompensa divina (cf. Lc 18,9-14), Jesus afirma que
«somos servos inúteis» e como tais nos devemos considerar. Pondo de lado toda a
auto-suficiência (cf. Rm 3,27;
ICor 1,29; Ef
2,9), resta apenas a «graça» (cf Ef
2,8).
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |