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PONTOS DE REFLEXÃO
PRIMEIRA LEITURA
2Rs 5,14-17
A narração oferece um paralelo entre o
Antigo Testamento e a narração do Evangelho: de facto, também neste caso se fala
da cura de um leproso. O episódio pertence ao ciclo do profeta Eliseu e remonta
à tradição deuteronómica, guardiã da fé j avista. A liturgia propõe-nos só um
momento (quatro versículos) da inteira narração, que é muito mais extenso (cf.
2Rs 5,1-37): a atenção está toda concentrada
no prodígio da cura (v. 14) e na reacção de fé do que fora curado (w.
15-17).
Naamã é um general do exército da
Síria: por conseguinte, é um estrangeiro, um militar inimigo, responsável por
uma guerra que causou danos a Israel. Sofre de uma doença de pele e vem a saber
da presença de um profeta-curador, precisamente atra-vés de uma rapariga
israelita que ele tinha raptado como escrava: é esta «rapari-guita» que coloca
em movimento todo o processo. Interessam-se os reis, mas nada conseguem, até que
o próprio profeta manda chamar Naamã e lhe propõe simples-mente que mergulhe no
«Jordão». Naamã, porém, reage mal: ele esperava uma inter-venção extraordinária,
queria ver cumprir rituais má gicos e ser submetido a provas difíceis. Não
estaria disposto a aceitar uma solução tão fácil, se não fossem os seus servos a fazê-lo
raciocinar: novamente são os «pequenos» que determinam as opções certas (cf. 2Rs
5,1-13).
Tendo aceitado mergulhar nas águas do
«Jordão», Naamã sai delas completamente «curado» (v. 14) e fortemente
impressionado: reconhece na sua carne o poder curador do Deus de Israel e
compromete-se a adorar somente jhwh (v.
15). Quer levar para casa um pouco de «terra» santa, porque pensa que só
sobre essa terra se pode adorar o Deus de Israel (v. 17).
O episódio foi interpretado pela
antiga tradição patrística como figura baptismal, para afirmar como a fé nasce
de um encontro decisivo com o Senhor e pela experiência do poder divino.
SEGUNDA LEITURA
2Tm
2,8-13
Este texto não está expressamente
relacionado com os outros textos litúrgicos,
já que foi extraído de uma leitura quase contínua do último escrito que
São Paulo enviou a Timóteo, enquanto se encontrava preso em Roma, pouco antes da
condenação à morte (no ano de 67 d. C). Nesta espécie de testamento espiritual,
o Apóstolo recorda ao discípulo (e a todos os futuros leitores) a solidez na fé
em Cristo Jesus, ressuscitado dos mortos e garantia credível.
Paulo encontra-se na prisão (v. 9a) e
não pode agir como antes: pressente que a morte está próxima, mas não se mostra
preocupado, e muito menos desesperado. Confia no poder do Senhor
«ressuscitado» (v. 8) e na força da sua
Palavra (v. 9b): o Apóstolo sabe que está a viver um momento semelhante
ao da Paixão de Cristo e, a exemplo d'Ele, está convencido de que os seus
sofrimentos irão levar à «glória eterna» e produzirão frutos de «salvação»
também para os outros (v. 10).
Paulo ensina
com decisão que a fé não é uma opinião, mas uma sólida certeza: com efeito, o
próprio Cristo é o alicerce sobre o qual
o crente
constrói. A sua Palavra é garantia estável, e Ele é «fiel» no
sentido de fiável, credível, digno de
fé. O discípulo, portanto, alicerçado em
Cristo, é chamado a viver na sua experiência a mesma dinâ-mica de morte e
ressurreição do seu Mestre: enquanto agora – diz Paulo – do sofri-mento vem a
morte, certamente a fidelidade de Cristo produzirá como resultado a vida e a
participação no seu Reino (w. llb-12). Todavia, até perante a fragilidade humana
do discípulo, que não mantém a palavra, se revela a grandeza do Senhor, que
permanece sempre um alicerce seguro (v. 13).
EVANGELHO
Lc 17,11-19
O início do episódio relembra o tema
da «viagem» (cf. v. 11), tão caro a Lucas, para evidenciar uma intervenção
formativa de Jesus junto da Sua comunidade, a caminho com Ele. É típico do
terceiro evangelista apresentar os milagres mediante breves narrações.
Sobressaem dois pormenores importantes: o contraste
entre «dez» e «um» (w. 12,15); e, a ênfase sobre a origem «estrangeira»
do único que volta atrás (v. 18). A intenção do narrador é mostrar a passagem da
cura para a salvação.
A experiência do estrangeiro leproso
que encontra Jesus na Sua viagem serve para indicar as vicissitudes de cada
homem «afastado» de Deus: é o início da nossa própria história.
E no entanto, o encontro por si só não
é suficiente, porque – segundo a narração – foram «curados dez» (w. 12,14), mas
só «um» foi «salvo» (w. 15,19). Existe uma diferença, portanto, entre cura e
salvação. Jesus concede milagrosamente a cura aos dez leprosos, para lhes dar um
sinal: para significar que Ele pode salvar as suas vidas. Mas é necessário que
cada um saiba interpretar o sinal recebido do Mestre e aceite essa proposta. Dos
dez leprosos curados, só «um», «vendo-se curado, voltou atrás» (cf. v. 15), por
ter feito uma relação entre o que lhe acontecera e a Pessoa de Jesus. A sua
viagem de regresso é o indício de um reconhecimento: ele reconheceu que Jesus
está na origem da sua cura, e está-Lhe grato (cf. v. 16).
Embora «estrangeiro» aos olhos dos
israelitas, o samaritano pode assim usufruir da «salvação» (w. 18-19), porque a
condição indispensável para ser salvo não é pertencer a um povo ou a uma raça,
mas o acolhimento confiante de Jesus Cristo, salvador de cada homem.
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |