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PONTOS DE REFLEXÃO
PRIMEIRA
LEITURA Ex 17,8-13
Este episódio pertence
às narrações do deserto, na secção do Livro do Êxodo que narra a viagem de
Israel do Egipto para o Sinai: juntamente com os dons providenciais do maná e da
água da rocha, a narração bíblica propõe-nos também este facto de cariz
militar. São dois os modos de enfrentar o
problema: Josué combate com armas (w. 8-10,13), enquanto, no monte,
Moisés levanta os braços em oração (w. 11-12). O trecho foi escolhido para
preparar o tema do Evangelho da oração confiante.
Com o nome de «Amalec»
(v. 8) indica-se um povo do deserto,
aparentado com Esaú (cf. Gn
36,12,16) e, portanto, ligado com o grupo de Edom, inimigo declarado de
Israel.
Uma leitura
historicista vê este episódio com perplexidade, de facto, parece um relato da
conquista da terra, que porém foi antecipado no início da caminhada de Israel.
Precisamente nesta antecipação podemos reconhecer a mensagem da leitura. Desde
o começo, a narração tem um valor simbólico: a «vara» de Moisés
(v. 9), sinal de poder e da intervenção divina, lembra agora a atitude de
elevação para Deus, o único capaz de conceder a vitória ao povo sobre todos os
inimigos. A intenção didáctica do texto pode exprimir-se com as palavras de um
salmo: «Não foi com a espada que eles conquistaram a Terra, nem foi o braço
deles que lhes trouxe a vitória, e sim a Tua direita e o Teu braço [Senhor] e a
luz da Tua face, porque os amavas.» (Sl
43,4)
A conquista é dom de
Deus. Se Israel reza e confia no Senhor, o próprio Senhor combate e vence; se
Israel se apoia apenas nas suas forças é derrotado.
SEGUNDA
LEITURA 2Tm
3,14-4,2
Continua a leitura do
último escrito atribuído a Paulo, uma espécie de testamento espiritual dirigido
ao discípulo Timóteo, para lhe oferecer indicações essenciais para o seu
ministério pastoral. Sobretudo a secção 2,14-4,5 reúne os conselhos do Apóstolo
para que seja um pastor vigilante; os versículos propostos pelo texto litúrgico
colocam em evidência, principalmente, a grande tarefa de ouvinte e de pregador
da Palavra de Deus.
Da situação presente,
Paulo passa a considerar a missão de Timóteo e renova as exortações que tinha
feito na primeira Carta. Sobretudo, indica-lhe a Escritura como um ponto seguro
de referência no meio das contínuas flutuações culturais e sociais.
O ponto de partida,
portanto, é que o pastor «conheça as Sagradas Escrituras». Timóteo «aprendeu»,
desde a infância, a ler a Bíblia, mas sobretudo «está certo» acerca dela e
mantém-se firme nesse conhecimento (3,14-15). A solidez do Apóstolo, de facto, é
determinada pela sua relação com a Palavra: ele é, antes de mais, um ouvinte,
atento e fiel, comprometido em guardar e viver aquilo que escutou. Por aqui se
compreende que é um homem de Deus. Porque da escuta nasce a «fé» que torna
possível a «salvação» (3,15).
Neste processo o papel
de toda a Escritura é muito importante, porque permite ao Apóstolo «ensinar,
persuadir, corrigir e formar segundo a justiça» (3,16). A tarefa principal do
Apóstolo é, portanto, «a proclamação da Palavra», continuamente, até ao ponto de
se tornar importuno (cf. 4,2): dias difíceis virão - prevê Paulo - mas nenhuma
dificuldade deverá perturbar o discípulo na sua obra de anunciador do Evangelho.
EVANGELHO
Lc 18,1-8
Durante a viagem para
Jerusalém, Jesus forma os Seus discípulos e, nesse contexto, Lucas propõe uma
parábola sobre a oração (w. 2-4). O narrador introduz o episódio e antecipa o
ensinamento dela: o caso emblemático narrado chama a atenção para a necessidade
de «orar sempre sem desanimar» (v. 1). O protagonista
da oração é uma mulher fraca, sem apoios de homem algum, abandonada pela
sociedade e vítima de prepotentes opressores.
O enredo do episódio
aproxima-se do da parábola dos dois amigos (cf. Lc 11,5-8). Com efeito, Lucas
gosta de duplicar imagens e juntar casos com protagonistas, ora um homem, ora
uma mulher: é uma maneira própria de sublinhar e revalorizar o papel das
mulheres na experiência da vida cristã.
No entanto, a respeito
do caso do amigo que vai pedir pão, em plena noite, há uma profunda diferença: o
outro, a quem o pedido é feito, não é um amigo, mas um estranho e perverso (v.
2). Compreendemos facilmente a comparação de Deus com um amigo, mas é-nos
difícil compreender a comparação com um «juiz» desonesto. É lógico que aquela
viúva se dirija ao juiz para que lhe faça justiça (v. 3); o papel institucional
deste seria garantir a aplicação do direito e vir em auxílio de uma pessoa débil
e indefesa. Poderíamos compreender que Deus fosse comparado a um juiz, mas é
estranho que a narração sublinhe com força e insistência a-desonestidade da
personagem da parábola. Ele não quer ouvir o direito daquela mulher e não lhe
interessa cumprir o seu dever (v. 4): não é movido por uma retribuição humana,
nem por uma moral religiosa («Não temo a Deus!»), nem por uma moral laica («Nem
respeito os homens»!). Decide-se a fazer o que a viúva pede, só porque ela o
«incomoda» (v. 5). Podemos dizer que Deus é assim?
Padre José Granja,
Reitor da Basílica dos Congregados, Braga. |