Lembro que
estou autorizado por ela a dizer da sua alma o que eu entender, mesmo do que
acaso me tivesse sido revelado em confissão. "Bem-aventurados os puros do
coração, porque eles verão a Deus!" Que bem quadrada esta bem-aventurança à
Alexandrina!
Em primeiro
lugar, nunca cometeu nenhum pecado mortal; e se alguma vez se viu em certo
perigo externo, como ela dá a entender nas suas notas autobiográficas, a sua
vontade, nem por sombras, vacilou e soube portar-se como heroína. Oiçamo-la:
Com os meus dezoito anos, vi-me num perigo muito grande
inesperadamente. Lembra-me que levava o meu tercinho na mão e que apertei
uma medalha de Nossa Senhora das Graças, e de repente livrei-me do perigo.
Foi sem dúvida a Mãezinha do Céu que me vigiou e valeu.
Várias vezes me
declarou, não se lembrava de feito nunca nada que primeiro previsse que era
pecado, senão que o não teria feito. Em todo o tempo que a confessei de 1933
a 1942, nunca lhe encontrei matéria certa de confissão, mesmo em pecado
venial plenamente deliberado.
O que ela em
seus escritos chama os seus pecados e tanto horror lhe causam são
imperfeições inevitáveis à fraqueza humana.
Dos 16 anos
para os 19, em que já lhe custava muito a come, por causa dos males de que
padecia, declara ela o confessor lhe dizia nas confissões, que o seu maior
pecado era comer. Como prova do que ela chama os seus muitos e grandes
pecados, aí vai esta passagem de uma dirigida ao director espiritual a
1/I/33:
Escrevo a
V.R. para aliviar a minha alma (não se tinha podido confessar), dizendo-lhe
as minhas faltas. Principio por dizer: as minhas orações são poucas e mal,
muito mal; não posso melhor. O meu pensamento anda por toda a parte; se eu o
pudesse prender, seria melhor para mim. Com minha mãe e mana sempre há
algumas faltas de impaciência: tenho feito quanto tenho podido, para me não
impacientar e para ver se modifico este meu mau costume; mas o demónio
consome-se comigo, para ver se arranja alguma coisa para ele. Com o próximo
também há alguma coisa: faço todo o possível por não faltar, mas sou muito
fraca, sempre caio algumas vezes. Enfim sou muito pecadora, não me emendo
dos meus pecados. Nosso Senhor se compadeça de mim.
Em matéria de
castidade é o que encontrei de mais angelical. Até o primeiro médico da
terra, que a tratou durante bastantes anos, me dizia uma vez, falando eu com
ele em particular: "Nunca vi donzela tão pudibunda e recatada e já a trato
há muito tempo."
Não admira
pois, que todos sentissem a impressão de estarem diante de um anjo, quando
falavam com ela. Não admira, por outro lado, a raiva que lhe votava o
inferno e o muito que procurava o demónio, com suas provocações infernais,
perturbar a limpidez de sua alma. É luminosa esta passagem de uma carta
enviada ao director, a 2/X/37; dizia-lhe Nosso Senhor, após uma dessas lutas
infernais:
Minha filha, minha querida amada, foco atraente do meu
Coração. Ouve e escuta o teu Jesus, o teu Esposo.
Não dês ouvidos ao demónio, meu maior inimigo. Tu não dizes
nem fazes nada; ele é que faz tudo. Não te pedia Eu há dias coragem para as
lutas que havias de passar? Eu não te abandono; tem confiança em Mim. És a
minha esposa predilecta.
Tomei-te para o meu Coração ainda em tão tenra idade; lá
tens passado a tua vida tão extraordinária e tão cheia de prodígios. És o
meu lírio, és a minha açucena pura. Tenho com isto andado a tirar qualquer
pó que se pudesse ter pousado. Descansa nos meus braços e nos da tua querida
Mãezinha do Céu, entre nossos santíssimos Corações, mas sempre a fazer-me
companhia na santíssima Eucaristia... |