No
Evangelho de São Lucas (Lc. 23, 27), podemos ler esta pequena frase,
quando o evangelista nos conta a
subida
de Jesus para o Calvário: “Seguia-o uma grande multidão de povo e
de mulheres, que batiam no peito e o lamentavam”.
Não
existe qualquer outra indicação que nos permita identificar esta
Santa Verónica que a tradição nos apresenta como uma dessas
“mulheres do grupo que seguiam Jesus” e que compadecida pela visão
terrível do Rosto macerado do Filho de Deus, se dirige a Ele e,
corajosamente lhe oferece um tecido para que limpe o rosto.
Como
recompensa do seu acto caridoso, a Santa Face de Jesus ficará
marcada naquele tecido branco, que a tradução chamará “vera ícona”
(verdadeira imagem) e daí mesmo o nome daquela mulher do povo, que,
segundo outras fontes, veiculadas também pela tradição, se chamava
na realidade Serápia.
Nesta
passagem da Paixão de Jesus se inspira a devoção à Santa Face de
Jesus que nos meados do século XIX foi propagada em França pelo
chamado “Santo Homem de Tours” (o Sr Papin Dupont), ele mesmo se
inspirando numa mensagem privada recebida pela Carmelita de Tours,
Irmã Maria de São Pedro.
Este
devoção tornou-se muito importante e conhecida, não só em França
onde teve origem, mas também noutros países, particularmente
francófonos, onde confrarias foram instituídas, algumas das quais
beneficiando de indulgências e da protecção particular da Santa Sé.
Toda a
família de Santa Terezinha do Menino Jesus — e mesmo esta —, estava
afiliada à Confraria de Tours. Como prova desta devoção, basta
lembrar que o nome religioso da Santa e jovem Doutora da Igreja, era
Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.
O culto
a Santa Verónica é antiquíssimo, mas desenvolveu-se especialmente na
idade média, chegando até nós por intermédio dos escritos que sobre
ela apareceram, assim como graças aos pintores célebres que dela se
inspiraram para compor obras-primas da pintura universal.
Sobre
Santa Verónica, nada sabemos, salvo o que nos trouxe a tradição, mas
esta incerteza sobre os factos concretos não nos deve impedir de
recorrer a ela nas nossas angústias, porque, mesmo que ela se chame
Serápia e não Verónica, são uma e mesma pessoa que num momento
crucial da Paixão de Jesus soube ter coragem para enfrentar a fúria
dos judeus e procurar a Jesus um pouco de reconforto.
Poderia
aplicar-se aqui o § 67 do Catecismo da Igreja Católica, que diz o
seguinte:
«No
decurso dos séculos tem havido revelações ditas “privadas”, algumas
das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não
pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é “aperfeiçoar” ou
“completar” a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la
mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo
Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o
que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos
seus santos à Igreja». |