Com a beatificação da Alexandrina, a sua casa
e o recheio dela adquiriram também um estatuto diferente. Já há muito o site dos
Corazones.org falava dos « lugares
santos »
de Balasar, onde esta casa era incluída. Com muito mais razão se pode agora
falar de lugar santo e de relíquias. Uma visita bem orientada à Casa da
Alexandrina ensina muito sobre ela.

A casa da
Alexandrina actualmente
Quando a D. Ana Costa recebeu esta habitação,
ela era bem mais pequena do que é hoje.
Na Autobiografia a Alexandrina fez escrever :
« Pouco
depois de virmos da Póvoa de Varzim – onde aprendi o pouco que sei – viemos
morar para o Calvário. A casa onde vivíamos não era assim como é hoje. Tinha a
cozinha na parte de baixo ».
No andar de cima, só havia a sala e um
quarto, para nascente. A cozinha ficava no rés-do-chão. Era assim por altura do
Salto.
Em data que não é possível precisar, mas que
foi antes de 1933 (isto é, antes da vinda do Padre Pinho), a D. Ana
acrescentou-lhe a ala dos quartos, onde se inclui o da Alexandrina. O bloco que
corre da sala para sul é muito mais recente.
Significa isto que a Alexandrina, mesmo já
definitivamente acamada, chegou a ter a sua cama na sala. Depois, passou para o
seu quarto, que poderia não ser aquele que conhecemos como tal, segundo os
Signorile. Certo porém é que cedo para lá foi. Por exemplo, as fotografias da
Paixão mostram-no-la aí.
Verdadeiramente os grandes passos da
caminhada de santificação da Alexandrina decorreram nesse quarto. As aparições
frequentíssimas de Jesus e de sua Mãe, mas também de santos como S. José e Santa
Teresinha, e que enchem tantas páginas dos Sentimentos da Alma, ocorreram
aí. Todos os pedidos relativos à Consagração do Mundo tiveram aí lugar. Isto é,
páginas importantes da história da Igreja e mesmo do mundo não podem ser
escritas sem ter esse pequeno espaço em conta.
O portão da casa tem a data de 1935. Era
tempo em que a D. Ana estava em apuros financeiros. Talvez com a ajuda de
alguém, colocou lá aquele portão, que sempre trazia uma segurança acrescida quer
à Alexandrina quer a outras pessoas que lá se encontrassem, especialmente de
noite. E lá pernoitaram pessoas mesmo muito ricas, como uma Sommer, ou de
posição social já menos popular como os directores da Alexandrina ou a
professora Angelina Ferreira.
Passado o portão, entra-se no espaço que foi
o eirado, e que devia continuar a chamar-se assim. O eirado era um lugar sujo,
com mato e estrume, frequentado pelo gado. Certamente até às escadas haveria o
cuidado de manter um corredor mais limpo.
Fui para
a janela
« Levantei-me
cega pela dor e fui para a janela: não encontrava posição.
A noite estava bela. Tudo
dormia; a casa estava em silêncio.
Todo o meu ser estava morto.
Contemplava o céu cintilante de
estrelas; a lua era brilhante.
Meditava nas belezas e grandezas
do meu Criador.
Tudo quanto contemplava era
motivo para mais ferir o meu pobre coração.
Fiquei por largo espaço de tempo
num profundo acto de agradecimento ao Céu.
Dizia a Jesus:
«Eu não vos vejo, eu não vos
sinto, mas sei que sois o meu Criador
e quando me criastes já sabíeis
que eu hoje havia de estar aqui a contemplar as vossas grandezas,
já sabíeis que a falta de ar que
hoje sinto necessitava do vento que me dais.
Um eterno obrigado, meu Jesus!»
O vento era forte: parecia que
tudo derrubava.
Obrigava-me a meditar os
horrores do Inferno, a vida e os tormentos dos condenados.
De novo contemplava o céu e as
estrelas.
Pedia a Jesus que multiplicasse
milhões e milhões de vezes mais do que as estrelas os meus actos de amor
para os sacrários.
Não O queria sozinho, e queria
que Ele só lá tivesse amor...
A minha alma continua a exigir a
solidão.
É ao brilho das estrelas e luz
do luar que eu sozinha me ponho a meditar.
Peço a todos os astros que amem
por mim a Jesus.
E ao contemplar o céu, digo-Lhe
repetidas vezes:
«Jesus, não Vos vejo, mas sei
que me vedes a mim.
Não sinto que Vos amo, mas
confio que me amais.
Alegrai-Vos na minha dor.
Consolai-Vos na minha
desconsolação.
Curai as feridas do Vosso Divino
Coração com a dor que no meu causam as Vossas grandezas ».
Alexandrina
|
Quando se sobem as escadas e se passa a porta
de entrada, penetra-se numa estreita varanda, para onde abrem as portas dos
quartos e a da sala. À esquerda de quem entra, está um armário com livros: em
cima, para venda, em baixo, nas prateleiras, em mostruário. Os de baixo são
muito importantes, pois, quem os manusear, rapidamente nos se apercebe de que a
Alexandrina foi já objecto de muitos e seriíssimos estudos, que ela é um
fenómeno que interpela. Estão lá os livros do Padre Mariano Pinho, os do Padre
Humberto, os dos Signorile, os de outros estudiosos da Alexandrina. Predominam
os escritos em italiano e em português, estes muitas vezes tradução. Mas há um
ou outro em inglês, um em francês, outro em alemão, um em tailandês e dois em
chinês. Sobre o móvel, está também um livro para registo das visitas que o
queiram assinar.
Os
visitantes da casa da Alexandrina têm uma compreensível pressa de entrar no
quarto. Hoje, ela não está lá fisicamente, mas muitos ainda a visitaram e a
ouviram maravilhados, quando, em certos períodos recebeu pessoas aos milhares.
Aí estiveram muitíssimas vezes o Padre Pinho e o Padre Humberto, mas também o Dr.
Abílio de Carvalho, o Dr. Elísio de Moura e o Dr. Araújo, o Mons. Vilar e o
Cónego Molho, o Padre Lepopoldino, o Padre Sebastião Cruz, o Abade de Singeverga e
mais tarde o Cardeal Cerejeira e tantos outros sacerdotes e pessoas de vários
estratos sociais.
A cama da Alexandrina parece-se muito com uma
cama de hospital e só veio para lá em 1942 ;
substituiu então uma outra, que se guarda num quarto ao lado.
No lado oposto à cama, está um altar. Como a
Alexandrina era associada das Filhas de Maria, tinha direito a missa no seu
quarto de doente. Daí o altar, onde foi celebrada a missa por simples
sacerdotes, mas mesmo por cardeais.
Um
episódio divertido
« Em
1946 ou 1947, — frequentava eu os primeiros anos da Universidade — fui
com o Sr. Padre Humberto visitar a Alexandrina, a Balasar. Tinha ouvido
falar dela e, sinceramente, não me sentia propenso a acreditar no que
se dizia, embora as pessoas que me falavam fossem do maior respeito e
confiança. Fui a Balasar para dar um passeio e, como se diz, de pé
atrás. A primeira impressão que tive, ao ver a Alexandrina, foi de
simpatia; ela emanava simpatia. Dir-se-ia que não sofria, no seu leito
de dor. Prestes a sair, estávamos já na rua, manifestei as minhas
dúvidas ao Sr. Padre Humberto.
«Queres experimentar? — disse-me
ele — Eu, deste local, vou dar mentalmente ordem à Alexandrina de te
cumprimentar, embora paralítica dos braços e das mãos».
Subi, sozinho, ao quarto da
Alexandrina e, estendendo-lhe a mão, disse:
“Até qualquer dia,
Alexandrina!».
Ela, como se quebrasse umas
algemas, soltou os braços, pegou na minha mão e apertou-ma com tal força
que eu não gritei por vergonha. Sorrindo, disse-me:
«Aquele maroto do Sr. Padre
Humberto disse alguma coisa?... Quer fazer um pacto comigo? Vamos rezar
todas as noites uma Ave-Maria um pelo outro».
O pacto foi feito e, ainda agora
(1965), em família, rezamos sempre a Ave-Maria antes de nos deitarmos.
Sem dúvida, é a esta Ave-Maria e à protecção de Nossa Senhora que devo
tantos favores e o ter-nos livrado de tantos perigos.” »
Humberto Pasquale, Eis
Alexandrina
O narrador do episódio é o
engenheiro Sérgio Guidi.
|
As atenções dos visitantes vão facilmente
para o conjunto de quadros que cobrem boa parte das paredes. Todos eles hão de
ter a sua história. A de alguns é conhecida.
Que lá se encontre uma imagem ou um quadro do
Sagrado Coração de Jesus e uma imagem do Imaculado Coração de Maria, não é de
admirar. Sabe-se bem o que o Imaculado Coração de Maria representou para ela.
Nossa Senhora apareceu-lhe sob múltiplas
invocações, em concreto, como Nossa Senhora do Carmo. Sobre a cabeceira da cama,
pende um quadro com uma imagem desta invocação. Por cima do altar, está uma
imagem de Maria Auxiliadora que o Padre Humberto ofereceu à Alexandrina e que
substituiu uma de Nossa Senhora de Fátima anterior.
Aos pés da cama, em cima, vê-se uma
representação em relevo do Calvário, que documenta a inscrição da Alexandrina na
associação das Marias dos Sacrários-Calvários. Quantas vezes o fixaria ao
padecer a Paixão !
Ao lado dele, está o diploma encaixilhado que atesta a sua inscrição como Filha
de Maria.
Na parede oposta ao altar, encontra-se uma
bênção enviada pelo Papa Pio XII, o que fez a consagração do mundo ao imaculado
Coração de Maria e que um dia disse que enviava « não
uma, mas todas as bênçãos »
à Alexandrina. Mais próximo da cabeceira da cama, em tamanho mais pequeno,
encontra-se uma imagem de Santa Gema.
É possível fazer várias aproximações entre a
caminhada de Santa Gema e a da Alexandrina e ela foi canonizada no início dos
anos 40. O Padre José de Oliveira Dias S. J., amigo do Padre Pinho e da Alexandrina,
prefaciou então uma biografia desta Santa.
Ao lado do altar, junto à janela, encontra-se
uma imagem de Santa Teresinha do Menino Jesus – santa de que a Alexandrina era
particularmente devota a ponto de se considerar sua irmã espiritual ;
ela apareceu-lhe duas vezes no dia em que viveu pela primeira vez a Paixão.
Sobre o altar, do lado esquerdo, há um quadro
de S. João de Brito, santo jesuíta cuja canonização ocorreu em 1947. Lembra sem
dúvida o Padre Pinho.
Para terminar a vista ao quarto, algumas
palavras do crucifixo da Alexandrina. Ela segura-o em muitas fotografias. Passou
com ele um episódio extraordinário.
Sobre o chão do quarto, decorreu muitas vezes
a Paixão vivida com movimentos.
Deixando o quarto, o visitante dirige-se à
sala. No corredor, sobre o móvel dos livros, deve reparar no diploma de
cooperadoras salesianas da Deolinda e da Alexandrina. É um documento
importantíssimo pois explica o empenho que os Salesianos têm posto em estudar a
Alexandrina e em fazer andar o Processo de beatificação e Canonização.
A porta que dá acesso à sala, se não é a
mesma, ocupa certamente o mesmo lugar que aquela por onde entraram os intrusos
na o ocasião do Salto.
Aos visitantes interessa com certeza conhecer
a janela por onde a Alexandrina se lançou. É a que fica voltada para norte.
Talvez tenha sido olhando através dela que a Deolinda reparou que os três homens
tramavam alguma baixeza.
O alçapão que o Lino Ferreira rebentou ficava
em frente a essa janela, mais para o centro. A sala servia então de quarto para
as duas irmãs e de sala de costura para a Deolinda.
O
crucifixo da Alexandrina
Há
cerca de uns 15 dias, durante a noite, um crucifixo que tenho pendurado
no muro na parede ao lado apareceu-me na cama ao pé de mim :
fiquei maravilhada, mas foi coisa dum momento, que depois esqueci ;
não disse nada sobre isso.
Desde há anos
costumava ter ao meu lado e sobretudo de noite entre os meus braços um
crucifixo. Tendo recebido um de presente (do P.e Pinho), fiz retirar o
que tinha e fiquei com o novo comigo.
Alguns meses
depois, dei-o eu e pedi para me devolverem o que tinha mandado retirar.
Esqueceram-se de mo dar e eu fiquei sem ele alguns dias, não por meu
esquecimento, mas para não importunar os meus.
Foi neste
período que apareceu ao meu lado o crucifixo que estava pendurado na
parece.
Na noite de
segunda para terça, o crucifixo da parede reapareceu-me sobre o peito,
entre os braços, sob as mantas, como se fosse posto ali. Fiquei
impressionada: parecia-me sonhar. Falei disso com toda a naturalidade,
mas sem fazer menção nos escritos. Fui depois obrigada (pelo Dr.
Azevedo) a descrever o acontecido e, para maior tormento, a pedir a
Jesus o significado. Fá-lo-ei com verdadeira repugnância :
é a minha cruz. Jesus me perdoe: eis a minha virtude: quanto estou longe
da perfeição!
…
- Ó Jesus,
aceita o meu sacrifício: queira-o ou não, devo obedecer e perguntar-Te o
significado da vinda da tua imagem crucificada sobre o meu peito.
Jesus sorriu
docemente…:
- Quero que
me fales sem temor e com toda a simplicidade… O motivo que Me levou a
desprender-me do muro e a vir a ti é muito simples :
o crucifixo deve estar sempre unido à crucificada.
16/6/1950
|
Junto à janela virada a poente, está a
colecção dos livros dactilografados com a obra da Alexandrina. São cerca de
5.000 páginas de rara qualidade de conteúdo. Na mesa ao centro, encontra-se
outra colecção estudos sobre a Alexandrina. As mais das vezes repetem os que já
se encontravam no armário da varanda.
À direita da janela do Salto, um cofre-forte
guarda os originais dos escritos. Como é sabido, a Alexandrina ditava-os à irmã
ou à professora Çãozinha. Na parede do lado sul, num armário com porta de correr
na vertical, conserva-se um arquivo. São centenas de documentos originais,
muitas vezes também importantes.
Nos dois mostruários envidraçados guardam-se
relíquias. Foi de um deles que recentemente foi roubado o Rosário da
Alexandrina.
Uma ocasião, estando eu, minha irmã e uma
pequena mais velha que nós a trabalhar na costura, avistámos três homens: o que
tinha sido meu patrão, outro casado e um terceiro solteiro. Minha irmã,
percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me fechar a
porta da sala.
Instantes depois, sentimos que eles subiam as
escadas que davam para a sala (que então não tinha essa função, como se viu) e
bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha sido meu patrão mandou
abrir, mas, como não tivessem lá obra, não lhes abrimos a porta. O meu antigo
patrão conhecia bem a casa e subiu por umas escadas pelo interior da habitação e
os outros ficaram à porta onde tinham batido. Ele, não podendo entrar pelo
interior por um alçapão que estava fechado e resguardado por uma máquina de
costura, pegou num maço e deu fortes pancadas nas tábuas até rebentar o alçapão,
tentando passar por aí.
Minha irmã, ao ver isto, abriu a porta da
sala para fugir, mas essa ficou presa, e eu, ao ver tudo isto, saltei pela
janela que estava aberta e que deitava para o quintal. Sofri um grande abalo
porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas não
pude, porque me deu uma forte dor na barriga. Com o salto caiu-me o anel que
usava, sem dar por ela.
Cheia de coragem, peguei num pau e entrei
pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os
dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro. Eu aproximei-me
deles e chamei-lhes “cães” e disse que ou deixavam vir a pequena ou então
gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na ir.
Foi nesta altura que dei pela falta do anel e
disse-lhes de novo:
“Seus cães, por vossa causa perdi o meu
anel”.
Um deles, que trazia os dedos cheios de
anéis, disse-me:
“Escolhe daqui um.”
Mas eu, toda zangada, respondi: “Não quero.”
Não lhes demos mais confiança; eles
retiraram-se e nós continuámos a trabalhar.
De tudo isto não contámos a ninguém, mas
minha mãe veio a saber tudo.
Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a
gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmaram que muito
concorrera para a minha doença.
Alexandrina, Autobiografia
Que se
espalhe no mundo todo o amor dos nossos Corações
« Minha
filha, à semelhança de Santa Margarida Maria, eu quero que incendeies no
mundo este amor tão apagado nos corações dos homens. Incendeia-o,
incendeia-o. Eu quero dar, Eu quero dar o meu Amor aos homens. Eu quero
ser por eles amado. Eles não mo aceitam e não Me amam. Por ti quero que
este amor seja incendiado em toda a humanidade, assim como por ti foi
consagrado o mundo à minha Bendita Mãe. Faze, esposa querida, que
se espalhe no mundo todo o amor dos nossos Corações ».
Palavras de
Jesus à Alexandrina
|
Prof.
José Ferreira
|