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Alexandrina Maria da Costa
Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradução Prof. José Ferreira

FILHA DA DOR MÃE DE AMOR

PARTE I - A VIDA

CAPÍTULO 4°
(1928-1933)

 

“SOFRER, AMAR, REPARAR”

 

Como não consegui nada,

morreram os meus desejos de ser curada e para sempre,

sentindo cada vez mais ânsias

de amor ao sofrimento e de só pensar em Jesus.

 

Meu bom Jesus, Vós preso e eu também. Estamos presos os dois:

Vós preso para meu bem

e eu presa das Vossas mãos.

 

– Ofereci-me a Nosso Senhor como vítima.

 

– Ó Mãezinha, aceitai-me como Vossa filha muito amada, muito querida, e consagrai-me toda a Jesus.

Dizei-lhe que O ajudais a crucificar-me,

para que não fique no meu corpo nem na minha alma

nada por crucificar.

 

– Mãezinha, vinde comigo para os sacrários...

eu quero andar de sacrário em sacrário

a pedir favores a Jesus,

como a abelhinha de flor em flor, a chupar-lhe o néctar!

Começam ânsias de amor ao sofrimento

Tantos pedidos não obtêm a cura, nem sequer uma melhora na saúde. Humanamente diremos: não obtêm nada!

Mas no desígnio de Deus, aquela falhada cura não é de facto um nada: é pelo contrário um facto muito positivo pois representa o começo de uma longa e fecundíssima ascese na escala de sofrimentos sempre mais fortes e profundos porque invadiram todo o seu ser, mesmo nas esferas moral e espiritual; mas ascese que a levará à mais intima união com Deus e à mais alta missão: a de co-redentora.

Um primeiro milagre se verifica na alma de Alexandrina: não deseja mais curar-se. Sente que a sua missão é a de sofrer e, per amor, faz de tudo para se conformar com a vontade de Deus:

 

Como não consegui nada, morreram os meus desejos de ser curada e para sempre, sentindo cada vez mais ânsias de amor ao sofrimento e de só pensar em Jesus.

 

Pregada na cama, sente-se como prisioneira: vem-lhe espontâneo um confronto com Jesus no sacrário:

 

Um dia em que estava sozinha e, lembrando-me de que Jesus estava no sacrário, disse:

“Meu bom Jesus, Vós preso e eu também. Estamos presos os dois: Vós preso para meu bem e eu presa das Vossas mãos.

Sois Rei e Senhor de tudo e eu um verme da terra. Deixei-Vos ao abandono, só pensando neste mundo, que é das almas a perdição. Agora, arrependida de todo o coração, quero o que Vós quiserdes e sofrer com resignação. Não me falteis, bom Jesus, com a Vossa protecção.”

 

A Alexandrina compreende que Jesus quer usá-la como instru­mento de salvação para muitas almas, ou seja como vítima que – à semelhança do Redentor - se imole para continuar a reden­ção; quer que siga as pegadas de S. Paulo que diz: “Completo na minha carne aquilo que Jesus me deixou para padecer da sua Paixão, em favor do seu Corpo, que é a Igreja”. (Col,l,24)

Oferece-se como vítima pela salvação das almas

Sem saber como, ofereci-me a Nosso Senhor como vítima, e vinha, desde há muito tempo, a pedir o amor ao sofrimento[1].

Nosso Senhor concedeu-me tanto, tanto esta graça que hoje não trocaria a dor por tudo quanto há no mundo. Com este amor à dor, toda me consolava em oferecer a Jesus todos os meus sofrimentos. A consolação de Jesus e a salvação das almas era o que mais me preocupava.

 

Durante os longos 30 anos de martírio a Alexandrina não terá nunca uma hesitação sobre a sua vocação e nunca a tentação de voltar atrás, de renunciar; irá antes sempre mais para a frente no pedido de maiores sofrimentos, com uma ânsia crescente de amor. É claro que, com esta nova disposição da alma, não mais mais distracções para passar os longos dias:

 

Fui deixando todas as distracções do mundo e, com o amor que tinha à oração – porque só a orar me sentia bem – habituei-me a viver em união íntima com Nosso Senhor. Quando recebia visitas que me distraíam um pouco, ficava toda desgostosa e triste por não me ter lembrado de Jesus durante esse tempo.

 

O seu amor a Jesus manifesta-se também por pequenos sacrifícios voluntários:

 

Por amor de Jesus e da Mãezinha, fazia sacrificiozinhos como: deixava de me ver ao espelho, chegando a tê-lo muitas vezes na mão; não falava quando me apetecia, e vice-versa; deixava de dormir durante a noite para fazer companhia a Jesus. Comungava sacramentalmente poucas vezes, mas vivia unidinha a Ele o mais possível. Consentia que as moscas me mordessem, etc., etc.[2]

O seu fogo de amor na oração e o seu pedido de crucifixão

Mas o fogo do seu amor sente-se especialmente no seu modo de orar; e faz do seu viver uma contínua oração. Porquanto a oração seja uma cosa pessoalíssima, decidimos transcrever aqui o que a Alexandrina dizia na sua oração diária, como exemplo edificante.

 

Pela manhãzinha, principiava a fazer as minhas orações, começando pelo sinal da cruz, e logo me lembrava de Jesus Sacramentado, fazendo a comunhão espiritual e dizendo esta jaculatória:

“Sagrado Coração de Jesus, este dia é para Vós”. Repetia-a por três vezes. Depois, continuava:

“A Vossa bênção, Jesus! Eu quero ser santa! Ó meu Jesus, abençoai a Vossa filhinha que quer ser santa”. Dizia também: “Louvado seja Nosso Senhor… As Três Pessoas da Santíssima Trindade me abençoem, assim como S. José, Maria Santíssima e todos os Anjos, Santos e Santas do Céu! Que as bênçãos desçam sobre mim e nada terei que temer. Serei santa: são esses os meus mais ardentes desejos”.

Rezava três Gloria Patri. Depois oferecia (como membro do Apostolado da Oração[3]) as horas do dia assim: “Ofereço-Vos, ó meu Deus, em união…”, Pai-Nosso, Ave-Maria e Glória ao Pai… “Sagrado Coração de Jesus que tanto nos amais…” e o Credo.

Depois continuava: “Ó meu Jesus, eu me uno em espírito, neste momento e desde este momento para sempre, a todas as Santas Missas que de dia e de noite se celebram na Terra. Jesus, imolai-me convosco a cada momento no altar do sacrifício; oferecei-me convosco ao Eterno Pai pelas mesmas intenções porque Vós mesmo Vos ofereceis”.

 

A Alexandrina continua na oração em que aparece também a sua devoção ao Sagrado Coração e à Nossa Senhora, a quem, como já vimos, chama afectuosamente “Mãezinha”.

 

Voltada para a Mãezinha, dizia-lhe: “Ave Maria, cheia de graça! Eu vos saúdo, ó cheia de graça! Ó Mãezinha, eu quero ser santa! Ó Mãezinha, abençoai-me e pedi a Jesus que me abençoe!”

E consagrava-me a ela assim: “Mãezinha, eu Vos consagro os meus olhos, meus ouvidos, minha boca, meu coração; a minha alma, a minha virgindade, a minha pureza, a minha castidade; a pureza e a virgindade de …[4]

Aceitai, Mãezinha, é Vossa, sois Vós o cofre sagrado, o cofre bendito da nossa riqueza.

Consagro-Vos o meu presente e o meu futuro, a minha vida e a minha morte, tudo quanto me deram a mim, rezaram por mim e ofereceram por mim.

Ó Mãezinha, abri-me os Vossos santíssimos braços, tomai-me sobre eles, estreitai-me ao Vossos santíssimo Coração, cobri-me com o Vosso manto e aceitai-me como Vossa filha muito amada, muito querida, e consagrai-me toda a Jesus.

Fechai-me para sempre no Seu Divino Coração e dizei-lhe que O ajudais a crucificar-me, para que não fique no meu corpo nem na minha alma nada por crucificar.

Ó Mãezinha, fazei-me humilde, obediente, pura, casta na alma e no corpo. Fazei-me pura, fazei-me um anjo. Transformai-me toda em amor, consumi-me toda nas chamas do amor de Jesus.

 

Como será escutada totalmente na sua oferta de vítima crucificada, crucificada mesmo em todo o seu ser físico, moral, espiritual!

Mas será também escutada na sua aspiração de ser toda transformada em amor, e toda consumida naquele fogo divino.

Neste ponto da sua oração surge o arrependimento com o pedido de perdão, feito através de Maria.

 

Ó Mãezinha, pedi perdão a Jesus por mim! Dizei-Lhe que é o filho pródigo que volta a casa do seu bom Pai, disposto a segui-Lo, a amá-Lo, a adorá-Lo, a obedecer-Lhe e a imitá-Lo. Dizei-Lhe que não quero mais ofendê-Lo.

Ó Mãezinha, obtende-me uma dor tão grande dos meus pecados, que seja tal o meu arrependimento que eu fique pura, que eu fique um anjo! Pura como fiquei depois do meu Baptismo, para que pela minha pureza mereça a compaixão de Jesus de O receber sacramentalmente todos os dias e de possuí-Lo para sempre em mim até dar o último suspiro.

 

O que se segue, põe bem em evidência a particular devo­ção da Alexandrina a Jesus Sacramentado, fechado nos sacrários, e o seu recurso à Nossa Senhora como mediadora.

 

Mãezinha, vinde comigo para os sacrários, para todos os sacrários do mundo, para toda a parte o lugar onde Jesus habita sacramentado. Fazei-Lhe a minha humilde oferta. Oh, como Jesus ficará contente com a oferta mais pobrezinha, mais miserável, mais indigna!... Mas, oferecida por Vós, como terá valor junto do vosso e meu querido Jesus!..

Ó Mãezinha, eu quero andar de sacrário em sacrário a pedir favores a Jesus, como a abelhinha de flor em flor, a chupar-lhe o néctar! Ó Mãezinha, eu quero formar um rochedo de amor em cada lugar onde Jesus habita sacramentado, para que não haja nada que possa intrometer-se entre o amor e ir ferir o Seu Santíssimo Coração, renovar as Suas Santíssimas Chagas e toda a Sua Santa Paixão.

Mãezinha, falai no meu coração e nos meus lábios, fazei mais fervorosas as minhas orações e mais valiosos os meus pedidos.

 

Depois dirige-se directamente a Jesus, em cujo Coração quer perder-se inebriada de amor.

 

Ó meu Jesus, eu me consagro toda a Vós. Abri-me de par em par o Vosso Santíssimo Coração. Deixai que eu entre nesse Coração bendito, nessa fornalha ardente, nesse fogo abrasador. Fechai-o, meu bom Jesus, deixai-me toda dentro do Vosso Santíssimo Coração, deixai-me dar aí o meu último suspiro, embriagada no Vosso divino amor, queimada nas chamas do amor. Não me deixeis separar de Vós na terra senão para me tornar a unir a Vós no Céu, por toda a eternidade.

Jesus, vou convidar a Mãezinha! É Ela quem Vos vai falar por mim. Vou e já venho, sim, meu Jesus?

Ave Maria, cheia de graça, eu vos saúdo, cheia de graça! Mãezinha, vinde comigo para os sacrários, vinde cobrir o meu Jesus de amor. Oferecei-Lhe tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer, tudo quanto se possa imaginar, como actos de amor para Nosso Senhor Sacramentado”.

Dizia três vezes: “Graças e louvor se dêem a cada momento…” e fazia a comunhão espiritual já descrita. Nesta altura, dizia tudo isto que se segue a Nossa Senhora, para Ela repetir ao Seu amado Filho por mim.

 

O que Maria é encarregada de dizer a Jesus é o seguinte cântico de louvores, que recorda o “Benedicite”.

 Cântico de oferta aos sacrários

Ó meu Jesus, eu quero que cada dor que sentir, cada palpitação do meu coração, cada vez que respirar, cada segundo das horas que passar, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu quero que cada movimento dos meus pés, das mi­nhas mãos, dos meus lábios, da minha língua, cada vez que abrir os meus olhos ou os fechar, cada lágrima, cada sorriso, cada alegria, cada tristeza, cada atribulação, cada distracção, contrariedades ou desgostos, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu quero que cada letra das orações que reze, ou oiça rezar, cada palavra que pronuncie ou oiça pronunciar, que leia ou oiça ler, que escreva ou veja escrever, que conte ou oiça contar, sejam

actos de amor para com os vossos Sacrários.

Eu quero que cada beijinho que Vos der nas vossas santas imagens ou da vossa e minha querida Mãezinha, nos vossos santos ou santas, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu quero que cada gotinha de chuva que cai do céu para a terra, toda a água que o mundo encerra, ofe­recida às gotas, todas as areias do mar e tudo o que o mar contém, sejam

actos de amor para os vossos Sacrários.

Eu Vos ofereço as folhas das árvores, todos os frutos que elas possam ter, as florzinhas oferecidas pétala por pé­tala, todos os grãozinhos de sementes e cereais que possa haver no mundo, e tudo o que contêm os jardins, campos, prados e montes, ofereço tudo como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço as penas das avezinhas, o gor­jeio das mesmas, os pêlos e as vozes de todos os animais, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço o dia e a noite, o calor e o frio, o vento, a neve, a lua, o luar, o sol, a escuridão, as estrelas do firmamento, o meu dormir, o meu sonhar, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, eu Vos ofereço tudo o que o mundo encerra, todas as grande­zas, riquezas e tesouros do mundo, tudo quanto se passar em mim, tudo quanto tenho costume de oferecer-Vos, tudo quanto se possa imaginar, como

actos de amor para os vossos Sacrários.

Ó Jesus, aceitai o Céu, a terra, o mar, tudo, tudo quanto neles se encerra, como se esse “tudo” fosse meu e de tudo pudesse dispor e oferecer-Vos como

actos de amor para os vossos Sacrários.

 Primeiros fenómenos místicos

No impulso destas orações a Alexandrina experimenta os primeiros fenómenos místicos, como a levitação e um forte calor que supera o normal.

Na Autobiografia, depois deste canto de oferta, lemos:

 

Nestas ocasiões em que fazia estes oferecimentos a Nosso Senhor, sentia-me subir[5], sem saber como, e ao mesmo tempo um calor abrasador que parecia queimar-me[6]. Como não compreendia a causa deste calor, ponha-me a observar se estava a transpirar, porque me parecia impossível, sendo dias de grandes frios.

Sentia-me apertada interiormente, o que me deixava muito cansada.[7]

Programa de vida

A este ponto da Autobiografia a Alexandrina sintetiza sob a forma de inspiração todo o seu programa de vida:

 

Não tenho a certeza, mas deveria ser numa dessas ocasiões que eu senti esta exigência de Nosso Senhor:

SOFRER, AMAR e REPARAR[8].

 

A Alexandrina medita muito no seu programa de vida. Quer fazer a vontade do Senhor e pergunta qual seja.

Sempre ouve repetir: sofrer, amar, reparar.

Tal programa de vida delineia-se na Alexandrina assim claramente e os fenómenos místicos mencionados no parágrafo precedente manifestam-se nela antes do seu encontro com o director espiritual, P.e Pinho: é pois evidente que não foi sugestionada por ele a seguir a via de vítima reparadora.


[1] Estamos no tempo da publicação da Miserentissimus Redemptor, que foi comentada nas revistas jesuítas, a que a Deolinda, como Filha de Maria, tinha certamente acesso. Daí certamente esta oferta “sem saber como”. Nota do tradutor.
[2] Isto lembra Francisco e Jacinta.
[3] Este esclarecimento encontra-se em No Calvário de Balasar, pág. 35.
[4] Muito provavelmente no lugar das reticências deve-se ler o nome da irmã Deolinda; isto explica o “é vossa” e “nossa riqueza”.
[5] A Deolinda disse ao P.e Humberto que a Alexandrina era levantada da cama como uma pena, ficando suspensa.
[6] A Deolinda disse a propósito ao P.e Humberto: “Um dia a Alexandrina perguntou-me a mim e à Sãozinha se não nos sentíamos queimar durante a oração. Tendo-lhe nós respondido que não, e julgando tal calor um efeito da doença, pediu que lhe colocássemos no peito panos embebidos de água fresca. Mas verificou que eram inúteis e retirou-os.”
A professora Sãozinha mais duma vez contou a mesma coisa.
Este fenómeno do “fogo” continuará anos. Por exemplo, na carta de 11-10-1939 lê-se:
E no Diário (S. 18-12-1944) lemos: “Um fogo por vezes insuportável abrasa o meu coração, vem-me à boca, parece queimar-me os lábios. De nada vale a água com que os refresco por algum tempo para depois deitar fora (está já em jejum há mais de dois anos). É fogo, fogo, sempre fogo.”
[7] Neste abraço interior, o P.e Humberto entrevê o começo do desposório espiritual.
[8] Muito semelhante este lema a um que vinha então no Mensageiro do Sagrado Coração de Jesus, que dizia: sofrer, calar, reparar. Nota do tradutor.

   

 

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