SOYEZ LES BIENVENUS SUR LE SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - SEDE BEM-VINDOS AO SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

     

Alexandrina Maria da Costa
Eugénia e Chiaffredo Signorile
Tradução Prof. José Ferreira

FILHA DA DOR MÃE DE AMOR

PARTE I - A VIDA

CAPÍTULO 3°
(1918-1928)

 

BRUSCA VIRAGEM
E VÃS TENTATIVAS DE «CORRECÇÃO»

 

… E eu, ao ver tudo isto, saltei pela janela que estava aberta.

 

As minhas maiores amigas…

revoltaram-se contra mim: chegaram a fazer caçoada de mim, do meu modo de andar, da posição que tinha na igreja…

        

Em 14 de Abril de 1925 acama para não se levantar mais...

 

Tive momentos de desânimo, mas nunca de desespero.

Nada no mundo me prendia,

só tinha saudades do meu jardinzinho,

porque amava muito as flores.

 

Cheguei a fazer algumas promessas para ser curada, como:

cortar rente o meu cabelo (que era para mim grande sacrifício),

dar todo o meu ouro e vestir-me de luto toda a minha vida,

ir de joelhos desde a minha casa até à igreja…

 

Pensava: se for curada, vou logo, logo para religiosa,

pois tinha medo de viver no mundo…

Queria ser missionária, para baptizar pretinhos e salvar almas a Jesus.

Um sonho simbólico

No Sábado Santo de 1918 acontece um facto grave que deter­mina o seu futuro. Antes a Alexandrina tem um sonho que simboliza todo o percurso da sua vida; ela mesma o conside­ra muito significativo ao dizer: «gravou-se na minha alma para nunca mais me esquecer». Tal sonho segue uma experiencia vivida pela Alexandrina, experiência que também pode ser interpretada como simbólica, assim como o sonho. Eis o que dita na Autobiografia.

 

Uma noite, ia da cozinha para a sala (a cozinha ficava no rés-do-chão e ia-se para a sala por uma escada exterior, feita de tábuas, com corrimão) com a candeia acesa e ela apagou-se. Tratei de a acender, voltando à cozinha, mas ela apagou-se por várias vezes, tendo de andar abaixo e acima. Não me recordo que fosse vento que a pudesse apagar.

Da última vez em que tentei acendê-la, caí, entornei o petróleo, que me saltou para a boca. Julgando que era o mafarrico, disse:

«Podes ir embora, que hoje não arranjas nada».

Fui deitar-me muito sossegada, adormeci e tive um sonho que se gravou na minha alma para nunca mais me esquecer. Foi assim:

Subi ao Paraíso por umas escadinhas tão estreitinhas que mal me cabiam as pontas dos pés. Foi com muita dificuldade e com muito tempo que lá cheguei, porque não tinha nada onde me amarrar. Pelo caminho, via algumas almas que ficavam ao lado das escadas, dando-me conforto sem me falarem.

Lá em cima, vi ao centro, num trono, Nosso Senhor, e, ao lado d’Ele, a Mãezinha. Todo o céu estava cheio de bem-aventurados. Depois de contemplar tudo isto, tive que vir à terra, o que eu não queria. Desci com muita dificuldade e encontrei-me na terra, e tudo tinha desaparecido. Depois, acordei.

 

Quer na experiência de subir para a sala, quer no sonho, estão bem claros todos os elementos essenciais da sua vida futura: vontade de subir com constância na insistência, muitas dificuldades tendo de passar por um caminho dificilíssimo, forças do mal que opõem com insistência, ajuda das forças do bem (algumas almas aos lados da escada), luta sem ajudas substanciais e contínuas (não tem nada a que se agarrar e as almas ajudam-na mas sem lhe falar); e no fim, no sonho, a meta luminosa com as duas grandes figuras que a atraem: Jesus e Maria.

Naturalmente o sonho termina com o regresso à Terra, porque a Alexandrina deve começar do princípio daquela escada.

O salto determinante

E eis o Sábado Santo de 1918.

Na sala onde Deolinda costura há a ajudá-la uma aprendiza (Rosalina Gonçalves de Almeida) e Alexandrina, que também aprende a costurar. As três jovens falam pouco e meditam sobre Cristo sepultado. Na casinha não há mais ninguém. Em certo momento...

 

Uma ocasião, estando eu, minha irmã e uma pequena mais velha que nós a trabalhar na costura, avistámos três homens: o que tinha sido meu patrão (Lino Ferreira), outro casado (António da Costa Faria) e um terceiro solteiro (Camilo da Costa Faria). Minha irmã, percebendo alguma coisa e vendo-os seguir o nosso caminho, mandou-me fechar a porta da sala.

Instantes depois, sentimos que eles subiam as escadas que davam para a sala e bateram à porta. Falou-lhes minha irmã. O que tinha sido meu patrão mandou abrir a aporta, mas, como não tivessem lá ora, não lhes abrimos a porta.

O meu antigo patrão conhecia em a casa e subiu por umas escadas pelo interior da habitação e os outros ficaram à porta onde tinham batido. Ele, não podendo entrar pelo interior por um alçapão que estava fechado e resguardado por uma máquina de costura, pegou num maço e deu fortes pancadas nas tábuas até rebentar o alçapão, tentando passar por aí.

Minha irmã, ao ver isto, abriu a porta da sala para fugir, mas essa ficou presa.

Eu, ao ver tudo isto, saltei pela janela que estava aberta e que deitava para o quintal. Sofri um grande abalo porque a janela distava do chão quatro metros. Quis levantar-me logo, mas não pude, porque me deu uma forte dor na barriga. Com o salto caiu-me o anel que usava, sem dar por ela.

Cheia de coragem, peguei num pau e entrei pela porta do quintal para o eirado onde estava a minha irmã a discutir com os dois casados. A outra pequena estava na sala com o solteiro.

Eu aproximei-me deles e chamei-lhes «cães» e disse que o deixavam vir a pequena ou então gritava contra eles. Aceitaram a proposta e deixaram-na ir.

Foi nesta altura que dei pela falta do anel e disse-lhes de novo: «Seus cães, por vossa causa perdi o meu anel».

Um deles, que trazia os dedos cheios de anéis, disse-me: «Escolhe daqui um.»

Mas eu, toda zangada, respondi: «Não quero.»

Não lhes demos mais confiança; eles retiraram-se e nós continuámos a trabalhar.

De tudo isto não contámos a ninguém, mas minha mãe veio a saber tudo. Pouco depois, comecei a sofrer mais e toda a gente dizia que foi do salto que dei. Os médicos também afirmaram que muito concorrera para a minha doença. 

Primeiras consequências do salto; sofrimentos também morais

O médico Azevedo ao processo Diocesano depõe:

 

«Desde então foram-se acentuando os seus sofrimentos tanto que lhe custava muito a caminhar e apresentava sinais de que um dia não poderia mais caminhar, e o Dr. João de Almeida disse à mãe que possivelmente ficaria paralisada, pois era de opinião que fosse portadora duma mielite, que foi depois confirmada pelo Dr. Gomes de Araújo[1] e por outros médicos.»[2]

 

Quatro meses depois daquele salto começam a fazer-se sentir forte­mente as consequências:

 

Aos catorze anos e quatro meses, deixei o trabalho para sempre, embora há meses trabalhasse com muito custo.

 

A mãe começa por levá-la a farmacêuticos, por economia; depois, vendo que piora, lava-a alguns médicos os quais a submetem a uma dieta que a enfraquece a ponto de a obrigar a estar de cama cerca de três semanas.

Tratam-na de distúrbios intestinais, pois tem dores no abdómen e não consegue comer. A princípio sente-se compreendida e não sofre moralmente, mas depois...

 

As minhas maiores amigas, pessoas da família e o próprio pároco revoltaram-se contra mim. Chegaram a fazer caçoada de mim, do meu modo de andar, da posição que tinha na igreja…, mas eu não podia estar doutra forma.

O Sr. Abade dizia-me que eu não comia porque não queria e se morresse que ia para o inferno. Quando me ia confessar dizia-me também que o meu maior pecado era não comer. Estas palavras fizeram-me sofrer muito sozinha; com Nosso Senhor é que eu desabafava.

Quando ia de casa para a igreja e desta para casa, olhava os montes em volta e pensava fugir e refugiar-me onde mais ninguém me visse, mas Nosso Senhor nunca me deixou fazer isto.

Chorei tanto, tanto ao ver-me na situação em que me encontrava…

Entretanto tenta uma cura na Póvoa

Depois de cerca dum ano melhora um pouco da saúde e vai para a Póvoa para uma cura de praia e banhos de sol; mas sem efeito.

Nesta sua permanência na Póvoa, a Alexandrina não é mais a menina de 7-8 anos, mas uma bela jovem com espessos e longos cabelos negros que emolduram um rosto expressivo, avivado por dois olhos negros, vivazes, luminosos e que às vezes o sorriso ilumina com uma bela fila de dentes branquíssimos.

É por isso compreensível que seja objecto de atenção da parte de jovens, mesmo sérios.

 

Várias vezes me vi apoquentada por rapazes a pedirem-me namoro, mas nunca aceitei.

Cheguei a dizer a um que me falava em casamento:

«Não deixo a minha família por causa de um homem.»

 

Como todas as jovens normais e equilibradas, também Alexan­drina pensa que um dia constituirá a sua família e deseja educar os filhos muito bem, no caminho do Senhor:

 

Às vezes pensava, se um dia fosse casada, como educaria os filhinhos para serem todos de Nosso Senhor.

 

Primeiras visitas médicas ao Porto - ligeira, mas momentânea melhora

Uma vez que a cura na Póvoa não serviu para nada, a Alexandrina é aconselhada a ir a um especialista e em 1922 faz a sua primeira viagem ao Porto, para consultar o especialista Abel Pacheco, que a submete a um exame rigoroso, muito rigoroso. Naquela ocasião a Alexandrina chora muito com as dores e com a vergonha.

O Dr. Pacheco avisa o médico assistente de que não curará.

Sempre em 1922 acama durante 5 meses consecutivos.

Em Março de 1923 morre a avó materna e a sua grande dor é maior por não a poder ver nem no caixão, por causa da sua doença que a faz também desmaiar com frequência.

Mas em Abril do mesmo ano melhoram um pouco as suas condições de saúde e começa-se a levantar.

Os seus primeiros passos são para a igreja, onde consegue também, mesmo com muito esforço, cantar, especialmente nas festas.

Deolinda dirá ao P.e Pinho:

 

«Naquela época o grupo dos cantores era muito pequeno e notava-se a falta da sua voz, porque cantava bem e pertencia ao grupo desde muito nova.»

 

Em 27 de Março de 1924 deve enfrentar uma segunda viagem ao Porto para consultar o Dr. João de Almeida, porque não se pode sentar; propõem-lhe banhos de sol, que faz sem qualquer resultado; assim também as várias medicações.

Participa ao Congresso Eucarístico Nacional

Em 1924 (em Junho), com muita fatiga, participa ao Congresso Eucarístico de Braga, mas pouco depois deve acamar definitivamente por causa das muitas dores no ventre e na região lombo-sacral, com dificuldade de urinar, com cólicas à vescica e sempre sem se poder sentar...

Quanta vida espiritual terá sentido em si participando naquele Congresso, ela, alma já tão eucarística!

E fora da sala do Congresso, quiçá quanto a sua alma vibrou enquanto os olhares abraçavam o magnífico panorama que se goza do monte do Santuário do Sameiro! Terá decerto elevado belíssimos louvores ao Senhor pelas maravilhas do criado, ela que tanto finamente as sabia sentir...

E pensamos que terá também tido uma aguda dor de saudade pressentindo, pois se sentia já tão doente, que nunca mais teria afagado com o olhar panoramas tão vastos.

Na cama para sempre!

Chega a Primavera de 1925.

Enquanto toda a Natureza si abre em festa a toda a forma de vida, enquanto o jardim se reveste dos primeiros botões, as saxífragas põem a ténue tinta rosa-lilás a abrandar a dureza das pedras pardas e os passarinhos elevam os seus gorjeios ao céu, a Alexandrina avança sempre mais para a sua tragédia.

Em 14 de Abril de 1925 acama para não se levantar mais: tem à sua frente os últimos 30 anos de vida!

Esta data, como é natural, fica bem gravada no profundo do seu coração! No decorrer dos anos mais vezes recordará tal aniversário: por exemplo, 14 anos depois (veja C. de 13-4-1939) e 25 anos depois (veja S.14-4-1950), as suas bodas de ouro com a cama!

Na Autobiografia lê-se:

 

A partir desta ocasião, comecei a ter por enfermeira minha irmã, porque minha mãe ocupava-se em serviços do campo e minha irmã costurava.

Tive momentos de desânimo, mas nunca de desespero. Nada no mundo me prendia, só tinha saudades do meu jardinzinho, porque amava muito as flores. Algumas vezes fui vê-lo, matar essas saudades, ao colo da minha irmã.

Tinha muitas saudades de Jesus, da nossa igreja e, quando havia festas do Sagrado Coração de Jesus ou Missas cantadas, eu chorava amargamente.

Como era cantora, entristecia-me muito por ver a minha irmã, que também cantava, e eu ficar. Quantas vezes ela me dizia:

«Se lá pudesses estar deitadinha, eu levava-te ao colo!»

Chorava ela por ir e eu ficar e chorava eu por a ver a sair e não poder acompanhá-la, mas conformava-me sempre com a vontade de Nosso Senhor.

 

Como são longos os dias e ainda mais noites sem dormir, entre tantas dores!

A Alexandrina, mesmo nos sofrimentos, continua a orar muito; mas nos primeiros anos procura também distrair-se, como é bem compreensível:

 

Nos primeiros anos, fazia por me distrair e até pedia que jogassem às cartas comigo, outras vezes jogava eu sozinha. Tenho pena de não ter pensado desde o princípio como penso agora, de viver só unida ao meu Jesus.

 

Alternam-se períodos em que lhe parece perder a saudade das coisas terrenas com períodos em que se reacende agudo o desejo da cura. 

Coitadinho de quem está presinho!

Nalguns episódios contados na Autobiografia ressalta a angústia de estar presa numa cama. Copiamos três.

 

Um dia em que houve necessidade de ficar sozinha por algum tempo, sofri um grande susto.

Veio junto de mim ma vizinha saber se eu precisava de alguma coisa. Ao retirar-se, deixou a aporta da varanda aberta e, pouco depois, entrava pela nossa casa uma cabrinha que tínhamos e encaminhava-se para a sala onde tínhamos os vasos de begónias e avencas muito floridos e viçosos. Com eles adornavam-se os altares da nossa igreja por ocasião das festas. Ao vê-la dirigir-se para lá, chamei-a, e ela, olhando para mim, não fez caso. Atirei-lhe uns bocadinhos de maçã, mas não os comeu. Fui-lhe mostrando a maçã e chamando por ela até que se aproximou de mim. Agarrei-a e dei-lhe a maçã e fui sustentando nela duas horas, ora fazendo-lhe mimos, ora dando-lhe sapatadas.

Quando minha irmã chegou, ficou admirada como, na minha cama, pude segurar o animal tanto tempo.

Atribuo isto a um milagre, pois a porta da sala estava aberta e, se a cabrinha não (sic) comesse, estragaria tudo. Quanto devo a Jesus! Estava presa no leito, mas Ele poupou-me este desgosto.

Pouco tempo depois, sofri outro, mais doloroso.

Minha irmã estava para fora da terra e minha mãe fora ao mercado da terra e eu fiquei com uma pequena, à ordem da minha mãe, para me servir, até que esta chegasse da feira.

A pequena, apesar de ter mais de vinte anos, entendeu que devia ausentar-se antes de minha mãe chegar e assim o fez. Quando ela saiu, falei-lhe assim: «Querendo ir, vai, que elas encontrar-me-ão aqui viva ou morta.»

Logo que ela saiu, vieram para junto de mim uns gatinhos fazerem-me festa, levantando as patinhas no ar para lhe dar a minha mão e puseram-se em cima da minha cama. Mas, como os não quisesse ali, sacudi-os e foram para o chão.

Mementos depois, senti que um deles caiu à água e morreu afogado. Ouvi-o lutar com a morte na água e miava muito. A mãe dele miava também.

E eu, que não tinha coragem para ouvir tudo aquilo, principiei a chorar e dizia: «Ó Mãezinha, permiti que venha aqui alguém para lhes acudir. Valei-me, Jesus, Santa Teresinha e vários santos!»

Também dizia: «Coitadinho de quem está presinho!»

Por acaso, vieram duas pessoas e, ao ouvirem os meus soluços, entraram no meu quarto e ficaram pesarosas ao verem a minha aflição. O gatinho estava morto. Não me impacientei. Chorava com pena dos animaizinhos, mas não ofendi Jesus.

Este caso foi origem de grandes aflições morais, porque minha mãe e minha irmã não levaram a bem o procedimento da pequena. Tudo lhe perdoaram, e eu perdoei também.

Como gostava de ficar sozinha – e principalmente aos domingos, quando havia adoração ao Santíssimo Sacramento – dizia a todos os meus que fossem e que me deixassem a sós com Jesus.

Pouco depois de todos saírem, pus-me a orar e ouvi alguém abrir a porta da rua, subir as escadinhas, mas, já falando muito alto, dizia: «Abre-me a porta.» Pela voz conheci a pessoa. [3]

Fiquei muito assustada. Ai, que seria de mim se ele conseguisse entrar! Apertei nas minhas mãos o meu tercinho com toda a confiança, enquanto a pessoa continuava a empurrar a porta com toda a força.

Pensava na forma como havia de falar e, assustada, nem sequer podia respirar.

Como não conseguiu abrir a porta, retirou-se, deixando-me em paz. Fiquei tão cheia de medo que não mais tornei a ficar sozinha, a não ser que me fechassem à chave.

Atribuí esta graça a Jesus e à Mãezinha, que me livraram daquela má companhia, pois antes me queria ver acompanhada pelos demónios do inferno.

 

É por isso bem compreensível que peça a cura!

 

Cheguei a fazer algumas promessas para ser curada, como: cortar rente o meu cabelo (que era para mim grande sacrifício), dar todo o meu ouro e vestir-me de luto toda a minha vida, ir de joelhos desde a minha casa até à igreja. Minha mãe, irmã e primas fizeram também grandes promessas. Por fim, compreendi que a vontade de Nosso Senhor era que estivesse doente. Deixei de pedir a minha cura.

Devoção a Maria: predilecto é o seu mês

Com o seu grande amor por Jesus, a Alexandrina nutre também muito amor por Maria e celebra o mês de Maio com particular devoção:

 

Gostava muito de o fazer sozinha: meditava, cantava, rezava e chorava algumas vezes ao mesmo tempo que pedia à Mãe do Céu que me libertasse da grande tribulação que estava a passar.[4] Cantava o «Tantum ergo» como se estivesse na igreja e fosse receber a bênção de Nosso Senhor. Como não tinha o Santíssimo Sacramento em casa, nem nenhum sacerdote que me viesse dar a bênção, pedia a Nosso Senhor que ma desse do Céu e de todos os sacrários.

Oh, que momentos tão felizes!... Sentia cair sobre mim todas as bênçãos e amor de Nosso Senhor! Nestes momentos, pedia a Jesus para abençoar toda a minha família e todas aqueles que me eram queridos.

 

Como a Alexandrina não tem nenhuma imagem de Nossa Senhora, nos primeiros anos o pároco empresta-lhe uma durante o mês de Maio, que lhe deixa depois saudade na hora de a restituir. Por isso lhe nasce o desejo de ter uma para si. Mas escasseia o dinheiro! Eis como resolve o problema:

 

Como não tinha dinheiro, várias pessoas ajudaram-me. Uma amiga deu-me umas franguinhas que minha irmã foi criando até porem ovos, para mais tarde nascerem pintainhos. Assim fui arranjando a quantia precisa para a imagem, redoma e altarzinho, etc.

Não sei descrever a consolação que senti ao ver que possuía para sempre a imagem da querida Mãezinha e que ficaria a contemplá-la dia e noite.

Ainda pedidos de cura

Em 1928, onze anos depois das aparições da Nossa Senhora em Fátima, é organizada uma peregrinação em que participam várias pessoas de Balasar. A Alexandrina, tendo sabido de alguns milagres, sente o desejo de ir com a esperança de curar.

Quer o médico assistente, quer o pároco não lho permitem, dado o seu estado de saúde. O pároco vai e promete-lhe pedir a cura: se esta se verificasse, ela iria a Fátima a agradecer e o médico promete fazer o relatório do milagre.

O pároco traz-lhe de Fátima uma medalhinha, um terço, um pouco de água de Fátima e o «Manual do peregrino»[5] aconselhando-a a beber a água e a fazer uma novena a Nossa Senhora para conseguir a cura.

 

Não fiz uma, mas muitas. Cantava muito e dizia às pessoas vizinhas que me visitavam: se um dia me vissem pelo caminho e me ouvissem cantar, era eu que ia agradecer a Nossa Senhora o benefício que recebia. Pensava que seria curada, mas enganei-me; era a minha grande confiança na Mãezinha e em Jesus que me fazia falar. Pensava: se for curada, vou logo, logo para religiosa, pois tinha medo de viver no mundo. Nem sequer visitava a minha família. Queria ser missionária, para baptizar pretinhos e salvar almas a Jesus.

 

[1] Ver no capítulo 11º, Quarta viagem ao Porto.
[2] Entre eles o professor universitário Carlos Lima. Ver no capítulo 14º, nº 16.
[3] Um certo Teixeira, chamado “o carpinteiro”. O indivíduo tinha visitado várias vezes a Alexandrina com outras pessoas revelando-se, pelos olhares e gestos que lhe dirigiu, homem de más intenções.
[4] Trata-se aqui duma tribulação moral que o P.e Humberto conseguiu descobrir em 1965 interrogando a Deolinda. Esta referiu-lhe a seguinte recomendação que lhe fez o P.e Pinho: - Nunca deixe a sua irmã só quando a visitar aquela pessoa.
[5] Algumas páginas encontram-se na Postulação dos Salesianos em Roma (via della Pisana 111); a imagem gravada na primeira página tem evidentes s sinais dos beijos da Alexandrina.

   

 

Pour toute demande de renseignements, pour tout témoignage ou toute suggestion,
veuillez adresser vos courriers à
 :

alexandrina.balasar@free.fr