José
Vaz nasceu em Benaulim, Salcette, Goa, então capital das colónias
Portuguesas, na casa ancestral de sua mãe, Maria de Miranda. Nasceu
em uma casa onde a virtude e os valores morais cristãos eram
enfatizados, com horários fixos e reservados para as orações da
família e a leitura espiritual.
Conta-se
que esse nascimento foi misteriosamente anunciado a seu piedoso pai,
Cristóvão Vaz, pelo aparecimento de uma estrela que brilhou no céu
de sua terra natal, Sancoale, ao meio-dia. Isso o levou a escrever o
seguinte registro em seu diário de família: "Em 21 de Abril de 1651,
nasceu um filho para mim. Ele foi baptizado no 8º dia, com o nome de
José. No decorrer do tempo ele vai alcançar a grandeza."
Desde o
início, a mão do Senhor moldou o menino que cresceu gentil, amável.
Quando pequeno, José Vaz era muito dado à piedade, dotado de um amor
singular aos pobres e um desejo de passar invisível e desapercebido
em sua piedade e esmolas. Herdou os costumes e seriedade de seu pai.
Nos hábitos alimentares, também era austero e muito mortificado,
abstendo-se de alimentos delicados e saborosos.
Possuía
um discernimento superior para a sua idade. O amor pelos estudos e a
inclinação para a virtude revelou que a graça o dominava e não a
natureza, de tal forma que os outros pais o apontavam como uma
“criança santa” e exortavam seus filhos a imitá-lo.
Ainda
menino, buscava ficar longe das conversas dos homens para estar a
sós com Deus, em quem acreditava ardentemente e a quem procurava em
oração e com animada fé. Sempre insistiu que, pelo menos uma vez ao
dia, cada um devia fazer os atos de fé, esperança e caridade. Ele
mesmo os fazia várias vezes ao dia.
Era uma
criança singular, com profunda piedade. Muitas vezes, seus pais o
encontravam rezando tarde da noite. Uma tradição local conta que ele
silenciosamente saía bem cedo de casa para a paróquia, e as portas
desta inexplicavelmente se abriam "sozinhas" para recebê-lo; ali,
então, passava horas a fio diante do Santíssimo Sacramento, a rezar
por sua querida e santíssima Mãe Maria, a quem ele mais tarde se
entregaria como escravo.
No
caminho da escola e no retorno para casa, ele frequentemente
recitava o Rosário. Costumava assistir à Santa Missa diariamente e
acompanhava o viático sempre que o padre visitava um doente.
Assim
que aprendeu a ler, os livros espirituais sobre a vida dos santos
eram os seus escolhidos. Quando via um funeral, José acompanhava a
procissão até o cemitério e rezava pela alma do falecido. Se alguém
morria no vilarejo, ele ia pela vizinhança pedindo aos moradores
para rezar pelo repouso eterno da alma. À noite, recomendava as
almas dos moribundos e falecidos e oferecia orações a eles.
Cresceu
tanto no amor de Deus que, automaticamente, ensinava o catecismo e
orações para as crianças menos afortunadas que o rodeavam. Ele
também compartilhava sua comida e pertences com os pobres e os
necessitados. Aos poucos, todo o vilarejo tornou-se orgulhoso de tão
preciosa jóia.
Movido
pelo amor de Deus, José Vaz escolheu servi-Lo como padre. Ainda
muito jovem, cultivou a verdadeira sabedoria, que consistia em santo
temor e amor de Deus. Sua maior aspiração era fazer com que o Senhor
Deus fosse conhecido e amado por todos os homens. Ele orava
fervorosamente pela conversão das almas e queria que todos
pertencessem à Igreja.
Considerado por todos como um jovem de vida inocente e costumes
puros, nunca se viu nele qualquer falta de modéstia ou comportamento
grosseiro, comum em muitos jovens. Desde a infância, José Vaz
evitava linguagem indecente e não ousaria dizer nada repreensível.
Quando enviado por seus pais à casa de parentes, por ocasião de
casamentos e festas, se fosse obrigado a dormir na companhia de
outros, ele retirava-se para um canto e acomodava-se debaixo de uma
cadeira para evitar quaisquer inconveniências que poderiam resultar
de dormir entre outros.
Conta-se que, certa vez, o jovem José Vaz notou que seus
companheiros ficavam amedrontados e fugiam quando chegavam a um
determinado ponto onde havia uma grande árvore. Diziam eles que o
diabo estava aparecendo lá, em formas diferentes e temerosas, e que
a árvore era sacudida violentamente. No local, o jovem José Vaz
começou a orar a Deus de joelhos e com a disciplina, para fazer
penitência. Então, as coisas espantosas e a agitação desapareceram e
a árvore ficou calma.
José
Vaz frequentou a escola primária em Sancoale, sua aldeia paterna.
Diz-se ter sido um modelo de aluno: além de aluno brilhante, era
atento em sala de aula, diligente nas lições, obediente ao professor
e amado pelos companheiros. Quando cresceu, seu pai o enviou para
uma escola em Benaulim, a aprender latim como preparação para seus
estudos sacerdotais.
Sua
estadia em Benaulim foi um momento de grande alegria, pois pôde
exercer melhor seu amor pela oração, pelas boas obras e pelo Altar.
Assistia à Santa Missa todos os dias, frequentando os Sacramentos e
recitando o Rosário no caminho para a igreja. Gostava de acompanhar
procissões e de participar na Via-sacra. Além de ser profundamente
envolvido em todas essas práticas religiosas, José Vaz progrediu tão
rapidamente nos estudos que o pai decidiu enviá-lo para a cidade de
Goa, para seguir um curso de Retórica e Humanidades no Colégio
Jesuíta de São Paulo.
Vaz
passou seis anos em Goa, residindo no Colégio de Nossa Senhora do
Rosário. Em seguida, entrou para a Academia de Santo Tomás de
Aquino, dirigida pelos Dominicanos, para realizar seus estudos
filosóficos e teológicos. Continuou seu caminho de vida austera,
dedicando-se seriamente na preparação para o sacerdócio. Seu ardente
desejo de fazer o bem aos outros, sem ser observado, aumentou com a
aproximação de sua ordenação. Seu comportamento geral foi,
provavelmente, uma reacção positiva contra as frivolidades da vida
em Goa, no momento em que o clero também sentiu seus efeitos.
Em
1671, então com 20 anos de idade, José Vaz recebeu as ordens menores
e o subdiaconato. Em 1674, em seu vigésimo terceiro ano, foi
ordenado subdiácono, e em 1675 foi ordenado diácono, por Dom
Custódio de Pinho de Verna, o Vigário Apostólico de Bijapur e
Golconda.
Em
1676, foi ordenado sacerdote pelo então recém-nomeado Arcebispo de
Hierápolis em Goa, Dom António Brandão. Este concedeu-lhe as
faculdades para pregar e ouvir confissões. Antes, no entanto, que
pudesse colocar esses carismas a serviço do povo de Deus, Vaz
colocou sua vida, talentos e trabalho, nas mãos de Maria Santíssima,
a quem se vendeu a si mesmo como um "escravo", pelo que é conhecido
como sua "Carta de Escravidão", escrita sobre os joelhos aos pés da
Mãe do Céu, na antiga igreja de Sancoale aos 8 de maio de 1677.
Depois
de trabalhar durante quase dez anos na região do Kanara, no Sul da
Índia, ele voltou para Goa e, lá, em 1686, fundou um Oratório de São
Filipe Neri com um grupo de outros padres. Recebia aconselhamento e
ajuda dos Oratorianos de Portugal. Apenas um ano depois, em 1687,
sentiu-se chamado a deixar Goa e partir como missionário para a ilha
de Ceilão, hoje Sri Lanka, onde sabia que os católicos estavam sendo
perseguidos e onde não havia sacerdotes durante várias décadas.
Na ilha
permaneceu por vinte e quatro anos, exercendo seu ministério
sacerdotal heróico em circunstâncias muito restritivas. Foi
rigorosamente perseguido e atormentado pelas autoridades opressivas
holandesas, calvinistas, que queriam pôr fim aos seus esforços,
solitários mas bem-sucedidos, na reconstrução da Igreja, mantendo
vivo o catolicismo no Ceilão. Teve que viajar a todos os lugares,
disfarçado e foi obrigado a celebrar os Sacramentos secretamente, à
noite.
Padre
Vaz decidiu fazer sua base no Reino de Kandy, no interior da ilha.
Ao chegar lá, foi preso como espião e lançado na prisão. Foi
libertado depois de rezar e obter o que foi considerado por todos
como o “milagre da chuva”, que pôs fim a uma seca prolongada. Consta
que choveu em toda parte, excepto sobre o Padre José Vaz e o altar
que tinha construído para rezar por chuva. Depois disso, o rei
budista de Kandy passou a lhe dar a sua protecção pessoal.
A
Providência Divina veio em seu socorro também em outras ocasiões.
Certa vez, alguns soldados holandeses que tentavam prendê-lo não
conseguiram vê-lo, mesmo estando eles na mesma sala da residência
onde o santo se encontrava pregando. Em outra ocasião, durante uma
de suas viagens pelo interior da ilha, em meio à floresta, uma
manada de elefantes ameaçou atacar sua comitiva. Ao aproximar-se do
Padre Vaz, entretanto, um dos animais que vinha à frente se deteve e
prostrou-se, sem lhe fazer mal algum. Logo os demais procederam do
mesmo modo.
O apoio
de Padre José Vaz à população local também se fez presente durante
uma epidemia de varíola ocorrida em 1697. A caridade e a
inteligência do padre permitiram a cura de muitos, pois, além das
orações e do auxílio aos doentes, ainda ensinou as normas de
higiene, à época e naquele local bastante precário, que ajudaram a
conter o contágio.
Em
1696, vários padres do Oratório em Goa se juntaram a ele no Ceilão e
uma missão católica foi devidamente estabelecida. À época, Padre Vaz
recusou o cargo de Vigário Apostólico, preferindo permanecer como um
simples padre missionário. Entre seus outros trabalhos pastorais,
ele traduziu um catecismo e as orações para as línguas locais, o
Singalese e o Tamil. As pessoas o chamavam de “Sammanasu Swam”: o
"sacerdote angélico". Sempre foi muito zeloso com as almas, com os
seus estudos e o seu trabalho.
Padre
José Vaz morreu em odor de santidade, em 16 de Janeiro de 1711, no
dia e na hora por ele preditos, aos sessenta anos. Recebeu a
Extrema-Unção com membros de seu rebanho e, antes de falecer,
aconselhou aqueles reunidos em torno dele em Sinhala: "Dificilmente
você será capaz de fazer no momento da morte o que você não fez
durante a sua vida".
À
meia-noite, com uma vela na mão, ele morreu para este mundo
pronunciando o santo Nome de Jesus com grande clareza e fervor.
O rei
budista pediu que o corpo permanecesse no Estado por três dias.
Milhares visitaram a igreja para prestar suas últimas homenagens ao
grande Missionário que Goa deu à Igreja Universal. O paradeiro
exacto de seus restos mortais é incerto. Ninguém sabe onde seu corpo
foi enterrado. Talvez ele não quisesse ser localizado, tal foi a sua
humildade.
A
devoção do Padre Vaz ao apostolado pastoral fez dele um instrumento
oportuno e eficaz da Providência Divina em um momento crítico na
história missionária católica do Sudeste da Ásia. Durante sua vida,
seus sucessos pastorais chamaram a atenção das autoridades da Igreja
em Portugal e em Roma. Após a morte, o zelo exemplar que mostrou
como missionário fez dele uma inspiração permanente para os padres
missionários de sua adoptada ilha e de outras terras. Seu apostolado
deixou um enorme legado: 70 mil católicos, 15 igrejas e 400 capelas.
Padre
José Vaz foi beatificado no Sri Lanka, pelo Papa S. João Paulo II, a
21 de Junho de 1995, e canonizado pelo Papa Francisco a 14 Janeiro
de 2015.
“O
Padre José Vaz foi um grande sacerdote missionário, pertencente à
linha interminável de anunciadores ardentes do Evangelho,
missionários que, em todas as épocas, deixaram a sua própria terra
para levar a luz da fé aos povos que não são deles”, afirmou São
João Paulo II quando, em sua visita ao Sri Lanka, o reconheceu
Bem-aventurado.
São
José Vaz ficou conhecido como o Apóstolo de Ceilão. Sua festa
litúrgica é celebrada no dia 16 de Janeiro. |