Nasceu no
Convento de Cristo, em Tomar, em 1 de janeiro de 1883 e faleceu em
Fátima em 30 de janeiro de 1958.
Mas os mais
fulgurantes anos da sua vida activa passou os em Bragança. Seguiu a
carreira eclesiástica e, em 1909,
terminado
o doutoramento em Roma, foi nomeado Professor de Teologia, no
seminário Patriarcal de Santarém e capelão da Igreja do Santíssimo
Milagre.
Chegava,
entretanto, a implantação da República, que naturalmente, o fez
passar por situações embaraçosas, como a todos os religiosos da
época. Ele superou tudo com grande sentido prático.
Em 1917 era
nomeado professor do liceu Sá da Bandeira, cargo em que permaneceu
durante 10 anos. Foi nomeado Cónego, transferindo se para Lisboa,
para junto do patriarcado. Aí trabalhou até 1934, ano em que foi
transferido para Bragança. Aí permaneceu até 1946, apoiando o
Seminário. Aí fundou um Patronato para rapazes e outro para meninas.
Foi ele que apoiou o lançamento do jornal Mensageiro de Bragança,
sendo o primeiro director, entre 1 de Janeiro de 1940 e 1 de Janeiro
de 1946. Trabalhou, de perto, com o bispo D. Abílio Augusto Vaz das
Neves.
O
Cónego Doutor Manuel Nunes Formigão foi uma personalidade que marcou
a sua época, sendo ele das principais entidades a quem se deve o
estudo cientifico e muito aprofundado dos fenómenos ocorridos em
Fátima, e que, provavelmente, mais escreveu sobre esses complexos
acontecimentos. Começando por encarar as aparições com natural
reserva, acabou por ser o militante mais dedicado aos muitos
problemas ali ocorridos. Teve oportunidade de ouvir os pastorinhos
muitas vezes e de os interrogar repetidamente. Foi, com o Bispo D.
José Alves Correia da Silva, uma das pessoas que mais concorreram
para a majestade que Fátima tem hoje no mundo.
Para
melhor nos convencermos disso, damos a seguir um certo número de
informações que nos parecem judiciosas e provam largamente quanto o
bom “apóstolo de Fátima” se esforçou para que as aparições da Virgem
Maria não ficassem esquecidas...
Trata-se do processo diocesano diligenciado pelo então novo bispo de
Leiria, Dom José Alves Correia da Silva:
«O
pároco de Fátima também iniciou então o seu processo paroquial
propriamente dito, fazendo uma nova redacção dos depoimentos dos
videntes a partir dos apontamentos tirados no decorrer das
aparições. Mais tarde, juntou-lhes outros depoimentos. Além dos
videntes, ouviu quatro testemunhas: três da freguesia de Fátima e
uma de Santa Catarina da Serra.
Acrescentou, em apêndice, um depoimento do pároco de Maceira sobre a
cura de Maria do Carmo, da mesma freguesia (18 de Junho de 1918);
uma carta particular de um indivíduo do lugar da Torre, freguesia do
Reguengo (Março de 1919); a sua carta de ato-defesa (Agosto de
1917); um artigo saído no jornal Correio da Beira (30 de Outubro de
1917) e um folheto impresso em Coimbra sobre a última aparição, da
autoria de D. Maria Augusta Vieira de Campos (Outubro de 1917).
Entregou esta documentação muito tarde (28 de Abril de 1919),
justificando esse atraso pela expectativa de observar alguma coisa
mais do que foi sucedendo durante as aparições. Pode pensar-se que
outro motivo tenha sido uma certa indefinidas em que se entrou,
depois da restauração da diocese de Leiria, a qual só veio ater o
seu primeiro bispo em 1920.
Não
há indícios de esta documentação entregue ao Patriarcado ter tido
alguma sequência. Conhece-se apenas uma declaração tardia (1953) de
Mons. Freitas Barros, segundo a qual ele esteve em Fátima em 1919,
"por mandato superior" para proceder "a certas investigações sobre
as Aparições da Cova da Iria". Mas também estas investigações não
deixaram qualquer rasto documental, pelo menos conhecido.
Foi
depois de ser conhecida a nomeação do primeiro bispo da diocese
restaurada de Leiria, D. José Alves Correia da Silva, que começou de
novo a movimentar-se o assunto.
A 20
de Junho de 1920, o Padre Dr. Manuel Nunes Formigão (conhecido pelo
pseudónimo de Visconde de Montelo e que pode ser considerado o
primeiro historiador de Fátima), em carta ao Padre Faustino, pároco
do Olival e vigário de Ourém, escrevia, a propósito da angariação de
esmolas para aquisição de terrenos na Cova da Iria: "se o processo
de Fátima estivesse concluso e a sentença fosse favorável (...) mas,
como não está, convém proceder com circunspecção".
O
certo é que entrado na diocese o novo bispo, em 5 de Agosto de 1920,
logo no dia 15 do mês seguinte, o Dr. Formigão tem um encontro com
ele, no qual, entre outros temas, se debateu a possibilidade de
encetar um processo diocesano.
O
Bispo, nessa entrevista, "reconhecera claramente o dedo da
providência, suscitando tantas maravilhas e, longe de criar
obstáculos à propaganda de Fátima, a permitia de bom grado,
ressalvando porém, como não podia deixar de ser, os direitos do
magistério eclesiástico quanto às apreciações da natureza dos
sucessos reputados maravilhosos".
Mas
o tempo ia passando. A 10 de Novembro do ano seguinte (1921), o Dr.
Formigão insiste na necessidade urgente da "organização de um
processo episcopal de inquérito, à semelhança do que fez Mons.
Laurence sobre os acontecimentos de Lourdes, coroado pela respectiva
sentença acerca da sobrenaturalidade das aparições e de algumas
curas escolhidas".
Um
lamentável acontecimento vem determinar, finalmente, o início do
processo canónico: de 5 para 6 de Março de 1922, foi dinamitada a
humilde capelinha que os fiéis tinham edificado no sítio das
aparições em 1919. No dia 13 seguinte, o pároco de Fátima, já então
o Padre Agostinho Marques Ferreira, promove uma procissão de
desagravo da igreja paroquial até à Cova da Iria, na qual se
incorporavam 4 a 5 mil pessoas que se juntaram a umas 6 mil já
presentes no sítio das aparições. Aí se celebrou missa e se rezou o
terço.
Informado dos factos, o Bispo de Leiria determina-se pela nomeação
de uma comissão de inquérito de que fazem parte seis eclesiásticos:
P. João Quaresma, vigário geral da diocese; P. Faustino José Jacinto
Ferreira, prior do Olival e vigário de Ourém; Dr. Manuel marques dos
Santos, professor do Seminário diocesano de Leiria; Dr. Joaquim
Coelho Pereira, pároco da Batalha; Dr. Manuel Nunes Formigão Júnior,
professor do Seminário de Santarém; Padre Joaquim Ferreira Gonçalves
das Neves, pároco de Santa Catarina da Serra; Padre Agostinho
Marques Ferreira, pároco de Fátima».
(P.
Luciano Cristino)
O
“quarto pastorinho de Fátima”, como já dito acima,
faleceu em
Fátima em 30 de janeiro de 1958.
O seu processo
de beatificação e canonização está a decorrer em Roma e parece
avançar normalmente em vista dum desfecho favorável que honrará não
somente as congregações que ele fundou, mas também a Diocese de
Leiria-Fátima e, Portugal inteiro.
VER
Cronologia da vida do Cónego Manuel
Nunes Formigão |