VIGÉSIMO SÉTIMO
DIA
Meios de vencer os obstáculos à devoção
ao Sagrado Coração de Jesus
A MORTIFICAÇÃO
Quereis
conhecer o meio de vencer os obstáculos que o exame particular nos
tiver feito descobrir? Adoptai corajosamente a mortificação interior
e exterior; ambas são absolutamente necessárias para chegar à
perfeição, não podendo uma subsistir sem outra.
A
mais necessária, porém, é incontestavelmente a interior, da qual
ninguém se pode dispensar. Incessante violência convém fazermo-nos
para tomarmos o reino dos céus.
Ninguém
há que não possa mortificar seu génio, desejos e inclinações, e
calar em ocasião em que a vivacidade o levaria a responder e a
vaidade a falar. Eis principalmente em que consiste esta
mortificação interior pela qual debilitamos o amor-próprio, e nos
libertamos de nossas imperfeições.
Debalde
nos lisonjeamos de amar a Jesus Cristo, se não formos mortificados;
todas as práticas de devoção, e belos sentimentos de piedade
tornam-se suspeitos, sem a perfeita mortificação. Quando a Santo
Inácio falavam de alguém como de um santo, ele respondia: “Será, se
for verdadeiramente mortificado”.
Não
basta vos mortificardes durante certo tempo, ou em alguma coisa;
cumpre fazê-lo sempre e em todas as coisas com prudência e
discrição. Uma satisfação desordenada que dais à natureza, torna-a
mais altiva, digamos assim, e mais rebelde, do que cem vitórias
conseguidas a teriam enfraquecido.
O
exercício desta mortificação é conhecido de todos que sinceramente
aspiram à perfeição. Em tudo acham eles ocasião de contrariar suas
inclinações naturais. Basta que tenham grande desejo de ver ou
falar, para obrigá-los a abaixarem os olhos, ou calarem-se; o
prurido de notícias ou de saber o que se passa ou o que se diz, é
para eles motivo de habitual mortificação, tanto mais meritórias
quanto mais frequentes, e de que só Deus é testemunha. Uma palavra
dita a propósito, um gracejo feito com espírito, pode granjear
estima na conversação; mas pode também ser matéria de belo
sacrifício. Sendo cem vezes interrompidos em uma ocasião muito
séria, cem vezes respondamos com tanta paciência e doçura como se
ocupados não estivéssemos.
Os
incómodos próprios de lugar, da estação, das pessoas, etc., eis
ainda outras ocasiões para nos mortificarmos, que são de grande
merecimento; bem se pode dizer que as maiores graças e a mais
sublime santidade ordinariamente dependem da generosidade com que
nos mortificamos constantemente nestas pequenas ocasiões que sem
cessar se nos apresentam.
Não
julgueis que aplicando-vos à mortificação levareis vida melancólica
e pesada: o jugo de Jesus Cristo é suave e leve. Não se iludiram os
Santos quando exclamavam: “Eu superabundo de alegria no meio das
tribulações”. Diz São Francisco Xavier: “Estou escrevendo aos
jesuítas de Roma, estou em uma terra onde para as comodidades da
vida tudo falta; mas tantas consolações interiores sinto aqui que
receio perder a vista de tanto chorar de alegria”.
Ânimo!
Só o primeiro passo custa. Experimentai.
Dizia
um grande servo de Deus: “Se no fim de quinze dias de continuada e
perfeita mortificação não sentirdes as doçuras que a outros
inebriaram, consinto que digam que penosa é a vida daqueles que amam
verdadeiramente a Jesus Cristo, e pesado é o Seu jugo”.
Prática
Examinai-vos todos os dias sobre o vosso defeito dominante, e sobre
uma virtude que procurareis adquirir.
Oração
jaculatória
Vosso
desolado Coração, oh Jesus, me ensine a fugir, a de- sprezar, a
detestar todas as terrenas satisfações.
3
vezes:
Divino
Coração de Jesus, tende piedade de nós.
Coração Imaculado de Maria, rogai por nós. |