No dia
20 de Março de 1841 nasceu, em Mellet, na Bélgica, Louis-Joseph
Wiaux, sendo baptizado no mesmo dia do nascimento como costume da
época.
Mellet
é um lugar de gente muito tranquila, trabalhadora e honrada. Aí a
família Wiaux destaca-se por seu sentido de vida cristã. Trabalham
muito, sempre com muita descontracção e um humor destacável. E Luís
foi crescendo nesse ambiente de trabalho, alegria e piedade.
No dia
28 de Março de 1852 Luís fez sua primeira comunhão. Era muito
trabalhador, alegre, modesto e muito delicado de consciência. Logo
que terminava suas tarefas, lia muito. Era obediente. Não foi um
menino prodígio, mas tinha uma inteligência aberta e ágil, com
excelente memória. Tinha um temperamento de chefe e uma formação
baseada nos princípios cristãos.
Sua
vocação foi amadurecendo e não era novidade para aqueles que o
conheciam. Logo se anuncia o caminho do Senhor e em 7 de Abril de
1856 dirige-se ao Noviciado dos Irmãos das Escolas Cristãs, em
Namur. Ele sabia que tudo era necessário para fazer-se na nova vida
e começar um novo aprendizado. O ambiente do Noviciado era de
silêncio, orações, exercícios espirituais, leituras espirituais,
trabalhos, conferências sobre Vida Religiosa e Regra... Luís sabia
que sairia do Noviciado como Irmão.
Em 1º
de Julho de 1856 o postulante Luís José Wiaux toma o hábito, na
entrada do Noviciado, e recebe o nome de Irmão Muciano Maria
(Mutien-Marie). Faz um Noviciado de generosidade impulsiva. Desejou,
desde cedo, que sua vida fosse um SIM total aos superiores e à
Regra. Toda a sua espiritualidade estava sustentada em 3 pontos:
culto à Regra, submissão evangélica aos superiores e amor filial a
Nossa Senhora.
Em 8 de
Setembro de 1857, o Irmão Muciano iniciava seu apostolado, numa
pequena classe na escola São José de Chimay (l’école Saint-Joseph de
Chimay). Amava sua condição de educador, mas não tinha muitas
vitórias. A frustração profissional e a ansiedade lhe causavam muita
dor. Mas era um modelo de regularidade e fervor religioso. Em 14 de
Setembro de 1859, o Irmão Muciano emite seus primeiros votos
religiosos por uma duração de 3 anos. No mesmo dia ele é designado
para fazer parte da comunidade de Malonne, onde ficaria por 58 anos.
O
director de Malonne, Irmão Maixentis, passou a dar ao Irmão Muciano
ocupações acessíveis e começou a ajudá-lo, para que se tornasse um
bom e respeitável professor. Colocou o Irmão Muciano para aprender
desenho e pintura. E ele foi aprender por obediência. Trabalhou
paisagens, figuras, estudos de animais e plantas. Durante muito
tempo. Tinha uma grande tenacidade que se afirmava na sua resolução
obediente. Enquanto pintava, rezava, envolto da presença de Deus.
Depois, aprendeu harmónio, flauta, clarinete, contrabaixo e, por
fim, órgão. Exercia tudo com muita graça e humildade... e sempre por
obediência.
Para o
Irmão Muciano todos eram bons e todos trabalhavam, mas confessava
que alguns poderiam dar-se mais. Levava sempre as palavras com amor.
O Irmão
Muciano era auxiliar do Irmão Méardus, artista nato, que dava aulas
de desenho especial. E Irmão Muciano seguia esse modelo exímio de
professor. Atendia a todos, rectificava os desenhos e felicitava
sempre o aluno com um sorriso. Distribuía a tempo todo o material e
exigia ordem e limpeza no local. Sempre em oração contínua. Era o
Irmão que rezava sempre.
Em 1860
o Irmão Muciano foi promovido a professor dos principiantes. Eram
crianças, com todas as suas consequências. E ele dava cabo à
aprendizagem que exigia muito silêncio, atenção e ritmo seguro.
Ensinava harmónio aos seus alunos. Logo, também, foi professor dos
normalistas. Sempre estava na classe quando seus alunos chegavam e
os recebia com um sorriso acolhedor e uma saudação amável. Todos
sabiam que o que fazia era por amor e obediência.
Em 26
de Setembro de 1869, o Irmão Muciano emitiu seus votos perpétuos.
Sua suavidade de trato com os alunos lhes inspirava verdadeira
veneração. Todos lhe queriam muito bem e para todos sempre tinha uma
palavra amável.
Ao
longo dos anos, os empregos incómodos sempre caíram sobre seus
ombros, e ele sempre os recebeu vazio de si mesmo e cheio do
Espírito do Evangelho como queria São João Batista de La Salle. O
bem que o Irmão Muciano realizou em Malonne com sua "vigilância" é
incalculável. Sempre atento e sempre solícito. Poderia ter-se
relevado de vários serviços, dada a sua idade e a asma que o
crucificavam. Mas por amor não o fez.
Estava
sempre na capela com o Senhor e aí permanecia por duas ou três
horas. Orava, meditava, conversava com seu fervoroso Companheiro.
Cuidava
dos passeios dos internos pelo pátio, durante os recreios. Fazia
sempre companhia aos doentes... também dava assistência em todos os
ensaios de música instrumental. Sem esforço, com naturalidade, sua
alma retornava à região donde gozava Deus e sua presença amada.
Somente Deus contava para ele. Deus o seduzia. Para o Irmão Muciano
a oração era a sua vida — eis o Irmão que reza sempre.
Durante
a oração mental, seus lábios se moviam. Podia seguir sua veemente
respiração e escutar a palavra que repetia sem cessar: "Jesus".
Havia um diálogo emocionante entre Deus e seu amigo, porque Deus
respondia no silêncio que se alternava com suas efusões místicas.
O Irmão
Muciano tinha uma devoção ardorosa por Maria. Pronunciava a Ave
Maria sem sombra de rotina, com devoção e amor. Cada palavra lhe
saía da alma. Na gruta de Nossa Senhora de Lourdes, o Irmão Muciano
amava e rezava longamente à Virgem. Aquando de sua morte, nas
últimas horas, disse ao enfermeiro que o acompanhava: "Quão feliz se
sente alguém, tendo amado muito a Virgem durante a vida..."
O Irmão
aceitava a Regra. Toda a Regra. Tinha sua vida inteira com imolação
e holocausto perene, homenagem de sua pessoa, alma e corpo, afecto e
critérios, desejos e vontades. Ele adorava o Deus presente e se
entregava, por inteiro, a Ele.
Durante
33 anos regulou todos os movimentos da comunidade, com sua exactidão
e precisão, com sua pontualidade.
Ele foi
professor "titular" apenas um ano, nunca explicou "catecismo" e nem
explanou seu zelo na tradicional reflexão. Foi apóstolo nato, que
transmite "efectivamente" a mensagem evangélica. Não limitou seu
zelo a uma classe. Irradiava-se por oração. Rezava por todos, em
todo o tempo.
Ele
tinha uma alegria contagiante, vital e comunicativa. Essa alegria
tem seu manancial em Deus, por isso não morria e era benfeitora.
Participava, com imensa felicidade das festas e comemorações. Suas
maiores alegrias eram: captar o sentido divino e humano das festas
litúrgicas, as festas dos santos de sua devoção, os acontecimentos
da Igreja, o êxito dos missionários, a conversão dos pecadores, o
ambiente fervoroso do internato entre outras tantas.
Veio,
então, a Guerra de 1914, que estremeceu toda a Europa. Em Malonne
seguiu-se com angústia os acontecimentos, pois passava-se por graves
necessidades. Em 24 de Agosto, Malonne se agitou com violência. Mais
de 2.000 homens invadiram e acamparam nos pátios do colégio e pelos
arredores. No dia seguinte marcharam à chegada de outra tropa. Assim
foi durante 52 meses terríveis... Irmão Muciano colocou tudo nas
mãos de Deus; e sua generosidade deu confiança ao seu redor. Os
alunos e Irmãos seguiram suas vidas e dividiam o espaço com tropas,
generais, médicos, enfermeiros, enfermos, convalescentes que iam e
vinham sem cessar.
O Irmão
Muciano, em cada manhã, um quarto de hora antes da oração
comunitária, já estava ante o altar da Virgem dando bom-dia. O tempo
passando, foi deixando a impressão de um santo.
No
inverno de 1916 o frio alcançava seus 15 graus abaixo de zero. Era
um dos invernos mais rigorosos. Em Malonne, em quinze dias, morreram
quatro Irmãos, todos anciãos que não resistiram.
O Irmão
Muciano nunca teve boa saúde, mas sempre tinha resistido e se
defendido. Em 21 de Novembro ele iniciou uma crise aguda de tosse,
asma intermitente que lhe tirava o sono e reumatismo que lhe
entorpecia os movimentos. Em poucas semanas tinha envelhecido
abruptamente. Recebeu, assim, o Viático e a sagrada Unção e,
levantou-se e foi à capela rezar. Aos poucos foi voltando ao seu
trabalho. Mas, na segunda semana de Dezembro o frio foi mais intenso
e a escassez de comida foi se agravando. E, juntos, foram se
agravando as doenças do Irmão Muciano. Mas, arrastando-se, acudia a
tudo, realizava suas funções com doçura e humildade, continuava de
um ao outro, corrigindo, orientando, felicitando, porém, sua saúde
cada vez mais lhe tirava as forças e o estava vencendo.
No dia
27 de Janeiro de 1917 o Irmão Muciano realizou suas últimas orações
diante do altar da Virgem e teve seu último dia de comunidade. À
tarde, seus alunos assistiam emocionados o esforço de um herói dando
sua última lição de harmónio.
No dia
28 um Irmão o ajudou a ir à capela. Quis ler, mas o livro caiu-lhe
das mãos... arrastou-se como pôde para receber a Eucaristia... ao
voltar, repetir fora de si: "Jesus, Jesus, te amo..."
Por
fim, o Irmão Director o acompanhou até a enfermaria. O Irmão Muciano
não se moveria mais. Aos Irmãos que o visitavam, ele dizia que
"estava nas mãos de Deus, e onde melhor?...".
A
eternidade se abriu imponente a ele.
Segunda-feira, 29 de Janeiro de 1917. O dia passou lento e doce.
Terça-feira, 30 de Janeiro de 1917. O Irmão Muciano rendeu sua alma
a Deus.
A
notícia triste correu logo. A desolação estava estampada no rosto
dos Irmãos, dos alunos, dos empregados, dos amigos.
Em 1º
de Fevereiro de 1917, Irmão Muciano é sepultado no cemitério da
comunidade de Malonne. No dia 2 de Maio de 1926 é depositado numa
nova sepultura, ao pé da torre da Igreja paroquial, em Malonne.
Irmão
Muciano viveu sua vida realizando tarefas humildes e em intenção
constante de perfeição e obediência. Ele tinha-se oferecido sem
condição a Deus e Deus agora dava sem condições a sua glória e
poder. E as palavras "santo" e "milagres" se entrelaçavam com o nome
do Irmão Muciano.
Em 30
de Outubro de 1977, em Roma, junto com outro Irmão das Escolas
Cristãs — Irmão Miguel Febres Cordeiro, religioso equatoriano —, o
Irmão Muciano Maria Wiaux era beatificado por S.S. o Papa Paulo VI.
E, em
30 de Outubro de 1980, em Malonne, inaugurou-se a capela e o centro
de actos "Irmão Muciano Maria". As relíquias do Bem-aventurado
repousam num esquife de mármore branco próximo do altar novo do
santuário.
Em 10
de Dezembro de 1989, a S.S. o Papa S. João Paulo II o canonizou.
O
Instituto dos Irmãos das Escolas Cristãs celebra a sua memória no
dia 30 de Janeiro.
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