JESUS SE SENTA NA MESA COM OS DOZE
Naquela noite comerão a carne (do cordeiro) assada no fogo com pães
sem fermento e ervas amargas. (Ex 12, 8)
Tenho desejado ardentemente comer convosco esta Páscoa, antes de
sofrer. (Lc 22,15)
Ao
declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos. (Mt
26, 20)
JESUS LAVA OS PÉS DE SEUS DISCÍPULOS.
Durante a ceia, – quando o demónio já tinha lançado no coração de
Judas, filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo, sabendo
Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para
Deus voltava, levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando
duma toalha, cingiu-se com ela. Em seguida, deitou água numa bacia e
começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha
com que estava cingido. Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas
vestes, sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que
vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o
sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também
vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para
que, como eu vos fiz, assim façais também vós. (Jo, 13, 2-5. 12-15)
DISCUSSÃO ENTRE OS DISCÍPULOS
Os
reis dos pagãos dominam como senhores... Que não seja assim entre
vós...(Lc 22, 25-26)
EU
estou no meio de vós, como aquele que serve... (Lc 22,27)
O
que entre vós é o maior, torne-se como o último; e o que governa
seja como o servo. Pois qual é o maior: o que está sentado à mesa ou
o que serve? Não é aquele que está sentado à mesa? Todavia, eu estou
no meio de vós, como aquele que serve.(Lc 22, 26-27)
Em
verdade, em verdade vos digo: o servo não é maior do que o seu
Senhor, nem o enviado é maior do que aquele que o enviou. Se
compreenderdes estas coisas, sereis felizes, sob condição de as
praticardes. (Jo 13, 16-17)
JESUS ANUNCIA A TRAIÇÃO DE JUDAS.
Até
o próprio amigo em que EU confiava, que partilhava do meu pão,
levantou contra mim o calcanhar. (Sal 40,10)
O
Filho do homem vai, segundo o que dele está escrito, mas ai daquele
homem por quem o Filho do homem for traído! Melhor lhe seria que
nunca tivesse nascido...(Mc. 14,21)
...Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: Em
verdade, em verdade vos digo: um de vós me há-de trair!... (Jo.
13,21)
Entretanto, eis que a mão de quem me trai está à mesa comigo. O
Filho do Homem vai, segundo o que está determinado, mas ai daquele
homem por quem ele é traído! Perguntavam então os discípulos entre
si quem deles seria o que tal haveria de fazer. (Lc 22,21-23)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Anna Catharina Emmerich:
Judas
tinha ido novamente de Betânia a Jerusalém, sob pretexto de fazer
várias compras e pagamentos. De manhã interrogou Jesus os nove
Apóstolos a respeito, apesar de saber perfeitamente o que Judas
estava fazendo. Este correu todo o dia pelas casas dos fariseus,
combinando tudo com estes; O traidor premeditou todos os passos que
carecia dar, para que pudesse sempre explicar a sua ausência; não
voltou para junto de Nosso Senhor, senão pouco antes de comerem o
cordeiro pascal. Vi-lhe todas as conspirações e os pensamentos.
Quando Jesus falou a Maria acerca de Judas, vi muitas coisas em
relação ao carácter deste; era activo e atencioso, mas cheio de
avareza, ambição e inveja e não lutava contra as paixões. Fizera
também milagres e curara doentes na ausência de Jesus.
O Lava-pés
Levantaram-se da mesa e, enquanto mudavam e arranjavam as vestes,
como costumavam fazer antes da oração solene, entrou o mordomo, com
os dois criados, para levar a mesa, tirá-la do meio dos assentos que
a cercavam e pô-la ao lado. Tendo feito isso, recebeu ordem de Jesus
para trazer água ao vestíbulo e saiu da sala, com os dois criados.
Jesus, em pé no meio dos Apóstolos, falou-lhes muito tempo em tom
solene. Mas tenho até agora visto e ouvido tantas coisas, que não é
possível relatar com exactidão a matéria de todos os discursos.
Lembro-me que falou do seu reino, de sua ida para o Pai, prometendo
deixar-lhes tudo o que possuía, etc. Também pregou sobre a
penitência, exame e confissão das faltas, arrependimento e
purificação. Tive a impressão de que essa instrução se
relacionava com o lava-pés e vi também que todos conheceram os
seus pecados e se arrependeram, com excepção de Judas. Esse
discurso foi longo e solene. Tendo terminado, Jesus mandou João e
Tiago o Menor trazerem a água do vestíbulo, ordenando aos Apóstolos
que colocassem os assentos em semicírculo, Ele próprio foi ao
vestíbulo, despiu o manto e arregaçando a túnica, cingiu-se com um
pano de linho, cuja extremidade mais longa pendia para baixo.
Durante
esse tempo tiveram os Apóstolos uma discussão, sobre qual deles
devia ter o primeiro lugar, como o Senhor lhes anunciara claramente
que os ia deixar e que o seu reino estava perto, surgiu de novo
entre eles a opinião de que Jesus tinha aspirações secretas, um
triunfo terrestre, que se realizaria no último momento.
Jesus,
que estava no vestíbulo, deu ordem a João para tomar uma bacia e a
Tiago o Menor para trazer um odre cheio de água, transportando-o
diante do peito, de modo que o bocal pendesse sobre o braço. Depois
de ter derramado água do odre na bacia, mandou que os dois O
seguissem à sala, onde o mordomo tinha posto no meio outra bacia
maior, vazia.
Entretanto pela porta da sala, de forma humilde, Jesus censurou os
Apóstolos em poucas palavras, por causa da discussão havia antes
entre eles, dizendo, entre outras coisas, que Ele mesmo queria
servir-lhes de criado, que tomassem os assentos, para que lhes
lavasse os pés. Então se sentaram, na mesma ordem em que foram
colocados à mesa, tendo sido os assentos dispostos em semicírculo.
Jesus, indo de um a outro, derramou-lhes sobre os pés água da bacia,
que João sucessivamente colocava sobre os pés de cada um. Depois
tomava o Mestre a extremidade da toalha de linho, com que estava
cingido e enxugava-lhes os pés com ambas as mãos. Em seguida se
aproximava, com Tiago, do Apóstolo seguinte. João esvaziava de cada
vez a água usada, na grande bacia que estava no meio da sala e Jesus
enchia de novo a bacia, com água do odre que Tiago segurava,
derramando-a sobre os pés do Apóstolo e enxugando-lhos.
O
Senhor, que durante toda a ceia pascal se mostrara singularmente
afectuoso, desempenhou-se também desta humilde função com o mais
tocante amor. Não fazia como uma cerimónia, mas como ato santo de
caridade, exprimindo nele todo o seu amor.
Quando
chegou a Pedro, este quis recusar, dizendo: “Senhor, Vós me
quereis lavar os pés?”. Disse, porém, o Senhor: “Agora não
entendes o que faço, mas entendê-lo-ás no futuro”. Pareceu-me
que lhe disse em particular: “Simão, tens merecido aprender de
Meu Pai quem Sou Eu, donde venho e para onde vou; só tu o tens
conhecido e confessado; por isso, construirei sobre ti a minha
Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. O meu
poder há-de ficar também com os teus sucessores, até o fim do
mundo”.
Jesus
indicou-o aos outros, dizendo-lhes que Pedro devia substituí-lo na
administração e no governo da Igreja, quando Ele tivesse saído deste
mundo. Pedro, porém, disse: “Vós não me lavareis jamais os pés”. O
Senhor respondeu-lhe: “Se eu não tos lavar, não terás parte em
mim”. Então lhe disse Pedro: “Senhor, não me lavareis somente
os pés, mas também as mãos e a cabeça”. Jesus respondeu: “Quem
foi lavado, é puro no mais; não é preciso lavar senão os pés. Vós
também estais limpos, mas não todos.” Com estas palavras
referiu-se a Judas.
Jesus,
ensinando sobre o lava-pés, disse que era uma purificação das faltas
quotidianas, porque os pés, caminhando descuidosamente na terra, se
sujavam continuamente.
Esse
banho dos pés era espiritual e uma espécie de absolvição. Pedro,
porém, viu nele apenas uma humilhação muito grande para o Mestre; não
sabia que Jesus, para salvá-lo e aos outros homens, se humilharia na
manhã seguinte até à morte ignominiosa da Cruz.
Quando
Jesus lavou os pés de Judas, mostrou-lhe uma afeição comovedora;
aproximou o rosto dos pés do Apóstolo infiel, disse-lhe muito baixo
que se arrependesse, pois que já por um ano pensava em tornar-se
infiel e traidor. Judas, porém, parecia não querer perceber e falava
com João. Pedro irritou-se com isso e disse-lhe: “Judas, o Mestre
fala-te”. Então disse Judas algumas palavras vagas e evasivas a
Jesus, como: “Senhor, tal coisa nunca farei”.
Os
outros não perceberam as palavras que Jesus dissera a Judas, pois
falara baixo e eles não prestaram atenção; estavam ocupados em
calçar as sandálias. Nada, em toda a Paixão, afligiu tão
profundamente o Senhor como a traição de Judas. Jesus lavou depois
ainda os pés de João e Tiago. Primeiro, se sentou Tiago e Pedro
segurou o odre de água, depois se sentou João e Tiago segurou a
bacia.
Jesus
ensinou ainda sobre a humildade, dizendo que aquele que servia aos
outros, era o maior de todos e que dali em diante deviam lavar
humildemente os pés uns aos outros; tocou ainda na discussão sobre
qual deles havia de ser o maior, dizendo muitas coisas que se
encontram também no Evangelho.
“Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais
Mestre e Senhor e dizeis bem, porque o sou. Se eu, sendo vosso
Senhor e Mestre, vos lavei os pés, logo deveis também lavar os pés
uns aos outros. Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu fiz,
assim façais vós também. Em verdade, em verdade, vos digo: não é o
servo maior do que o seu Senhor, nem o enviado é maior do que aquele
que o enviou. Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sereis se
também as praticardes. Não digo isto de todos vós; sei os que
tenho escolhido; mas é necessário que se cumpra o que diz a
Escritura: ”O que come o pão comigo, levantará contra mim o
calcanhar”. Desde agora vos digo, antes que suceda; para que,
quando suceder, creiais que sou eu. Em verdade, em verdade vos
digo: “O que recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e o
que me recebe a mim, recebe Aquele que me enviou”. (Jo.
13,12-20).
Jesus
vestiu de novo as vestes. Os Apóstolos desenrolaram também as vestes,
que antes tinham arregaçado, para comer o cordeiro pascal. |