Eu sou
o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá
eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a
salvação do mundo.
Quem
come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu
nele.(Jo 6, 51.56)
...como
amasse os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou... (Jo
13,1)
...Isto
é o Meu CORPO, que é dado por vós; ...Este cálice é a Nova Aliança
em Meu SANGUE, que é derramado por vós... (Lc 22, 19-20)
Durante
a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o, partiu-o e o deu aos
discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é Meu CORPO. Tomou depois o
cálice, rendeu graças e deu-lho, dizendo: Bebei dele todos, porque
isto é Meu SANGUE, o sangue da Nova Aliança, derramado por muitos
homens em remissão dos pecados. Digo-vos: doravante não beberei mais
desse fruto da vinha até o dia em que o beberei de novo convosco no
Reino de Meu Pai. (Mt. 26, 26-29)
O SERMÃO DE DESPEDIDA
Logo
que Judas saiu, Jesus disse: Agora é glorificado o Filho do Homem, e
Deus é glorificado nele. (Jo 13,31)
...No
mundo haveis de ter aflições. Coragem! Eu venci o mundo... (Jo
16,33)
A ORAÇÃO SUMO SACERDOTAL.
JESUS,
levantando os olhos ao céu, disse:
PAI, é
chegada a hora. Glorifica teu FILHO, para que Teu FILHO glorifique a
TI; (Jo 17, 1).
...e
para que, pelo poder que lhe conferiste sobre toda criatura, ELE dê
a vida eterna a todos aqueles que lhe entregaste. ... EU TE
glorifiquei na terra. Terminei a obra que ME deste para fazer.
Agora, pois, PAI, glorifica-ME junto de TI, concedendo-me a glória
que tive junto de TI, antes que o mundo fosse criado. (Jo 17, 2-5)
“Manifestei o Teu Nome aos homens que do mundo ME deste”... (Jo 17,
6)
“Por
eles é que EU rogo... guarda-os em Teu Nome, a fim de que sejam um
como NÓS. Conservei os que me deste... Dei-lhes a tua palavra... Não
peço que os tires do mundo, mas sim que os preserves do mal. ...
Santifica-os pela verdade. A Tua palavra é a verdade. Santifico-ME
por eles para que também eles sejam santificados pela verdade. (Jo
17, 9-18)
Não
rogo somente por eles, mas também por aqueles que por sua palavra
hão de crer em MIM. (Jo 17,20)
PAI,
quero que, onde EU estou, estejam comigo aqueles que ME deste, para
que vejam a Minha glória. Manifestei-lhes o Teu Nome, e ainda hei de
lho manifestar, para que o amor com que ME amaste esteja neles, e EU
neles. (Jo 17, 24.26)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Ana Catarina Emmerich:
Por
ordem do Senhor, o mordomo pusera novamente a mesa e colocara-a um
pouco mais alto e no meio, coberto de um tapete, sobre o qual
estendera uma toalha vermelha e em cima desta, outra branca, bordada
a crivo. Por baixo da mesa pôs um jarro de água e outro de vinho.
Pedro e
João, indo à parte da sala onde era o forno do Cordeiro pascal,
buscaram o cálice que haviam trazido da casa de Seráfia.
Transportaram-no solenemente, dentro do invólucro; eu tinha a
impressão de que carregavam um Tabernáculo. Colocaram-no sobre a
mesa, diante de Jesus. Havia também um prato oval, com três pães
ázimos, brancos e delgados, marcados com sulcos regulares; eram por
estes divididos em três partes, no sentido da largura e no duplo de
partes da largura, no sentido comprimento. Os pães estavam cobertos.
Jesus já lhes fizera ligeiras incisões, durante o ceia pascal, para
parti-los mais facilmente e pusera por baixo da toalha a metade do
pão partido no banquete pascal. Estavam também sobre a mesa um
cântaro de água e outro de vinho, como também três vasos, um com
óleo grosso, outro com azeite, o terceiro vazio e mais uma espátula.
Desde
os antigos tempos reinava o costume de partir o pão e beber do mesmo
cálice no fim do banquete; era sinal de fraternidade e amor, usado
por ocasião de boa vinda e despedida. Creio que há alguma coisa a
este respeito também na Escritura Sagrada. Jesus, porém, elevou esse
uso à dignidade do Santíssimo Sacramento. Até então tinha sido
somente um rito simbólico e figurativo. Pela traição de Judas foi
levado ao tribunal também a acusação de ter Jesus juntado alguma
coisa nova às cerimónias da Páscoa; Nicodemos, porém, provou com
trechos da Escritura Sagrada, que esse uso de despedida era muito
antigo.
O lugar
de Jesus era entre Pedro e João. As portas estavam fechadas; tudo se
fez com solenidade misteriosa. Depois de se haver tirado do cálice o
invólucro e levado à parte separada da sala, rezou Jesus, falando
num tom solene. Vi que lhes explicava todas as santas cerimónias da
última ceia; era como se um sacerdote ensinasse aos outros a santa
Missa.
Em
seguida tirou da bandeja em que estavam os vasos, um tabuleiro
corrediço, tomou o pano de linho que cobria o cálice e estendeu-o
sobre o tabuleiro. Depois o vi tirar do cálice uma patena redonda e
pô-la sobre o tabuleiro coberto. Tirou então os pães que estavam ao
lado, num prato coberto com um pano de linho e colocou-os na patena,
diante de si. Os pães, que tinham a forma de um quadrilátero
oblongo, excediam dos dois lados a patena, cuja borda, porém,
permanecia visível na largura.
Em
seguida puxou para si o cálice, tirou dele um copinho, colocando
também os seis copos pequenos à direita e esquerda do cálice. Depois
benzeu o pão ázimo e, creio, também os óleos, que estavam ao lado,
levantou a patena, em que estavam os pães ázimos, com ambas as mãos,
olhou para o céu, rezou e ofereceu-o a Deus, pôs a patena no
tabuleiro e cobriu-a. Depois tomou o cálice, mandou Pedro derramar
vinho e João derramar água, que antes benzera e juntou ainda um
pouco de água, que colheu com a colherzinha. Benzeu o cálice,
levantou-o, ofereceu-o, rezando e colocou-o no tabuleiro.
Mandou
a Pero e João derramarem-Lhe água sobre as mãos, por cima do prato
em que anteriormente foram postos o pães ázimos e, tirando a
colherzinha do pé do cálice, apanhou um pouco de água que lhe
correra sobre as mãos e espargiu-a sobre as mãos dos dois Apóstolos.
Depois passou o prato em redor da mesa e todos lavaram nele as mãos.
Não me lembro bem se foi essa a ordem exacta das cerimónias; mas
tudo isso, que me lembrou muito o santo Sacrifício da Missa,
comoveu-me profundamente.
Durante
esse santo acto tornou-se Jesus cada vez mais afectuoso; disse-lhes
que agora queria dar-lhes tudo que tinha: sua própria pessoa. Era
com se derramasse sobre eles todo o seu amor e vi-O tornar-se
transparente; parecia uma sombra luminosa.
Orando
com esse amor, partiu o pão nas partes marcadas, as quais amontoou
sobre a patena, em forma de pirâmide. Do primeiro bocado quebrou um
pedacinho com a ponta dos dedos e deixou-o cair no cálice.
No
momento em que o fez, tive a impressão de que a SS. Virgem recebeu o
Santo Sacramento espiritualmente, apesar de não estar ali presente.
Não sei agora como o vi; mas pensei vê-la entrar pela porta, sem
tocar no chão aproximar-se de Jesus, do lado desocupado da mesa e
receber o santo Sacramento em frente d’Ele; depois não a vi mais.
Jesus dissera-lhe de manhã, em Betânia, que celebraria a Páscoa
junto com ela, marcando-lhe a hora em que, recolhida em oração,
devia recebê-la espiritualmente.
O
Senhor rezou ainda e ensinou; todas as palavras lhe saíram da boca
como fogo e luz e entraram nos Apóstolos, com excepção de Judas.
Depois tomou a patena com os bocados de pão (não sei, mas se a tinha
posto sobre o cálice) e disse: “Tomai e comei, isto é o meu corpo,
que será entregue por vós”. Nisso estendeu a mão direita como para
benzer e, enquanto assim fazia, saiu dele um esplendor, suas
palavras eram luminosas e também o era o pão que se precipitou na
boca dos Apóstolos, como um corpo resplandecente; era como se Ele
mesmo entrasse neles. Vi-os todos penetrados de luz; só Judas vi
escuro.
O
Senhor deu o Sacramento primeiro a Pedro, depois a João; em seguida
fez sinal a Judas para aproximar-se; foi o terceiro, a quem deu o
SS. Sacramento. Mas a palavra do Cristo parecia recuar da boca do
traidor. Fiquei tão horrorizada, que não posso exprimir o que senti
nesse momento. Jesus, porém, disse-lhe: “Fazei já o que queres
fazer” e continuou a dar o Santo Sacramento aos Apóstolos, que se
aproximaram dois a dois, segurando alternadamente, em frente um do
outro, um pequeno pano engomado, bordado nos lados, o qual cobria o
cálice.
Jesus
levantou o cálice pelas duas argolas até a altura do rosto e
pronunciou as palavras da consagração sobre ele. Nesse acto ficou
transfigurado e como transparente, parecendo passar tudo o que lhes
deu. Fez Pedro e João beberem do cálice, que segurava nas mãos,
colocando-o depois na mesa; João passou com a colherzinha o SS.
Sangue do cálice para os copinhos, que Pedro ofereceu aos Apóstolos,
os quais beberam dois a dois de um copo. Creio, mas não tenho
absoluta certeza, que Judas também participou do cálice; não voltou,
porém, ao seu lugar, mas saiu imediatamente do Cenáculo.
Como
Jesus lhe tivesse feito um sinal, pensaram os outros que o tivesse
encarregado de algum negócio. Retirou-se sem ter rezado e feito a
acção de graças, por onde se vê como é mau retirar-se sem acção de
graças, depois de tomar o pão quotidiano ou o Pão Eterno. Durante
toda a refeição, eu tinha visto ao pé de Judas a figura de um
pequeno monstro vermelho e hediondo, cujo pé era como um osso
descarnado e que ás vezes lhe subia até o coração. Quando saiu de
casa, vi três demónios cercarem-no; um entrou-lhe na boca, outro
empurrou-o para frente e o terceiro correu-lhe à frente. Era noite e
eles pareciam alumiá-lo; Judas corria como um louco.
O
Senhor deitou o resto do Santíssimo Sangue, que ainda ficara no
fundo do cálice, no copinho que antes estivera dentro do cálice;
pondo depois os dedos por cima do cálice, mandou Pedro e João
derramarem água e vinho sobre eles. Feito isso, fê-los beber ambos
do cálice e o resto vazou-os nos outros copinhos, distribuindo-os
pelos outros Apóstolos. Em seguida Jesus enxugou o cálice, meteu
nele o pequeno copo, contendo o resto do Santíssimo Sangue, colocou
em cima a patena, com os restantes pães ázimos consagrados pôs a
tampa e cobriu o cálice de novo com o pano, colocando-o depois sobre
a bandeja, entre os seis copinhos. Vi os Apóstolos comungarem dos
restos do Santíssimo Sacramento, depois da ressurreição de Jesus.
Não me
lembro de ter visto o Senhor comer as espécies consagradas, a não
ser que eu não reparasse. Dando o Santíssimo Sacramento, deu-se de
modo que parecia sair de si mesmo e derramar-se nos Apóstolos, numa
efusão de amor misericordioso. Não sei como posso exprimi-lo.
Também
não vi Melquisedec, quando ofereceu pão e vinho, come-lo e bebê-lo.
Soube também porque os sacerdotes o consomem, apesar de Jesus não o
ter feito.
Dizendo
isso, Catarina Emmerich virou de repente a cabeça, como para
escutar; recebeu uma explicação sobre esse ponto, da qual pôde
comunicar somente o seguinte; “se, porém, os sacerdotes não o
recebessem, já se teria perdido há muito; por isso é que se
conserva”.
Todas
as cerimónias, durante a instituição do SS. Sacramento, foram feitas
por Jesus com muita calma e solenidade, para ao mesmo tempo ensinar
e instruir os Apóstolos, os quais vi depois tomarem notas de certas
coisas, nos pequenos rolos que tinham consigo. Todos os movimentos
de Jesus, para a direita e para a esquerda, eram solenes, como
sempre que estava rezando. Tudo mostrava em geral o santo Sacrifício
da Missa. Durante a cerimónia e em outras ocasiões, vi também os
Apóstolos se inclinarem uns diante dos outros ao aproximarem-se,
como ainda fazem os sacerdotes de hoje.
Instruções secretas e consagrações
Jesus
deu ainda instruções secretas. Disse aos Apóstolos que continuassem
a consagrar e administrar o SS. Sacramento, até o fim do
mundo. Ensinou-lhes as formas essenciais da administração e do uso
do Sacramento e de que modo deviam gradualmente ensinar e publicar
esse mistério; explicou-lhes quando deviam receber o resto das
espécies consagradas e dá-lo à SS. Virgem e que deviam consagrar
também o SS. Sacramento, depois de lhes ter enviando o Divino
Consolador.
Instruiu-os em seguida sobre o sacerdócio, sobre a preparação do
Crisma e dos santos óleos e sobre a unção. Estavam ao lado do cálice
três urnas, duas das quais continham misturar de bálsamo e diversos
óleos e algodão; as urnas podiam ser postas em cima da outra. Jesus
ensinou-lhes muitos mistérios, como se devia preparar o santo
Crisma, a que partes do corpo se devia aplicar e em que ocasiões.
Lembro-me, entre outras coisas, que mencionou um caso em que a
sagrada Eucaristia não podia mais ser recebida; talvez se tenha
referido à Extrema-Unção: mas as minhas lembranças a tal respeito
não são muito claras. Falou ainda de diversas unções, inclusive a
dos reis e disse que os reis sagrados com o Crisma, mesmo os
injustos, possuíam uma força interna misteriosa, que não era dada
aos outros. Derramou, pois, unguento e óleo na urna vazia e
misturou-os; não sei mais positivamente se foi nesse momento ou já
por ocasião da consagração dos pães, que benzeu o óleo.
Vi
depois Jesus ungir a Pedro e João; já por ocasião da instituição do
SS. Sacramento lhe derramara sobre as mãos a água que sobre as suas
lhe correra e os fizera também beber do cálice que Ele mesmo
segurava.
Saindo
do meio da mesa, um pouco para o lado, pousou as mãos primeiro sobre
os ombros e depois sobre a cabeça de Pedro e João. Em seguida
mandou que ficassem de mãos postas e colocassem os polegares em
forma de cruz. Inclinaram-se os dois Apóstolos profundamente diante
do Mestre (não sei ai estavam de joelhos). O Senhor ungiu-lhes os
polegares e indicadores com unguento e fez-lhes com o mesmo também o
sinal da cruz na cabeça. Disse-lhes também que essa unção devia
permanecer com eles até o fim do mundo.
Tiago o
Menor, André, Tiago o Maior e Bartolomeu receberam também ordens. Vi
também o Senhor ajustar em forma de cruz, sobre o peito de Pedro, a
faixa estreita de pano, que todos traziam ao pescoço; aos outros,
porém, do ombro direito para debaixo do braço esquerdo. Não sei mais
com certeza se isso se fez já por ocasião da instituição do SS.
Sacramento ou só na hora da unção.
Vi
porém, que Jesus lhes comunicou com essa unção uma coisa real e
também sobrenatural, não sei como exprimi-lo em palavras. Disse-lhes
mais que, depois de terem recebido o Espírito Santo, deviam também
consagrar pão e vinho e dar a unção aos outros Apóstolos. Nesse
momento tive uma visão sobre Pedro e João que, no dia de
Pentecostes, antes do grande baptismo, impuseram as mãos aos outros
Apóstolos, o que também fizeram, uma semana depois, a alguns outros
discípulos. Vi também João, depois da ressurreição de Jesus, dar
pela primeira vez o SS. Sacramento a Nossa Senhora. Esse
acontecimento foi celebrado pelos Apóstolos com grande solenidade; a
Igreja militante não tem mais essa festa, mas vejo-a celebrada ainda
na Igreja triunfante. Nos primeiros dias depois de Pentecostes vi só
Pedro e João consagrarem a santa Eucaristia, mais tarde a
consagraram também os outros.
O
Senhor benzeu-lhes também fogo, num vaso de bronze; esse fogo desde
então ardeu sempre, até depois de longas ausências era guardado
junto ao lugar onde se conservava o SS. Sacramento, numa parte do
antigo fogão pascal; ali sempre o buscavam para as cerimónias
religiosas.
Tudo
que Jesus fez por ocasião da instituição da sagrada Eucaristia e da
unção dos Apóstolos, foi debaixo de grande segredo e era também
ensinado só secretamente e tem se conservado, na sua essência, pela
Igreja até os nossos tempos, aumentando, porém, sob a inspiração do
Espírito Santo, conforme as necessidades.
Os
Apóstolos ajudaram na preparação e bênção do santo Crisma; quando
Jesus os ungiu e lhes impôs as mãos, fez tudo com grande
solenidade.
Terminadas as santas cerimônias, o cálice, perto do qual estavam
também os santos óleos, foi coberto com a capa e Pedro e João
levantaram assim o SS. Sacramento para o fundo da sala, separado do
resto por uma cortina e ali era desde então o Santuário. O SS.
Sacramento estava por cima do fogão pascal, não muito alto. José de
Arimatéia e Nicodemos cuidavam do Santuário e do Cenáculo, na
ausência dos Apóstolos.
Jesus
ensinou ainda por muito tempo e disse algumas orações com grande
fervor. Parecia às vezes conversar com o Pai celeste, cheio de
entusiasmo e amor. Os Apóstolos também ficaram penetrados de zelo e
ardor e fizeram-lhe várias perguntas, às quais respondeu. Creio que
tudo isso está escrito em grande parte na Escritura Sagrada. Durante
esses discursos, disse Jesus algumas coisas a Pedro e João
separadamente, as quais estes depois deviam comunicar aos outros
Apóstolos, como complemento de instruções anteriores e estes aos
outros discípulos e às santas mulheres, quando chegassem ao tempo de
receberem tais conhecimentos.
Pedro e
João estavam sentados perto de Jesus. O Senhor teve também uma
conversa particular com João, da qual me lembro agora apenas o
prognóstico de que a vida deste Apóstolo seria mais longa que a dos
outros; falou-lhe também de sete Igrejas, de coroas, Anjos e outras
figuras simbólicas, com as quais designava, como me parece, certas
épocas. Os outros Apóstolos sentiram, diante dessa confiança
particular, um leve movimento de inveja.
O
Mestre falou também diversas vezes do traidor, dizendo o que naquela
hora este estava fazendo; viu sempre Judas fazer o que o Senhor
dizia. Como Pedro lhe afirmasse, com grande ardor, que havia de
permanecer fiel, disse-lhes Jesus: “Simão, Simão, eis que Satanás
vos reclama com instância, para vos joeirar como o trigo; mas eu
roguei por ti, afim de que tua fé não desfaleça; e tu enfim, depois
de convertido, confirma na fé teus irmãos”. Como, porém, Jesus
dissesse que onde iria, não poderiam seguí-lo, exclamou Pedro que o
seguiria até a morte. Replicou Jesus: “Em verdade antes que o galo
cante duas vezes, tu me negarás três vezes”, Quando lhes anunciou os
tempos duros que viriam, pergunto-lhes: “Quando vos enviei sem
alforje, sem sapatos, faltou-lhes porventura alguma
coisa?” Responderam: “Não”. Disse, porém, que daquela hora em
diante, quem tivesse bolsa, a tomasse e também alforje e o que nada
tivesse, vendesse a túnica e comprasse espada, pois que se devia
cumprir a palavra: “E foi reputado por um dos iníquos”. Tudo que
fora escrito sobre Ele, devia cumpri-se então.
Os
Apóstolos entenderam-no no sentido natural e Pedro mostrou-Lhe duas
espadas curtas e largas, como cutelos.
Jesus
disse: “Basta, vamo-nos daqui”. Rezaram então um cântico; a mesa foi
posta ao lado e dirigiram-se todos ao vestíbulo.
Ali se
aproximaram a mãe de Jesus, Maria de Cleofas e Madalena, que lhe
pediram instantemente que não fosse ao monte das Oliveiras; pois se
propagara o boato de que queriam apoderar-se dEle. Mas Jesus
consolou-as com poucas palavras, continuando apressadamente o
caminho; eram cerca de 9 horas da noite. Descendo a grandes passos
pelo caminho pelo qual Pedro e João tinham vindo ao Cenáculo,
dirigiram-se ao monte das Oliveiras.
Oração solene de despedida de Jesus
Não
podemos deixar de inserir aqui as últimas palavras e ensinamentos
tão profundos, que Jesus, no fim da ceia, dirigiu aos Apóstolos, com
tanto amor e carinho e que nos foram transmitidos por S. João no seu
Evangelho, Caps. 14 a 17. Jesus disse:
“Não se
perturbe o vosso coração. Credes em Deus, crede também em mim. Na
casa de meu Pai há muitas moradas; se assim não fora, eu vo-lo teria
dito: pois vou a aparelhar-vos o lugar. E depois que eu for e vos
aparelhar o lugar, virei outra vez, e tomar-vos-ei comigo, para que
onde eu estiver, estejais vós também, para onde eu vou, sabeis vós e
sabeis também o caminho”. Disse-lhe Tomé: “Senhor, não sabemos para
onde vias, e como podemos saber o caminho?” Respondeu-lhe Jesus: “Eu
sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vai ao Pai senão por mim.
Se me conhecêsseis a mim, também certamente havíeis de conhecer meu
Pai; mas conhecê-Lo-eis bem cedo e já o tendes visto”. Disse-lhe
Filipe: “Senhor, mostrai-nos o Pai e isso nos basta”.Respondeu-lhe
Jesus: “Há tanto tempo que estou convosco e ainda não me tendes
conhecido? Filipe, quem vê a mim, vê também ao Pai. Como dizes logo:
“Mostra-nos o Pai?” Não credes que estou no Pai e o Pai está em mim?
As palavras que vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que
está em mim, é que faz as obras. Não credes que estou no Pai e que o
Pai está em mim? Crede ao menos por causa das mesmas obras. Em
verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim, fará também
as obras que faço e fará outras ainda maiores; porque vou para o
Pai. E tudo o que pedirdes ao Pai em meu nome, eu vo-lo farei, para
que o Pai seja glorificado no Filho.
Se me
amais, guardais os meus mandamentos. E rogai ao Pai e Ele vos dará
outro Consolador, para que fique eternamente convosco, o Espírito da
verdade, a quem o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o
conhece; mas vos deixarei órfãos; virei a vós. Resta ainda um pouco,
depois já o mundo não me verá; mas ver-me-eis vós, porque eu vivo e
vós vivereis. Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai e vós em
mim e eu em vós. Aquele que tem os meus mandamentos e que os guarda,
esse é o que me ama. E aquele que me ama, será amado de meu Pai e eu
o amarei também e me manifestarei a ele”.
Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: “Senhores, donde procede que te
hás de manifestar a nós e não ao mundo?” Respondeu-lhes Jesus: “Se
alguém me ama, guardará a Minha palavra e meu Pai o amará e viremos
a ele e faremos nele morada. O que não me ama, não guarda as minhas
palavras. E a palavra que tendes ouvido, não é minha, mas, sim, do
Pai que me enviou. Eu vos disse estas coisas, permanecendo convosco;
mas o Consolador, que é o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em
meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar tudo o que
vos tenho dito. A paz vos deixo, a minha paz vos dou; eu não vo-la
dou como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem fique
sobressaltado. Já tendes ouvido que eu vos disse: Eu vou e venho a
vós. Se me amardes, certamente haveis de alegrar-vos, que vou para
junto do Pai, é maior do que Eu. Eu vo-lo disse agora, antes que
suceda, para que, quando suceder, o creiais. Já não falarei muito
convosco, porque vem o príncipe deste mundo e ele não tem em mim
coisa alguma. Mas, para que o mundo conheça que amo o Pai e que faço
como me ordena. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Eu sou
a verdadeira videira e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der
fruto em mim, Ele o cortará e todos os que derem fruto, limpá-los-á,
para que o dêem mais abundante. Vós já estais puros, em virtude da
palavra que eu vos disse. Permanecei em mim e eu permanecerei em
vós. Como o ramo da videira não pode de si mesmo dar fruto, se não
permanecer na videira, assim nem vós podereis dar, se não
permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos; o que
permanece em mim e em quem eu permaneço, dá muito fruto; porque vós
sem mim não podeis fazer nada. Se alguém não permanecer em mim, será
lançado fora com o ramo e secará e enfeixá-lo-ão e lançá-lo-ão ao
fogo e ali arderá.
Se
permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós,
pedireis tudo o que quiserdes e ser-vos-á feito. Nisso é glorificado
meu Pai, em que vós deis muito fruto e em que sejais meus
discípulos. Como meu Pai me amou assim vos amei. Permanecei no meu
amor. Se guardardes os meus preceitos, permanecereis no meu amor,
assim como também eu guardei os preceitos de meu Pai e permaneço no
seu amor. Disse-vos estas coisas, para que o minha alegria esteja em
vós e que a vossa alegria seja completa. O meu preceito é este: que
vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Ninguém tem maior amor
do que este de dar a própria vida pelos amigos. Vós sereis meus
amigos, se fizerdes o que vos mando. Já vos não chamarei servos;
porque o servo não sabe o que faz o seu senhor. Mas chamei-vos
amigos, porque vos revelei tudo quanto ouvi de meu Pai. Não fostes
vós que me escolhestes a mim, mas fui eu que vos escolhi a vos
constitui, para que vades e deis fruto e para que o vosso fruto
permaneça, para que tudo quanto pedirdes a meu Pai, em meu nome, Ele
vo-lo conceda. O que eu vos mando, é que vos ameis uns aos outros.
Se o mundo vos odeia, sabei que primeiro do que a vós, me odiou a
mim. Se fôsseis do mundo, o mundo vos amaria como sendo seus; mas
porque não sois do mundo, mas do mundo que vos escolhi, por isso é
que o mundo vos odeia.
Lembrai-vos da minha palavra que eu vos disse: Não é o servo maior
do que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão de
perseguir a vós. Se guardaram a minha palavra, também vos hão de
perseguir a vós. Se guardaram a minha palavra, também hão de guardar
a vossa. Mas vos farão tudo isto por causa de meu nome, porque não
conhecem aquele que me enviou. Se eu não viesse e não lhe tivesse
falado, não teriam pecado; mas agora não há desculpa para o seu
pecado. Aquele que me odeia, odeia também a meu Pai. Se eu não
tivesse feito entre eles tais obras, como nenhum outro fez, não
haveria da parte deles pecado; mas agora não somente as viram, mas
ainda me odiaram, tanto a mim como a meu Pai. Mas é para se cumprir
a palavra que está escrita na lei (Sal. 34,19; 68,5): “Eles me
odiaram sem motivo”. Quando, porém, vier o Consolador, o Espírito da
verdade, que procede do Pai, que eu vos enviarei da parte do Pai,
Ele dará testemunho de mim; e também vós dareis testemunho, porque
estais comigo desde o princípio.
Eu vos
disse estas coisas, para que não vos escandalizeis. Eles vos
lançarão fora das sinagogas e está a chegar o tempo em que todo o
que vos matar, julgará que nisso faz serviço a Deus. E assim vos
tratarão, porque não conhecem o Pai, nem a mim. Ora, eu vos disse
estas coisas, para que, quando chegar esse tempo, vos lembreis de
que eu vo-las disse. Não vo-las disse, porém, desde o princípio,
porque estava convosco. E agora vou para aquele que me enviou; e
nenhum de vós pergunta: Para onde vais? Antes, porque eu vos disse
estas coisas, se apoderou do vosso coração a tristeza. Mas eu vos
digo a verdade; a vós vos convém que eu vá porque, se eu não for não
virá a vós o Consolador; mas, se eu for, vo-Lo enviarei. E Ele,
quando vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo.
Sim, do pecado, porque não creram em mim. E da justiça, porque vou
para o Pai e não me vereis mais. E do juízo, enfim, porque o
príncipe deste mundo já está julgado e condenado. Tenho ainda muitas
coisas a vos dizer, mas não as podeis suportar agora. Quando vier,
porém, o Espírito da verdade, ele vos ensinará todas as verdades,
porque não falará de si mesmo, mas dirá tudo que tiver ouvido e
anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. Ele me glorificará,
porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar. Um pouco e
já me não vereis; e outra vez um pouco e verme-eis; porque vou para
o Pai.
Disseram então alguns discípulos uns para os outros. “Que vem a ser
isto que Ele nos diz: “Um pouco e já me não vereis e outra vez um
pouco e ver-me-eis, porque vou para o Pai”? E diziam: “Que vem a ser
isto, que Ele nos diz: um pouco... Não sabemos o que quer dizer”. E
entendeu Jesus que lho queriam perguntar e disse-lhes: “Vós
perguntais uns aos outros o que é que vos quis significar, quando
disse: Um pouco e já me não vereis e outra vez um pouco e
ver-me-eis. Em verdade, em verdade vos digo que haveis de chorar e
gemer e que o mundo se há de alegrar e que haveis de estar tristes,
mas que a vossa tristeza se há de converter em gozo. Quando uma
mulher dá à luz, está em tristeza, porque é chegada a sua hora; mas,
depois que lhe nasceu um filho, já s não lembra do aperto, pelo gozo
que tem, de haver nascido ao mundo um homem. Assim também vós outros
sem dúvida estais agora tristes, mas hei de ver-vos de novo e o
vosso coração ficará cheio de alegria e esta ninguém vo-la tirará.
E
naquele dia nada mais me perguntareis. Em verdade, em verdade vos
digo: se pedirdes ao meu Pai alguma coisa em meu nome, ele vo-la há
de dar. Até agora não pedistes nada em meu nome. Pedi e recebereis,
para que a vossa alegria seja completa. Tenho vos dito estas coisas
debaixo de parábolas. Está chegando o tempo, em que já não vos hei
de falar por parábolas, mas abertamente vos falarei do Pai. Naquele
dia pedireis em meu nome e não vos digo que hei de rogar ao Pai por
vós. Porque o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e, crestes
que saí de Deus. Eu saí do Pai e vim ao mundo; outra vez deixo o
mundo e torno para o Pai”. Disseram-lhe os discípulos: “Eis que
agora nos falava abertamente e não usas de parábola alguma; agora
conhecemos que sabeis tudo e que não é necessário fazer-te
perguntas; nisto, cremos que saíste de Deus.”Respondeu-lhes Jesus:
“Credes agora? Eis que aí vem e já e chegada a hora em que sejais
espalhados, cada um para seu lado e que me deixeis só; mas não estou
só, porque o Pai está comigo. Tenho vos dito estas coisas, para que
tenhais paz em mim. Haveis de ter aflições no mundo; mas tende
confiança, eu venci o mundo”.
Assim
falou Jesus e, levantando os olhos ao céu, disse: - “Pai, é chegada
a hora, glorifica a teu Filho, para que teu Filho te glorifique a
ti; assim como tu lhe deste poder sobre todos os homens, afim de que
Ele dê a vida eterna a todos que lhe deste. A vida eterna, porém,
consiste em que conheçam por um só verdadeiro Deus a ti e a Jesus
Cristo, que enviaste. Glorifiquei-te sobre a terra; acabei a obra de
que me encarregaste. Tu, pois, agora, Pai, me glorifica a mim em ti
mesmo, com aquela gloria que tive em ti, antes que houvesse mundo.
Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eles eram
teus e mos deste e eles guardaram a tua palavra. A gora conheceram
eles que todas as coisas que me deste, vêm de ti. Porque lhes dei as
palavras que me deste; e eles ao receberam e conheceram
verdadeiramente que saí de ti e creram que me enviaste. Por eles é
que rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque
são teus e todas as minhas coisas são tuas e todas as tuas coisas
são minhas; e neles sou glorificado. E não estou mais no mundo, mas
eles estão no mundo e eu vou para junto de ti.
Pai
santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um,
assim como também nós. Quando eu estava com eles, guardava-os em teu
nome. Conservei os que me deste e nenhum destes se perdeu, mas
somente o que era filho da perdição, para se cumprir a Escritura.
Mas agora vou para junto de ti e digo estas coisas, estando ainda no
mundo, para que eles tenham em si mesmos a plenitude da minha
alegria. Dei-lhes a tua palavra mas o mundo os odeia, porque não são
do mundo, como também eu não sou do mundo. Não peço que os tires do
mundo, mas, sim, que os guardes do mal.
Eles
não são do mundo, como eu também não sou do mundo. Santifica-os na
verdade. A tua palavra é a verdade. Assim como me enviaste ao mundo,
também eu os enviei ao mundo. E santifico-me a mim por eles, para
que também sejam santificados pela verdade. E não rogo somente por
eles, mas rogo também por aqueles que hão de crer em mim por meio
das palavras; para que sejam todos um, como tu, Pai, o és em mim e
eu em ti, para que também eles sejam um em nós e creia o mundo que
enviaste. Dei-lhes a glória que me havias dado, para que sejam um,
como nós também como um. Eu estou neles e tu estás em mim, para que
eles sejam consumados na unidade e para que o mundo conheça que me
enviaste e que os amaste como amaste também a mim.
Pai, a
minha vontade é que, onde eu estiver, estejam também comigo aqueles
que me deste, para verem a minha glória, que me deste; porque me
amaste antes da criação do mundo. Pai justo, o mundo não te
conheceu, mas eu te conheci e estes conheceram que me enviaste. E eu
lhes fiz conhecer o teu nome e lho farei ainda conhecer, afim de que
o mesmo amor com que me amaste, esteja neles e eu neles. |