...O
SENHOR fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós. (Is
53, 6)
JESUS VAI PARA O MONTE DAS OLIVEIRAS
Foram
em seguida para o lugar chamado Getsémani (Mc 14, 32)
Depois
dessas palavras, Jesus saiu com os seus discípulos para além da
torrente de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus
discípulos. (Jo 18, 1)
JESUS OUTRA VEZ PREDIZ SUA PAIXÃO
Porque
está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas do rebanho serão
dispersadas(Zc 13,7). Mas, depois da minha Ressurreição, eu vos
precederei na Galiléia. (Mt 26, 31-32)
AS PROMESSAS VÃS DOS DISCÍPULOS
Ainda
que todos se escandalizem de ti, eu, porém, nunca! (Mc 14, 29-31)
Pedro
interveio: Mesmo que sejas para todos uma ocasião de queda, para mim
jamais o serás. Disse-lhe Jesus: Em verdade te digo: nesta noite
mesma, antes que o galo cante, três vezes me negarás. Respondeu-lhe
Pedro: Mesmo que seja necessário morrer contigo, jamais te negarei!
E todos os outros discípulos diziam-lhe o mesmo.(Mt 26, 33-35)
JESUS NO Getsémani
Senhor,
meu Deus, de dia clamo a vós, e de noite vos dirijo o meu lamento.
Chegue até vós a minha prece, inclinai vossos ouvidos à minha
súplica. Minha alma está saturada de males, e próxima da região dos
mortos a minha vida... (Sal 87, 2-4)
Minha
alma está triste até a morte. Ficai aqui e vigiai comigo. (Mt 26,
36-38)
Orai
para que não caiais em tentação. (Lc 22, 40)
Retirou-se Jesus com eles para um lugar chamado Getsémani e
disse-lhes: Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar. E, tomando
consigo Pedro e os dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se
e a angustiar-se. Disse-lhes, então: Minha alma está triste até a
morte. Ficai aqui e vigiai comigo. (Mt 26, 36-38)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Jesus, com os Apóstolos, a caminho do horto de Getsémani
Quando
Jesus, depois da instituição do SS. Sacramento, saiu do Cenáculo com
os onze Apóstolos, já tinha a alma oprimida de aflição e crescente
tristeza. Conduziu os onze, por um desvio, ao vale de Josafá,
dirigindo-se ao monte das Oliveiras.
Ao
chegarem ao portão, vi a lua, ainda não inteiramente cheia,
levantar-se por cima da montanha. Andando com os Apóstolos pelo
vale, disse-lhes o Senhor que lá voltaria um dia, para julgar o
mundo, mas não pobre e sem poder como hoje, e que então muitos, com
grande medo, exclamariam: “Montes, cobri-nos”.
Os
discípulos não O compreenderam, pensando, como muitas vezes nessa
noite, que a fraqueza e o esgotamento os faziam delirar. Ora
andavam, ora paravam, conversando com o Mestre. Disse-lhes também
Jesus:
“Vós
todos haveis de escandalizar-vos em mim esta noite”; pois está
escrito: “Tirarei o pastor, e as ovelhas serão dispersas. – Mas,
quando tiver ressuscitado, preceder-vos-ei na Galileia”.
Os
Apóstolos estavam ainda cheios de entusiasmo e amor, pela recepção
do SS. Sacramento e pelas palavras solenes e afectuosas de Jesus.
Comprimiam-se-Lhe em torno, exprimindo-Lhe de vários modos o seu
amor e protestando que não O abandonariam nunca. Mas, como Jesus
continuasse a falar no mesmo sentido, disse-lhe Pedro:
“E, se
todos se escandalizarem por vossa causa, eu nunca me
escandalizarei”.
Respondeu-lhe o Senhor:
“Em
verdade te digo, tu mesmo três vezes me negarás esta noite, antes do
galo cantar”.
Pedro,
porém, não quis conformar-se de modo algum e disse:
“Mesmo
que tivesse de morrer convosco, não vos havia de negar”.
Assim
falaram também todos os outros. Continuavam andando e parando
alternadamente e a tristeza de Jesus aumentava cada vez mais.
Queriam os Apóstolos consolá-Lo de modo inteiramente humano,
assegurando-lhe que não aconteceria tal. Nesses vãos esforços se
cansaram, começaram a duvidar e veio-lhes a tentação.
Atravessaram a torrente Cedron, não pela ponte, sobre a qual Jesus
foi depois conduzido preso, mas por outra, porque tinham tomado um
desvio.
Getsémani, situado no monte das Oliveiras, para onde se dirigiram,
fica a meia hora certa do Cenáculo, pois do Cenáculo À porta que dá
para o vale de Josafá, se leva um quarto de hora e dali ao Getsémani
outro tanto.
Este
lugar, no qual Jesus ensinou algumas vezes aos discípulos, passando
ali a noite com eles nos últimos dias, consta de algumas casas de
pousada, abertas e desocupadas e de um largo jardim, cercado de
sebe, no qual há somente plantas ornamentais e árvores frutíferas.
Os
Apóstolos e diversas outras pessoas tinham a chave deste jardim, que
era um lugar de recreio e de oração. Gente que não tinha jardim
próprio fazia às vezes festas e banquetes ali. Havia também vários
caramanchões de folhagem espessa, num dos quais ficaram naquele dia
oito Apóstolos e alguns outros discípulos, que se lhes juntaram mais
tarde.
O horto
das Oliveiras é separado do Jardim de Getsémani por um caminho e
estende-se mais para o alto do monte. É aberto, cercado apenas de um
aterro e menor do que Getsémani, um canto cheio de grutas e
recantos, em que por toda a parte se vêem oliveiras. Um lado era
mais bem tratado; havia nele assentos, bancos de relva bem cuidados
e grutas espaçosas e sombrias. Quem quisesse, podia ali facilmente
achar um lugar próprio para a oração e meditação. Era à parte mais
sem cuidados que Jesus ia rezar.
Jesus atribulado pelos horrores do pecado.
Eram
quase 9 horas da noite, quando Jesus chegou, com os discípulos, a
Getsémani. Ainda reinava a escuridão na terra, mas no céu a lua já
espargia a luz prateada. Jesus estava muito triste e anunciou-lhes a
aproximação do perigo. Os discípulos assustaram-se e Ele disse a
oito dos companheiros que ficassem no Jardim de Getsémani, num lugar
onde havia um caramanchão.
“Ficai
aqui, disse, enquanto vou ao meu lugar rezar”.
Tomando
consigo Pedro, João e Tiago o Maior, subiu mais para o alto e,
cruzando um caminho, avançara, numa distância de alguns minutos, do
horto das Oliveiras ao pé do monte.
Ele
estava numa indizível tristeza; pressentia a tribulação e tentação,
que se aproximavam. João perguntou-lhe como podia agora estar tão
abatido, quando sempre os tinha consolado. Então Jesus disse:
“Minha
alma está triste até a morte” e, olhando em redor de si, viu de
todos os lados se aproximarem angústias e tentações, como nuvens
cheias de figuras assustadoras. Foi nessa ocasião que disse aos
Apóstolos:
“Ficai
aqui e vigiai comigo; orai, para não serdes surpreendidos pela
tentação”. Eles ficaram então ali; Jesus, porém, adiantou-se ainda
mais; mas as horrorosas visões assaltavam-no de tal modo, que, cheio
de angustia, desceu um pouco à esquerda dos três Apóstolos,
escondendo-se debaixo de um grande rochedo, numa gruta de talvez 7
pés de profundidade; os Apóstolos ficaram em cima desse rochedo,
numa espécie da cavidade. O chão da gruta era suavemente inclinado e
as plantas pendentes do rochedo, que sobressaía em frente, formavam
uma cortina diante da entrada, de maneira que quem estivesse dentro
da gruta, não podia ser visto de fora.
Quando
Jesus se afastou dos discípulos, vi em redor dele um largo círculo
de imagens horríveis, o qual se apertava mais e mais. Cresceu-lhe a
tristeza e a tribulação e retirou-se tremendo para dentro da gruta,
semelhante ao homem que, fugindo de uma repentina tempestade,
procura abrigo para rezar, vi, porém, que as imagens assustadoras o
perseguiram lá dentro da gruta, tornando-se cada vez mais distintas.
A
estreita caverna parecia encerrar o horrível espetáculo de todos os
pecados cometidos, desde a primeira queda do homem, até ao fim dos
séculos, como também todos os castigos. Foi ali, no monte das
Oliveiras, que Adão e Eva, expulsos do Paraíso, pisaram primeiro a
terra e foi nessa caverna que choraram e gemeram.
Tive a
clara impressão de que Jesus, entregando-se às dores da Paixão, que
ia começar e sacrificando-se à justiça divina, em satisfação de
todos os pecados do mundo, de certo modo retirou a sua divindade
para o seio da SS. Trindade; impelido por amor infinito, quis
entregar-se à fúria de todos os sofrimentos e angústias, na sua
humanidade puríssima e inocente, verdadeira e profundamente
sensível, para expiação dos pecados do mundo, armado somente do amor
do seu coração humano.
Querendo satisfazer pela raiz e por todas as excrescências do pecado
e da má concupiscência, tomou o Misericordiosíssimo Jesus no coração
a raiz de toda a explicação purificadora e de toda a dor
santificante, por amor de nós, pecadores e, para satisfazer pelos
pecados inumeráveis, deixou esse sofrimento infinito estender-se,
como uma arvore de dores e penetrar-lhe com mil ramos todos os
membros do corpo sagrado, todas as faculdades da alma santa.
Entregue assim inteiramente à sua humanidade, implorando a Deus com
tristeza e angústia indizíveis, prostrou-se por terra. Viu em
inumeráveis imagens todos os pecados do mundo, com toda a sua
atrocidade, tomou todos sobre si e ofereceu-se na sua oração, para
dar satisfação à justiça do Pai Celestial, pagando com os
sofrimentos toda essa dívida da humanidade para com Deus.
Satanás, porém, que se movia no meio de todos os horrores, em figura
terrível e com um riso furioso, enraivecia-se cada vez mais contra
Jesus e, fazendo passar-lhes diante da alma visões sempre mais
horrorosas, gritou diversas vezes à humanidade de Jesus: “Que?
Tomarás também isto sobre ti? Sofrerás também o castigo por este
crime? Como podes satisfazer por tudo isto?”
Veio,
porém, um estreito feixe de luz, da região onde o sol está entre as
dez e onze horas, descendo sobre Jesus e nela vi surgir uma fileira
de Anjos, que Lhe transmitiram força e ânimo.
A outra
parte da gruta estava cheia de visões horrorosas dos nossos pecados
e de maus espíritos, que O insultavam e agrediam; Jesus aceitou
tudo; o seu Coração, o único que amava perfeitamente a Deus e aos
homens, nesse deserto cheio de horrores, sentia com dilacerante
tristeza e terror a atrocidade e o peso de todos esses pecados. Ai!
vi tantas coisas ali! Nem um ano chegaria para contá-las!
Tentações da parte de Satanás.
Quando
essa multidão de culpas e pecados acabou de passar diante da alma de
Jesus, como um mar de horrores e após se haver ele oferecido, como
sacrifício de explicação por tudo e chamado sobre si toda a onda de
penas e castigos, suscitou-lhe Satanás inumeráveis tentações, como
outrora no deserto; apresentou até numerosas acusações contra o
puríssimo Salvador. “Que”! Disse ele, “Queres tomar tudo isto sobre
ti e não és puro? Vê isto e aquilo e mais isto!” E então desenrolou,
diante dos olhos imaculados da Divina Vítima, com impertinência
infernal, uma multidão de acusações inventadas.
Acusou-O das faltas dos discípulos, dos escândalos que tinham dado,
das perturbações que Ele trouxe ao mundo, renunciando aos costumes
antigos. Satanás procedeu como o mais hábil e astuto fariseu.
Acusou-O de ter sido a causa da matança dos inocentes por Herodes,
dos perigos e sofrimentos de seus pais no Egito; acusou-O de não ter
salvado da morte a João Batista, de ter desunido famílias, protegido
pessoas de má fama, de não ter curado certos doentes, de ter causado
prejuízo aos habitantes de Gergesa, porque permitiu aos possessos
que entornassem a sua dorna de bebidas e porque causou a morte da
manada de porcos no lago.
Imputou-Lhe as faltas de Maria Madalena, por não lhe ter impedido a
recaída no pecado; acusou-O de ter abandonado a família e de ter
dissipado o bem alheio; numa palavra, tudo de que Satanás podia ter
acusado, na hora da morte, um homem comum, que tivesse feito tais
ações externas, sem motivos sobrenaturais: tudo apresentou o
tentador à alma abatida de Jesus, para amedrontá-la e desanimá-la;
pois ignorava que Jesus era o Filho de Deus e tentou-O somente como
ao mais justo dos homens.
Nosso
Salvador deixou predominar a sua humanidade de tal modo, que quis
sofrer também aquelas tentações, que assaltam mesmo os homens que
têm uma morte santa, pondo em dúvida o valor interno das obras boas.
Jesus permitiu, para esvaziar todo o cálice da agonia, que o
tentador, ignorando-Lhe a divindade, Lhe apresentasse todas as suas
obras de caridade como outras tantas dívidas, ainda não pagas, à
graça divina.
O
tentador censurou-O de querer expiar as culpas de outros, Ele, que
não tinha méritos e que tinha ainda de satisfazer à justiça divina,
pelas graças de tantas obras que considerava boas. A divindade de
Jesus permitiu que o inimigo lhe tentasse a humanidade, como podia
tentar um homem que quisesse atribuir ás suas obras um valor
próprio, além daquele único que podem ter, da união com os méritos
da morte redentora de nosso Senhor e Salvador.
O
tentador apresentou-Lhe assim todas as suas obras de amor como atos
privados de todo mérito, que antes O constituíam devedor de Deus,
porque, segundo o acusador, o seu valor provinha antecipadamente,
por assim dizer, dos méritos da Paixão, ainda não consumada e cujo
valor infinito Satanás ainda não conhecia; portanto, não teria Jesus
ainda satisfeito, na opinião do tentador, pelas graças recebidas
para essas obras e disse, aludindo a estas: ”Ainda deves por esta
obra e por aquela”.
Finalmente desenrolou mais um título de dívida diante de Jesus,
afirmando que tinha recebido e gasto o preço da venda da propriedade
de Maria Madalena em Magdalum; disse a Jesus: “Como ousaste
desperdiçar o bem alheio, prejudicando assim aquela família?”
Vi a
apresentação de tudo a cuja expiação Jesus se oferecera e senti com
Ele todo o peso das numerosas acusações que o tentador levantou
contra Ele; pois, entre os pecados do mundo que o Salvador tomou
sobre si, vi também os meus inumeráveis pecados e do círculo das
tentações veio também a mim, um como rio de acusações, nas quais se
me patentearam todos os meus pecados de atos e omissões.
Eu,
porém, olhava sempre para o meu Esposo celeste, durante essa
apresentação dos pecados, gemendo e rezando com Ele e virava-me
também com Ele para os Anjos consoladores. Ai! O Senhor torcia-se
como um verme, sob o peso da dor e das angústias!
Durante
todas essas acusações de Satanás contra o puríssimo Salvador,
somente com grande esforço consegui conter-me; mas, quando levantou
a acusação da venda da propriedade de Madalena, não pude mais me
conter e gritei-lhe: “Como podes chamar dívida o preço da venda
dessa propriedade? Eu mesma vi o Senhor, com essa quantia, que lhe
foi entregue por Lázaro, para obras de misericórdia, remir 27 pobres
desamparados dos cárceres de Tirza”.
A
princípio estava Jesus de joelhos, rezando tranquilamente; mais
tarde, porém, se lhe assustou a alma, à vista da atrocidade dos
inumeráveis crimes e da ingratidão dos homens para com Deus;
assaltaram-no angústia e dor tão veementes, que suplicou
tremendo: “Meu Pai, se for possível, passe este cálice longe de mim.
Meu Pai, tudo vos é possível: afastai este cálice de mim”. Depois
sossegou e disse: “Não se faça, porém, a minha vontade, mas a
vossa”. A sua vontade e a do Pai eram uma só; mas entregue à
fragilidade da natureza humana, por amor, Jesus tremia à vista da
morte. |