07:00 ÀS 08:00 hs. JESUS É
DESPREZADO POR HERODES.
Foi
maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se
conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele
não abriu a boca.) (Is 53, 7)
JESUS É LEVADO PERANTE
HERODES
E,
quando soube que era da jurisdição de Herodes, enviou-o a Herodes,
pois justamente naqueles dias se achava em Jerusalém. Herodes
alegrou-se muito em ver Jesus, pois de longo tempo desejava vê-lo,
por ter ouvido falar dele muitas coisas, e esperava presenciar algum
milagre operado por ele. Dirigiu-lhe muitas perguntas, mas Jesus
nada respondeu. Ali estavam os príncipes dos sacerdotes e os
escribas, acusando-o com violência. Herodes, com a sua guarda,
tratou-o com desprezo, escarneceu dele, mandou revesti-lo de uma
túnica branca... (Lc 23, 7-11)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Jesus perante Herodes
O palácio
do Tetrarca Herodes estava situado ao norte do fórum, na cidade
nova, não muito longe do palácio de Pilatos. Um destacamento de
soldados romanos acompanhou o cortejo, a maior parte oriunda da
região entre a Itália e a Suíça. Os inimigos de Jesus, furiosos por
ter de fazer tantas caminhadas, não cessavam de ultrajá-lo e de
fazê-lo empurrar e arrastar pelos soldados. O mensageiro de Pilatos
chegou antes do cortejo ao palácio de Herodes, que assim, já
avisado, O esperava sentado numa espécie de trono, sobre almofadas,
numa vasta sala; rodeavam-no muitos cortesãos e soldados.
Os
Sumos-Sacerdotes entraram pelo peristilo e colocaram-se de ambos os
lados; Jesus ficou na entrada. Herodes sentiu-se muito lisonjeado,
por Pilatos tê-Lo publicamente declarado competente, diante dos
Sumos-Sacerdotes, de julgar um galileu. Mostrou-se muito importante
e vaidoso; também se regozijava de ver diante de si, em situação tão
humilhante, o famoso Mestre, que sempre tinha desdenhado
apresentar-Se-lhe.
João
falara dele com tanta solenidade e ouvira os Herodianos e outros
espiões e mexeriqueiros falarem de Jesus, que tinha muita
curiosidade de vê-Lo; comprazia-se em sujeitá-Lo, diante dos
palacianos e dos Sumos-Sacerdotes, a um prolixo interrogatório, pelo
qual queria mostrar a ambas as partes quanto estava bem informado.
Pilatos tinha-lhe também comunicado que não achara crime em Jesus; e
o hipócrita tomou-o como aviso, para tratar os acusadores com certa
frieza, o que ainda mais lhes aumentou a raiva.
Proferiam
acusações tumultuosamente, logo ao entrarem; Herodes, porém, olhou
com curiosidade para Jesus e quando O viu tão desfigurado e
maltratado, o cabelo desgrenhado, o rosto dilacerado e coberto de
sangue e imundícies, a túnica toda suja de lama, esse rei mole e
libertino sentiu dó e nojo. Exclamou um nome de Deus que me soou
como “Jeovah”, virou o rosto, com um gesto de nojo e disse aos
sacerdotes: “Levai-O daqui, limpai-O. Como podeis trazer à minha
presença um homem tão sujo e maltratado?” Os soldados levaram então
Jesus ao átrio; trouxeram água numa bacia e um esfregão e
limparam-no cruelmente; pois o rosto estava ferido e passavam o
esfregão com brutalidade.
Herodes
repreendeu os sacerdotes, por causa dessa crueldade e no modo de
tratá-los parecia imitar Pilatos; pois também lhe disse: “Vê-se bem
que Ele caiu nas mãos de carniceiros; começastes a imolação hoje
antes da hora”. Os sumos-sacerdotes, porém, insistiam
tumultuosamente nas acusações e incriminações. Quando reconduziram
Jesus à sala, quis Herodes fingir benevolência para com Ele e mandou
trazer-Lhe um cálice de vinho, por estar muito fraco; Jesus, porém,
sacudiu a cabeça e não aceitou o vinho.
Herodes
dirigiu-se então com muita verbosidade e afabilidade, proferindo
tudo que sabia dele. A princípio Lhe fez várias perguntas e
manifestou o desejo de vê-Lo fazer um milagre; como porém, Jesus não
respondesse palavra alguma e permanecesse com os olhos baixos, ficou
Herodes irritado e envergonhado diante dos presentes, mas não quis
mostrá-lo e continuou a fazer-Lhe uma torrente de perguntas.
Primeiro
procurou lisonjeá-lo: “Sinto muito te ver tão gravemente acusado;
tenho ouvido falar muito de ti; sabes que me ofendeste em Tirza,
resgatando sem minha licença, vários presos que eu mandara prender
lá? Mas fizeste-O talvez com boa intenção. Agora me foste entregue
pelo governador romano para te julgar; o que respondes a todas
aquelas acusações? Ficas calado?
– Têm-me
falado muito de tua sabedoria, dos teus discursos e da tua doutrina;
eu desejaria ouvir-Te refutar os teus acusadores. – Que dizeis? – É
verdade que és o rei dos judeus? – És o Filho de Deus? – Quem, és? –
Ouvi dizer que tens feito grandes milagres, prova-o diante de mim,
fazendo um milagre. Depende de mim libertar-te. – É verdade que
deste a vista a cegos de nascença? Ressuscitaste dos mortos Lázaro?
Saciaste vários milhares de homens com poucos pães? Porque não
respondes? – Conjuro-te a operar um dos teus milagres. – Seria muito
em teu favor”.
Como,
porém, Jesus continuasse calado, Herodes falou com volubilidade
ainda maior: “Quem és? – Como chegaste a isto? – Quem Te deu o
poder? – Porque não tens mais poder agora? És acaso aquele de cujo
nascimento se contam coisas tão estranhas? No tempo de meu pai
vieram alguns reis do oriente e perguntaram-lhe por um recém-nascido
rei dos judeus, a quem queriam prestar homenagem; dizem que eras Tu
aquele menino; é verdade? – Escapaste da matança em que pereceram
tantas crianças? – Como foi isto? – Porque não se ouviu falar de Ti
tanto tempo? – Ou apenas dizem isto a teu respeito para fazer-Te
rei? – Justifica-Te. – Que espécie de rei és Tu? Em verdade, não
vejo em Ti nada de real. – Como me dizem, fizeram-Te uma entrada
triunfal no Templo. Que significa isto? Fala! Como é que tudo acabou
assim?”
A toda
essa torrente de palavras não obteve resposta alguma de Jesus.
Foi-me explicando agora e, já há mais tempo, que Jesus não lhe
respondeu, porque Herodes foi excomungado, tanto pelas relações
adúlteras com Herodíades, como também pelo assassínio de João
Batista. Anás e Caifás aproveitaram a indignação que lhe causou o
silêncio de Jesus, para de novo proferir as acusações. Entre outras
coisas afirmaram que Jesus tinha chamado Herodes de raposa e que, já
desde muito tempo, tinha trabalhado para a queda de toda a família
de Herodes; que queria fundar uma nova religião e comera o cordeiro
pascal no dia anterior. Essa acusação já a tinham produzido perante
Caifás, por traição de Judas, mas fora refutado por alguns amigos de
Jesus, os quais para esse fim leram alguns trechos de rolos da
Escritura.
Herodes,
ainda que irritado pelo silêncio de Jesus, não se esqueceu dos seus
interesses políticos. Não quis condenar Jesus; pois Este lhe
inspirava um terror secreto e já era torturado de remorsos, por
causa da morte de João Batista; também odiava os sumos sacerdotes,
porque não tinham querido desculpar-lhe o adultério e o haviam
excluído dos sacrifícios pelo mesmo motivo. Mas o motivo principal
era que não queria condenar aquele a quem Pilatos declarara
inocente; convinha-lhe aos interesses políticos aplaudir a opinião
de Pilatos, diante dos príncipes dos sacerdotes. A Jesus, porém,
cobriu de desprezo e insultos; disse aos criados e guardas, dos
quais contava uns duzentos no palácio. “Levai para fora este tolo e
prestai a este rei ridículo as honras que se Lhe devem; pois é mais
um doido do que um criminoso”.
Conduziram
então o Salvador a um vasto pátio, onde o cobriram de escárnio e
indizíveis crueldades. Esse pátio estendia-se por entre as alas do
palácio e Herodes, de pé num terraço, assistiu por algum tempo a
esse espectáculo cruel. Anás e Caifás, porém, andavam sempre atrás
dele e procuravam por todos os meios movê-lo a condenar Jesus; mas
Herodes disse-lhes, de modo que os romanos da escolta o ouvissem:
“Seria um crime de minha parte, se O condenasse”. Queria certamente
dizer: “Seria um crime contra a sentença de Pilatos, que teve a
gentileza de mandá-Lo a mim”.
Vendo que
não conseguiam nada de Herodes, os sumos sacerdotes e os inimigos de
Jesus enviaram alguns dos seus, com dinheiro, a Acra, bairro da
cidade onde se achavam nessa ocasião muitos fariseus, aos quais
mandaram dizer que fossem, com os respectivos partidários, às
vizinhanças do palácio de Pilatos; fizeram também distribuir
entre o povo muito dinheiro, para levá-lo a pedir
tumultuosamente a morte de Jesus. Outros emissários deviam ameaçar o
povo com castigos de Deus, se não conseguisse a morte desse
blasfemador sacrílego; também mandaram espalhar entre o povo que se
Jesus não morresse, se ligaria aos romanos e seria esse o reino de
que sempre falara; e então seriam aniquilados os judeus.
Em outra
parte espalharam o boato de que Herodes condenara Jesus, mas
esperava que o povo manifestasse sua vontade; receava-se a
resistência dos adeptos do Nazareno e se esse fosse solto, seria
perturbada toda a festa; pois então Ele, com seus partidários e os
romanos, tirariam vingança. Desse modo fizeram espalhar os boatos
mais contraditórios e assustadores, para irritar e sublevar o povo,
enquanto outros emissários deram dinheiro aos soldados de Herodes,
afim de que maltratassem gravemente a Jesus, mesmo até O fazer
morrer, pois antes desejavam que morresse do que Pilatos O soltasse.
Enquanto
os fariseus estavam ocupados nesses negócios e intrigas, sofreu
Nosso Senhor o escárnio e a brutalidade mais ignominiosa da
soldadesca ímpia e grosseira, à qual Herodes O tinha entregue, para
ser maltratado, como tolo que não lhe quisera responder.
Empurraram-no para o pátio e um deles trouxe um comprido saco
branco, que achara no quarto do porteiro e em que, havia tempos,
viera uma remessa de algodão. Cortaram com as espadas um buraco no
fundo do saco e meteram-noo por entre grandes gargalhadas, sobre a
cabeça de Jesus; outro trouxe um farrapo vermelho e pôs-Lhe em redor
do pescoço, como um colar; o saco caia-Lhe sobre os pés.
Então se
inclinavam diante dele, empurravam-no e entre ditos insultantes,
cuspiam e batiam-Lhe no rosto, porque não tinha respondido ao rei e
prestavam-Lhe outras mil homenagens escarnecedoras; atirava-Lhe
lama, davam-Lhe arrancos, como para fazê-lo dançar; depois o fizeram
cair com o longo manto derrisório e arrastaram-no por um esgoto que
passava no pátio, ao longo dos edifícios, de modo que a cabeça
sagrada do Salvador batia de encontro ás colunas e pedras angulares;
depois O levaram e começaram as crueldades de novo. – havia lá cerca
de duzentos soldados e servidores do palácio de Herodes, gente de
todas as regiões e cada um dos mais perversos queria fazer honra a
seu país e distinguir-se diante de Herodes, inventando um novo
ultraje para Jesus.
Faziam
tudo precipitadamente, empurrando-se uns aos outros, entre
escárnios; os inimigos de Jesus tinham pago dinheiro a alguns
deles, que no tumulto Lhe deram diversas pauladas na santa
cabeça. Jesus fitava-os com os olhos suplicantes, suspirando e
gemendo de dor; mas zombavam dele, imitando-Lhe os gemidos; a cada
nova brutalidade rompiam em gargalhadas e insultos, não haviam
nenhum que Lhe mostrasse piedade. Tinha a cabeça toda banhada em
sangue e vi-O cair três vezes, sob as pauladas, mas vi também uma
aparição como de Anjos, que, chorando, desceram sobre Ele e lhe
ungiram a cabeça. Foi-me revelado que sem esse auxílio de Deus, as
pauladas teriam sido mortais. Os filisteus, que fizeram o cego
Sansão correr na Pista de Gaza, até cair morto de cansaço, não foram
tão violentos e cruéis como esses perversos.
Urgia o
tempo para os Sumos Sacerdotes, porque em pouco deviam ir ao Templo
e quando receberam aviso de que todas as suas ordens tinham sido
cumpridas, insistiram mais uma vez com Herodes, pedindo-lhe que
condenasse Jesus. Mas o tetrarca tinha em vista apenas suas relações
com Pilatos e mandou reconduzir-lhe Jesus, vestido do manto
derrisório. |