08:00 ÀS 09:00 hs. JESUS É FLAGELADO.
Sobre mim tombaram vossas iras, vossos temores me aniquilaram. (Sal
87, 17)
JESUS É CONDUZIDO PARA O PRETÓRIO
“E o
rodearam com todo o pelotão” (Mt 27, 27)
Os
soldados conduziram-no ao interior do pátio, isto é, ao pretório,
onde convocaram toda a coorte. (Mc 15, 16)
JESUS É FLAGELADO
Em
verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os
nossos sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido
por Deus e humilhado. Mas ele foi castigado por nossos crimes, e
esmagado por nossas iniquidades; o castigo que nos salva pesou sobre
ele; fomos curados graças às suas chagas. (Is 53, 4-5)
“Pilatos então mandou então flagelar JESUS” (Jo 19,1)
Aos
que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me
arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos
escarros. (Is, 50, 6)
“Mandou açoitar JESUS” (Mt 27, 26)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Jesus é posposto a Barrabás.
Ora,
era nesse tempo que o povo vinha, antes da festa da Páscoa, pedir,
segundo um antigo costume, a liberdade de um preso. Os fariseus
tinham enviado, justamente por isso, alguns agentes ao bairro de
Acra, a oeste de Templo, para dar dinheiro ao povo, instigando-o a
que não pedisse a libertação, mas a crucificação de Jesus. Pilatos,
porém, esperava que o povo pedisse a liberdade de Jesus e resolveu
dar-lhes a escolher entre Jesus e um terrível facínora, que já fora
condenado à morte, para que quase não tivessem que escolher. Esse
celerado chamava-se Barrabás e era amaldiçoado por todo o povo;
tinha cometido assassinatos durante uma agitação; vi que também
tinha feito muitos outros crimes.
Houve
um movimento entre o povo no fórum; um grupo avançou, com os
oradores à frente; esses levantaram a voz e bradaram a Pilatos, que
estava no terraço: “Pilatos, fazei-nos o que sempre fizestes, por
ocasião da festa! “Pilatos, que só então estava esperando por isso,
respondeu-lhes: “Tendes o costume de receber de festas a liberdade
de um preso. A quem quereis que solte, Barrabás ou Jesus, o rei dos
judeus, que dizem ser o Ungido do Senhor?”
Pilatos, todo indeciso, chamava-O “rei dos judeus”, já como romano
orgulhoso, que os desprezava, por terem um rei tão miserável, que
tivessem de escolher entre Ele e um assassino; já com uma certa
convicção de que Jesus pudesse ser de fato esse rei maravilhoso dos
judeus, o Messias prometido; mas também esse pressentimento da
verdade era em parte fingimento e mencionou esse título do Senhor
porque bem sentia que a inveja era o motivo principal do ódio dos
príncipes dos sacerdotes contra Jesus, a quem considerava inocente.
Após a
pergunta de Pilatos, houve uma curta hesitação e deliberação entre o
povo e só poucas vozes gritaram precipitadamente: “Barrabás!”
Pilatos, porém, foi chamado por um criado da mulher; retirou-se um
instante do terraço e o criado mostrou-lhe o penhor que ele dera da
manhã à esposa e disse-lhe: “Cláudia Prócula manda lembrar-vos vossa
promessa”. Os fariseus, no entanto, e os príncipes dos sacerdotes
estavam em grande agitação; aproximaram-se do povo, ameaçando e
instigando-o; mas não precisavam de tanto esforço.
Maria,
Madalena, João e as outras piedosas mulheres estavam no canto de uma
arcada, tremendo e chorando. Embora a Virgem Santíssima soubesse que
não havia salvação para os homens senão pela morte de Jesus,
entretanto, como Mãe, estava cheia de angústia e desejo de salvar a
vida do Filho santíssimo; e assim como Jesus, embora escolhesse de
livre vontade tornar-se homem e morrer na cruz, todavia sofria, como
qualquer homem, todas as dores e os martírios de um inocente
horrivelmente maltratado e conduzido à morte, assim também Maria
padecia todos os tormentos e angústias de uma mãe vendo o filho
maltratado por um povo ingrato. Ela e as companheiras tremiam,
entregues, ora à angustia, ora à esperança.
João
afastava-se de vez em quando, a pouca distância, para ver se podia
colher uma boa notícia. Maria implorava a Deus para que não se
cometesse esse imenso crime; rezava como Jesus no monte das
Oliveiras: “Se é possível, afaste este cálice”. Assim
esperava ainda a mãe no seu amor; pois enquanto as instigações e
ameaças dos fariseus ao povo passaram de boca em boca, chegara
também a ela o boato de que Pilatos queria soltar Jesus. Viam-se,
não longe, grupos de gente de Cafarnaum, entre os quais muitos que
Jesus curara e ensinara; fizeram como se não O conhecessem e olhavam
furtivamente para João e as infelizes mulheres, envoltas nos véus;
mas Maria pensava, como todos, que esses, pelo menos, rejeitariam
Barrabás, para salvar o Benfeitor e Salvador. Mas tal não se deu.
Pilatos, lembrando-se, à vista do penhor, da súplica da esposa,
devolveu-lho, como sinal de que cumpria a promessa. Voltou ao
terraço e sentou-se ao lado da mezinha; os sumos-sacerdotes também
tornaram a ocupar os respectivos assentos e Pilatos exclamou de
novo: “Qual dos dois quereis que eu solte?” – Então se levantou um
grito geral por todo o fórum e de todos os lados: “Não queremos
Este; entregai-nos Barrabás!” Pilatos gritou mais uma vez: “Que
farei então de Jesus, que é chamado o Cristo, o rei dos judeus?” – “Crucificai-O,
Crucificai-O!” Pilatos perguntou então pela terceira vez: “Mas
que mal tem feito? Eu pelo menos não Lhe acho crime de morte. Mas
vou mandá-Lo açoitar e depois soltar”. Mas o grito “Crucificai-O,
Crucificai-O!” rugia pelo fórum, como uma tempestade infernal e
os sumos-sacerdotes e fariseus agitavam-se e gritavam como loucos de
raiva. Então Pilatos lhes entregou Barrabás, o malfeitor e condenou
Jesus à flagelação.
A flagelação de Jesus
Pilatos, juiz covarde e indeciso, pronunciara várias vezes a
palavra: “Não lhe acho crime algum; por isso vou mandá-Lo açoitar e
depois soltar”. A gritaria dos judeus, porém, continuava;
“Crucificai-O, Crucificai-O!” Contudo queria Pilatos tentar ainda
fazer sua vontade e deu ordem de açoitar Jesus à maneira dos
romanos. Então entraram os soldados e, batendo e empurrando a Jesus
brutalmente, com os curtos bastões, conduziram nosso pobre Salvador,
já tão maltratado e ultrajado, através da multidão tumultuosa e
furiosa, para o fórum, até a coluna de flagelação, que ficava em
frente de uma das arcadas do mercado, ao norte do palácio de Pilatos
e não longe do posto da guarda.
Os
carrascos, jogando os açoites, varas e cordas no chão, ao pé da
coluna, vieram ao encontro de Jesus. Eram seis homens de cor parda,
mais baixos do que Jesus, de cabelo crespo e eriçado, barba muito
rala e curta; vestiam apenas um pano ao redor da cintura, sandálias
rotas e uma peça de couro ou outra fazenda ordinária, que lhes
cobria peito e costas como um escapulário, aberto dos lados; tinham
os braços nus. Eram criminosos comuns, das regiões do Egipto, que
trabalhavam como escravos ou degredados na construção de canais e
edifícios públicos; escolhiam-se os mais ignóbeis e perversos, para
tais serviços de carrascos no pretório.
Amarrados à mesma coluna, alguns pobres condenados tinham sido
açoitados até à morte, por esses homens horríveis, cujo aspecto
tinha algo de bruto e diabólico e pareciam meio embriagados. Bateram
em Nosso Senhor com os punhos e com cordas, apesar de não lhes opor
resistência alguma, arrastaram-no com brutalidade furiosa, até à
coluna da flagelação. É uma coluna isolada, que não serve para
sustentar o edifício. É de tamanho tal, que um homem alto, com o
braço estendido, lhe pode tocar a extremidade superior, arredondada
e munida de uma argola de ferro; na parte de traz, no meio da
altura, há também argolas ou ganchos. É impossível descrever a
brutalidade bárbara com que esses cães danados maltrataram a Jesus,
nesse curto caminho; tiraram-Lhe o manto derrisório de Herodes e
quase jogaram nosso Salvador por terra.
Jesus
trepidava e tremia diante da coluna. Ele mesmo se apressou a despir
a roupa, com as mãos inchadas e ensanguentadas pelas cordas,
enquanto os carrascos O empurravam e puxavam. Orava de um modo
comovente e volveu a cabeça por um momento para a Mãe SS. que,
dilacerada de dor, estava com as mulheres piedosas num canto das
arcadas do mercado, não longe do lugar de flagelação e disse,
voltando-se para a coluna, porque O obrigaram a despir-se também do
pano que lhe cingia os rins: “Desvia os teus olhos de mim”. Não sei
se pronunciou essas palavras ou as disse só interiormente, mas
percebi que Maria as entendeu; pois a vi nesse momento desviar o
rosto e cair sem sentidos nos braços das santas mulheres veladas,
que a rodeavam.
Então
abraçou Jesus a coluna e os algozes ataram-Lhe as mãos levantadas à
argola de cima, dando-Lhe arrancos brutais e praguejando
horrivelmente todo o tempo; puxaram-Lhe assim todo o corpo para
cima, de modo que os pés, amarrados em baixo à coluna, quase não
tocavam no chão. O Santo dos Santos estava cruelmente estendido
sobre a coluna dos malfeitores, em ignominiosa nudez e indizível
angústia e dois dos homens furiosos começaram, com crueldade
sanguinária, a flagelar-Lhe todo o santo corpo, da cabeça aos pés.
Os primeiros açoites ou varas que usaram, pareciam ser de maneira
branca e dura; talvez fossem também feixes de tendões secos de boi
ou tiras duras de couro branco.
Nosso
Senhor e Salvador, o Filho de Deus, verdadeiro Deus e verdadeiro
homem, contraia-se e torcia-se, como um verme, sob os açoites dos
criminosos; ouviam-se-Lhe os gemidos e lamentos, doces e claros,
como uma prece afectuosa no meio de dores dilacerantes, entre os
sibilar e estalar dos açoites dos carrascos. De vez em quando
ressoava a gritaria do povo e dos fariseus, como uma nuvem escura de
tempestade, abafando essas queixas dolorosas e santas, cheias de
bênçãos. As turbas gritavam: “Deve morrer! Crucificai-O!”, pois
Pilatos estava ainda a discutir com o povo.
Quando
queria fazer-se ouvir, no meio do tumulto da multidão, fazia soar
primeiro um toque de trombeta, para impor silêncio. Nesses momentos
se ouviam novamente os açoites, os gemidos de Jesus, o praguejar dos
carrascos e os balidos dos cordeiros pascais, que eram lavados na
piscina das Ovelhas, ao lado da porta das Ovelhas, a leste do fórum.
Depois de lavados, eram levados, com a boca amarrada, até o caminho
do Templo, para não se sujarem mais, depois eram conduzidos para o
lado de fora, a oeste, onde ainda eram submetidos a uma ablução
cerimonial. Esses balidos desamparados dos cordeiros tinham algo de
indescritivelmente comovente; eram as únicas vozes que se uniam aos
gemidos do Salvador.
A
multidão dos judeus mantinha-se afastada do lugar da flagelação,
numa distância, talvez, da largura de uma rua. Soldados romanos
estavam postos em diferentes lugares, especialmente pelo lado do
posto de guarda; perto da coluna de flagelação havia grupos de
populacho, que iam e vinham silenciosos ou zombando; vi alguns que
se sentiram comovidos; era como se os tocasse um raio de luz saindo
de Jesus.
Vi
também meninos indignos que, ao lado do pretório, preparavam novas
varas e outros que iam buscar ramos de espinheiro. Alguns soldados
dos Príncipes dos sacerdotes tinham travado relações com os
carrascos e deram-lhes dinheiro; trouxeram-lhes também um grande
cântaro, cheio de uma bebida vermelha, grossa, da qual beberam até
ficar embriagados e enraivecidos. Ao cabo de um quarto da hora
deixaram os dois carrascos de açoitar Jesus; formam juntar-se a dois
outros e beberam com eles. O corpo de Jesus estava todo coberto de
contusões vermelhas, pardas e roxas e o sangue sagrado corria-Lhe
por terra; agitava-se em movimentos convulsivos. De todos os lados
se ouviam insultos e motejos.
Durante
a noite tinha feito muito frio. Desde a madrugada até essa hora, não
clareara o céu e, com grande espanto do povo, caíram algumas curtas
chuvas de pedra. Pelo meio-dia clareou e apareceu o sol.
O
segundo par de carrascos caiu então com novo furor sobre Jesus;
tinham outra espécie de açoites; eram como varas de espinheiro, com
nós e esporões. Os violentos golpes rasgaram todas as pisaduras do
santo corpo de Jesus; o sangue regou o chão, em redor da coluna e
salpicou os braços dos carrascos. Jesus gemia, rezava, torcia-se de
dor.
Passaram então pelo fórum muitos estrangeiros, montados em camelos;
olharam assustados e entristecidos, quando o povo lhes disse o que
se estava passando. Eram viajantes, dos quais uns tinham recebido o
batismo e outros o sermão da montanha. O tumulto e os gritos
continuavam no entanto, diante da casa de Pilatos.
Os dois
seguintes carrascos bateram em Jesus com flagelos: eram curtas
correntes ou correias, fixas num cabo, cuja extremidades estavam
munidas de ganchos de ferro, que arrancavam, a cada golpe, pedaços
de pele e carne das costas. Oh! Quem pode descrever o aspecto
horrível e doloroso deste suplício?
Mas a
crueldade dos carrascos ainda não estava satisfeita; desligaram
Jesus e amarraram-no de novo, mas com as costas viradas para a
coluna. Como, porém, estivesse tão enfraquecido, que não podia
manter-se em pé, passaram-Lhe cordas finas sobre o peito e sob os
braços e debaixo dos joelho, amarrando-O assim toda à coluna; também
Lhe ataram as mãos atrás da coluna, a meia altura. Todo o corpo
sagrado contraia-se-Lhe dolorosamente, as chagas e o sangue
cobriam-Lhe a nudez. Como cães raivosos, caíram-Lhe os carrascos em
cima, com os açoites; um tinha uma vara mais delgada na mão
esquerda, com que Lhe batia no rosto. O corpo de Nosso Senhor
formava uma só chaga, não havia mais lugar são. Ele olhava para os
carrascos, com os olhos cheios de sangue, que suplicavam
misericórdia, mas redobravam os golpes furiosos e Jesus gemia, cada
vez mais fracamente: “Ai”
A
horrível flagelação durara cerca de três quartos de hora, quando um
estrangeiro, homem do povo, parente do cego Ctesifon, curado por
Jesus, se aproximou precipitadamente da coluna, pelo lado de traz e,
com uma faca em forma de foice na mão, gritou indignado: “Parai! Não
flageleis este homem inocente até morrer!” Os carrascos, meio
embriagados, pararam espantados e o homem cortou rapidamente, como
de um único golpe, as cordas de Jesus, que todas estavam seguras num
prego de ferro, atrás da coluna; depois o estrangeiro fugiu e
perdeu-se na multidão. Jesus, porém, caiu desfalecido, ao pé da
coluna, sobre a terra empapada de sangue. Os carrascos deixaram-no
lá e foram beber, depois de chamar os auxiliares do carrasco, que
estavam no posto de guarda, ocupados em trançar a coroa de espinhos.
Jesus
torcia-se ainda de dor, ao pé da coluna, as chagas a sangrar; nesse
momento vi passar perto algumas raparigas libertinas, com as vestes
imprudentemente arregaçadas; estavam de mãos dadas e pararam diante
de Jesus, olhando-O com repugnância melindrosa; com isso sentiu
Jesus ainda mais as feridas e levantou para elas o rosto
ensangüentado, com um olhar suplicante; então se afastaram,
continuando o caminho e os carrascos e soldados dirigiram-lhes,
entre gargalhadas, palavras indecentes.
Vi
varias vezes, durante a flagelação, aparecerem Anjos tristes em
redor de Jesus; ouvi a oração que o Senhor dirigia ao Pai eterno, no
meio dos tormentos e insultos, oferecendo-se para expiação dos
pecados dos homens. Mas nesse momento, quando jazia, banhado em
sangue, ao pé da coluna, vi um anjo, que lhe restituía as forças;
parecia dar-Lhe um alimento luminoso.
Então
se aproximaram novamente os carrascos e dando-Lhe pontapés,
mandaram-no levantar-se, dizendo que ainda não tinham acabado com o
rei; querendo ainda bater-Lhe, arrastou-se Jesus pelo chão, para
alcançar a faixa de pano e cobrir a nudez; mas os perversos
celerados empurravam-na com os pés para lá e para cá, rindo-se de
ver Jesus em sangrenta nudez arrastar-se penosamente, como um verme
esmagado, para alcançar o pano e cobrir o corpo dilacerado.
Depois
O impeliram, a pontapés e pauladas, a levantar-se sobre as pernas
vacilantes; não Lhe deram tempo de vestir a túnica, mas lançaram-lha
sobre os ombros e Jesus enxugou nela o sangue do rosto, enquanto O
conduziram apressadamente ao corpo da guarda, dando uma volta.
Podiam tê-Lo levado por um caminho mais curto, porque as arcadas e
edifícios em redor do fórum eram abertos, de modo que se podia
enxergar o corredor sob o qual jaziam presos os dois ladrões e
Barrabás; mas passaram com Jesus diante dos sumos-sacerdotes, que
gritavam: “Levai-O à morte! Levai-o à morte!” e viraram a cabeça com
nojo. Conduziram-no para o pátio interior do corpo da guarda. Quando
Jesus entrou, não havia lá soldados, mas escravos, soldados e
marotos, a escória do povo.
Vendo
que o povo estava tão agitado, Pilatos mandara vir reforço da
cidadela Antónia. Essas forças cercavam em boa ordem o corpo da
guarda; podiam falar, rir e insultar a Jesus, mas não sair das
fileiras. Pilatos queria com eles manter o povo em respeito. Podia
bem haver lá mil homens.
Maria Santíssima durante a flagelação.
Vi a
SS. Virgem, durante a flagelação do Redentor, em contínuo êxtase; via
e sofria na alma e com indizível amor e tormento, tudo quanto sofria
o Divino Filho. Muitas vezes lhe saíram fracos gemidos da boca;
os olhos estavam inflamados de tanto chorar. Jazia velada nos braços
da irmã mais velha, Maria Helí, que já era muito idosa e se parecia
muito com a mãe, Sant’ Ana. Maria, filha de Cléofas e de Maria Helí,
estava também presente e segurava sempre o braço se sua mãe. As
santas amigas de Maria e Jesus, todas veladas e envolvidas em
mantos, rodeavam a SS. Virgem, tremendo de medo e dor, como se
esperassem sua própria sentença de morte. Maria vestia uma longa
veste azul e sobre essa, um comprido manto branco de lã e um véu
branco-amarelo. Madalena estava desnorteada e desolada de dor e
lamentação; tinha o cabelo em desalinho, sob o véu.
Quando
Jesus, depois da flagelação, caíra ao pé da coluna, mandara Cláudia
Prócula, a mulher de Pilatos, um fardo de grandes panos à Mãe de
Deus. Não sei mais se julgava que Jesus ficaria livre e a Mãe do
Senhor lhe devia tratar as feridas com esses panos ou se a pagã
compadecida mandou os panos para o fim o qual SS. Virgem os
empregou.
Maria,
voltando a si, viu passar o Divino Filho dilacerado, conduzido pelos
soldados; Ele enxugou o sangue dos olhos com a túnica, para fitar a
SS. Virgem, que Lhe estendeu as mãos, num transporte de dor e Lhe
seguiu com a vista as pegadas sangrentas. Logo depois vi a SS.
Virgem e Madalena, quando o povo se dirigia mais para o outro lado,
aproximarem-se do lugar da flagelação. Cercadas e ocultas pelas
outras santas mulheres e outra gente boa, que se aproximara,
prostraram-se por terra, ao pé da coluna da flagelação e apanharam
com os panos todo o sangue de Jesus, por toda a parte onde
encontraram algum vestígio.
Não vi
nessa hora João, junto das santas mulheres, que eram cerca de vinte.
O filho de Simeão, o de Obed e o de Verónica, como também Aram e
Temeni, os sobrinhos de José de Arimateia, estavam todos ocupados no
Templo, cheios de tristeza e angústia.
Foi
pelas nove horas da manhã que acabou a flagelação.
Vi hoje
as faces da SS. Virgem pálidas e mortiças, o nariz delgado e
comprido, os olhos quase cor de sangue, de tantas lágrimas que
derramou; não é possível descrever a impressão que faz a figura de
Maria, na sua simplicidade e graça natural. Já desde ontem e durante
toda a noite, tem ela vagueado, cheia de angústia e amor, pelo vale
de Josafá e pelas ruas de Jerusalém e através do povo e contudo não
se lhe vê nenhuma desordem nas vestes; cada prega do vestido da SS.
Virgem respira santidade; tudo nela é simples e digno, puro e
inocente.
Os
movimentos, ao olhar em redor de si, são nobres e as pregas do véu,
quando vira um pouco a cabeça, são de uma singular beleza e
simplicidade. Nos movimentos não se lhe nota agitação e mesmo na
mais dilacerante dor, todo o porte se lhe conserva simples e calmo.
Tem o manto umedecido pelo orvalho da noite e por inúmeras lágrimas,
mas em tudo mais está limpo e bem arrumado. É inefavelmente bela e
de uma beleza toda sobrenatural; pois toda sua beleza é também
pureza, simplicidade, dignidade e santidade.
Madalena, porém, tem um aspecto inteiramente diferente. É mais alta
e mais gorda e chama mais a atenção pelas formas e os movimentos;
mas toda a beleza lhe foi devastada pelas paixões, pelo
arrependimento e excessiva dor; quase sem limite de sua dor. Tem as
vestes molhadas e sujas de lama, em desarranjo e rasgadas; o longo
cabelo cai-lhe solto e em desalinho, sob o véu molhado e amarrotado.
Está toda desfigurada e agitada; não pensa senão em sua dor, e
parece quase uma alienada. Há muita gente aqui de Magdala e
arredores, que a viu dantes, na vida tão suntuosa e depois tão
pecaminosa e em seguida tanto tempo retirada do mundo e agora a
apontam com o dedo e a insultam, ao ver-lhe a estranha figura; há
também gente baixa de Magdala que, ao passar por ela, lhe atira
lama, mas Madalena não o nota, tão absorta está na sua dor |