9:00 às 10:00 hs. JESUS É COROADO DE ESPINHOS.
Cristo padeceu por vós, deixando-vos exemplo para que sigais os seus
passos...(1 Ped 2, 21)
JESUS É ULTRAJADO E COROADO DE ESPINHOS
Era
desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores,
experimentado nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se
cobre o rosto, era amaldiçoado e não fazíamos caso dele. (Is 53, 3)
Os
soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a
cabeça... diziam: Salve, rei dos judeus! E davam-lhe bofetadas. (Jo
19, 2-3)
Arrancaram-lhe as vestes e colocaram-lhe um manto escarlate. Depois,
trançaram uma coroa de espinhos, meteram-lha na cabeça e puseram-lhe
na mão uma vara. Dobrando os joelhos diante dele, diziam com
escárnio: Salve, rei dos judeus! Cuspiam-lhe no rosto e, tomando da
vara, davam-lhe golpes na cabeça. (Mt 27, 28-30)
PILATOS OUTRA VEZ O DECLARA INOCENTE
Se
bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca nunca
tenha havido mentira. (Is 53, 9)
Pilatos saiu outra vez e disse-lhes: Eis que vo-lo trago fora, para
que saibais que não acho nele nenhum motivo de acusação. (Jo 19, 4)
JESUS É APRESENTADO AO POVO
À
sua vista, muitos ficaram embaraçados - tão desfigurado estava que
havia perdido a aparência humana (Is 52, 14)
Não
tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não
podia seduzir-nos... (Is 53, 2)
“Eis
o Homem!”
Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de
púrpura. Pilatos disse: Eis o homem! (Jo 19, 5)
OS PRÍNCIPES DOS JUDEUS INSTIGAM O POVO A PEDIR A LIBERTAÇÃO DE
BARRABÁS E A MORTE DE JESUS
Ó
meu Deus, escutai minha oração, atendei às minhas palavras, pois
homens soberbos insurgiram-se contra mim; homens violentos odeiam a
minha vida: não têm Deus em sua presença. (Sal 53, 4-5)
Mas
os pontífices instigaram o povo para que pedissem de preferência que
lhes soltasse Barrabás. (Mc 15, 11)
Mas
os príncipes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo que
pedisse a libertação de Barrabás e fizesse morrer Jesus. O
governador tomou então a palavra: Qual dos dois quereis que eu vos
solte? Responderam: Barrabás! (Mt 27,20-21)
A
MULHER DE PILATOS
Quem
pensou em defender sua causa,... (Is 53, 8)
“Nada faças a esse Justo” (Mt 27, 19)
Enquanto estava sentado no tribunal, sua mulher lhe mandou dizer:
Nada faças a esse justo. Fui hoje atormentada por um sonho que lhe
diz respeito. (Mt 27, 19)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Jesus é coroado de espinhos e escarnecido pelos soldados.
Durante
a flagelação falou Pilatos ainda várias vezes ao povo, que uma vez
até gritou: “Ele deve morrer, ainda que todos nós também pereçamos”.
Quando Jesus foi conduzindo ao corpo da guarda, para ser coroado de
espinhos, ainda gritaram: “Morra! Morra!” pois chegavam cada vez
novas turbas de judeus, que pelos emissários dos sumos sacerdotes
eram incitados a gritar assim.
Houve
depois uma curta pausa. Pilatos deu ordens aos soldados. Os
sumos-sacerdotes e os conselheiros, que estavam sentados em bancos,
de ambos os lados da rua, à sombra das árvores ou sob lonas
estendidas, diante do terraço de Pilatos, mandarem os criados trazer
alimentos e bebida. Vi também Pilatos de novo perturbado pela
superstição; retirou-se sozinho, para oferecer incenso aos
deuses e por certos sinais descobrir-lhes a vontade.
Vi que
depois da flagelação a SS. Virgem e as amigas, tendo enxugado o
sangue de Jesus, se afastaram do fórum. Vi-as com os panos
ensanguentados, numa pequena casa encostada a um muro; não era longe
do fórum; não me lembro mais de quem era. Não me recordo de ter
visto João durante a flagelação.
Jesus foi coroado de espinhos e escarnecido no
pátio interior do corpo da guarda, construído sobre os cárceres, ao
lado do fórum. Esse pátio era cercado de colunas e todas as entradas
tinham sido abertas. Havia ali cerca de cinquenta miseráveis
patifes, sequazes dos soldados, servos dos carcereiros, soldados e
auxiliares dos carrascos, escravos e os criminosos que flagelaram
Nosso Senhor; esses todos tomaram parte activa nas crueldades
praticadas em Jesus. No começo o povo tentou entrar, mas pouco
depois cercaram mil soldados romanos o edifício. Permaneciam nas
fileiras, mas com as zombarias e risos provocavam ainda o cruel
exibicionismo dos carrascos para redobrarem as torturas de Jesus,
animando-os com as risadas, como o aplauso anima os atores no palco.
Rolaram
para o meio do pátio o pedestal de uma velha coluna, no qual havia
um buraco, que talvez tivesse servido para nele ajustar a coluna.
Nesse pedestal colocaram um escabelo redondo e baixo, que por detrás
tinha uma espécie de cabo, para o manejar; por maldade cobriram o
escabelo de pedregulho agudo e cacos de louça.
Arrancaram de novo toda a roupa do corpo ferido de Jesus e
impuseram-Lhe um manto de soldado, curto, vermelho, velho e já roto,
que nem lhe chegava até os joelhos. Pendiam dele ainda alguns restos
de borlas amarelas; jazia num canto do quarto dos verdugos, que
costumavam impô-lo aos que tinham açoitado, seja para enxugar-lhes o
sangue, seja para escarnecê-los. Arrastaram a Jesus para a coluna e
empurraram-no brutalmente, com o corpo despido e ferido, sobre o
escabelo coberto de pedras e cacos.
Depois
lhe puseram a coroa de espinhos na cabeça. Essa tinha dois palmos de
altura, era muito espessa e trançada com arte; em cima tinha uma
borda um pouco saliente. Puseram-Lha em redor da fronte, como uma
ligadura e ataram-na atrás com muita força, de modo que formavam uma
coroa ou um chapéu. Era artisticamente trançada de três varas de
espinheiro, da grossura de um dedo, que tinham crescido alto,
através dos espessos arbustos. Os espinhos, pela maior parte, foram
propositalmente virados para dentro. Pertenciam a três diferentes
espécies de espinheiros, que tinham alguma semelhança com a nossa
cambroeira, o abrunheiro e espinheiro branco. Em cima tinham
acrescentado uma borda, trançada de um espinheiro semelhante à nossa
sarça silvestre e pela qual pegavam e puxavam brutalmente a coroa.
Vi o lugar onde os meninos foram buscar esses espinhos.
Puseram-Lhe também na mão um grosso caniço, com um tufo na ponta.
Fizeram tudo isso com solenidade derrisória, como se O coroassem de
fato rei. Tiravam-lhe o caniço da mão e batiam com tanta força a
coroa, que os olhos de Nosso Senhor se enchiam de sangue. Curvavam
os joelhos diante dEle, mostravam-Lhe a língua, batiam e cuspiam-Lhe
no rosto, gritando: “Salve, rei dos judeus!” Depois, entre
gargalhadas, fizeram-no cair no chão, junto com o escabelo e
tornaram a colocá-Lo sobre ele aos empurrões.
Não
posso relatar todas as torturas e ultrajes que os carrascos
inventaram, para escarnecer o pobre Salvador. Ai! Jesus sofreu
horrível sede; pois em consequência das feridas, causadas pela
desumana flagelação, estava com febre e tremia; a pele e os músculos
dos lados estavam dilacerados o deixavam entrever as costelas em
vários lugares; a língua contraíra-se-Lhe espasmodicamente; somente
o sangue sagrado que lhe corria da fronte, compadecia-se da boca
ardente, que se abria ansiosa. Mas aqueles homens horríveis
tomaram-Lhe a boca divina por alvo dos nojentos escarros. Jesus foi
assim maltratado por cerca de meia hora e a tropa, cujas fileiras
cercavam o pretório, aplaudia com gritos e gargalhadas.
Ecce Homo
Reconduziram então Jesus ao palácio de Pilatos, a coroa de espinhos
sobre a cabeça, o caniço nas mãos amarradas, coberto do manto
vermelho. Jesus estava desfigurado, pelos sangue que Lhe enchia os
olhos e Lhe escorria na boca e sobre a barba. O corpo, coberto de
pisaduras e feridas, parecia-se-Lhe com um pano ensopado de sangue.
Andava curvado e cambaleando; o manto era tão curto, que Jesus
precisava curvar-se, para cobrir a nudez, porque Lhe
Quando
o pobre Jesus chegou ao primeiro degrau da escada, diante de
Pilatos, até esse homem cruel estremeceu de horror e compaixão.
Apoiou-se a um dos oficiais e como o povo e os sacerdotes ainda
gritassem e insultassem, exclamou: “Se o demónio dos judeus é tão
cruel, então não deve ser bom morar com ele no inferno”. Quando
Jesus foi puxado penosamente, escada acima e conduzido ao fundo,
Pilatos saiu para a sacada; foi dado um toque de trombeta, para
chamar a atenção do povo, a que Pilatos queria falar. Disse, pois,
aos príncipes dos sacerdotes e a todos os presentes: “Escutai, vou
mandá-Lo conduzir mais uma vez para diante de vós, para que
conheçais que não Lhe achei culpa alguma”.
Jesus
foi então conduzido pelos soldados à sacada, ao lado de Pilatos, de
modo que todo o povo reunido no fórum podia vê-Lo. Era um aspecto
terrível, pungente, que primeiro causou no povo horror e penoso
silêncio. O Filho de Deus ensanguentado dirigiu os olhos cheios de
sangue, sob a coroa de espinhos, para o povo e Pilatos, que, ao
lado, indicando-O com a mão, gritou aos judeus: “Eis aqui o Homem!”
Enquanto Jesus, com o corpo dilacerado, coberto do manto vermelho
derrisório, abaixando a cabeça traspassada de espinhos e inundada de
sangue, segurando nas mãos atadas o ceptro de caniço, curvado para
cobrir a nudez com as mãos, aniquilado pela dor e tristeza, mas
ainda respirando infinito amor e mansidão, estava diante do palácio
de Pilatos, como um aspecto sangrento, exposto aos gritos furiosos
dos sacerdotes e do povo, passaram pelo fórum grupos de forasteiros,
homens e mulheres, com as vestes arregaçadas, em direcção à piscina
das Ovelhas, para ajudar a lavar os cordeiros da Páscoa, cujos
balidos tristes se misturavam com os clamores sanguinários da
multidão, como para dar testemunho em favor da Verdade, que se
calava. Somente o verdadeiro cordeiro pascal de Deus, o revelado,
mas não conhecido mistério desse santo dia, cumpriu a profecia e
curvou-se em silêncio sobre o matadouro.
Os
sumos-sacerdotes e os membros do tribunal ficaram cheios de raiva
pelo aspecto de Jesus, espelho horrível de sua consciência e
gritaram: “Morra! Crucificai-O!” Pilatos, porém, exclamou: “Ainda
não vos basta? Ele foi tão maltratado, que não terá mais desejo de
ser rei”. Eles, porém, se tornaram ainda mais furiosos, gritando
como dementes e todo o povo repetia: “Deve morrer. Crucificai-O!”
Então mandou Pilatos dar outro toque de trombeta e disse: “Pois
tomai-O e crucificai-O vós, porque não Lhe acho culpa”.
Responderam-lhe alguns dos príncipes dos sacerdotes: “Temos uma lei
e segundo essa lei Ele deve morrer, porque declarou ser o Filho de
Deus!” Pilatos replicou: “Pois se tendes tais leis, segundo as quais
este homem deve morrer, eu não queria ser judeu”.
Mas o
dito dos judeus: “Ele se declarou Filho de Deus” inquietou Pilatos e
suscitou-lhe de novo o pavor supersticioso; mandou, pois, conduzir
Jesus a um lugar separado, onde Lhe perguntou: “Donde és?” Jesus,
porém, não lhe respondeu. Disse-lhe então Pilatos: “Não me
respondes? Por ventura não sabes que tenho o poder de crucificar-Te
ou de soltar-Te?” E Jesus respondeu: “Não terias poder sobre mim,
se não te fosse dado do Céu; por isso comete pecado mais grave
aquele que me entregou em tuas mãos”.
Cláudia Prócula, que estava muito angustiada pela hesitação do
marido, mandou novamente um mensageiro a Pilatos mostrar-lhe o
penhor e lembrar-lhe a promessa; ele,
porém, lhe mandou uma resposta muito confusa e supersticiosa, da
qual me lembro apenas que se referia aos deuses.
Quando
os príncipes dos sacerdotes e os fariseus tiveram conhecimento da
intervenção da mulher de Pilatos em favor de Jesus, mandaram
espalhar entre o povo: “Os partidários de Jesus subornaram a mulher
de Pilatos; se Ele ficar livre, unir-se-á aos romanos e nós todos
pereceremos”.
Pilatos, na indecisão, estava como embriagado; a razão vacilava-lhe
de um lado para outro. Disse uma vez aos inimigos de Jesus que não
Lhe achava culpa. Mas vendo que esses, com mais vigor ainda,
exigiram a morte de Jesus e inquieto pelos seus próprios pensamentos
confusos, como pelos sonhos da mulher e as palavras significativas
de Jesus, queria ouvir mais uma resposta do Senhor, que o pudesse
tirar dessa situação penosa.
Voltou
portanto à sala do tribunal, onde estava Jesus e ficou a sós com
Ele. Com um olhar perscrutador e quase medroso, fitou o Salvador
desfigurado e ensanguentado, para quem não podia olhar sem horror e
pensou comigo: “Será possível que seja um Deus?” e de repente se Lhe
dirigiu com energia, conjurando-O a dizer-lhe se era um deus e não
um homem, se era rei, até onde se Lhe estendia o reino, de que
espécie era a sua divindade. Se lho dissesse, dar-Lhe-ia a
liberdade.
– O que
Jesus respondeu, posso dizê-lo só pelo sentido, não com as mesmas
palavras. O Senhor falou-lhe com terrível severidade. Fez-lhe ver em
que sentido era rei e qual o seu reino; mostrou-lhe o que era a
verdade, pois disse-lhe a verdade. Nosso Senhor revelou-lhe, com
toda a franqueza, os abomináveis crimes que Pilatos ocultava na
consciência; predisse-lhe o futuro, a miséria no exílio, o fim
horroroso e que Ele um dia viria julgá-lo com toda a justiça.
Pilatos, meio assustado, meio irritado pelas palavras de Jesus, saiu
para a sacada e exclamou mais uma vez que queria soltar Jesus. Então
gritaram: “Se o soltares, não és amigo de César; pois quem se
declara rei, é inimigo de César”. Outros gritaram que o acusariam
perante o imperador por perturbar-lhes a festa; que devia terminar a
causa, porque eram obrigados, sob graves penas, a estar no Templo às
dez horas.
– O
grito: “Morra! Crucificai-O!” levantou-se novamente de todos os
lados; subiram até sobre os tectos planos das casas em redor do
fórum e gritavam dali.
Então
viu Pilatos que contra essa fúria não conseguiria nada; os gritos e
o tumulto tinham algo de terrível e toda a multidão diante do
palácio estava em tal estado de agitação, que era para recear uma
rebelião. Pilatos mandou trazer água; o criado derramou-lhe água da
bacia sobre as mãos, à vista de todo o povo e Pilatos gritou do
pretório à multidão: “Sou inocente do sangue deste justo; vós tendes
que responder pela sua morte”. Então se levantou um grito horrível,
unânime, do povo reunido, no meio do qual havia gente de todos os
lugares da Palestina: “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos,
filhos!”
Reflexão sobre estas visões
Todas
as vezes que, nas meditações da dolorosa Paixão de Jesus Cristo,
ouço esse grito espantoso dos judeus: “Que o seu sangue caia sobre
nós e nossos filhos”, o efeito dessa solene maldição me é revelado e
tornado sensível, em quadros maravilhosos e terríveis. Vejo acima do
povo, que grita, um céu escuro, coberto de nuvens cor de sangue, das
quais saem flagelos e espadas de fogo. Vejo como se os raios dessa
maldição atravessassem todos até os ossos e neles também os filhos.
Vejo o povo como envolvido em trevas e o grito sair-lhes das bocas
como um fogo tenebroso e maligno, unir-se por cima das cabeças e
cair de novo sobre eles, entrando mais profundo em alguns, pairando
sobre outros. Esses últimos eram aqueles que depois da morte de
Jesus se converteram. O número destes não era, porém, pequeno; pois
vejo Jesus e Maria, durante todos esses terríveis sofrimentos
rezarem sempre pela salvação dos carrascos e todos esses horríveis
tormentos não lhes causaram nenhum ressentimento.
Durante
toda a Paixão, no meio das mais cruéis torturas dos insultos mais
insolentes e ignominiosos, no meio da fúria sanguinária dos inimigos
e dos servos destes, à vista da ingratidão e do abandono de muitos
fiéis, que Lhe causaram o mais amargo sofrimento físico e moral,
vejo Jesus sempre rezando, amando os inimigos, orando pela sua
conversão, até o último suspiro; mas vejo que por essa paciência e
esse amor ainda mais se inflama a fúria e raiva dos cruéis inimigos;
enfurecem-se porque toda a sua brutalidade e crueldade não conseguem
arrancar-Lhe da boca uma palavra de protesto ou de queixa, que possa
desculpar-lhes a maldade. Hoje, que na festa da Páscoa matam o
cordeiro pascal, não sabem que matam o Cordeiro de Deus.
Quando,
durante tais visões, dirijo os meus pensamentos para o coração do
povo e dos juízes e para as santas almas de Jesus e Maria, tudo que
neles se passa me é mostrado em figuras, que as pessoas naquele
tempo não viram mas sentiram o que representam. Vejo então
inúmeras figuras diabólicas, cada uma diferente, conforme o vício
que representa, em terrível ação entre a multidão; vejo-as
correr, instigar a raiva, causar confusão dos espíritos, entrar na
boca das pessoas; vejo as sair da multidão, reunir-se em grande
número e atiçar a raiva do povo contra Jesus, mas à vista do amor e
da paciência do Mestre tremem e desaparecem do novo entre o povo.
Toda
essa actividade tem algo de desesperado, confuso, contraditório; é
um movimento confuso e insensato. Acima e em redor de Jesus e Maria
e do pequeno número de santos vejo também se moverem muitos Anjos,
cujas figuras e vestimentas variam, conforme as respectivas funções
e acção; representam consolação, oração, unção, conforto por
comida e bebida e outras obras de misericórdia.
De modo
semelhante vejo frequentemente vozes consoladoras ou ameaçadoras
saírem, como palavras de diferentes cores e luzes, da boca de tais
aparições; e se são mensagens, vejo-lhas nas mãos, em forma de tiras
escritas. Outras vezes, quando preciso ser instruída a esse
respeito, vejo os movimentos d’alma e as paixões dos corações, o
sofrimento e o amor, enfim, tudo que é sentimento; vejo-os passar
através do peito e de todo o corpo dos homens, em movimentos de
diferentes cores, em variações de luz e sombra, de diversas formas,
direcções e mudanças de forma e cor, de lentidão e rapidez; assim
compreendo tudo, mas é impossível exprimi-lo em palavras; pois é um
número infinito de coisas e ao mesmo tempo me sinto tão abatida pela
dor e tristeza por meus pecados e os de todo o mundo e tão
dilacerada pela dolorosa Paixão de Jesus, que até não compreendo
como ainda possa juntar o pouco que estou contando.
Muitas
coisas, especialmente aparições e acções de demónios e Anjos,
contadas por outras pessoas, que tiveram visões da Paixão de Nosso
Senhor, são fragmentos de tais intuições de movimentos interiores,
invisíveis no momento em que se realizaram outrora, as quais variam,
segundo o estado d’alma das pessoas videntes e são entremeadas nas
narrações. Por isso há tantas contradições, porque esquecem algumas
coisas, saltam outras e só uma parte é que contam.
Tudo
que há de mau no mundo, contribuiu para atormentar Jesus. Tudo que é
amor, nele sofreu. Como Cordeiro de Deus, tomou sobre si os pecados
do mundo: — que infinidade de coisas, tanto abomináveis como também
santas, se podem ver e contar. Se, portanto, as visões e
contemplações de muitas pessoas piedosas não concordam em tudo, é
porque não tiveram o mesmo grau de graça para ver, contar e fazer-se
compreender. |