10:00 ÀS 11:00 hs. JESUS, POSPOSTO A BARABÁS, É CONDENADO A MORTE.
Por
um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua
causa, quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de
meu povo? (Is 53, 8)
O
POVO RECLAMA A MORTE DE JESUS
Senhor, não fiqueis silencioso, não permaneçais surdo, nem
insensível, ó Deus. Porque eis que se tumultuam vossos inimigos,
levantam a cabeça aqueles que vos odeiam... conspiram contra vossos
protegidos. (Sal 82, 2-4)
Pilatos perguntou: Que farei então de Jesus, que é chamado o Cristo?
Todos responderam: Seja crucificado!... Mas que mal fez ele?... (Mt
27, 22-23)
Pilatos falou-lhes outra vez: E que quereis que eu faça daquele a
quem chamais o rei dos judeus? Eles tornaram a gritar: Crucifica-o!
Pilatos replicou: Mas que mal fez ele? Eles clamavam mais ainda:
Crucifica-o! (Mc 15, 12-14)
Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele
deve morrer, porque se declarou Filho de Deus. (Jo 19, 7)
Estas palavras impressionaram Pilatos. Entrou novamente no pretório
e perguntou a Jesus: De onde és tu? Mas Jesus não lhe respondeu.
Pilatos então lhe disse: Tu não me respondes? Não sabes que tenho
poder para te soltar e para te crucificar? Respondeu Jesus: Não
terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso,
quem me entregou a ti tem pecado maior. Desde então Pilatos
procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam: Se o soltares, não és
amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se declara contra o
imperador. (Jo 19, 8-12)
O
POVO INSISTE NA MORTE DE JESUS
“Sim, eu ouvi o vozerio da multidão; em toda parte, o terror!
Conspirando contra mim”... (Sal 30, 14)
E
gritavam ainda mais forte: Seja crucificado! (Mt 27, 23)
(Era
a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta.) Pilatos disse aos
judeus: Eis o vosso rei! Mas eles clamavam: Fora com ele! Fora com
ele! Crucifica-o! Pilatos perguntou-lhes: Hei de crucificar o vosso
rei? Os sumos-sacerdotes responderam: Não temos outro rei senão
César! (Jo 19, 14-15)
PILATOS PRONUNCIA A SENTENÇA – LIBERTA BARRABÁS E ENTREGA JESUS À
MORTE
Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e
sacrifício de agradável odor. (Efésios 5, 2)
Querendo Pilatos satisfazer o povo, soltou-lhes Barrabás e entregou
Jesus, depois de açoitado, para que fosse crucificado. (Mc 15, 15)
“Sou
inocente no Sangue deste Homem!” (Mt 27, 24)
Pilatos viu que nada adiantava, mas que, ao contrário, o tumulto
crescia. Fez com que lhe trouxessem água, lavou as mãos diante do
povo e disse: Sou inocente do sangue deste homem. Isto é lá
convosco! E todo o povo respondeu: Caia sobre nós o seu sangue e
sobre nossos filhos! Libertou então Barrabás, mandou açoitar Jesus e
lho entregou para ser crucificado. (Mt 27, 24-26)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo
as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Jesus condenado à more na Cruz
Pilatos, que não procurava a verdade, mas apenas uma saída para a
dificuldade, estava mais indeciso que nunca. A consciência
dizia-lhe: “Jesus é inocente”. A esposa mandara dizer-lhe: “Jesus é
santo”. A superstição dizia-lhe: “É um inimigo de teus deuses”. A
covardia dizia-lhe: “É um deus e vingar-se-á”.
Interroga mais uma vez a Jesus, em tom inquieto e solene e Jesus lhe
fala dos seus mais ocultos crimes, prediz-lhe um futuro e uma morte
miseráveis e que um dia virá, sentado sobre as nuvens do céu,
pronunciar sobre ele um juízo justo, o que deita na falsa balança da
justiça de Pilatos um novo peso contra a intenção de soltar Jesus.
Ficou furioso por se ver em toda a nudez de sua ignomínia interior
diante de Jesus, a quem não podia compreender; sentiu-se indignado
daquele que mandara açoitar e que podia mandar crucificar, lhe
predizer um fim miserável; dessa boca, quem nunca acusada de
mentira, que não proferia uma só palavra em sua própria defesa,
ousar, em ocasião extremamente arriscada, citá-lo perante seu justo
tribunal, naquele dia futuro.
Tudo
isso lhe ofendeu profundamente o orgulho; mas como não havia
sentimento dominante nesse homem miserável e indeciso, ficou cheio
de medo diante da ameaça do Senhor e fez a última tentativa de
libertar Jesus. Ouvindo, porém, a ameaça dos judeus de acusá-lo
perante o imperador, se soltasse Jesus, foi dominado por outro pavor
covarde: o medo do imperador terrestre venceu o receio do rei cujo
reino não era deste inundo. O celerado covarde e irresoluto pensava
consigo: “Se Ele morrer, morrerá também com Ele o que sabe de mim e
o que me predisse”.
À
ameaça dos judeus de acusá-lo perante o imperador, decidiu-se
Pilatos a fazer-lhes a vontade, contrariamente à promessa que fizera
à esposa, contrariamente à justiça e à própria convicção. Por medo
do imperador, entregou aos judeus o sangue de Jesus, mas para a
própria consciência não tinha senão água, que fez derramar sobre as
mãos, exclamando: “Sou inocente do sangue deste Justo, respondereis
por Ele”.
– Não,
Pilatos, tu és responsável, pois que O dizes Justo e Lhe derramas o
sangue; és o juiz injusto, sem consciência. O mesmo sangue de que
queria lavar as mãos e de que não podia lavar a alma, os
sanguinários judeus chamaram-no sobre si e seus filhos,
amaldiçoando-se a si mesmos. O sangue de Jesus, que atrai a
misericórdia de Deus sobre nós, fizeram-no chamar a vingança sobre
eles, gritando: “Que o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos”.
Ouvindo
esses gritos sanguinários, Pilatos mandou preparar tudo para
pronunciar a sentença. Deu ordem para trazer outras vestes solenes e
vestiu-as; puseram-lhe na cabeça uma espécie de coroa ou diadema, no
qual havia uma pedra preciosa ou outra coisa brilhante; vestiram-no
também de outro manto e diante dele levavam um bastão. Foi
acompanhado de muitos soldados; oficiais do tribunal iam na frente,
transportando uma coisa e seguiam-se escreventes, com rolos de papel
e tabuinhas, precedidos por um homem que tocava trombeta.
Assim
saiu do palácio para o fórum, onde, em frente ao lugar da
flagelação, havia um belo assento elevado, construído de pedras,
para pronunciar as sentenças; só depois de pronunciadas desse lugar
tinham as sentenças vigor legal. Esse tribunal era chamado Gábata e
era um estrado circular, para o qual subiam escadas de vários lados;
em cima havia um assento para Pilatos e atrás dele um banco, para
outros membros do tribunal.
Muitos
soldados cercavam esse tribunal e em parte ficavam nos degraus das
escadas. Muitos dos fariseus já tinham ido do palácio de Pilatos ao
Templo. Somente Anás e Caifás, com cerca de vinte e oito outros, se
dirigiram ao tribunal no fórum, logo que Pilatos começou a vestir as
vestimentas oficiais. Os dois ladrões já haviam sido conduzidos ao
tribunal, quando Pilatos apresentou Jesus ao povo, dizendo: Ecce
homo! O assento de Pilatos estava coberto de uma manta vermelha e
sobre essa havia uma almofada azul, com galões amarelos.
Jesus,
ainda vestido do rubro manto derrisório, com a coroa de espinhos na
cabeça, as mãos atadas, foi então conduzido pelos esbirros e
soldados que O cercavam, entre as vaias do povo, para o tribunal,
onde O colocaram entre dois ladrões. Pilatos, sentado no tribunal,
disse mais uma vez, em voz alta, aos inimigos de Jesus: “Eis aí o
vosso rei!” Eles, porém, gritaram: “Fora! Morra! Crucifica-O!” –
Pilatos disse: “Devo então crucificar vosso rei?” – Mas os príncipes
dos sacerdotes gritaram: “Não temos outro rei senão o César”.
Então
Pilatos não disse mais palavra em favor de Jesus, nem mais Lhe
falou, mas começou a pronunciar a sentença. Os dois ladrões tinham
sido condenados, já havia mais tempo, à morte na cruz, mas a
execução fora adiada para esse dia, a pedido dos Sumos-Sacerdotes,
porque queriam ultrajar Jesus, crucificando-O entre assassinos
ordinários. As cruzes dos ladrões já estavam ao lado deles, no chão,
trazidas pelos ajudantes dos carrascos. A Cruz de Nosso Senhor ainda
não estava lá, provavelmente porque a sentença ainda não fora
pronunciada.
A
Santíssima Virgem, que se tinha afastado depois da apresentação de
Jesus por Pilatos e da gritaria sanguinária dos judeus, abriu
caminho, em companhia de algumas mulheres, por entre a multidão e
aproximou-se do tribunal, para ouvir a sentença de morte, proferida
contra seu Filho e Deus; Jesus estava nos degraus da escada, diante
de Pilatos, rodeado de soldados e os inimigos lançavam-Lhe olhares
cheios de ódio e escárnio. Um toque de trombeta ordenou silêncio e
Pilatos pronunciou, com a raiva de um covarde, a sentença de morte
contra o Salvador.
Senti-me sufocada de indignação, diante de tanta baixeza e
duplicidade; o aspecto desse celerado arrogante, do triunfo e ódio
sanguinário dos príncipes dos sacerdotes, satisfeitos após tantos
esforços fatigantes, o estado lastimoso e os sofrimentos do
pacientíssimo Salvador, a indizível angústia e os tormentos da Mãe
Santíssima e das santas mulheres, a furiosa ansiedade com que os
judeus esperavam a morte da presa, o frio orgulho dos soldados e
minha visão das horrendas figuras diabólicas entre a multidão do
povo, tudo isso me tinha aniquilado completamente. Ai! Percebi que
eu devia estar no lugar de Jesus, meu querido esposo; então a
sentença seria justa. Eu estava tão dilacerada pela dor, que não me
lembro mais da ordem exata das coisas. Vou contar mais ou menos o
que me lembro.
Pilatos
começou por um longo preâmbulo, em que se referiu com os mais
pomposos títulos ao imperador Cláudio Tibério. Depois expôs a
acusação contra Jesus, que fora condenado à morte pelo
Sumos-Sacerdotes e cuja crucificação tinha sido unanimemente exigida
pelo povo, por ser um rebelde, perturbador da paz pública, violador
da lei judaica, por se fazer chamar Filho de Deus e rei dos judeus.
Quando,
porém, acrescentou ainda que achava essa sentença justa, — ele que
por várias horas continuara a declarar Jesus inocente, quase não
pude conter-me mais, à vista desse homem infame e mentiroso. Ele
disse ainda: “Por isso condeno Jesus Nazareno, rei dos judeus, a ser
pregado na Cruz”. Depois deu ordem aos carrascos que fossem buscar a
cruz. Também me lembro, mas não tenho plena certeza, que ele quebrou
uma vara comprida, cuja metade era visível e lançou os pedaços aos
pés de Jesus.
A
essas palavras a Mãe de Jesus caiu por terra sem sentidos e como
morta; agora então estava decidida, era certa a morte de seu
santíssimo e amantíssimo Filho e Salvador, morte horrível, dolorosa,
ignominiosa. As companheiras e João
levaram-na para fora da multidão, para que aqueles homens cegos de
coração não pecassem, insultando a dolorosa Mãe do Salvador; mas
Maria não podia deixar de seguir o caminho da Paixão de Jesus; as
companheiras viram-se obrigadas a levá-la outra vez de lugar em
lugar; pois o culto misterioso de unir-se-Lhe nos sofrimentos
impelia a Santíssima Mãe à oferecer o sacrifício de suas lágrimas em
todos os lugares onde o Redentor, seu Filho, sofrera pelos pecados
dos homens, seus irmãos; e assim a Mãe do Senhor consagrou com as
lágrimas todos esses santos lugares e tomou posse deles para a
futura veneração pela Igreja, Mãe de todos nós, como Jacó
erigiu uma pedra e, ungindo-a com óleo, consagrou-a em memória da
promissão, que ali recebera.
A
sentença foi escrita, mesmo no tribunal, por Pilatos e copiada mais
de três vezes, por aqueles que lhe estavam atrás. Enviaram vários
mensageiros, porque alguns dos documentos precisavam ser assinados
por outras pessoas; não me lembro se esses documentos faziam parte
da sentença ou se eram outras ordens. Contudo foram também alguns
desses documentos levados a lugares distantes.
Havia,
porém, ainda outra sentença, escrita por Pilatos mesmo e que lhe
provava claramente a duplicidade; pois tinha teor totalmente
diferente da sentença que pronunciara; vi como a escreveu contra a
vontade, com o espírito atormentado e um anjo irado a dirigir-lhe a
mão. Esse documento, de cujo conteúdo tenho apenas uma lembrança
vaga, dizia mais ou menos o seguinte:
“Compelido pelos Sumos-Sacerdotes e o Sinédrio e ameaçado por uma
iminente insurreição do povo, que acusavam Jesus de Nazaré de
agitação contra a autoridade, de blasfémia e de desprezo da lei
judaica, exigindo-Lhe a morte, entreguei-lhes o mesmo Jesus, para
ser crucificado, não tanto movido pelas acusações, que em verdade
não achei fundo, não tanto movido pelas acusações, que em verdade
não achei fundadas, mas para não ser acusado perante o imperador, de
favorecer a insurreição e negar justiça aos judeus. Entreguei-O
porque exigiram com violência a morte, como transgressor da lei; e
com Ele dois ladrões, já antes condenados, cuja execução fora adiada
por maquinações dos judeus, porque queriam que fossem executados
junto com Jesus”.
Nesse
documento, pois, escreveu o malvado um relatório totalmente
diferente. – Depois escreveu ainda a inscrição da cruz em três
linhas, com verniz, sobre uma tabuinha de cor escura. O documento em
que Pilatos desculpava a sentença, foi copiado várias vezes e
enviando a diversos lugares.
Os
Sumos-Sacerdotes discutiram ainda com Pilatos no tribunal; não
estavam contentes com a sentença, queixando-se sobretudo porque
tinha escrito que eles haviam exigido o adiamento da execução dos
ladrões, para que fossem executados com Jesus; contestaram também o
título de Jesus: queriam que escrevesse “que se declarou rei dos
judeus” e não simplesmente “rei dos judeus”.
Mas
Pilatos perdeu a paciência, tratou-os com arrogância, gritando
furioso: “O que escrevi, fica escrito”. Ainda insistiram, dizendo
que a Cruz de Jesus não devia ficar mais alta que as dos ladrões;
era preciso, porém, fazê-la mais alta, porque, por um erro dos
operários, ficara mais curta a parte de acima da cabeça, não cabendo
o título escrito por Pilatos; esse protesto contra o alongamento da
cruz era apenas um subterfúgio, para evitar a inscrição, que lhes
parecia injuriosa.
Mas
Pilatos não cedeu e assim foram obrigados a alongar a cruz,
adaptando-lhe uma peça de madeira, à qual se pudesse fixar o título.
Assim concorreram várias circunstâncias para dar à cruz aquela forma
significativa, que sempre lhe tenho visto, isto é, com os braços um
pouco elevados, como os galhos de uma árvore, os quais, ao sair do
tronco, se estendem para cima; tinha a forma da letra Y, com a linha
do centro alongada por entre os braços. Os dois braços eram mais
finos do que o tronco e estavam embutidos nesse, sendo os encaixes
reforçados de ambos os lados, por uma cunha fincada por baixo. Como,
porém, o tronco acima da cabeça, por um erro, tivesse saído curto
demais para se fixar bem visível a inscrição de Pilatos, foi preciso
ajustar mais uma peça ao tronco. No lugar dos pés pregaram um pedaço
de madeira, para os sustentar.
Enquanto Pilatos pronunciava a sentença injusta, vi Cláudia Prócula,
sua mulher, remeter-lhe o penhor e separar-se dele Na mesma noite
fugiu ocultamente do palácio e foi para junto dos amigos de Jesus,
que a levaram a um esconderijo, num subterrâneo da casa de Lázaro,
em Jerusalém. Vi também um amigo de Jesus gravar, numa pedra
esverdeada atrás do tribunal do Gábata, duas linhas, que diziam
respeito a sentença injusta de Pilatos e à separação da mulher do
Procurador; ainda me lembro das palavras “judex injustus” e do nome
“Cláudia Prócula”.
Mas não
me recordo se foi no mesmo dia ou alguns dias mais tarde; lembro-me
apenas que nesse lugar do fórum estava um numeroso grupo de homens
conversando, enquanto o outro homem, encoberto por eles, gravou
aquelas linhas, sem ser visto. Vi que aquela pedra ainda está,
desconhecida embora, em Jerusalém, nos alicerces duma casa ou duma
Igreja, situada onde antigamente era o Gábata. Cláudia Prócula
tornou-se cristã e depois de se ter encontrado com S. Paulo,
tornou-se-lhe amiga dedicada.
Pronunciada a sentença, enquanto Pilatos escrevia e discutia com os
Sumos-Sacerdotes, era Jesus entregue aos carrascos; antes houvera
ainda algum respeito ao tribunal, mas depois estava o Divino Mestre
inteiramente à mercê desses homens abomináveis. Trouxeram-Lhe a
roupa, que Lhe tinham tirado para escarnecê-Lo em casa de Caifás;
força guardada e parece-me que também fora lavada por gente
compassiva, pois estava limpa.
Creio
também que era costume entre os romanos levar os condenados à
execução, vestidos de sua própria roupa. Despiram de novo Jesus:
desataram-Lhe as mãos, para poder revesti-Lo, arrancaram-Lhe o manto
vermelho do corpo chagado, abrindo-Lhe assim muitas feridas. Ele
mesmo vestiu, com mãos trémulas, a faixa em torno da cintura e os
carrascos lançaram-Lhe o escapulário sobre os ombros.
Como,
porém, a coroa de espinhos fosse muito larga para deixar passar-Lhe
pela cabeça a túnica sem costura, que Lhe fizera a Virgem
Santíssima, arrancaram-Lhe a coroa e todas as feridas começaram a
sangrar, com indizíveis dores. Depois de Lhe porem a túnica sobre as
feridas do corpo, vestiram-nO da veste larga de Lã branca, que
cingiram com a faixa larga e puseram-Lhe finalmente o manto. Feito
isso, amarraram-no novamente com o cinturão, munido de pontas de
ferro, no qual estavam presas as cordas para conduzi-Lo. Durante
todo esse tempo batiam e empurravam-no, tratando-O com atroz
crueldade.
Os dois
ladrões estavam um ao lado direito, outro ao lado esquerdo de Jesus;
tinham as mãos amarradas e pendia-lhes, como a Jesus diante do
tribunal, uma cadeia de ferro do pescoço. Vestiam apenas um pano na
cintura e um gibão semelhante a um escapulário, de fazenda
ordinária, sem mangas e aberto nos lados; na cabeça tinham bonés,
tecidos de palha, que se pareciam com barretinhas estofadas de
crianças. A pele dos ladrões era de um pardo sujo, coberta de
cicatrizes, causadas pela flagelação passada. Aquele que se
converteu depois, já estava calmo e pensativo; o outro, porém,
irritado e impertinente, unindo-se aos carrascos para insultar e
amaldiçoar Jesus, que os olhava a ambos com olhos cheios de caridade
e desejo de salvá-los, oferecendo também por eles todos os seus
sofrimentos.
Os
carrascos estavam ocupados em juntar todas as ferramentas;
preparavam-se para a triste e terrível marcha, em que o nosso amado
e doloroso Salvador quis carregar o peso dos pecados de nós todos,
homens ingratos e para os expiar, ai derramar o santíssimo Sangue
do cálice de seu Corpo, transpassado pelos homens mais
abomináveis.
Anás e
Caifás terminaram afinal a discussão acalorada com Pilatos;
receberam algumas tiras compridas ou rolos de pergaminho, com cópias
dos documentos e dirigiram-se apressadamente ao Templo; e só por
pouco não chegaram tarde.
Então
se separaram os Sumos-Sacerdotes do verdadeiro Cordeiro pascal;
correram ao Templo de pedra, para imolar e comer o cordeiro
simbólico e a realização do símbolo, o verdadeiro Cordeiro de Deus,
fizeram-nO conduzir por vis carrascos ao altar da cruz.
Separaram-se ali os dois caminhos, dos quais um conduzia ao símbolo
e outro à realização do Sacrifício; abandonaram o Cordeiro de
Deus, a pura Vítima expiatória, que tentaram macular
exteriormente e insultar com todo o horror da perversidade,
entregaram-no a carrascos ímpios e desumanos e correram ao Templo de
pedra, para imolar cordeiros lavados, purificados e bentos.
Haviam tomado todo o cuidado para não se sujarem exteriormente e
tinham as almas todas sujas, transbordantes de ódio, inveja e
ultrajes. – “Que o seu sangue caia sobre
nós e nossos filhos”, tinham exclamado e com essas palavras
cumpriram a cerimónia, impuseram a mão de sacrificador sobre a
cabeça da vítima. Separaram-se ali os dois caminhos, que conduziam
ao altar da lei e ao altar da graça. |