17:00 ÀS 18:00 hs. JESUS É SEPULTADO.
“...
foi sepultado segundo as Escrituras...” (1 Cor 15, 4)
SEPULTARAM O CORPO DE JESUS
Foi-lhe dada sepultura ao lado de facínoras e ao morrer achava-se
entre malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e
em sua boca nunca tenha havido mentira. (Is 53, 9)
...
O depositou num sepulcro novo, que tinha mandado talhar para si na
rocha.(Mt 27, 60)
No
lugar em que ele foi crucificado havia um jardim, e no jardim um
sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado. Foi ali que
depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e da
proximidade do túmulo. (Jo 19, 41-42)
...
Depois rolou uma grande pedra à entrada do sepulcro e foi-se
embora. (Mt 27, 60)
AS MULHERES JUNTO AO SEPULCRO
– Para onde foi o teu amado, ó mais bela das mulheres? Para onde se
retirou o teu amigo? Nós o buscaremos contigo. — O meu bem-amado
desceu ao seu jardim, aos canteiros perfumados; para apascentar em
meu jardim, e colher lírios. (Cant 6, 1-2)
Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde o
depositavam. (Mc 15, 47)
As
mulheres, que tinham vindo com Jesus da Galileia, acompanharam José.
Elas viram o túmulo e o modo como o corpo de Jesus ali fora
depositado. Elas voltaram e prepararam aromas e bálsamos... (Lc 23,
55-56)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo
as Visões
de Anna Catharina Emmerich
O
jardim e o sepulcro de José de Arimateia
Esse
jardim está situado a cerca de sete minutos do monte Calvário, perto
da porta de Belém, na encosta que vai subindo até os muros da
cidade; é um belo jardim, com grandes árvores e bancos, em lugares
com sombra; de um lado se estende até o muro da cidade, no alto da
encosta. Quem vem da porta ao norte do vale, entrando no jardim, tem
à esquerda o terreno do jardim, que sobe até o muro da cidade; e vê
no fundo do mesmo, à direita, um rochedo isolado, onde é o sepulcro.
Essa
porta é de metal, que parece ser cobre e abre em dois batentes que,
abertos, se encostam à parede em ambos os lados; não fica
perpendicular, mas um pouco inclinada para o nicho e quase tocando o
solo, de modo que uma pedra colocada em frente impede de abri-la. A
pedra destinada a esse fim ainda estava fora da gruta e foi colocada
à porta fechada só depois de depositado o corpo do Nosso Senhor no
sepulcro. É grande e um pouco arredondada para o lado da porta,
porque as paredes laterais também não é necessário rolar a pedra
para fora da gruta, o que seria bastante difícil, por causa da falta
de espaço; mas passa-se uma corrente, que pende da abobada, através
de algumas argolas, fixas para esse fim na pedra; puxando pela
corrente, levanta-se a pedra, mas mesmo assim, só com esforço de
vários homens se a desloca, encostando-a à parede lateral.
Em
frente á entrada da gruta, há no jardim um banco de pedra. Pode-se
subir o rochedo do sepulcro e andar sobre a relva de que é coberto;
de lá se avista justamente o muro da cidade e também o ponto mais
alto de Sião e algumas torres; vê-se também de lá a porta de Belém,
um aqueduto e a fonte de Gion. A rocha no interior da gruta é
branca, com veios vermelhos e pardos. Toda a obra da gruta foi feita
com muito capricho.
O
corpo de Jesus é preparado para a sepultura.
A
Santíssima Virgem estava sentada sobre uma coberta, estendida sobre
a terra; o joelho direito, um pouco elevado, como também as costas,
apoiavam-se-lhe sobre uma almofada, feita de mantos enrolados;
fizeram esse arranjo para facilitar à Mãe, exausta de dor e cansaço,
a triste obra de caridade que ia fazer, para com o santo corpo do
Filho querido, cruelmente assassinado.
A santa
cabeça de Jesus, um pouco curvada, estava encostada ao joelho de
Maria; o corpo jazia estendido sobre o pano. Igualavam-se a dor e o
amor da Virgem Santíssima. Tinha de novo nos braços o corpo do Filho
adorado, a quem durante tão longo martírio não pudera testemunhar
seu amor; via quanto estava desfigurado o santo corpo, pelas
horríveis crueldades, via-lhe de perto as feridas, beijava-lhe as
faces sangrentas, enquanto Madalena jazia prostrada por terra, com o
rosto sobre os pés de Jesus.
Os
homens retiraram-se então para um pequeno vale, situado a sudoeste,
na encosta do Calvário, onde tencionavam terminar o embalsamento e
arrumaram tudo quanto era necessário para esse fim. Cássio, com um
grupo de soldados que se tinham convertido, mantinha-se a respeitosa
distância; toda a gente inimiga do Mestre tinha já voltado para a
cidade e os soldados ainda presentes ficaram para servir de guarda e
impedir que alguém viesse perturbar as últimas honras prestadas a
Jesus. Alguns ajudavam, comovidos e humildes, prestando pequenos
serviços, quando lhes pediam.
Todas
as santas mulheres ajudavam, onde era preciso, passando os vasos com
água, esponjas, panos e unguentos e especiarias ou mantinham-se
atentas a certa distância. Entre elas se achavam Maria, filha de
Cléofas, Salomé e Verónica; Madalena estava sempre ocupada com o
santo corpo; Maria Helí, a irmã mais velha da Santíssima Virgem,
senhora já idosa, estava sentada silenciosa, João estava sempre ao
lado da Santíssima Virgem, pronto a prestar-lhe qualquer auxílio;
era o mensageiro entre as mulheres e os homens; ajudava àquelas e
depois prestou também muitos serviços aos homens, durante o
embalsamamento.
Estava
tudo muito bem preparado; as mulheres trouxeram odres de couro, que
se podiam abrir e dobrar e um vaso com água, que estava sobre uma
fogueira de carvão. Trouxeram a Maria e a Madalena tigelas com água
e esponjas limpas, espremendo as usadas e despejavam a água usada
nos odres de couro. Creio, pelo que os chumaços redondos que as vi
espremerem, eram esponjas.
A
Santíssima Virgem conservava um ânimo forte, em toda a sua indizível
dor; mesmo em sua tristeza não podia deixar o santo corpo no
horrendo estado em que o pusera o ignominioso suplício e assim
começou, com actividade infatigável, a lavá-lo cuidadosamente.
Abrindo a coroa de espinhos pelo lado posterior, tirou-a
cuidadosamente da cabeça de Jesus, com auxílio dos outros. Para que
os espinhos que entraram na cabeça, não alargassem as feridas, foi
preciso cortá-los um a um da coroa.
Colocaram depois a coroa junto aos cravos, ao lado, e Maria tirou
alguns espinhos compridos e fragmentos que tinham ficado na cabeça
do Salvador, com uma espécie de pinças curvas e elásticas, de cor
amarela e mostrou-os tristemente aos amigos compassivos. Puseram os
espinhos junto à coroa; mas é possível que alguns fossem guardados
como lembrança.
Quase
não se podia mais reconhecer o rosto do Senhor, tão desfigurado
estava pelas feridas e pelo sangue. O cabelo e a barba, em
desalinho, estavam completamente colados pelo sangue. Maria
lavou-lhe o rosto e a cabeça, passando esponjas molhadas sobre o
cabelo, para tirar o sangue que secara. A medida que lavava,
tornavam-se mais visíveis os efeitos do cruel suplício, causando
cada vez novas manifestações de compaixão, novos cuidados, de ferida
em ferida.
Maria
limpou-lhe as feridas da cabeça, lavou o sangue dos olhos, das
narinas e dos ouvidos, com uma esponja e um pequeno lenço,
estendidos sobre os dedos da mão direita; com esse limpou também a
boca entreaberta, a língua, os dentes e os lábios de Nosso Senhor.
Dispôs o pouco que restava da cabeleira de Jesus em três partes, uma
para cada lado e uma para o lado posterior da cabeça e depois de
alisar os cabelos de ambos os lados, fê-los passar por trás das
orelhas.
Quando
acabou de limpar a cabeça, deu-Lhe um beijo na face e cobriu o santo
rosto. Dirigiu então os cuidados ao pescoço, aos ombros, ao peito e
às costas do santo corpo, aos braços e às mãos laceradas e
sangrentas. Ai! Então se viu toda a horrenda dilaceração do santo
corpo. Todos os ossos do peito e todas as articulações estavam
deslocadas e tornaram-se inflexíveis; o ombro sobre o qual Jesus
transportou a pesada cruz, era uma grande chaga; toda a parte
superior do corpo estava coberta de feridas e pisaduras, causadas
pela flagelação; no lado esquerdo se via uma ferida pequenina, onde
saíra a ponta da lança e no lado direito se abria a larga chaga
feita pela mesma lança, que também lhe traspassou o coração de lado
a lado.
Maria
Santíssima lavou e limpou todas essas feridas. Madalena, prostrada
de joelhos, ficava-lhe às vezes em frente, para a ajudar, mas quase
sempre estava aos pés de Jesus, os quais lavou então pela última
vez, mais com as lágrimas do que com água, enxugando-os com o
cabelo.
A
cabeça, o peito e os pés do Senhor foram assim limpos do sangue e de
toda a imundície; o corpo, de um branco azulado, com o brilho de
carne exangue, coberto de manchas pardas e de outros lugares
vermelhos, onde a pele fora arrancada, repousava sobre os joelhos de
Maria, que lhe envolvia os membros lavados e se pôs a embalsamar
todas as feridas, começando novamente pela cabeça.
As
santas mulheres ajoelhavam-se alternadamente diante dela,
apresentando-lhe um vaso, do qual, com o indicador e o polegar da
mão direita, tirava um bálsamo ou unguento sobre o cabelo; vi, que
segurando as mãos de Jesus com a mão esquerda, as beijou
respeitosamente e encheu as largas chagas dos cravos com o mesmo
unguento ou as mesmas especiarias de que enchera os ouvidos as
narinas e a chaga do lado. Madalena estava quase todo o tempo
ocupada com os pés de Jesus, ora enxugando e untando-os, ora
banhando-os novamente com as lágrimas; muitas vezes apoiava neles o
rosto.
Vi que
não despejavam fora a água usada, mas guardavam-na nos odres de
couro, nos quais também espremiam as esponjas. Vi diversas vezes que
Cássio e outros soldados foram buscar água à fonte de Gion, em odres
e jarros, que as mulheres tinham trazido; essa fonte de Gion estava
tão perto, que se podia enxergá-la do jardim do sepulcro.
Quando
a Santíssima Virgem acabou de untar todas as feridas, envolveu a
santa cabeça em faixas; mas ainda não pôs o lenço que devia
cobrir-lhe o rosto. Fechou-lhe os olhos entreabertos, pousando sobre
eles a mão por algum tempo; fechou também a boca do Senhor, abraçou
o santo corpo do Filho e, chorando, deixou cair o rosto sobre o de
Jesus. Madalena, pelo grande respeito que tinha ao Senhor, não lhe
tocou no semblante, mas apenas descansou o rosto sobre os pés do
santo corpo.
José e
Nicodemos já tinham estado por algum tempo perto, esperando, quando
João se aproximou da Santíssima Virgem, pedindo que se separasse do
corpo de Jesus, para que o pudessem preparar para a sepultura,
porque o sábado já estava perto. Maria abraçou mais uma vez, com o
maior fervor, o corpo do Filho adorado, despedindo-se dele com
palavras comoventes.
Então
levantaram os homens o santo corpo no pano em que jazia, sobre os
joelhos da Mãe Santíssima e levaram-no para o lugar do
embalsamamento. A Virgem Santíssima, novamente entregue à dor, para
a qual tinha achado alguma consolação nos piedosos cuidados, caiu,
com a cabeça velada, nos braços das mulheres; Madalena, porém,
seguiu os homens, correndo-lhes alguns passos atrás, com os braços
estendidos, como se lhe quisessem raptar o Amado, mas voltou depois
para junto da SS. Virgem.
Levando
o santo corpo, os homens desceram um pouco do alto do Gólgota, para
um lugar, numa dobra da encosta, onde havia uma pedra chata e lisa,
própria para esse fim. Ali já tinham feito todos os preparativos
para o embalsamamento. Vi primeiro, ali estendido, um pano
trabalhado a crivo, semelhante a uma rede, como que feita de rendas;
parecia-se com o grande pano de fome, que se pendura em nossas
igrejas.
Quando
criança, pensava eu sempre, ao ver esse pano, que era o mesmo que vi
no embalsamamento do Senhor. Provavelmente tinha o feitio de uma
rede, para deixar escorrer a água, ao lavar. Vi mais um pano grande,
estendido sobre a pedra. Deitaram o corpo do Senhor sobre o primeiro
e alguns seguravam o outro por cima.
Nicodemos e José de Arimateia ajoelharam-se e desataram, sob essa
coberta, o lençol em que tinham envolvido o ventre do Senhor, ao
descê-Lo da cruz. depois tiraram também do santo corpo a cinta que
Jonadab, sobrinho do pai nutrício do Salvador, lhe trouxera antes da
crucifixão. Lavaram então o ventre do Senhor com esponjas, sob o
pano com que o cobriam, com piedoso recato e que o tornava invisível
aos seus olhos.
Coberto
ainda com o pano, levantaram-no depois, por meio de outros panos,
passados sob os braços e joelhos e assim lhe lavaram também as
costas, sem virar o corpo. Continuavam a lavar, até que a água
espremida das esponjas escorria clara e limpa. Depois o lavaram
ainda com água de mirra e vi que depuseram o santo corpo sobre a
pedra, estendendo-o respeitosamente com as mãos, dando-lhe uma
posição recta, pois o meio do corpo e as pernas estavam ainda um
pouco curvas, entesadas, na posição em que se encolhera, morrendo.
Puseram-Lhe então sob os lombos um pano da largura de um côvado e
cerca de três côvados de comprimento, enchendo-lhe o seio de molhos
de ervas, — como vejo às vezes em banquetes celestes, ervas verdes
em pratos de couro, com borda azul, — e de fibras finas e crespas de
plantas parecidas com açafrão e sobre tudo isso espalharam um pó
fino, que Nicodemos trouxera num vaso.
Envolveram depois o ventre, com todas essas especiarias, no pano,
puxaram uma parte deste, por entre as pernas, para cima e fixaram-na
sobre o ventre, fazendo entrar a extremidade do pano por baixo do
cinto. Depois de O ter deste modo envolvido, ungiram todas as chagas
das coxas, cobriram-nas de especiarias, puseram molhos de ervas
entre as pernas, até os pés e enrolaram as pernas junto com as
ervas, de baixo para cima.
Então
foi João chamar a Santíssima Virgem e as outras santas mulheres.
Maria ajoelhou-se ao lado da cabeça, colocando sob essa um lenço
fino, que recebera de Cláudia Prócula, mulher de Pilatos e que
trouxera ao pescoço, sob o manto. Ela e as outras santas mulheres
encheram então os espaços entre a cabeça e os ombros, em redor do
pescoço, até às faces de Jesus, com molhos de ervas, com as fibras e
o pó fino e feito isso, a Santíssima Virgem atou tudo com aquele
pano, envolvendo cabeça e ombros. Madalena derramou ainda um frasco
inteiro de um líquido aromático na ferida do lado de Jesus e as
santas mulheres puseram-lhe ainda ervas e especiarias nas mãos e em
redor dos pés.
Os
homens puseram especiarias nas axilas, na cova estomacal, enchendo
todo o espaço em redor do corpo, cruzaram sobre o seio os santos
braços entorpecidos e envolveram finalmente todo o corpo, junto com
as especiarias, no grande pano branco, até o peito, como se enfaixa
uma criança; depois fizeram entrar sob um dos braços já enfaixados a
extremidade de uma faixa, com a qual enrolaram todo o corpo,
levantando-o e começando pela cabeça. Feito isto, puseram-no sobre
o pano grande, de seis côvados de comprimento, o qual José de
Arimateia comprara e nele o envolveram. O corpo jazia obliquamente
sobre o pano, do qual dobraram uma extremidade dos pés até o peito,
a outra, de cima, sobre a cabeça e ombros; com as pernas salientes
dos lados envolveram o meio do corpo.
Todos
se ajoelharam então em redor do corpo, para se despedirem, chorando
e eis que um milagre comovente se lhes deparou ante os olhos: Toda
a figura do santo corpo, com todas as feridas, apareceu na
superfície do pano que o cobria, desenhado em cor vermelho escura,
como se Jesus quisesse recompensar-lhes o retrato, através de todo o
invólucro. Chorando alto, abraçaram o santo corpo, beijando e
venerando a milagrosa imagem. A admiração de que estavam
possuídos, era tão grande, que de novo abriram o pano e tornou-se
ainda maior, quando acharam todas as faixas e ataduras do corpo
brancas como dantes; só o pano exterior trazia a imagem da figura do
Senhor.
A parte
do pano sobre a qual jazia o corpo, mostrava o desenho do dorso do
Senhor e os lados do pano que o cobriam, sobrepostos, apresentavam a
imagem da frente, porque na frente estava o pano dobrado sobre Ele,
com vários cantos. A imagem não dava a impressão de feridas
sangrentas, pois todo o corpo estava envolto espessamente em
especiarias, com muitas ataduras; era, porém, uma imagem milagrosa,
testemunho da divindade criadora, que permanecera unida ao corpo de
Jesus.
Vi
também muitos fatos da história posterior dessa santa mortalha, os
quais, porém, não sei mais contar na devida ordem. Ela estava, junto
com outros panos, na posse dos amigos de Jesus, depois da
ressurreição. Uma vez vi que foi arrancada a uma pessoa, que a
levava sob o braço. Vi-a duas vezes nas mãos de judeus, mas também
muito tempo em diversos lugares, venerada pelos cristãos. Uma vez
houve uma questão por causa dela e para a terminar, jogaram a
mortalha no fogo, mas foi milagrosamente levada pelos ares e caiu
nas mãos de um cristão.
Foram
feitas três copias da santa imagem, por santos homens, que puseram
outros panos em cima, com fervorosa oração, reproduzindo assim tanto
a figura do dorso, como também a imagem composta da frente. Essas
cópias foram consagradas pelo contacto na intenção solene da Igreja
e em todos os tempos têm sido instrumento de muitos milagres.
O
original vi uma vez, um pouco estragado, com alguns rasgões, na
Ásia, venerado por cristãos não católicos. Esqueci o nome da cidade,
que fica situada num vasto país, vizinho da terra dos Reis Magos. Vi
nessas visões também certas coisas de Turim e da França, do Papa
Clemente I e do imperador Tibério, que morreu cinco anos depois da
morte de Cristo; mas esqueci-as.
O
enterro.
Os
homens colocaram o santo corpo sobre a padiola de couro, cobriram-no
com uma coberta parda e enfiaram em cada lado um varal, o qual me
causou uma viva recordação da Arca da Aliança. Nicodemos e José
carregavam as extremidades anteriores dos varais sobre os ombros;
atrás seguravam Abenadar e João. Depois se seguiam a Santíssima
Virgem, sua irmã mais velha, Maria Helí, Madalena e Maria de Cléofas
e após elas, o grupo das mulheres que dantes estavam um pouco mais
afastadas: Verónica, Joana Cuza, Maria Marcos (mãe de Marcos),
Salomé Zebedaei, Maria Salomé, Salomé de Jerusalém, Susana e Ana,
sobrinha de S. José, educada em Jerusalém. Encerravam o séquito
Cássio e os soldados. As outras mulheres, por exemplo Maroni, de
Naim, Dina, a Samaritana e Mara, a Sufamita, estavam então em
Betânia, em casa de Marta e Lázaro.
Dois
soldados, com fachos torcidos, iam na frente, pois precisavam de luz
na gruta do sepulcro. Cantando salmos, em tom triste e baixo
caminharam cerca de sete minutos, através do vale, em direcção ao
jardim do sepulcro. Vi na encosta, além do vale, Tiago o Maior,
irmão de João, olhar o cortejo e voltar depois, para o anunciar aos
outros discípulos, refugiados nas cavernas.
O
jardim irregular, coberto de relva, que ficava diante do rochedo da
gruta, na extremidade do jardim, era cercado de uma sebe e além
desta tinha na entrada uma cancela, cujas trancas, com gonzos de
ferro, estavam fixas em estacas. Defronte da entrada do jardim,
diante do rochedo do sepulcro, à direita, há várias palmeiras. A
maior parte das outras plantas são arbustos, flores e ervas
aromáticas.
Vi o
cortejo parar na entrada do jardim e abrir a cancela, tirando
algumas trancas, das quais se serviam depois, como alavancas, para
fazer rolar para dentro da gruta a grande pedra que devia fechar o
sepulcro. Chegando ao pé do rochedo, abriram a padiola e tiraram o
santo corpo, deitando-o sobre uma tábua estreita, coberta de um
largo pano. Nicodemos e José carregaram as duas extremidades da
tábua, enquanto os outros dois seguravam o pano.
A nova
gruta sepulcral fora limpa e perfumada pelos criados de Nicodemos;
era bem graciosa e no alto das paredes interiores tinha um friso
esculpido. A cova mortuária era, no lugar da cabeça, um pouco mais
larga do que no lugar dos pés e havia sido escavada na forma côncava
de um cadáver amortalhado, com pequenas elevações no lugar da cabeça
e dos pés.
As
santas mulheres assentaram-se em frente à entrada da gruta. Os
quatro homens desceram com o santo corpo do Senhor à gruta, onde o
depuseram no chão; encheram ainda parte do leito sepulcral de
especiarias, estenderam sobre ele um pano, colocando sobre este o
santo corpo. O pano pendia ainda dos lados do sepulcro. Manifestando
ao santo corpo o seu amor com lágrimas e abraços, saíram da gruta.
Entrou então a Santíssima Virgem. Sentou-se à cabeceira de Jesus, à
beira do sepulcro, que tinha cerca de dois pés de altura e
inclinou-se, chorando, sobre o cadáver do Filho.
Depois
de Maria Santíssima sair, entrou Madalena, com ramos de flores, que
colhera no jardim e que espalhou sobre o santo corpo. Torcendo as
mãos e chorando alto, abraçou os pés de Jesus. Como, porém, os
homens lá fora insistissem em fechar o sepulcro, voltou para junto
das mulheres. Os homens dobraram sobre o santo corpo a parte
pendente do pano, cobriram tudo com uma cobertura parda e fecharam
as portas. Puseram uma barra transversal e uma perpendicular;
parecia uma cruz.
A
grande pedra destinada a fechar as portas do sepulcro e que ainda
estava fora da gruta, tinha uma forma semelhante a uma arca ou um
monumento sepulcral; um homem podia deitar-se sobre ela. Era muito
pesada e os homens rolaram-na para dentro da gruta, com auxílio das
trancas tiradas da cancela do jardim e encostaram-na às portas
fechadas do sepulcro. A entrada exterior da gruta foi fechada com
uma porta de ramos entrelaçados.
Todos
os trabalhos dentro da gruta foram feitos à luz de fachos, porque
dentro estava muito escuro. Durante o enterro do Senhor, vi vários
homens na proximidade do jardim e do Monte Calvário, que, tímidos e
tristes, andavam de um lado para outro; creio que eram discípulos,
que receberam de Abenadar notícias e, saindo das cavernas,
aproximaram-se através do vale e àquela hora estavam voltando.
A
volta para casa, depois do enterro; o sábado; prisão de José de
Arimateia.
Já era
a hora em que começava o sábado. Nicodemos e José voltaram à cidade,
passando por uma pequena porta que havia no muro da cidade, perto do
jardim e que, se bem me lembro, lhes era concedida por favor
particular. Disseram à Santíssima Virgem, a João, Madalena e algumas
mulheres que ainda queriam ir ao Monte Calvário, para rezar e buscar
algumas coisas ali deixadas, que essa porta, como também o portão
para o Cenáculo, lhes seriam abertos, se batessem. Maria Helí, a
irmã já idosa da Santíssima Virgem, foi conduzida à cidade por Maria
Marcos e outras mulheres. Os criados de Nicodemos e José voltaram ao
Monte Calvário, para buscar os utensílios que lá tinham deixado.
Os
soldados reuniram-se àqueles que ocupavam a porta que dava para o
Monte Calvário; Cássio seguiu para o palácio de Pilatos, levando a
lança e relatou-lhe tudo que acontecera, prometendo também lhe dar
notícias exactas de tudo quanto ainda sucedesse, se o mandasse
acompanhar a guarda do sepulcro, a qual os judeus, segundo fora
informado, viriam requerer-lhe. Pilatos escutou todas as informações
com um oculto terror, tratou-o porém, como fanático e com nojo e
medo supersticioso da lança que Cássio trouxera consigo, mandou-lhe
que a levasse para fora da sala.
Quando
a Santíssima Virgem e os amigos voltavam com os utensílios do Monte
Calvário, onde ainda tinham rezado e chorado, viram um destacamento
de soldados que lhes vinha ao encontro; retiraram-se então para os
dois lados do caminho, para deixar passar a tropa. Esta se dirigiu
ao Monte Calvário, provavelmente para tirar, ainda antes do sábado,
as cruzes e enterrá-las. Depois de terem passado, as santas mulheres
continuaram o caminho em direcção à pequena porta da cidade.
José e
Nicodemos encontraram-se na cidade com Pedro, Tiago o Maior e Tiago
o Menor. Todos estavam chorando. Pedro especialmente estava muito
triste, preso de violenta dor; abraçou-os soluçando, acusou-se a si
mesmo, lastimando não ter estado presente à morte do Senhor e
agradeceu-lhes terem dado sepultura ao corpo sagrado. Todos estavam
desvairados de dor. Pediram ainda para serem recebidos no Cenáculo,
quando batessem e despediram-se, para procurar ainda outros
discípulos dispersos.
Vi mais
tarde a Santíssima Virgem e as amigas baterem à porta do Cenáculo e
serem recebidas, como também Abenadar e, pouco a pouco, os demais
Apóstolos e vários discípulos. As santas mulheres retiraram-se para
a parte onde habitava a Santíssima Virgem; tomaram um pouco de
alimento e passaram ainda alguns minutos, recordando com tristeza e
dor tudo o que se tinha passado. Os homens revestiram-se de outras
vestes e vi-os começarem o sábado de pé, sob um candeeiro.
Depois
comeram ainda carne de cordeiros, em diversas mesas, no Cenáculo,
mas sem cerimónias; pois não era o cordeiro pascal, que já tinham
comido na véspera. Reinava tristeza e desânimo geral. Também as
santas mulheres rezavam com Maria, à luz de um candeeiro. Mais
tarde, quando já escurecera totalmente, foram ainda recebidos
Lázaro, Marta, Maroni, a viúva de Naim, Dina Sumarites e Maria
Sufanites, que depois de começar o sábado, vieram de Betânia e a dor
renovou-se pela narração de tudo que se passara.
Mais
tarde saíram José de Arimateia e alguns discípulos e diversas
mulheres do Cenáculo, voltando para casa; iam tímidos e tristes
pelas ruas de Sião, quando de repente um grupo de homens armados
saiu de uma emboscada, arremessando-se sobre eles e prendendo José
de Arimateia, enquanto os outros fugiram com gritos de terror. Vi
encarcerarem o bom José numa torre do muro da cidade, não muito
longe do tribunal. Caifás mandara soldados pagãos executarem essa
prisão, porque não eram obrigados a guardar o sábado. Os inimigos
tinham a intenção de deixar José morrer de fome e não falar nesse
desaparecimento.
A
guarda no túmulo de Jesus.
Na
noite de sexta-feira para sábado vi Caifás e os príncipes dos judeus
reunirem-se em conselho, para decidir o que deviam fazer, diante dos
acontecimentos milagrosos e da excitação do povo. Depois foram ainda
durante a noite, procurar Pilatos e disseram-lhe que se tinham
lembrado de que aquele impostor tinha dito, quando ainda vivia, que
no terceiro dia após a morte ressuscitaria; pediam-lhe que por isso
mandasse guardar o sepulcro até o terceiro dia, para que os
discípulos de Jesus não lhe roubassem o corpo, divulgando em seguida
que tinha ressuscitado dos mortos, pois dessa forma seria a segunda
impostura pior do que a primeira.
Pilatos, porém, não quis intrometer-se mais nessa questão e
disse-lhes: “Tendes uma guarda; ide guardar o túmulo como
entenderdes”. Mandou, porém, Cássio acompanhar a guarda e
observar e relatar-lhe depois tudo. Vi os doze fariseus saírem da
cidade, antes do pôr-do-sol. Os doze soldados que os acompanhavam,
não estavam vestidos à forma romana: eram soldados do Templo e
pareciam-me uma espécie de guarda de corpo. Levaram braseiros, fixos
sobre hastes, para poder ver tudo durante a noite e para ter luz na
escuridão do sepulcro.
Ao
chegar, certificaram-se da presença do corpo, amarraram uma corda à
porta do túmulo, dessa corda fizeram passar uma segunda à pedra,
selando essas cordas com um selo semilunar. Depois voltaram à cidade
e os guardas sentaram-se defronte da porta exterior do sepulcro.
Ficavam alternadamente cinco ou seis homens, indo de vez em quando
alguns à cidade, para buscar víveres.
Cássio,
porém, não deixou o posto; permanecia em pé ou senado, no fosso em
frente à entrada da gruta, de modo que podia ver o lado do túmulo
fechado, onde repousavam os pés do Senhor. Recebeu grandes graças
interiores e a inteligência intuitiva de muitos mistérios; como não
estivesse acostumado a tais estados sobrenaturais, ficava, a maior
parte do tempo dessa iluminação espiritual, como que embriagado,
inconsciente das coisas exteriores. Foi nesse tempo que se converteu
inteiramente, tornando-se novo homem; passou o dia em actos de
arrependimento, acção de graças e adoração.
http://www.derradeirasgracas.com/ |