O Sangue do Cordeiro
Alexandrina Maria da Costa
« Estes são os que vêm da grande
tribulação ; lavaram as suas túnicas e as branquearam no sangue do Cordeiro ».
(Ap. 7, 14)
A vida da Alexandrina
Maria da Costa é uma fonte inesgotável de “água viva” na qual se podem “beber”
muitas águas diferentes, mas todas salutares e santificantes.
Os carismas de que
beneficiou são numerosos e, cada um deles mereceria um estudo aprofundado pela
parte de autores competentes e versados em ascética e mística : eles aí
encontrariam não só matéria de reflexão intensa, mas também maravilhas divinas
que mais ainda os instruiriam na ciência em que são peritos incontestáveis.
Nós não possuímos essa
ciência, mas ousamos falar dela e partilhar com aqueles que irão ler estas
páginas, o nosso amor à Alexandrina, “canal” incontestável das graças e ciências
divinas. Por isso mesmo e, para evitar comentários que poderiam “escandalizar”
aqueles que nesta matéria são especialistas, vamos utilizar, tanto quanto nos
for possível os próprios trechos da “Doentinha de Balasar” que mais do que nós,
mesmo se nada mais tinha do que a instrução primária rudimentar, é “doutora em
ciências divinas”, como o próprio Jesus o afirmou.
O título dado a este
trabalho poderá surpreender aqueles que pouco o nada conhecem da vida e dos
carismas da Alexandrina, mas, estamos seguros que a leitura terminada, terão
compreendido o porquê do mesmo título, esperando que assim se possam igualmente
maravilhar de tudo quanto o Senhor operou de extraordinário e notável nesta alma
de excepção.
Não temos qualquer
receio em afirmar que os escritos da Alexandrina não sofrem qualquer sombra dos
escritos doutros místicos tais como Santa Teresa de Ávila, S. João da Cruz,
Beata Ângela de Foligno, Santa Gertrudes ou Santa Matilde de Hackerborn, pois
fácil é de notar que a “Fonte” é a mesma e que por esta razão, a “concorrência”
deixa de justificar-se.
A Alexandrina, tal
como o disse Jesus, é na verdade “Mestra das Ciências divinas”.
O assunto que vamos
procurar desenvolver aqui não é dos mais fáceis, mas esperamos que com a ajuda
de Deus e a protecção e inspiração da Bem-aventurada Alexandrina, possamos dizer
alguma coisa e demonstrar o carisma extraordinário do qual poucos ou
nenhuns — excepto, julgamos, a Beata Ângela de Foligno — : a “transfusão” do
Sangue divino como alimento da alma e do corpo da sua querida esposa de Balasar,
como mais adiante diremos.
No que diz respeito a
esta mística, encontrámos no livro das suas “Visões e revelações” este
curto e único trecho que faz referência a este carisma que não parece ter durado
muito tempo, visto que no resto da mesma obra não voltamos a encontrá-lo :
« Não dormia. Ele chamou-me e disse-me que aplicasse os meus
lábios sobre a ferida do seu lado. Pareceu-me que aplicava os meus lábios, e que
bebia sangue, e neste sangue ainda quente eu compreendi que ficava lavada. Eu
senti pela primeira vez uma grande consolação, misturada uma grande tristeza,
porque tinha a Paixão diante dos meus olhos. E solicitei do Senhor a graça de
derramar o meu sangue por Ele como Ele tinha derramado o seu para mim ».
A autora italiana
Eugénia Signorile, no seu excelente livro “Só por amor” evoca longamente
este fenómeno místico excepcional. Ela anuncia-o assim :
« O fenómeno da Eucaristia real dada misticamente já se tinha
verificado com algumas grandes almas muito elevadas na espiritualidade, dotadas
duma especial sensibilidade para as realidades celestes. Por exemplo, Santa
Verónica Giuliani, Santa Gemma Galgani ; e em 1916 Jesus escolheu a pequena
Lúcia de Fátima para dar-Se a ela mediante o anjo da guarda.
Mas a Beata Alexandrina recebe ainda um outro alimento para o
corpo e para a alma : um conjunto de sangue, vida, amor, sob forma de verdadeira
transfusão para o sangue e de efusão para o amor. É a primeira alma mística para
quem se efectua tal fenómeno ».
Uma das maiores
doutoras da Igreja, Santa Catarina de Sena, fala do Sangue do Senhor e dos seus
efeitos, nestes termos :
« Este sangue precioso é a fonte de todo bem ; salva e torna
perfeito qualquer homem que se aplique a recebê-lo ; dá a vida e a graça com
mais ou menos abundância, de acordo com as disposições da alma ; mas ele é causa
de morte para o que vive no pecado ».
Podemos — e devemos
talvez — perguntar a nós mesmos e àqueles que poderiam duvidar um instante de
veracidade de tal carisma : “Que diz o Evangelho a este respeito ?” A resposta
surpreender-nos-ia, sem verdadeiramente surpreender... Ouçamos o que diz Jesus :
« Em verdade, em verdade vos digo : se não
comerdes mesmo a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis
a vida em vós. Quem realmente come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna e Eu hei-de ressuscitá-lo no último dia, porque a minha carne é uma
verdadeira comida e o meu sangue, uma verdadeira bebida. Quem realmente come a
minha carne e bebe o meu sangue fica a morar em mim e Eu nele ».
Este carisma parece
ter sido precedido de diversas
primícias, que não o anunciando — porque nem era
conhecido — preparavam no entanto a sua vinda de maneira durável.
NOTA : Os
trechos dos escritos da Alexandrina que a seguir vamos dar, não serão tirados do
contexto em que se encontram, pois isso riscaria de prejudicar a boa compreensão
dos mesmos e de perturbar o leitor. Não será portanto de estranhar que alguns
deles seja mais longos do que outros.
Os mesmos trechos
manter-se-ão na ordem cronológica, tais como se encontram no Diário da
Alexandrina.
|