SOYEZ LES BIENVENUS SUR LE SITE DES AMIS D'ALEXANDRINA - SEDE BEM-VINDOS AO SITE DOS AMIGOS DA BEATA ALEXANDRINA

     

SENTIMENTOS DA ALMA

1952

JANEIRO

4 de Janeiro de1952 – Sexta-feira

A cruz aumenta, os mimos de Jesus são cada vez mais. Digo mimos, porque os desgostos, os sofrimentos, os espinhos recebo-os como carícias e miminhos do meu Jesus. Custa muito, muito e eu sei que não posso resistir a mais dor; mas o amor que eu anseio ter a Jesus e as ânsias de O consolar cegam-me de tal forma que eu não posso deixar de repetir: mais, mais, meu Jesus, mais, seja tudo por Vosso amor e para a salvação das almas. Não posso falar; hoje tenho que abafar a voz da minha alma, que apesar da minha ignorância sem igual, não pode calar-se. Neste dia, tem que ocultar e fazer o sacrifício de guardar para si e sofrer em silêncio. Não posso esforçar-me nem mover os lábios. Vontade do meu Senhor, em ti está a minha ventura e felicidade!

Ontem de manhã imprimiram-se mais ao vivo as chagas de Jesus no meu corpo. Senti como se Ele viesse da cruz para mim e em mim Se imprimisse e nele me transformasse. À noite, a visão do Calvário levou-me ao suor de sangue e à agonia do Horto. Sofri tanto, tanto, de tantas formas! Seja o meu Jesus bendito !

Hoje segui para o Calvário. Eu era a cruz de Jesus. Ele levou-a e nela me levou a mim. Sofri com Ele e Ele comigo. Fomos sempre os dois num só. Ao terminar da montanha, senti-me morrer no leito da cruz. Quando esta (foi?) levantada ao alto, pareceu-me ficar toda dentro do Coração divino do meu Jesus. Era Ele o crucificado. O meu desfalecimento era tanto que não podia bradar; bradava Jesus e era meu e dele o Seu brado. No momento de expirar, Jesus entregou ao Pai o Seu espírito com todo o amor do Seu divino Coração. Foi assim que eu com Ele expirei.

Passado algum tempo, principiei a ouvir os Seus suspiros e a Sua dolorosa voz.

Jesus sofre, chora, suspira profundamente. Vê o mundo, contempla-o, vê o que ele é, o que há-de ser.

Jesus sofre, chora, suspira profundamente. Vê o mundo cruel e pecaminoso, vê a justiça do Seu Eterno Pai prestes a puni-lo, a castigá-lo com todo o rigor.

Minha filha, Minha filha, vítima amada, vítima querida.

Minha filha, Minha filha, esposa querida, esposa fiel e predilecta de Meu divino Coração: tu és sal e sol da terra, tu és pára-raios e salvação da humanidade. Tu és farol, que iluminas com todas as cores do arco-íris. És rica de graça, rica de todas as virtudes. Um ano a mais passou-se para ti. Mais um ano de favores e prova do Meu divino amor para as almas por te ter escolhido para vítima deste Calvário. Coragem, coragem e alegra-te porque o Senhor está contigo, em ti Se alegrou e alegrará sempre. Aceita, Minha filha, um muito obrigado do teu Jesus. Sim, um obrigado Meu, um obrigado divino pelo muito que sofreste, pelo muito que amaste.

— Ó Jesus, ó Jesus, isso humilha-me, as Vossas divinas palavras fazem-me sofrer. Sofro, porque ouvi e senti os vossos suspiros, as Vossas lágrimas caírem no meu pobre coração. Sofro e humliho-me pelo Vosso obrigado, quando eu sinto que nada sofro, que nada Vos amei, que foi só o Vosso divino Coração a sofrer e amar. Eu por mim, Jesus, nada fui, nada sou, nada serei. Morri, morri para tudo.

— Ó minha filha, Minha filha, sim, morreste para tudo o que é do mundo e viverás sempre pata Jesus e para as almas, porque vives só a vida de Cristo, a vida mais imitadora, a cópia mais fiel de Cristo crucificado, de Cristo Redentor. Continua, continua a tua missão: bem curta que ela vai ser agora aqui na terra, mas vais continuá-la no Céu. Aqui, pedindo e sofrendo; lá, pedindo e amando.

Acode, acode às almas e previne-as, avisa-as: a justiça não demora, o castigo aproxima-se. Avisei, avisei, esperei, esperei, pedi como mendigo da terra oração, penitência, emenda de vida.

Não desanimes em pedires, em sofreres com alegria e amor. Haja o que houver, venha o que vier, é sempre de utilidade e salvação para o mundo cruel e ingrato.

Recebe agora a gota do meu sangue ; é sangue de vida, é sangue de amor ; é gota que te leva a paz, a Minha divina paz.

Coragem, fica na cruz. Vêm os Anjos cheios de amor apertar-te os cravos.

— Obrigada, meu Jesus. Bem os vejo baterem as asas, asinhas brancas. Não me batem os cravos com crueldade, mas sim com doçura e carinho.

Obrigada, obrigada. Atendei aos meus pedidos, às minhas grandes intenções que tenho presentes, tomais conta delas, meu Jesus. Confio em Vós.

— Sim, Minha filha, podes confiar. Vai em paz e leva o meu amor que é a força e a alegria da tua cruz.

— Obrigada, obrigada, meu Jesus.

5 de Janeiro de 1952 – Primeiro sábado

Já hoje são oito e eu sem nada poder dizer do que se passou no primeiro sábado. Vou ver se alguma coisa consigo; Jesus e a Mãezinha me ajudem e aceitem o meu grande sacrifício. Pedi, na noite de Natal, quando nasceu o Jesus-Menino, e pedi-Lhe na passagem do ano velho para o ano novo, que fizesse que eu nascesse também para a graça, para a pureza, para o amor; que me desse a Sua caridade, a Sua humildade e doçura com todas as virtudes do Seu Divino Coração. Pedi-Lhe, pedi-Lhe muito e só no primeiro sábado é que conheci que nasceram no meu coração muitas ânsias de amor, de perfeição e de toda pertencer a Jesus. Foi só nestas ânsias consumidoras que eu me preparei, nesta dita manhã, para O receber. Após algum tempo de Jesus entrar no meu pobre e indigno coração, ouvi-O a dizer-me :

— Minha filha, Minha filha, luz e estrela eucarística: tu serás para o mundo o que outrora fui Eu e continuo a ser. Fui Redentor, morri para dar Céu às almas, fiz-me o alimento das mesmas. Criei-te para de tal forma te assemelhar a Mim, escolhi-te para vítima, para continuares a Minha obra redentora. Pus no teu coração o amor, a loucura pela Eucaristia. É por ti, é à luz deste fogo que deixaste atear que muitas almas guiadas por esta estrela por Mim escolhida, levadas pelo teu exemplo se transformação em almas ardentes, verdadeiramente eucarísticas.

Ai do mundo sem a Eucaristia! Ai do mundo sem as Minhas vítimas, sem hóstias comigo continuamente imoladas !

Eu quero, Minha filha, diz que Eu quero um mundo novo, um mundo de pureza, um mundo todo eucarístico.

Diz ao teu Paizinho que sou todo amor para ele, que o fiz hóstia para com ele muitas almas serem hóstias. Diz-lhe que ele não poderá, nem saberá viver sem sofrimentos. É da dor que nascem as almas eucarísticas, hóstias só por amor imoladas. Diz-lhe que há um ano lhe disse que o sol brilhava e hoje lhe digo que brilha ainda mais. Quase todos os obstáculos estão removidos para o triunfo da causa do Senhor e para a realização das Suas promessas.

Diz ao teu médico um muito o brigado de Jesus pela sua firmeza e defesa da Sua causa divina. Diz-lhe que dia a dia exalto os humilhados e humilho os exaltados. Diz-lhe que Jesus triunfa e a vitória está próxima. Dá-lhe a chuva das Minhas graças com todo o incêndio do Meu divino amor por ele e para os que são seus.

Vem, Minha bendita Mãe, mostra a Tua dor, ânsias e sofrimentos iguais aos meus.

Veio a Mãezinha das Dores; vinha tristíssima, cobria-A manto roxo. O Seu Santíssimo Coração estava cercado de espinhos, setas e vazado dum lado ao outro por fortes punhais; escorri-a sangue. Apesar de estar a sofrer tanto, tomou-me para o Seu regaço, abraçou-me e colocou o meu coração de encontro ao dela e disse-Me:

— Minha filha, aceita para o teu coração todos estes sofrimentos. Não te peço licença, vou fazendo que eles passem.

Eu quero que estes espinhos e punhais te levem o Meu sangue para o teu coração, como Jesus to dá gota por gota pelo tubo dourado. Aceita, é sangue virginal: aceita-o para o ficares sempre a sentir. É sangue da Minha dor e da de Jesus: sofremos os dois em uníssono. Sofre a mesma dor, sofre connosco também. Repara a Jesus na Eucaristia, repara-O por tantos e tão horrendos sacrilégios. Faz com a tua dor almas comungantes, puras e abrasadas.

Obrigada, Minha filha, obrigada pelo que tens sofrido, obrigada pelo que vais sofrer. O Meu agradecimento dá exemplo às almas e prova quanto Jesus gosta que Lhe agradeçam as graças e benefícios recebidos.

A Mãezinha falava e Jesus mantinha-se de pé a Seu lado. O Seu Santíssimo Coração ficou livre de todos os instrumentos que O feriam; passaram-se por si para o meu coração. Vinham todos ensanguentados.

Ai, meu Deus, só os Anjos ou os santos saberiam dizer quanto isto me custou e continua a custar ! Sinto o meu coração todo ferido, todo em sangue e parte dele é de Jesus, é da Mãezinha. E parece que não posso consentir que este sangue divino se una ao meu; não sou digna.

Ai, como eu sofro ! Ai, como eu sofro !

Em seguida Jesus aproximou-Se mais e fazendo passar sobre mim uma aragem de fogo, mostrando-me assim o que logo de princípio me mostrou, quando me falava do Paizinho e do médico fazendo-me sentir que era a mor, tudo amor, só amor, disse-me coma Mãezinha, falavam os dois ao mesmo tempo.

— Dá aos que amas, aos que ocupam o primeiro lugar no teu coração este amor também. Também Nós os amamos e ocupam nosso nossos Corações os primeiros lugares. Dá-lhes o Nosso amor, diz-lhes o Nosso obrigado a todos os que amas, a todos os que te rodeiam e são teus e amparam e defendem a Minha divina causa. Distribui, enche-os de Nós, enche o mundo inteiro; pede e sofre por ele.

— Ó Jesus, ó Mãezinha, estou pronta a sofrer, estou pronta a pedir-Vos muitas, muitas graças. Lembrai-Vos, atendei ao que Vos peço.

Nomeei-as, e uma a uma foi-me dada esta resposta :

— Que confiem plenamente em Mim e que sejam fiéis às Minhas graças. Eu porei nos seus caminhos a protecção do Céu. E assim se cumpre a Minha divina vontade, porque muito os amo e quero que se aproximem de Mim.

— Obrigada, Jesus; obrigada, Mãezinha.

10 de Janeiro de 1952 – Sexta-feira

Ainda não posso falar. Só dito umas palavrinhas como prova de que quero obedecer até à morte. Não sei o que me espera. Não sei se o meu coração adivinha alguma coisa. É tal a dor e a agonia que por vezes parece tirara-me esta vida morta que eu vivo. Não tenho para onde virar-me, não tenho quem em socorra. Digo com toda a verdade: no sentir da minha alma, não tenho uma única pessoa que seja por mim, em quem possa confiar. Parece-me que ninguém me acredita, todos duvidam de mim, todos me escarnecem e desaparecem. E eu, pobre de mim, apavorada pelos sofrimentos, parece-me que vou tantas vezes a cair no desespero! E daqui nasce a revolta contra Deus, se é que Ele existe; sem eu querer, é claro, mas tenho momentos de duvidar da existência de Deus. Caso Ele existisse, seria para mim pior que um tirano. Vem-me esta tentação: como pode consentir Deus que eu sofra tanto no corpo e na alma por tão longos anos ! Depois a dúvida da eternidade! Era melhor gozar tudo neste mundo, porque depois desta vida nada mais há. Ai, meu Deus, meu Deus, quando assim luto, atiro-me para Jesus e para a Mãezinha, cham-Os e abandono-me só a Eles. Digo-Lhes : Ó Jesus, ó Mãezinha, não consintais que eu deixe de confiar e esperar em Vós. Valei-me, eu não quero ofender-Vos. Sinta o que sentir, passe pelo meu espírito o que passar, eu abandonada a Vós vou para onde Vós fordes, fico onde me colocardes e convosco serei salva. Parece-me que não acredito na Santíssima Trindade nem em Jesus sacramentado, nem nosso Santos, nem no Céu. Tudo é morte depois desta vida, assim como é morte tudo em mim já nesta.

Continuo a sofrer muito com aqueles instrumentos que passaram do Coração da Mãezinha para o meu. Mas, ai o sangue d’Ela junto ao de Jesus é o que mais me causa mais dor. Como pode juntar-se o sangue divino ao meu ? Parece-me que foi um enxerto no meu coração. E em mim tem que haver raízes bem fortes, bem presas para o fundo, para não deixarem o vendaval atirar o tronco a terra, para que os rebentos possam florir e dar bons frutos. Queria dizer muito deste sentimento, mas a ignorância não me deixa. Sofro, sofro infinitamente, mas não deixo de ansiar os sofrimentos, a perfeição, o amor a Jesus e às suas coisas. Quero ser vítima e só quero o que quer o meu Senhor. Em toda esta angústia passei o meu dia de ontem bradando, bradando uma e outra vez ao Céu. Vi-me no Calvário e este cheio de caminhos e todos tinham que ser regados com o meu sangue. Esta visão transportou-me ao Horto. Cheia de agonia e pavor, suei sangue. Fui presa e transportada para a prisão. Suportei todos os tormentos daquela vil canalha. E hoje, sob a fúria dos mesmos, segui para o Calvário e ainda crucificada na cruz com todo o corpo retalhado a sua raiva e ódio saíam sobre mim. Eu senti que os malvados queriam ver-me desaparecer para sempre. Que ódio, que crueldade ! E o Coração divino de Jesus não deixava em mim de amar. Era dentro do meu coração que Ele amava a Humanidade inteira. E eu não podia deixar de amar a cruz; via e sentia que só ela era a vida. O sangue regou todo o Calvário e era como se regasse o mundo inteiro, todo ali presente, todo cruel a dar a morte a Jesus. Fiquei sem vida, foi como se entregasse o espírito ao Céu, a Deus. Não levou muito tempo que eu voltasse à vida; foi Jesus que ma deu e falou no meu coração.

— Quantos avisos, quantos pedidos do Mendigo Divino, e Jesus vai imolando a sua vítima, Jesus vai-a crucificando contidamente. E o mundo, o cruel mundo continua com os seus desvarios. Continua na opulência, na vaidade, na devassidão.

Minha filha, Minha querida filha, os pedidos de Jesus não são uma coisa vã. É grande, é grande, é urgente a imolação mais dolorosa e permanente. Ai de Portugal sem a vítima deste Calvário ! Pobre Portugal, se não correspondes ! Ai do mundo sem a Santa Missa, sem a Eucaristia, sem as minhas vítimas. Ai do mundo sem a vítima pequenina nos seus olhos, mas grande, muito grande, com toda a grandeza aos olhos de Deus !

Pede, pede, Minha filha, levanta ao Céu as tuas mãos, fixa nele os teus olhares, não duvides da tua prece, não duvides do teu poder com o Todo-Poderoso. Tudo pedes com Jesus, tudo pedes com Maria. Eu quero, Eu quero, sim, Minha filha, que o teu brado seja constante. Tem coragem, tem coragem; os teus sentimentos não são a realidade. Os teus sofrimentos, os teus sofrimentos nascem cada vez mais dolorosos nesses sentimentos aflitivos. A hora é grave, a hora é grave ! O teu esposo Jesus lançou mão a tudo. Quer salvar o mundo, quer salvar sobretudo Portugal. Pede, pede, Minha filha, a misericórdia, a compaixão da santíssima Trindade.

— Ó meu Jesus, ó minha Trindade Divina, como hei-de eu pedir-Vos se duvido de Vós! Como hei-de eu pedir-Vos se é tão grande a minha dúvida ? Bem sabeis, Senhor, que em nada acredito, mas não deixo de combater. Mas já que agora não duvido, já que agora acredito que existe uma eternidade, peço-Vos com toda a lama e com todo o coração: Jesus Sacramentado, Coração Divino de Jesus, Santíssima Trindade, Eterno Pai, quero aplacar a Vossa justiça, quero implorar a Vossa misericórdia. Apiedai-Vos, apiedai-Vos, compadecei-Vos de Portugal, compadecei-Vos do mundo inteiro; todo o mundo é filho do Coração Divino de Jesus.

— Ó Minha filha, ó Minha filha, todos os teus sofrimentos são obra da sabedoria divina. Tu não desgostas nem ao de leve o teu Jesus com as tuas dúvidas. Tudo quanto de ti exijo são meios de salvação. Não percas o teu heroísmo, a tua generosidade. O Senhor conta contigo. Da dor do teu coração hão-de rebentar rebentos novos, como rebentarem da árvore da cruz. Não te tenho dito Eu que em tudo te assemelhei a Mim ? Que alegria para o Meu Divino Coração se os homens compreendessem bem isto ! Tu toda Cristo, toda Jesus. Jesus em toda a vida da Sua vítima.

Vem receber a gota do Meu divino sangue.

Mais uma renovação das maravilhas de Jesus, mais uma gota de sangue divino a correr nas veias da vítima deste Calvário.

Fica, Minha filha, na tua cruz. Fica nesta dor que só Jesus conhece e compreende. Fica nesta vida que Ele te escolheu. Fica com coragem, fica com alegria. Bendiz e sorri sempre à tua cruz que te dá o Senhor.

Coragem, coragem, o Céu é contigo. Pede oração, pede penitência.

— Obrigada, obrigada, meu Jesus.

18 de Janeiro – Sexta-feira

Mais uma vez vou ditar estas linhas com o maior dos sacrifícios; não posso falar, é só para obedecer. Por satisfação minha, nada dizia, mesmo que pudesse. Gostava tanto, meu Deus, de viver escondida, muito escondidinha, onde só Vós soubésseis de mim e conhecêsseis o meu sofrer. Oh! Meu Calvário! Meu tão querido Calvário! Vejo em ti a vontade divina do meu Jesus. É por Ele que eu te amo, é pelas almas que eu te quero e, num abraço mais íntimo, me uno à minha cruz. Ai! Quanto sofro! E sem nenhuma força nem coragem para enfrentar esta vida de sofrimento, esta vida que é só dor, dor e morte. Morte que vive na dor e dor que vive na morte. Tenho medo do sofrimento, causa-me pavor, parece-me que o aborreço e odeio. E não posso com mais ânsias de mais e mais sofrimentos; consome-me a fome de sofrer. Tenho fome da dor da humanidade inteira. E toda, toda para mim essa dor, para mim sem ser para mim. Exige-a de mim a vida divina. Eu, por mim, desalento por não poder sofrer e morro por não saber amar. Quando, mo meio do deserto imenso, o meu coração e a minha alma bradam ao céu a pedir socorro, sem o receber de Deus nem dos homens, fico como que desorientada e perdida. Mas a fome da cruz e do amor a Jesus surgem-me de repente, fazem-me despertar novas ânsias; abraço-me mais fortemente a tudo o que me dá o Senhor e fico-me nestas reflexões: perdoai-me, Jesus, os meus desfalecimentos, perdoai-me tudo quanto Vos possa desgostar, alcançai-me a graça de não Vos ofender. Conheci-Vos tão cedo e ainda não principiei a amar-Vos! Que ingrata eu sou; quero viver vida nova, apiedai-Vos de mim. Tenho tido tantas, tantas saudades de me alimentar! Sem eu querer, levam-me às lágrimas! Tudo faz parte da minha cruz. Bendito seja o Senhor ! O sangue e os instrumentos dolorosos da Mãezinha, que Ela me deu do Seu Santíssimo Coração, continuam a ser para o meu motivo de sofrimento infinito. O meu coração tem que muitos, muitos rebentos e fazer que eles cresçam e floresçam. Mas ai ! Pobre de mim, não sou capaz de nada. Que pena eu tenho de não ser para Jesus e para a Mãezinha aquilo que Eles querem e desejam! Não sei que sinto a mais no coração. Parece que dentro dele há alguém que, à semelhança dos pescadores, deita redes e mais redes para apanhar este mundo imenso de almas. Quantas mais redes saem para fora do coração, mais redes tem para deitar. E que ânsias infinitamente grandes de as possuir todas, todas cheiinhas. Que tarefa, que canseira incessante! Eu habito nas minhas torres, naquelas torres de que há muito não falo. Estou no último andar, atingiu o máximo a sua altura. Tenho medo, muito medo de habitar nelas. Lá não existe luz, tudo se apagou e morreu. Sinto que ninguém sabe que elas existem. Sou ignorante e sou morte; o ignorante nada diz e a morte nada fala. O que me espera, meu Deus! Parece que tenho ouvidos para toda a parte da terra, e de toda a parte ouço a voz de dor e de espanto pavoroso. Todo o meu ser parece estar espicaçado duma chuva de espinhos que o penetra. Chora o coração, chora a alma, cheios de agonia, e a justiça do Senhor enterra-me, leva-me aos abismos, desfaz-me sob o seu peso. Ontem vivi o dia, fitando o Horto, ansiando o Horto. À noite, prostrada em agonia, dele vi o Calvário, a Cruz e os maus tratos que me esperavam. Não me importava o que tinha de sofrer, só ansiava voar para ela, para nela dar a vida. Nestas ânsias deixei-me prender, deixei-me condenar, assumi para mim toda a podridão e dívida humana. Esta manhã, sujeita à cruz, segui o Calvário; curvada sob o peso imenso, o meu rosto quase chegado à terra. Na minha cabeça ia a cabeça sacrossanta de Jesus, cercada de acerbíssimos espinhos. Por todas as feridas caía uma chuva de sangue que regava com abundância os caminhos do Calvário. No cimo fui crucificada, e levantada ao alto a cruz ; continuou a ser a montanha regada. O meu brado de agonia ecoava como a dinamite na rocha, mas o Céu, sim, o Céu, para mim parecia fechado. E a ingratidão dos homens sempre a ferir-me, sempre a levar-me à morte. As setas do coração da Mãezinha passavam para o meu coração, e este segredava-lhe : “minha Mãe, aceita o mundo que é Teu ; é filho do meu sangue e filho da Tua dor. Para o salvar tens de cooperar comigo”. Neste segredo íntimo, com os olhos fitos no Céu, acrescentei : está tudo consumado ; Pai, nas tuas mãos encomendo o meu espírito. Tudo ficou no silêncio da morte. Veio interrompê-lo Jesus. Deu-me de novo a vida e disse-me:

― “O Céu abre-se, minha filha, pela tua dor, para aqueles para quem estava fechado. Tu és a chave com que os pecadores abrem a porta da mansão celeste. Tem coragem, minha filha, tem coragem. O mundo não é tão cruel para ti como o foi para mim. Se és perseguida, também Eu o fui. És caluniada, o teu Esposo Jesus foi-o também.  XE "Alexandrina : cópia de Jesus" És a cópia mais fiel de Jesus. É o teu Calvário. A vítima de missão tão nobre tinha de sofrer assim. Coragem, coragem ! Só à custa de dor e sangue as almas podem ser salvas. Sofre, sofre, deixa que Eu te imole. A imolação é o selo das almas vítimas, das almas de eleição, escolhidas por Jesus. Ó minha filha, minha filha, não duvides da tua vida, é a verdade pura, é a verdade tal e qual é a vida de Jesus, só a vida de Jesus em ti. Olha, minha filha, tem presente, sempre presente, aquelas almas que prometeram serem minhas, que se consagraram a Mim, e estão às portas do inferno, já nas garras de Satanás. Só a dor, só o martírio as pode arrancar. Só a tua imolação contínua as pode salvar”.

― Ó meu Jesus, ó meu Jesus, não me poupeis, não, meu Amor. Poupai-as a elas às penas eternas. Não me liberteis a mim da cruz, libertai-as a elas das garras do demónio. Vejo que sois todo amor, sinto que sois todo amor, sei e sinto que sois todo perdão e misericórdia ; sede agora, sede sempre Pai compassivo, Pai que tudo esquece e tudo perdoa.

 “Minha filha, minha filha, nada negues ao teu Jesus. Minha filha, minha filha, atende ao mendigo divino, que bate sempre à porta do teu coração generoso.  XE "Portugal : está em perigo" Portugal, o pobre Portugal, o infiel Portugal está em grande perigo. Ele não correspondeu às graças que lhe deu o Céu ; ele não correspondeu ao amor que lhe tem o meu divino Coração e o de minha bendita Mãe. Ora, ora e sofre muito por ele. Escolhi-te para vítima do mundo inteiro, escolhi-te para luz e salvação do mesmo. Mas coloquei-te neste Calvário. No centro da província portuguesa, para seres mais e mais luz, mais e mais farol, mais e mais salvação. Vem receber a gota do meu divino Sangue; é gota que leva nela a tua vida; é gota que te alimenta, que te dá a paz, que te dá a força para a vitória, para o triunfo do teu Calvário. Deixa, deixa que os meus Anjos te apertem os cravos, Anjos que te comunicam a sua pureza, Anjos que te rodeiam e velam por ti. Fica, fica bem cingida à cruz, toda inebriada em amor, deste amor que supera e abunda no meu divino Coração. Todas as riquezas, de que ele está cheio, são tuas. Compra com elas as almas. Salva com elas o mundo em perigo, o mundo em perigo. Pede-lhe oração, pede-lhe penitência, vida nova, vida nova. Vai em paz”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus. Custa-me sair deste oceano de amor, mas saio e vou contente para a minha cruz, lutar sozinha, aparentemente sozinha, bem o sei. Perdoai-me, meu doce Amor.

25 de Janeiro – Sexta-feira

Por amor de Jesus e para o bem das almas, obedecerei até à morte. Não posso falar. Estou com se estivessem a finalizar os meus dias. Meu Deus, quando será o último da minha vida ? São tão longos, os Vossos breves ! Este agravamento do meu mal é talvez só para mais e mais sofrer. Não posso, mas quero, meu Jesus. A vontade está pronta para o sacrifício, para o martírio, para a morte. Fugi do Horto e entreguei-me ao Horto e assumi a mim toda a miséria humana. Entrei nas ruas da amargura e segui para o Calvário. No cimo dele, reguei-o com o sangue. O meu coração desfez-se em amor e fez-se todo podridão. Amou tanto, tanto que se entregou ao Pai como réu de toda a culpa, para repará-la. Amou loucamente, até dar a vida para que nós possuíssemos a eterna vida do Céu. Jesus entregou o Seu espírito ao Eterno Pai. Passei por aquela reparação, pareceu-me morrer também. Pouco tempo depois, uma luz brilhante iluminou a minha alma, e Jesus falou-me:

 “O sol divino brilha. A vida de Jesus vive na Sua vítima, na Sua esposa querida. Sim, sim, minha filha, esposa amada, só a vida de Jesus vive em ti, só o sol divino brilha na tua alma.  XE "Podridão : morte dos pecadores" A podridão, a morte, toda a morte, que tu sentes, é a podridão dos pecadores, é a morte das suas almas. Minha filha, minha filha, as punhaladas rasgam-me o peito, vazam de um lado ao outro o meu Divino Coração. Estas repetem-se aos milhares, aos milhões, a cada momento. Que chuva, que chuva constante de crimes !”

 Não posso, Jesus, não posso sentir no meu peito, no meu coração tantas punhaladas, tantas lançadas. Ai, Jesus, ai Jesus, sabeis por que não posso, meu Amor ? Porque sinto que é o Vosso peito, o Vosso Coração a sofrer isto tudo, e eu não posso, não aguento com a Vossa dor. Eu quero-Vos, meu Jesus, sim, eu quero-Vos dentro do meu pobre coração, mas é só para resguardar-Vos de todos estes sofrimentos e não para Vos deixar ferir.

 “Sossega, sossega, minha filha ; sossega, sossega, flor eucarística ; sossega, sossega, louquinha do meu Divino Coração. És tu, tu, sim, misticamente a sofrer tudo isto. Eu venço, Eu triunfo ; venço por ti e em ti ; triunfo, porque cooperas comigo, porque és fidelíssima à tua missão de vítima. A tua generosidade está pronta, sempre pronta. O que tu sentes, minha filha, todo este sofrimento vinha para Mim, se não fosses vítima, se por Mim não sofresses”.

 Ó Jesus, sois sempre Vós e não eu, pobrezinha ; por mim nada vencia, nada era capaz de sofrer.

 “Tens razão, minha filha, sem mim nada podes. Mas, para eu operar todas as maravilhas nas almas, não posso obrigá-las, têm elas de cooperarem comigo. Sofre, sofre sempre por Mim, aceita todas as lançadas, chora as minhas lágrimas. O mundo, o mundo ! As almas, aquelas almas que me arrancam o Coração ! Eu quero salvá-las ! Faço tudo, mas elas fogem, elas querem perder-se”.

 Não choreis, Jesus, não. Eu choro, eu quero chorar. Dou-me a Vós, a Vós me entrego. Descarregai sobre mim tudo o que for sofrimento, mas poupai o mundo e poupai essas almas; ai! poupai-as ao fogo eterno.

 “A paz, a paz de Jesus seja contigo para tranquilizar o teu coração.  XE "Sangue : recebe a gota" Recebe a gota do Meu divino Sangue, o Sangue que te leva a vida, o Sangue que te leva o amor, todo o amor. É esta vida, filhinha, é este amor que as almas por ti recebem com toda a abundância. Pede-lhes em troca, pede à humanidade inteira o amor ao meu Divino Coração ; pede-lhe oração, pede-lhe penitência”.

 Eu vou pedir, vou, meu Jesus, e peço-Vos também por todos os que me são queridos; coloco no Vosso Divino Coração todas as minhas intenções e por fim o mundo inteiro.

 “Fica na tua cruz, leva a minha paz, o meu amor sorri a todo o martírio”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus.

   

Pour toute demande de renseignements, pour tout témoignage ou toute suggestion,
veuillez adresser vos courriers à
 :

alexandrina.balasar@free.fr