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SENTIMENTOS DA ALMA

1952

DEZEMBRO

3 de Dezembro – Sexta-feira

Só com a graça do Senhor e a Sua força divina eu poderei dizer alguma coisa. Apagou-se a luz da minha vida, mas de tal forma se apagou que fez perder a vida do mundo inteiro, e ele todo ficou nas trevas mais intensas, na noite mais pavorosa. Parece-me que não tenho coração que possa enfrentar tudo isto, resistir a tanto pavor. Não sei que sinto. Queria que as pedras falassem. Queria que todos os corações se levantassem num hino de louvor ao Senhor. Não sei como, sou eu a causadora de este louvor, de este hino lhe ser roubado. Perdi a minha vida, concorri para que todas as almas a perdessem. Não sou útil para nada e soou inútil para tudo. Esta minha inutilidade faz a inutilidade do mundo. São estes os sentimentos da minha alma. É esta a minha vida dolorosa e tremenda. Ai, meu Deus, apiedai-Vos de mim! Bendita seja a cruz que me dais. Sozinha, mesmo sozinha, no meio do mundo habitado só por feras, e estas todas contra mim, para me tragarem e tirarem a vida. Eu, no meio do maior pavor, sem poder ter um brado, porque na terra não tenho a quem pedir socorro, e o Céu, de tal modo fechado, não ouve a minha voz, murmuro sem querer. Ó meu Jesus, soube ofender-Vos, como nunca ninguém Vos ofendeu, e nunca soube nem sei amar-Vos como muitos dos Vossos santos Vos amaram. Perdoai-me a minha miséria. Apiedai-Vos da minha pobreza. Vou por vezes a sucumbir. Momento há em que me parece sem remédio cair no desespero. Firmo-me nos braços de Jesus e da Mãezinha, a quem me entreguei e abandonei. Não sinto a Sua protecção, mas não chego a perder a serenidade e a paz. Sofro, sofro indizivelmente, mas sofro confiada, sem sentir a felicidade da confiança. Sofro na esperança da protecção do Céu, mesmo com muitas vezes me parecer e sentir que nada existe depois desta vida. Tenho dentro em mim um fogo tão grande, um fogo tão ardente pela glória do Senhor! Queria ver todos os corações numa só chama, a humanidade inteira numa só labareda, num só amor a Jesus. Ah ! Se eu pudesse destruir o pecado duma vez para sempre !... Que pena eu tenho de ver Jesus ofendido !... Que dor sobre humana ! Que dor infinita! Muitos espinhos me ferem ! Muitas lanças me atravessam o coração ! Seja tudo por amor do meu Senhor ! Se eu com isto puder consolá-Lo e dar-Lhe as almas ! A minha ignorância não sabe dizer nada. Quem não tem vida nada pode dizer. Ontem, o meu Horto foi tão doloroso ! Chegou ao Céu a minha dor. Vi todas as almas mortas, sem quererem aceitar a vida de Jesus. Eu só soube manter-me seca, dura, indiferente a tudo. No meio do Horto, estava a coluna. Fui presa a ela por mãos humanas, mas estava mais presa, mais firme ainda pelas cordas do amor divino. Todas as minhas carnes foram despedaçadas. Vi tudo quanto ia sofrer. Hoje segui para o Calvário, não fui por vontade, fui arrastada, morta pela cruz de Jesus. Ele derramou o Seu sangue divino, submeteu-se a todos os maus tratos, para dar-me a vida. Eu não lhe aceitei ; foi preciso Ele morrer. Pregado na cruz, continuou a regar-me com o Seu sangue. Eu, onde a cruz estava plantada, representava toda a humanidade morta, mas sentia as ânsias divinas que Jesus tinha pelo momento de expirar, para que eu vivesse. Ele entregou ao Pai o Seu espírito, atirou-se para Ele, como o criminoso para os braços da mãe, e morreu. Pouco depois, triunfando da morte, fez-me triunfar com Ele, deu-me a Sua vida e falou-me assim :

— “Jesus vem fatigado, ansioso, a pedir amor. Tenho sede, tenho sede. Só pode ser saciada esta sede de amor nos corações, nos corações abrasados. Venho fatigado, venho ansioso, venho mendigar. Bato à porta, bato à porta. Sou o Mendigo Divino. Quem me aceitará ? Quem será capaz de recusar-me a esmola e a entrada em seus corações ? Há tantos, tantos, digo-o com dor, digo-o com lágrimas. São tantos, tão frequentes, os meus chamamentos !... São tantas as vezes que eu bato à porta dos corações !... Oh,  ingratidão! Oh, ingratidão ! Oh, infidelidade ! Chamo, bato, e as portas não se abrem. Peço, peço a esmola do amor, e quase sempre me é recusada. Sofre, sofre, minha filha, florinha eucarística. A tua dor é fogo, a tua dor incendeia e purifica os corações”.

— Ó Jesus, ó meu querido Jesus, estais tão calmo, mas tão triste! Não ouço os Vossos suspiros, mas vejo rolar pelas Vossas faces santíssimas muitas e muitas lágrimas. Jesus, Jesus, meu doce Amor, sou a Vossa vítima. Estou pronta, sempre pronta, para sofrer. Estou pronta, sempre pronta para receber-Vos no meu coração e abraçar no meu pobre coração com todo o amor a cruz que me dais. Esquecei, Jesus, as infidelidades das almas, todas as recusas que Vos são feitas. Lembrai-Vos, meu terníssimo Jesus, que ainda tendes na terra muitos e muitos corações que só a Vós querem amar, que só a Vós e para Vós querem viver. Lembrai-Vos, Jesus, lembrai-Vos desta pobre filhinha, que, apesar de pobríssima, quer enriquecer-se em Vós, quer sofrer tudo por Vós. Jesus, Jesus, amo, amo tanto, tanto, as almas! Amo-as, porque são Vossas. Amo-as e vejo nelas o meu Senhor, o meu Pai, o meu Criador. Jesus, Jesus, custa-me muito sofrer. Nem sabeis que muitas vezes sinto que não posso mais, mas são tais as ânsias do meu coração, são tão fortes, tão fortes que me obrigam a dizer-Vos: se quereis que eu sofra até ao fim do mundo, estou pronta, meu Jesus, estou pronta. O que eu quero é evitar, evitar a perda das almas. O que eu quero, meu Jesus, o que eu quero é consolar-Vos, alegrar-Vos dia e noite, dia e noite sem perder um só momento.

— “Minha filha, minha filha, vítima querida do meu Eterno Pai, escora firme do Seu braço, da Sua justiça divina. Se não fosse a tua oferta, se não fossem as almas, já cantavas no Céu, há muito tempo, as glórias do Senhor. O mundo, as almas são ingratas, são cruéis. Tu foste generosa, tu foste louca por elas, por meu amor, bem Eu sei, mas foi aceite a tua oferta, foi aceite a tua oferta, a tua prece. Pede, pede, minha filha, pede pelo amor do meu Divino Coração, para que os corações se abrasem no meu amor. Pede que desapareçam da face da terra tantos e tantos crimes, crimes hediondos, que desafiam a justiça do Senhor. Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Foram os Anjos, foram os Anjos que ligaram o tubo doirado ao teu o meu Divino Coração. A gotinha do sangue passou, passou o sangue de Jesus, aquele sangue que veio do seio de Maria, minha e tua Mãe também. Passou a vida de que tu vives e a vida que Eu quero que tu dês às almas. Ela transparece em ti e por ti atravessa os corações, como sol fortíssimo, como sol brilhante pela vidraça. Pede oração, pede penitência e a morte para o pecado. Vai em paz. Vai em paz. Fica na cruz. Sorri, abraça-a, beija-a por meu amor”.

— Ó Jesus, fico na cruz, sim, fico na cruz, e é da cruz que eu Vos peço. Sede no meu coração. Atendei ao que nele está escrito. Confio, Jesus, confio.

— “Vai em paz, minha filha, vai em paz. Pede, pede sempre. Jesus sempre atende à Sua esposa, à Sua vítima generosa, à Sua vítima heroína”.

— Obrigada, meu Jesus, obrigada.

6 de Dezembro – Primeiro Sábado

Passei a noite com o peito e o coração atravessado de espinhos e lanças. A dor era tão grande, tão grande, só podia ser dor infinita. A tristeza era infinita. A tristeza era mortal. As ânsias de receber o meu Jesus, insuportáveis. Neste transe doloroso, preparei-me para O receber o melhor que pude. Ele veio, e, logo que deu entrada no meu coração, senti-me outra. Ele entrou triunfante e com o Seu triunfo fez-me desaparecer a dor e os instrumentos que me feriam e falou-me desta forma:

— “Que lindo, que lindo é o Céu, minha filha. Fala dele às almas. Diz-lhes quanto elas devem sofrer, quanto devem evitar o pecado e amarem o meu Divino Coração, para o merecerem. É belo o Céu, minha filha. Oh, como é belo!... Com que dor, com que mágoa, Eu digo que o Céu é belo, porque os meus filhos, os meus queridos filhos, não querem gozar dele. É grande a minha tristeza. É infinitamente grande a minha dor. Os meus filhos, os meus queridos filhos, não querem o Céu, não querem gozar de Mim. As paixões, as paixões desregradas, levam-nos à recusa dum belo Céu, dum Céu triunfante, duma eternidade de gozo. Fala às almas, minha pomba bela, instrui-as nas coisas do Senhor, põe-lhes nos seus corações, quanto possível, o horror do pecado. Fala-lhes, fala-lhes muito do meu amor. Diz-lhes que as quero para Mim. Foi a missão que te escolhi. Foi para tudo isto que por Deus foste criada. Tu és a alegria, a glória, o encanto do Paraíso”.

— Ó Jesus, só Vós podíeis encantar com aquilo que é Vosso !... De meu, só podeis encontrar o pecado e com esse não Vos podeis encontrar. O que eu sou, meu Jesus !... o que é a minha miséria…

— “É na tua pequenez, violeta escondida, que Eu faço nascer, crescer, florescer as virtudes mais belas, os encantos mais atraentes. É na tua pequenez que Eu escondo a tua grandeza. É com a tua humildade que as almas se elevam para Mim. Dia, minha filha, ao teu Paizinho, àquele que Eu escolhi para teu guia e guia de muitas almas, que o Senhor pôs nele, depositou nele o que de mais caro tinha na terra. Diz-lhe que fez dele luz, para ser luz, que o fez ternura e amor, para só de ternura e amor ele fazer viver as almas. Diz-lhe que dias mais alegres, mais felizes o esperam. Diz-lhe que o sol brilha nas trevas e aquece os corações que estavam frios e no erro. Diz-lhe que ele consola o Senhor, agrada ao Senhor, ama o Senhor e vive sobretudo a vida do Senhor. Diz ao teu médico que a chuva de graças não cessa de chover, não deixa de cair sobre o seu lar em flor, sobre o seu jardim perfumado. Diz-lhe, diz-lhe que “mãos à obra”. Nada de desânimo, nada de tristeza. Olhos ao Céu, confiança no Céu, confiança no seu Deus e Senhor. Diz-lhe que estou nele e ele em Mim; que triunfo nele e ele comigo. Avante, avante. O meu Divino Coração espera muito, muitíssimo dele. Criei-o para a mais árdua missão, mas não lhe faltarão as graças e todos os meios para bem a desempenhar, conforme é a vontade santíssima do Senhor. Dá-lhe amor, paz e alegria. Vem, minha Mãe bendita, Virgem da Conceição, pôr firmes no Céu os olhos da nossa filha, como estão os teus no trono do Altíssimo. Minha Mãe bendita, dá-lhe a tua pureza, a tua candura e amor. Veste-a de tudo o que é teu. Faz dela o maior dos nossos encantos. Minha filha, minha querida filha, aceita o meu Imaculado Coração. Pertence-te, como te pertence O de Jesus. Vive de Mim, como de Jesus. Vive para Mim como vives para Jesus. Faz que a minha pureza e imaculada Conceição sejam amadas como tu as amas. Faz com que muitas almas Me imitem, sobretudo, minha filha, sobretudo os sacerdotes, para exemplo e guia de todas as almas. Jesus está triste. Eu estou triste!... Há tão poucos, tão poucos, puros e imaculados!... São tantos, tantos a perderem-se e a fazer perder as almas. Consola, consola os nossos Divinos Corações e dá-Nos toda a reparação que te pedimos”.

— Ó Mãezinha, ó Mãezinha, como tu és bela! Fazei, Mãezinha, fazei, Mãezinha, que eu seja bela também, e que esta beleza e que esta pureza eu as possa dar às almas, mas sobretudo, sim, sobretudo às que mais se me recomendam. Ó Mãezinha, ó Mãezinha, pela Vossa Conceição Imaculada Vos peço, atendei às minhas preces, a todas, todas as minhas preces. Apresentai-as a Jesus e fazei que sejam despachadas a meu favor.

— “Minha filha, minha filha, vai em paz depois de receberes as minhas carícias e as de Jesus. Nada Nos negues, nada Nos negues. Leva, minha filha, o amor da Bendita Mãe e o amor do teu Jesus. leva a paz e a doçura dos Nossos corações. Vai distribuí-los Vai distribuí-las como quiseres por todos os que amas e que nós amamos. Tem coragem! Confia que o Céu está perto !”

— Obrigada, Jesus. Obrigada, Mãezinha.

7 de Dezembro – Sexta-feira

Apesar de não poder falar, sinto-me forçada a dizer alguma coisa. É enorme o meu sacrifico par a mexer os lábios e pronunciar qualquer palavra. Não sei, mas é talvez a força da obediência que me leva ao máximo do sacrifício. Todo meu viver é calvário. Os dias e as noites são horas e momentos de agonia. Sou tão ignorante que nada sei dizer da minha vida. A noite tremenda deixa-me apavorada no meio do caminho. Não tenho para onde voltar-me. A inutilidade falseira está sempre a roubar-me o vigor, a vida verdadeira a todas as coisas. Não chego a ver-lhes o princípio, como chegar-lhes a ver o fim? Neste martírio do corpo e da lama, uno-me ao Senhor, elevo para Ele o meu pensamento, mergulho-me nele, ofereço-Lhe as minhas dores e agonias, apesar de muitas vezes me parecer que Ele não existe. Mas logo a inutilidade traiçoeira apressa-se a roubar-me e eu fico como que nada sofresse e nada Lhe oferecesse. Tudo isto são espinhos pungentes a ferirem-me, causam-me uma dor indizível que só a força de Jesus pode suportar.

O dia da Mãezinha foi martirizado e agonioso como os outros. Não Lhe falei muito, mas no pouco que Lhe disse, entreguei-lhe todo o meu ser. Pedi a todo o Céu para A amarem, louvarem e honrarem por mim. Nem ao menos nesse dia, a inutilidade me poupou.

Meu Deus, meu Deus, morre de dor o meu coração! Dentro do meu peito, muito no íntimo da minha alma, tenho não sei o quê, parece que como um altifalante, que rompe com toda a força e faz ressoar o seu brado na humanidade inteira. Ele tem ânsias tão grandes, tão infinitas de se fazer ouvir e dizer tudo o que sente o coração, que parece amolecer e desfazer todas as montanhas e pôr tudo numa massa, numa só vida, num só amor a Jesus. Sou ignorante, mas estes sentimentos são um nunca mais acabar. Ando sempre fugitiva do Horto e do Calvário. Não sei, ontem, como não sei nunca, o que me levou para aquele solo duro. Tremia de pavor e toda a terra tremia comigo. Ao baterem-me no peito as ondas mais fortes do mar agitadíssimo, que por todos os lados me rodeavam, eram ondas de vícios, de crimes, de podridão. Vi-me dali com a cruz aos ombros, a seguir para o Calvário, sob uma chuva de tormentos, já quase sem vida. A noite foi tormentosa para o corpo. E assim o coração mais se pôde concentrar nos tormentos e na paixão de Jesus. Hoje, nesta manhã, sabia que Ele para lá caminhava, mas eu fugia a passos largos. Deixava-O sozinho, sem procurar libertá-Lo de tantos tormentos. Sentia no coração uma tristeza e dor tão grande que eram só d’Ele, eram sofrimentos e tristezas infinitos. No alto do Calvário, de dentro de mim saía este brado : a minha alma está triste até à morte. É um Deus a manifestar esta tristeza. É Ele a desabafar e a mostrar-nos o Coração. Vinde a mim, vou morrer por vós. Ó dor, ó dor pungente, que matas o meu Senhor. O brado de Jesus não cessava e a ânsia de se entregar ao Pai para a nós nos dar a vida. Ele expirou. E, pouco tempo depois, veio com o semblante tristíssimo e sentimentos dolorosos, deu-me a mesma vida dolorosa e falou-me assim :

— “Minha filha, minha filha, escuta o meu Jesus, triste, triste, com o coração retalhado. Não posso mais, não posso mais. Os crimes são tantos e tão grandes ! Os homens, os pecadores, embrutecidos nas paixões, cegaram, emudeceram. Não vêm a Jesus, não escutam a Sua voz. Ver a Jesus é ver os Seus caminhos, observar a Sua Lei. Ouvir a Jesus é atender aos Seus brados. É vir, é vir depressa ao Seu encontro. Minha filha, minha filha, vê como está o Meu Divino Coração. Deposita-O nas tuas mãos. Repara nele, repara nele”.

— Ó Jesus, ó Jesus, e não me dizeis se posso vê-Lo, se posso reparar eternamente. É preciso não ter coração! Meu Deus ! Meu Deus ! Tantos, tantos punhais a atravessá-Lo, tantas, tantas espadas a ferirem-No. Estes punhais, estas lanças vieram também ferir o meu. Do Vosso Divino Coração atingiram o meu. A dor tirou-me a vida. Tenho a certeza que só por milagre ela pode ser conservada. Quanto sofreis, quanto sofreis, meu Amantíssimo Jesus ! Se não me aliviavas, não podia falar-Vos mais, meu Amor. Fazei troca, meu Jesus. Em vez de me aliviares a mim, fazei que eu Vos alivie a Vós. Em vez desta suavidade que me deste ao coração, fazei, fazei, Jesus, que eu Vos console. Não posso pensar, Jesus, que, sendo Vós um Deus, deixais ferir assim ! Não posso consentir, nem deixar-Vos assim sofrer. Eu tiro-Vos, Jesus, eu tiro-Vos por muito jeitinho todos os punhais e espadas ao Vosso Divino Coração. Quero-os só no meu, quero ser só eu a sofrer. Exijo de Vós a graça a força que necessito. Já não tendes nenhum ? Não, não, meu Amor. Mas ainda vejo tantas feridas! Não quero ver sinais de ferimentos. Ponde nos meus lábios os Vossos ósculos divinos. Quero osculizar-Vos essas feridas todas, para que elas desapareçam. Vós mesmo sois o bálsamo. Os Vossos ósculos curam-Vos as feridas. Elas desaparecem. Já está dentro do Vosso sagrado peito o Coração. Não consintais, Jesus, que ele volte a ser ferido. Sou a Vosso vítima, sou a Vossa vítima.

— “Dás-Me então, minha filha, a reparação que te pedir nestes dias ? Vai ser muito dolorosa. Aceitas ?”

— Tudo, tudo, meu Jesus, contanto que sejais comigo, para eu não Vos ofender.

— “Sim, sim, minha filha. Nada temas. O Senhor é contigo. O Senhor é contigo. A reparação é por muitas almas que estão quase, quase a ser condenadas ao inferno. Muitas delas, sacerdotes, almas consagradas a Mim. Que chuva, que chuva de sacrilégios; que horror, que horror a minha entrada em tantos corações! Mais valia que Eu fora dado aos cães. São tremendas as palavras do Senhor. É pavorosa, pavorosa, pavorosa a justiça do meu Pai !... Vem, minha filha, vem, minha filha, flor mimosa, flor perfumada, flor eucarística, luz, sol, farol do mundo, vem receber a gota do meu Divino Sangue. Passa pelo tubo dourado, que mãos angelicais introduziram em nossos corações. Maravilha, maravilha celeste, maravilha do Céu. Passou a gotinha de sangue, sangue puro, sangue fervente, que te leva a vida, a graça, o amor, o incêndio de amor. Fica na cruz, fica na cruz. Dá tudo com alegria ao teu Senhor. Com Ele triunfas, com a Sua graça perseveras até ao fim”.

— Jesus, Jesus, o coração está triste, mas ansioso de Vos dar tudo, de Vos servir, de Vos amar, de Vos reparar. Lembro-Vos a todos neste momento, todos, todos, o mundo inteiro.

— “Coragem, coragem, minha filha. Vai em paz. Vai em paz. Ama-Me, ama-Me, ama-Me sempre. Faz que Eu seja amado, com todo o amor. Faz que Eu seja reparado com a reparação heróica, generosa. Coragem! Vai em paz !”

— Obrigada, obrigada.

19 de Dezembro – Sexta-feira

O meu corpo foi reduzido ao nada pela dor. Senti como que se em cinzas ficasse. Quantas vezes me pareceu que ia morrer. Sofri, sofri indizivelmente. Quanto à alma foi tormentoso, mais que tormentoso, foi pavoroso o que ela sofreu. Parecia-me a mim que era capaz de inventar o que até tinha gravadas em mim, isto é, na alma, todas as figuras indecentes, coisas que os meus olhos nunca viram. Eu sem conseguir pecar por outra forma, parecia-me correr o mundo inteiro à busca do prazer, sem conseguir os meus maus intentos. Ia satisfazer-me naquela variedade de figuras, onde podia realizar com a maior malícia os meus desejos. As forças não me permitem mais. Fica calado dentro em mim, as tristes cenas passadas, por falta de forças e pela minha ignorância. Tive um Horto e um Calvário suportado, não por mim, não por um esforço meu, porque o mal não me permitia, mas sim, levada por Jesus, Ele caminhou comigo. Eu ia como que revestida d’Ele. Mal podia levantar o meu pensamento ao Céu e ficar unida a Ele, mas podia, ou melhor, tinha que ser, seguir a montanha e, dentro em mim, Jesus sofredor. Eu era um corpo inútil e morto. Jesus era a vida e a utilidade para a mesma vida. Foi Ele que expirou. Morta estava e morta fiquei. Ele, ressuscitado, fez-me viver e falou-me assim :

— “Minha filha, minha filha, és ditosa no teu Calvário. És feliz na missão que Jesus te escolheu. Minha filha, minha filha, o Senhor é contigo. Minha filha, minha filha, que bem que Eu estou dentro do teu coração. Como é delicioso estar neste jardim perfumado! Minha filha, minha florinha eucarística, tu rodeias os meus sacrários como as avezinhas os seus ninhos. Esvoaças, esvoaças, como a pombinha branca, a poisar, a habitar em cada hóstia, em cada lugar, onde Eu habito sacramentado. Coragem, minha filha. Continuas a ser para as almas o que Eu fui há vinte séculos no alto do Calvário, na cruz crucificado. Coragem, coragem, minha filha. Jesus triunfa no teu Calvário. Tem confiança! Com o teu esposo serás sempre vitoriosa”.

— Ó Jesus, ó Jesus, duvido sempre de mim. Temo tanto, tanto, a minha vida ! Temo tanto, tanto ofender-Vos ! Não me custa sofrer com a tua graça. Custa-me e temo não sofrer bem. Temo a minha vida, meu Jesus. Ah! Que difícil, meu Jesus, que difícil é viver assim. Eu precisava, meu Jesus, bem o sabeis, precisava dum guia todos os dias, todas as horas.

— “Não duvides, não, minha filha. Sempre que Eu te peço dor, mais dor, e que tu não me negues, quero dor, mais dor, muito mais dor. Pedi-te e vim apertar-te com a maior das violências a minha vítima ma prensa mais dolorosa e mais tremenda. Minha filha, minha querida filha, tudo o que sentes em tua alma, tudo o que se passa em teu espírito, não é outra coisa senão um meio de reparação. Nada temas, nada temas, pupila dos meus olhos. Só de uma alma pura se pode tirar pura reparação. Ai daquelas almas, ai daquelas famílias, onde habitam as figuras tremendas, figuras para as excitarem aos vícios, às paixões. Eu te afirmo, minha filha, é difícil a sua salvação”.

— O que eu posso fazer, meu Jesus ? Como poderei eu evitar ? Eu parecia-me, meu doce Amor, que tudo isto era meu, e que eu era capaz de inventar tudo o que há de mal.

— “Não, não, minha filha, é a reparação, é a reparação necessária e urgente nestes dias que passam. Eu quero, Eu quero que seja dita esta minha afirmação. Vai ser tremenda a justiça de meu Pai sobre essas almas, essas famílias, essas casas que possuem figuras negras, retratos de Satanás, que as levam aos vícios, aos crimes mais hediondos. O que tu podes fazer, minha filha ? Sofreres, sofreres, reparares. Tem coragem e confia! Eu alegro-me, consolo-me na tua humildade, no teu temor de ti mesma. Se não fosses pequenina, pequenina como a violeta e desaparecesses como o verme na terra, Eu não teria comunicado contigo desta maneira. Nunca terias ouvido dos lábios do teu Jesus títulos tão belos, de tão grande elevação”.

— Ó meu Jesus, meu Jesus, bendito Vós sejais ! Sois a sabedoria infinita e a meu respeito parece que nada sabeis. Como sou miserável e pobrezinha ! Sinto-me despojada de todas as virtudes, de todas as graças, de tudo o que é bom.

— “Vem, vem receber a gota do meu Divino Sangue, minha filha. Vem fortalecer-te no alimento do teu Senhor. Vives com a minha vida, vives com a minha graça, vives com o meu amor. Passou a gotinha do meu sangue divino. É o sangue que trouxe do ventre da minha bendita Mãe. É o sangue que dá a vida e gera as virgens. Fica na tua cruz. Fica mais forte, fica com mais vida, para mais dar. Fica com mais amor, para mais heroísmo. Diz, minha filha, não cesses de dizer a todos quantos se aproximam de ti : Jesus está triste com os vossos pecados. Arrepiai caminho. Vinde ao Bom Pastor. Vinde, vinde. Ele quer apascentar-vos no pasto imenso do Seu Divino Coração. Fica na cruz. Vai em paz. Pede sempre oração e penitência. Coragem !”

— Ó meu Jesus, sede comigo. Sem Vós nada posso. Eu não quero separar-me de Vós. Eu não devo separar-me de Vós. Eu não devo separar-me de Vós sem Vos apresentar todas as minhas intenções, a humanidade inteira.

— Obrigada, meu Jesus, obrigada. Meu amantíssimo Senhor!

26 de Dezembro  – Sexta-feira

Depois da noite vem o dia. Depois de muito sofrer, veio novamente Jesus compor tudo. Já tive outra vez Missa no meu quarto. Foi no dia 22 que recebi esse mimo do Céu. Os homens só vêem, enquanto que Jesus os deixa. Devia ser um dia de consolações e alegria, mas não o permitiu o meu Amado. Bendizia-O e louvava-O por tudo. Ele ama quando consola e ama quando fere; é sempre amor, amor sem igual. Como não sabia assistir à Santa Missa, como de costume ocupei o Céu, pedi à Mãezinha que assistisse Ela por mim, com os sentimentos d’Ela e não os meus, que acompanhasse a Jesus, que merecesse Ela por mim e fizesse Suas as minhas intenções e que unida a Jesus me oferecesse ao Eterno Pai na mesma imolação e sacrifício. Principiei assim o bercinho para o Menino Jesus para o dia de Natal. Mas, ai! Pobre de mim, o presépio que Lhe preparei foi muito pior ainda do que o de Belém. Sofri tanto, tanto! Meu Deus, que dor infinita! Não há palavras que a possam exprimir. Foi de tal forma a noite pavorosa, foi tão tremenda a tristeza e agonia que me levou a pensar a sério se seria o último Natal que passava na terra. Seja o que Jesus quiser. Preparei-Lhe o bercinho com espinhos, com as minhas infidelidades e imperfeições. Tudo isto me fazia sofrer mais e mais. À meia-noite, na hora do nascimento de Jesus, abraçada a uma imagem d’Ele, humilhada por causa dos meus pecados, pedi-Lhe muito perdão e, debulhada em lágrimas, dizia-Lhe: quero regar os Vossos pezinhos. Aceitai-mas como se fossem lágrimas de perfume, o incenso, o ouro e a mirra dos Reis Magos. Renovei-Lhe o meu completo abandono e pedi-Lhe que fosse perfeito o mais que fosse possível. No meio de tudo isto, no meio de toda a morte, quando tudo era vida e alegria para os outros, uma coisa tive a meu favor: a paz do Senhor reinava na minha alma. Não me desesperei. Que graça tão grande do Senhor! Os dias vão passando e eu vou vivendo naquele abandono a que me entreguei, sofrendo, sofrendo, sofrendo sempre. Quanto mais sofro e me parece que nada mais posso sofrer, maiores são as ânsias de mais sofrimentos. São tão grandes como o Céu, são tão grandes como Deus. Quero consolá-Lo, quero amá-Lo, quero dar-Lhe almas. E para isso repito-Lhe: quero dor, meu Jesus, sempre mais dor. Sede a minha força, meu Jesus.

— “Minha filha, minha filha, depositária do meu Divino coração. Minha filha, cofre das minhas riquezas e de tudo o que é meu. O Calvário é dor, o Calvário é de imolação, o Calvário é de sacrifício, é de salvação. Quem ama sofre, quem sofre é rico. A dor enriquece, dá nobreza ao coração e à alma. Se o mundo soubesse ! Se almas compreendessem o segredo, o verdadeiro segredo da perfeição e do amor ! Se o mundo soubesse, se as almas compreendessem o mais difícil de atrair a si as misericórdias do Senhor ! Amar, sofrer, sofrer e amar. é o segredo da perfeição. É o maior meio de salvação. A dor não pode separar-se do amor. Ai daquele que sofre sem amar. Eu sofri muito, minha filha, porque muito amei. Foi o amor que me levou a sofrer. Eu sofri como nenhuma outra criatura. Amei, amei, como jamais alguém amará. Minha filha, esposa predilecta de Jesus, muito te amei, muito a Mim te assemelhei. Amei-te tanto, tanto e tanto a Mim te assemelhei, até te dar um calvário, o calvário mais doloroso, mais difícil que dei às minhas vítimas. Eu fiz, sim, minha filha querida, que compreendesses os meus segredos, a dor e o amor. Eu fiz e faço que pela dor te purifiques e pela dor me salves as almas”.

— Ó Jesus, ó Jesus, muito anseio purificar-me, muito anseio ser pura e consolar-Vos, mas estou sempre, Jesus, sempre a manchar-me, sempre a entristecer-Vos, sempre a arredar-me dos Vossos caminhos.

— “Diz-me, diz-me, esposa minha, se sim ou não confias no teu Jesus”.

— Ó Jesus, meu doce amor, Vós bem sabeis até que ponto eu confio. Não sou perfeita, bem o sabeis. Estou sempre a vacilar. Mas ao menos, Jesus, quero confiar tanto quanto me seja possível.

— “Então escuta-me, escuta-me com atenção. Falo Eu, Eu, Jesus, nos teus lábios. Quando falas, falo por ti. O Divino Espírito Santo sobre ti, está sempre com a Sua luz e com as Suas inspirações. Não deixes, não, minha filha, que ela escureça. Não deixes passar despercebida nenhuma inspiração. Eu sorrio, sorrio, muitas vezes, quando te humilhas diante de Mim. Permito as tuas pequeninas quedas para a ocasião dos meus sorrisos. Consolo-me, consolo-me muito ao ver-te humilhada em grandes coisas, em coisas gravíssimas. Na sombra das tuas faltas, escondo as minhas grandezas. És rica, és rica. Possuis as riquezas do Senhor. Amas, porque estás cheia, bem revestida do amor divino. A tua alma é bela, o teu coração é belo ao Coração de Deus. Coragem, coragem, filha querida. Mergulha no mar imenso do meu amor as almas que de ti se aproximarem. Pede-lhes, pede-lhes. Faz como tens feito. Pede-lhes que Me amem. Pede-lhes que Me não ofendam. Não é em vão, não é inútil, não, minha filha, a tua vida, calvário ditoso, calvário ditoso, calvário de salvação. As almas, as almas, verdadeiramente, ah! se te conhecessem! Depois da tua morte, muitas, muitas vão ser atormentadas pelo remorso. Mesmo nisso te assemelhei a Mim. Quando Eu fui crucificado, quando dei a minha vida no alto do Gólgota, quantos tormentos, quantos remorsos que as almas tiveram quando souberam que Eu era Jesus. Vem receber a gota do meu Sangue Divino. Dois corações num só coração, incendiados numa só chama, enleados numa só cadeia de amor. Passou a gotinha, passou a tua verdadeira vida. Vives do sangue e corpo de Jesus. Vives a verdadeira vida de Jesus. Coragem, coragem, minha filha, tens muito que sofrer, porque muitas almas tens a salvar. Previne-as sempre, previne-as de que Jesus está triste, triste, tristeza de morte. Eu vejo, Eu vejo aos milhões, aos milhões, a morte nas almas. Faça-se oração, faça-se penitência. Haja emenda de vida. Jesus pede, Jesus avisa, porque ama muito, ama infinitamente.

— Obrigada, meu Jesus, o meu pobre coração está iluminado com a Vossa graça, com o Vosso amor. Obrigada, obrigada, meu Jesus. Lede, lede o que nele está escrito. Atendei-me, meu Jesus. Atendei-me, meu Amor !...

   

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