Em carta
escrita ao Director espiritual, encontramos pela primeira vez, a 1/VIII/35,
referências à Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria. Nosso
Senhor, depois de lhe falar dos pecados do mundo e do muito que precisa de
almas reparadoras, diz-lhe que assim como pediu a Consagração do mundo ao
Seu Divino Coração, assim agora também lhe pede que ele seja consagrado a
Sua Mãe Santíssima (carta de 1/VIII/35).
O Papa Pio XII
pronunciando a consagração do mundo a Maria.
Junto dele, à direita, o embaixador de Portugal e o futuro Papa Paulo VI.
A 10/IX/36
lemos:
- Este
flagelo (diz-lhe Nosso Senhor, referindo-se à revolução comunista da Espanha
que então grassava) é um castigo, é a ira de Deus. Eu castigo, para os
chamar; a todos quero salvar. Morri por todos. Eu não quero ser ofendido e
sou-o tão horrorosamente, na Espanha e em todo o mundo...
Depois, como
que a indicar que o remédio está na Consagração do mundo ao Coração
Imaculado de Maria, acrescenta:
– Vou dizer-te como vai ser feita a consagração do Mundo à Mãe dos homens e
minha Mãe Santíssima. Amo-a tanto! Será em Roma pelo Santo Padre consagrado
a ela o mundo inteiro e depois pelos Padres em todas as igrejas do mundo,
sob o título de Rainha do Céu e da Terra e Senhora da Vitória...
Não haja
receios, que os meus desejos serão cumpridos.
Cumpriram-se
esses desejos em Outubro de 1942 e a fórmula de consagração feita por Pio
XII invoca a Nossa Senhora com o título de Rainha do mundo, Rainha da Paz e
com o equivalente a Senhora das Vitórias: "Vencedora de todas as grandes
batalhas de Deus."
É de notar que
durante mais de um ano, depois que Nosso Senhor lhe pediu a consagração,
nenhum passo se deu nesse sentido junto da Santa Sé. Mas, em Agosto de 1936,
Nosso Senhor queixa-se de que nada se tenha feito e manda que se escreva ao
Papa, se não queremos que o flagelo que fustigava a Espanha nessa data se
estenda ao mundo inteiro.
É então que
pela primeira vez, o director da doente se dirige numa carta breve ao Em.º
Cardeal Pacelli, secretário de Estado de Pio XI, expondo sucintamente do que
se tratava e deixando à prudência do Em.º Secretário comunicar ou não a SS.
o caso.
Meses depois,
recebia o Sr. Arcebispo Primaz de Braga, em cuja diocese morava a
Alexandrina, da Sagrada Congregação do Santo Ofício essa carta, pedindo-lhe
mais informes sobre o caso e o Seu autorizado parecer. Sua Excia. Revma.
responde e logo segue ordem para a Nunciatura de Lisboa para que mande
examinar a enferma sobre o assunto.
É encarregado
de determinar alguém para essa incumbência o Provincial dos Jesuítas, R. P.
Paulo Durão, que escolheu e enviou a Balasar para esse fim o seu irmão P.
António Durão, S.J.
Eis porque
encontramos nas notas autobiográficas de Alexandrina o capítulo: "Primeiro
exame da Santa Sé". Oiçamo-la a ela.
Em 21 de Maio de 1937, recebi a visita do Revmo. P. Durão. Vinha mandado da
Santa Sé para examinar o caso da Consagração do mundo a Nossa Senhora. O meu
desejo era viver ocultamente, sem que ninguém soubesse o que se passava. Sua
Rev.cia entregou a minha irmã um cartão do meu Director Espiritual e
disse-lhe que mo lesse. Ao ouvir as palavras do cartão que eram assim: - Vai
aí o Sr. P. Durão; fale-lhe à vontade e responda-lhe a tudo que ele lhe
perguntar - fiquei aflita e disse para minha irmã: Que hei de eu dizer-lhe:
não sabia que eram precisos estes exames para casos destes. Minha irmã
animou-me e disse-me: - Dirás o que Nosso Senhor te inspirar.
Fiquei surpreendida quando me fez perguntas das coisas de Nosso Senhor, mas,
sem a mais pequena hesitação, comecei a responder às suas perguntas. Sua
Rev.cia disse-me que só queria que lhe dissesse o principal, pois não me
queria cansar, visto ser grave o meu estado. Respondi-lhe que não sabia o
que era o principal. Sua Rev.cia disse-me assim: - Gosto disso, gosto disso
- e foi quando me falou da consagração do mundo a Nossa Senhora. Depois de
me fazer várias perguntas com muito bom modo, disse-me: - Não se enganará? -
Ao ouvir estas palavras, passou-me pela mente o engano da minha morte, e
pensei assim: isto é contra mim, vou já dizê-lo. Então respondi:
Enganarei... E contei-lhe o que se tinha passado, na festa da Santíssima
Trindade em 1936. Sua Rev.cia não mais me disse se estaria enganada e falou
assim: - Estas coisas custam muito, não custam? - Respondi: custam e fico
triste e comecei a chorar. Sua Rev.cia pediu-me para não o esquecer nas
minhas orações e prometeu nunca me esquecer no Santo Sacrifício da Missa...
No dia
seguinte depois de se retirar, escrevia-lhe ele de Braga o seguinte cartão:
Senhora Alexandrina: Venho agradecer a sua Mãe e a si e a sua irmã a bondade
com que me receberam ontem nessa casa. Venho pedir desculpa também do grande
incómodo que causei, certamente a pesar meu e por dever de consciência. Já
hoje na Santa Missa recomendei suas intenções. Hei-de continuar a pedir a
Nosso Senhor para que se faça a sua vontade santíssima naquilo que Ele
deseja da Alexandrina. Pela minha parte, procurarei não pôr obstáculos à
mesma vontade divina.
Entreguemo-nos totalmente a Deus. A cruz pode ser às vezes pesada. Mas Jesus
está-nos vendo! E depois temos a Eternidade! A graça divina não nos há-de
faltar, mesmo sem nós o sentirmos. Recomendo-me às orações de todos para eu
não ser indigno discípulo de Jesus. Ínfimo servo no Coração de Jesus: P.
António Durão Alves.
É depois deste
exame que principiam as mais tremendas imolações e de que tratámos
anteriormente. Repetidas vezes volta Nosso Senhor a falar-lhe da
consagração, como a 2 de Fevereiro de 1938, a 25 de Abril do mesmo ano. A
título de informação do que se ia passando, nova carta foi enviada ao Em.º
Cardo Pacelli, narrando as constantes insistências de Nosso Senhor sobre o
assunto.
E eis que se
dão, a 3 de Outubro, os fenómenos que já narramos, ao falar dos êxtases de
paixão da Alexandrina. Neles declara Nosso Senhor que são mais uma prova de
que deseja quanto antes a consagração do mundo a Sua divina Mãe e promete
que se o Papa lhe fizer a vontade o levará direito para o Céu, depois da
morte, sem passar pelo purgatório.
Depois de
levar a Balasar dois colegas para presenciarem os ditos fenómenos e, ouvido
o seu parecer, o director espiritual da doente escreveu directamente a Pio
XI, a 24 de Outubro de 1938. O resultado foi ser de novo examinada a doente
por mandado da Santa Sé. Desta vez é encarregado dessa incumbência o
falecido Cónego Manuel Pereira Vilar, Reitor do Seminário de Braga. Ela
mesma nos narra resumidamente como foi esse exame:
Em 5 de Janeiro de 1939 recebi a visita do nosso Sr. Abade, acompanhado pelo
Exmo e Revmo. Sr. Cónego Vilar que, depois de me ser apresentado, ficou a
sós comigo. Falámos de várias coisas de Nosso Senhor, cerca de duas horas,
para depois entrarmos verdadeiramente no assunto que o trouxe aqui. Sua
Rev.cia disse-me assim: - A Alexandrina deve estranhar a minha visita, não
me conhece... Sorri-lhe, respondendo: Eu sei com certeza ao que V. Rev.cia
vem aqui. Ao que ele disse: - Diga, diga, Alexandrina.
Então disse eu: Vem do mando da Santa Sé, pois era o que eu sentia na minha
alma. Nesse momento Sua Rev.cia confirmou: - É isso mesmo, e apresentou os
documentos que tinham vindo de Roma. Fez-me várias perguntas a que respondi.
Não falei da "Crucifixão", mas falou-me ele, dizendo: - Parece que há mais
qualquer coisa que se passa há meses - apontando-me a "paixão", mas
mostrando vontade de vir assistir, como veio logo na primeira sexta-feira
seguinte.
Falando
(eu) disto ao meu Director Espiritual, este aconselhou-me a que lhe falasse
com toda a franqueza. Visitou-me quatro vezes, mas só duas foram
obrigatórias (quer dizer, por dever de ofício). Se me não engano, logo da
primeira vez disse-me: - Olhe, Alexandrina, gostava de há muito a ter
conhecido, mas não queria ter vindo como vim...
Termina a
narrativa dizendo:
Chorei, quando Sua Rev.cia se despediu de mim, na partida para Roma.
Prometeu escrever-me de lá, dizendo-me que ficaria a ser a sua intercessora
na terra. Recebi algumas cartas dele, em que mostrava ter em mim inteira
confiança. Respondi-lhe e ajudávamo-nos mutuamente com orações a Nosso
Senhor.
De facto,
temos em nossa mão os originais de sete cartas de Mons. Vilar para a
Alexandrina, que são um esplêndido testemunho a seu favor. Não vamos
copiá-las todas; alguns excertos ao menos, a provarem o que afirmamos. Logo
quatro dias depois de chegar a Roma lhe escrevia e entre outras coisas diz:
Recordo-a todas as vezes que entro na capela a visitar Jesus, ou sempre que
pego no meu terço, no qual coloquei a recordaçãozinha que me ofereceu a
última vez: dentre tantas é talvez a que mais estimo. E todos os dias na
Santa Missa, faço um "memento" especial por si, pedindo ao Senhor todas as
graças de que necessita para realizar a sua missão. Ainda não fui recebido
pelo Santo Padre; mas logo que seja, expor-lhe-ei todos os desejos de Nosso
Senhor.
A 2/VI/1939,
escreve-lhe:
Boa Alexandrina: É hoje a primeira sexta-feira de Junho e está a fazer um
mês que recebi a sua estimada cartinha. Esperava, ao escrever esta,
poder-lhe dar alguma boa notícia acerca da nossa consagração do mundo ao
Imaculado Coração de Maria, tão insistentemente pedida por Jesus, mas
infelizmente ainda nada de positivo lhe posso dizer. As coisas em Roma
contam-se em comparação com a eternidade e, por isso, nunca têm pressa.
Continuemos, porém, a rezar e a trabalhar para que por fim, os santíssimos
desejos de Jesus sejam realizados. Esta manhã, ao recordar-me de si na Santa
Missa, como costumo fazer, recordei-me da sua paixão e ofereci tudo a Nosso
Senhor. Encontrei assim um meio de desagravar a Justiça divina pelas minhas
tão numerosa e tão graves infidelidades... Procuro ser bom para com todos e
só para Jesus continuo a ser assim infiel! E, depois disto, ainda Ele vem
dizer-me que me ama e me compreende. Quando li estas palavras, as lágrimas
saltaram-me aos olhos; e sua carta lá ficou aos pés do meu crucifixo até
hoje…. Jesus ouviu-a: mais uma grande graça. Mas compreendo que o Amor seja
hoje para si ao mesmo tempo o algoz, o amparo e força, a consolação e
felicidade. Mas deixe: esse artista divino sabe realizar obras admiráveis; e
se ele a levar até à imolação heróica, maior será a glória do Senhor, mais
completa a reparação, mais bela a recompensa. É isso o que Ele lhe pede, não
é verdade? Mas nem admira. Nesta hora de desvario, Jesus tem necessidade de
vítimas que com Ele desarmem a Justiça divina.
Na carta de
5/VII/1940:
Em princípios de Junho, alguém falou ao Santo Padre na consagração do mundo
a Nossa Senhora; mas o momento é tão incerto e tão difícil que só Deus sabe
o que será. Nós continuaremos a rezar, na certeza de que sua santíssima
vontade um dia se realizará plenamente.
Esta certeza de que a consagração se faria, tinha-a dado Nosso Senhor
repetidas vezes à Alexandrina; disse-lhe mesmo que ela não morreria antes
que o facto se realizasse; v.g., a 25/IV/38, mandava-lhe Nosso Senhor que
comunicasse ao P. Espiritual para escrever ao Papa sobre vontade divina:
– Diz-lhe que escreva ao Santo Padre, Eu que quero a consagração do mundo a
minha Imaculada Mãe, mas quero que o mundo saiba a razão porque lhe é
consagrado:
Eu quero
que se faça penitência e oração. Tu é que estás a aplacar a Justiça divina e
tens que sofrer isto (eram angústias de toda a espécie, sobretudo ver-se
como que condenada ao inferno) até que ele o consagre.
Já a 20/XI/37,
ouvia de Nosso Senhor estas palavras:
– Eu venho buscar-te em breve, mas não quero vir sem que antes seja feita a
consagração do mundo a minha Mãe Santíssima...
E eu disse: Ó meu Jesus, o Santo Padre parece que não atende: demora tanto!
E Nosso Senhor disse-me:
– Sossega, descansa, minha filha: Ele atende; chegará o dia da glorificação.
E ainda a
24/I/1941:
– Prometo-te neste sábado consagrado a Ela (a Nossa Senhora) não demorar na
terra por muito tempo a tua existência. E prometo-te alcançar no Céu, com os
teus pedidos e amor, o que agora te alcanço na terra, pela dor. Mas para
isso, minha filha, pede ao Santo Padre que se compadeça do teu martírio e
que satisfaça os desejos divinos de Jesus, que é consagrar o mundo a minha
Mãe bendita.
Entretanto, a
Alexandrina ia passando invariavelmente pela Paixão todas as sextas-feiras e
esses êxtases eram cada vez mais dolorosos. Quando eis que cessam de
improviso, com o último realizado a 27 de Março de 1942. Qual seria a razão?
Recordemos
que, logo no primeiro, Nosso Senhor lhe tinha dito que era este mais um
sinal dado ao santo Padre de que queria a consagração do mundo a Nossa
Senhora. Ora em breve ia, de facto, realizar-se essa tão suspirada
consagração. Já estaria, nesta altura, resolvido o Papa a fazê-lo? Se assim
era, acabava a razão desses êxtases da paixão.
É certo que a
22 de Maio de 1942 dizia Nosso Senhor à Alexandrina:
– Glória, glória, glória a Jesus!
Honra e glória a Maria!
O coração do Papa, o coração de oiro está resolvido a consagrar o mundo ao
Coração de Maria.
Que dita, que alegria para o mundo ser consagrado, pertencer mais que nunca
à Mãe de Jesus?! Todo o mundo pertence ao Coração divino de Jesus; todo vai
pertencer ao Coração Imaculado de Maria...
E a 29 do
mesmo mês, também em êxtase:
– Ave Maria, Mãe de Jesus: honra, glória e triunfo para o seu Imaculado
Coração!
Ave Maria, Mãe de Jesus, Mãe de todo o universo!
Quem não quererá pertencer à Mãe de Jesus? À Senhora da Vitória?
O mundo vai ser consagrado todo ao seu divino Coração.
Guarda, Virgem pura, guarda, Virgem Mãe, em teu Coração Santíssimo, todos os
teus filhos! |