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Os seus escritos

Grande argumento a favor da Alexandrina são os seus escritos. E eles formam grosso volume: só as cartas para ao Director espiritual vão bastante além de mil páginas[1]. Em todos esses escritos transparece um espírito de grande equilíbrio e apurado senso comum, perfeita simplicidade cheia de dignidade, sem sombra de pieguices ou disfarces de amor-próprio. Mas eles são sobretudo uma riqueza doutrinária e até literária.

Não é fácil encontrar páginas que tão bem expliquem, tão ao vivo, tão claro o que é a reparação vivida e os sofrimentos da alma vítima, em união com a Vítima do Calvário. Constituem essas páginas um esplêndido poema das misericórdias do Senhor para com os pecadores e há nelas a mais bela expressão dos extremos de generosidade e das ânsias inflamadas a que, com a graça de Deus, pode chegar o coração humano, no amor a Cristo e às almas.

Pela sua correcção, viveza, novidade de imagens e originalidade de expressão, legam às letras um verdadeiro monumento.

E isto tem uma importância muito grande, porque em primeiro lugar, uma embusteira ou uma histérica era incapaz de uma obra destas, sobretudo se considerarmos que a Alexandrina viveu mais de trinta anos num contínuo sofrimento horrível e quase sem nada se alimentar e nos últimos treze anos e meio de sua vida, em jejum total, como vimos; mas em segundo lugar, não tendo ela estudado quase nada, nem exame de primeiro grau chegou a fazer, vê-se que há aí uma influência do alto muito grande. O que se confirma ao repararmos que, em tantas páginas escritas, sempre no meio de grandes dores e sem rascunho, não há um erro de doutrina.

A melhor prova do que afirmamos é lerem-se esses escritos. Arquivemos aqui ao menos algumas amostras das cartas para o director espiritual:

A 29-VII-39:

A minha alma está morta e hoje o meu corpo parece querer seguir o mesmo exemplo. Nosso Senhor tem-me dado muito que sofrer. Falha-me a vista e por vezes me parece perder os sentidos. Mas piores são os sofrimentos da alma. Que morte tão custosa! O abandono é tremendo; nunca pensei haver tais espécies de sofrimentos da alma. Sofro, mas sofro contente; sofro por amor do meu Jesus. Eu hoje, no fim de O receber, dizia-Lhe:

Benditos sejam os vossos sofrimentos, Jesus; quanto tenho que Vos agradecer! Sofro com dor, mas a doçura que eles trazem, no Céu a saborearei. Abro os meus braços para os aceitar, entrego-Vos o meu coração para o possuirdes todo.

Ai, meu P., se soubesse quanto sofri esta tarde, com ânsias de amar e dar almas ao meu Jesus! Não sei exprimir-me: eu não cabia em mim. Queria possuir milhões e milhões de mundos, e ir negociar: comprar almas para o meu Jesus; por cada alma dar um mundo e juntamente por cada uma delas dar a vida e todo o meu sangue, para assim, milhões e milhões de almas amarem a Nosso Senhor.

Eu queria ver o amor tão ateado nas almas, queria ver todos esses mundos a arder nas chamas do amor divino, ainda que eu tivesse que passear por entre as chamas, para fazer o contracto das almas. Por mais que queira explicar-me nada digo.

No fim destas tão fortes e tão dolorosas ânsias, estava fria e era tão nada! Temia o meu estado e tudo isto me parecia uma imposturice. Perdoe-me; sou a pobre Alexandrina.

A 29-VIII-39:

Estou a subir uma grande montanha. É tão medonha, tão assustadora! Subo, sem ver caminho, tal é a escuridão; e quanto mais subo, mais tenho que subir: não sou capaz de lhe ver o fim. Que montanha será esta? A minha alma e o meu coração já estão cansados, mas eu não posso parar, tenho que caminhar sempre sem saber para onde.

Hoje não ouvi os ralhos de Nosso Senhor, contudo sofri muito. Reinava a morte; grande aflição! Figurava-se-me que tinha morrido para Jesus e Jesus tinha morrido para mim.

Meu Deus! Meu Deus! Se a minha morte dá vida, se a minha tristeza dá alegria, se a minha escuridão dá luz, quero estar sempre morta, quero a tristeza, quero a escuridão, para que vivam as almas e se alegrem só em Vós, meu Jesus, e se abrasem e iluminem nos raios do vosso amor.

Eu quero sim, meu Jesus, tudo o que quereis Vós; dai-me sofrimentos para eu ter que Vos oferecer, para Vos consolar. Ou sofrer, ou morrer, para Vos amar no Céu com aquele amor que me satisfaz: tenho ambição de amar e de sofrer: não quero outra riqueza.

Adeus, meu P., estas palavras fizeram-me alterar o coração: não posso repeti-las[2]

Perdoe-me: sempre a pobre Alexandrina.

A 19-X-39:

Parece-me que sou calcada com as patas de um bicho tão feroz! É tão aterrador! Tem o tamanho do mundo inteiro. Cai sobre mim, tenta devorar-me; sou uma arestinha em comparação dele. Tanta raiva, tanta fúria sobre uma coisa tão pequenina! Eu parece-me que é impossível poder viver, poder resistir a tanto sofrimento. Que horas, que dias tão assustadores me esperam! Já falta pouquinho tempo para estar no dia da minha crucifixão (a sexta-feira). Meu Deus, e eu tenho tanto medo! Receio que Nosso Senhor ou a querida Mãezinha digam às pessoas santas que tudo é feito por mim; que nada há em mim que não seja imposturice.

Não sei como pode ser: estou nesta tribulação e a saber que não quero enganar, que não quero ser impostora, que quero que todos me conheçam (isto é: que não se enganem com ela). A alguma hora da tarde, quase me escapava dos lábios a pedir ao meu Jesus que me aliviasse um pouquinho, que não podia mais. Mas num momento lembrei-me que era vítima, que não devia pedir alívio: tomei coragem, fui resistindo. Parece-me que não consolei nada, nada com isto a Jesus.

Sinto o desprezo de Nosso Senhor; parece que Ele me não conhece. Ai, meu P., ai, quanto eu sofro, no fim de comungar, com esta indiferença de Nosso Senhor e com a morte total que Ele me faz sentir: morro para o mundo, morro para Deus. Para o mundo quero eu morrer, mas quero viver para Vós, meu Jesus, para Vos consolar e amar! Para desagravar o vosso divino Coração e o da querida Mãezinha.

Deixai, meu Jesus, deixai, querida Mãezinha, arrancar dos vossos divinos Corações com toda a doçura, os espinhos que Vos ferem. Quero o meu coração sempre cercado com eles, a agonizar de dor e a derramar até à última gota; sofrer eu tudo, Jesus e Maria nada! Quero ser vítima de amor...

A 19-XI-39:

Sem ter abrigo, ando como a avezinha, sem parar, já cansada de tanta lida, sem ter onde descansar; venho cair ao chão, ficando envolta no pó e na lama. Que desespero, que revolta sinto na minha alma! É escusado pensar em salvação. Assim suja como estou, escusado é tentar aproximar-me de Jesus; parece que a sua vista divina não me conhece. Sou como monstro coberto de lepra, causo nojo; o mal é incurável. O meu Jesus desconhece-me; não tenho aquela beleza que por Ele me foi dada; tudo perdi.

Ai, meu Padre, isto que eu digo é o que eu sinto: parece que é mesmo comigo, parece que perdi o meu Jesus, para não mais O tornar a encontrar. Que noite tão tenebrosa na minha alma! Assusta-me tanta escuridão e a tristeza que vai pelo mundo. Tudo são montões de maldades e misérias. Mas esse mundo sou eu: ocupo todo o universo. Parece-me que o mundo está como antes de Nosso Senhor criar a luz: é o que a minha alma sente, apesar de não saber como era. Estão todos os males mergulhados nesta escuridão; é caso para assustar e aterrar a minha pobre alma. Eu desanimo, suspiro, chamo pelo meu Jesus e pela minha querida Mãezinha; parece-me que me não ouvem, que nada vale.

Se, apesar de tudo, eu tivesse amor, era a recompensa que eu dava ao meu Jesus por me dar tanto que sofrer, por me ter escolhido para vítima. Pobre de mim, querer amar e não saber como, não ter amor: querer dar tudo ao meu Jesus e não ter nada!

Ó meu Jesus, deixai-me ao menos ir mendigar, pedindo àqueles corações que Vos amam e Vos sabem amar, para que Vos amem um pouquinho por mim. Deixai-me pedir a todos os que sofrer, para que sofram por vosso amor, só com o fim de Vos consolar e salvar as almas. Jesus, Jesus, deixai-me pedir a todos os vossos filhos, para que não movam a língua senão com o fim de Vos louvar. Já que nada mais sei, ó meu Jesus, digo-Vos tudo, dou-Vos tudo, peço-Vos tudo; e como nada Vos soube dizer, fico na desconsolação e na tristeza. Mas é por Vós.

Adeus, meu P., nada satisfaz as aspirações do meu coração, os desejos da minha alma. Que doloroso sofrer. Perdoe-me, sou a pobre Alexandrina.

A 19-XII-39:

Eu quero ser conhecida; a minha maldade não pode ser encoberta. Tenho ofendido tanto a Jesus! Mas agora quero recompensar o perdido: hei-de amá-Lo pelo tempo que O ofendi, mas mil e mil vezes mais com um amor sem limites, com um amor sem fim. Hei-de sofrer todos os sofrimentos com alegria. É à custa do meu sofrer que hei-de fazer Jesus amado pelas almas que O não amam. Quero ser filha de dor e mãe de amor: filha da dor, para não deixar de sofrer enquanto viver na terra; mãe de amor, para amar e fazer amar na terra e no Céu.

Ai, meu Padre, o meu coração é tão pequenino para conter as ânsias que tenho de amar a Jesus! Não as continha, mesmo que ele fosse grande como o universo. O amor, o amor que tudo vence! Eu queria sim, se Jesus quisesse, não parar um momento, noite e dia a bradar ao mundo inteiro: Amai a Jesus! Amai a Mãezinha! O amor não teme as dificuldades e Eles são dignos de todo o amor. Eu só queria ver o meu coração em uníssono com todos os corações do mundo, a arderem numa só chama, para assim juntar a todo o amor com que Jesus é amado no Céu, para lho oferecer e à querida Mãezinha e a toda a Santíssima Trindade. Ai, mas eu bem sinto que nem as­sim o meu coração ficava saciado (repare-se agora neste crescendo magnífico): Queria mundos, milhões de mundos num só amor. Mas mesmo assim iria à procura de novos mundos, a mendigar amor, para amar a Jesus. Ai, meu P., quanto mais vou, mais quero. Mas parece-me que estou a arder, mas debaixo de uma dor que me cobre.

O dia de hoje tenho-o passado assim. Queria dizer tanto e acabo por não dizer nada. Peço à Mãezinha que só não quero enganar o meu Padre...

A 9-I-40:

A minha alma está em ruína e tudo à minha volta são ruínas. Sinto o esmagamento de um peso enormíssimo. Luz não existe; estou numa noite saudosa e triste. Parece que os dias claros mais me ferem. Não pode o Sol vir penetrar na minha escuridão. O canto das avezinhas são espadas que me vêm cortar o coração. Para mim não há alegria, porque a minha tristeza é de morte. Sinto como se tivesse todo o mundo morto na minha alma. Parece-me que caio em desespero.

Meus Deus, meu Deus, amar-Vos sempre nunca ofender-Vos! Jesus, não me deixeis cair; eu, por mim só, não me sustento. Dai a vossa bendita mão a quem em Vós confia. Quero flores para Vos oferecer, mas sempre e só entre espinhos as quero ir colher. É por teu amor que quero viver ferida!...

Ai, meu P., custa tanto querer amar a Jesus e vê-Lo amado por todos e não ter amor e sentir que Jesus não é amado! Falei muito com Ele e com a Mãezinha, mas sempre na dor; só por último é que estive um pouquinho mais abrasadinha. Desapareceu-me por algum tempo a dor que me feria o coração. Depressa tudo voltou. Voltei a trilhar o mesmo caminho. Bendito ele seja, que foi Jesus quem mo escolheu!

Perdoe e abençoe a pobre Alexandrina.

A 13-1-40:

É preciso pôr termo aos meus queixumes. Já que eu não sei senão dizer que sofro, parece-me que é melhor acabar por não dizer nada. Eu não me compreendo: não sei como me possa reduzir tanto ao nada e sentir este nada que causa horror, cheio das mais horrendas misérias. Ó vida, ó vida, que és tão amarga! Já me pa­rece não poder viver mais.

O meu coração está a ser moído. As pedras que servem de moinho são do tamanho do mundo; o moinho não pára de moer: também não pode cessar a dor. Ai, meu Jesus, nem eu quero! Ser moída, bem esmagadinha pelo vosso amor é a minha vontade. Já que não posso com mais nada provar quanto Vos amo, quero na dor e na amargura que não saia outra coisa dos meus lábios que não seja dizer: tudo por teu amor! A dor é a minha glória, já na terra é o meu tesouro. Tudo deposito nas vossas divinas mãos para que distribuais como Vos aprouver.

Hoje, no fim de receber a Jesus, ouvi d'Ele umas palavrinhas. Fez-se dia na minha alma, mas foi só por uns rápidos momentos: foi só enquanto Jesus me falou. Depois fez-se noite, tremenda noite. A dor mais penetrava o íntimo do meu coração e um peso imenso mais fortemente ficou a esmigalhar-me. As palavras de Nosso Senhor foram estas:

- Não temas, minha filha, coragem! A tua dor, a tua cruz purifica as almas, aproxima-as do meu divino Coração. A tua pureza, o teu amor mais elevado, inclina sobre ti Jesus, toda a Santíssima Trindade e a tua Mãezinha querida: encanta todo o Céu...

Ai, meu Padre: digo isto, porque a minha consciência não se cala: tenho que obedecer em tudo e por tudo. Quero cumprir em tudo a vontade do meu Jesus; mas parece-me que é tudo falso. Jesus não me disse nada e nem ao menos me quer. É o que eu sinto. Perdoe-me, sou a pobre Alexandrina.

A 15-1-40:

Os raios do Sol que apareceram esta manhã eram setas que me penetravam todo o coração. Ai, como eu necessitava que não houvesse luz, que tudo lá fora fossem trevas, para assim se parecer com a minha alma! É uma guerra, é um combate a luz do dia com as trevas da alma. Mas momentos há que parece tudo se transformar em escuridão dentro e fora da alma... Ai, meu Jesus, eu caio, eu caio desfalecida! O meu nada e a minha miséria assustam-me. Ai, o que eu fui! Ai, o que eu sou!

As dúvidas estão teimosas. Só temo enganá-lo e enganar-me. Foi com toda esta luta que eu recebi hoje o meu Jesus. A minha alma estava como uma nuvem negra a cair aos pedaços. E Jesus dizia-me:

– Aparta-te, aparta-te de Mim. Retira-te, retira-te da minha vista para o inferno! Os condenados e os demónios teus acusadores serão os teus companheiros. Aparta-te por toda a eternidade. Preferiste ao teu Criador, Satanás, meu inimigo!

Eu fiquei um monstro de abominação (que força de expressão: só assim fala quem o sente ao vivo). Sentia os demónios a dar mau trato à minha alma. Pobre de mim; se não fosse Nosso Senhor sustentar-me a vida, não precisava mais nada para morrer de susto.

Meu Jesus, meu Jesus, sede comigo; sem Vós nada posso, convosco nada temo. Se não fosse a vossa Bondade e predilecção para comigo, eu era pior ainda que todo o inferno. Eu quero ser um monstro terrível, quero ouvir tudo dos vossos lábios, para que o não oiçam os pobres pecadores. Sou a vossa vítima, Jesus[3]. Reine o vosso amor; é ele que me faz vencer. Ai, meu P., a dor consome-me, o coração vai sangrando, mas eu creio, amo e confio. Parece-me estar perdida e com certeza estou bem perdida no meu Jesus...

A 14-II-40:

Continua a minha viagem por debaixo do mundo[4]. Todo o peso que nele se encerra está morto, é portanto a morte que me cobre. Esta mortandade causa-me medo, arrepia-me, faz-me estremecer. O gelo tudo gelou e todo o meu ser morreu gelado. Ó meu Jesus, por vosso amor quero viver e morrer no gelo, para assim incendiar o vosso amor nos corações de todas as criaturas, para que nele possam viver e morrer também.

Como há-de ser belo! Nem posso pensar; parece que já estou a ver todos os corações no Céu a arder numa só chama! Ó amor do meu Jesus, incendiai-vos no meu coração, para que eu o possa espalhar na terra e incendiá-la nos raios do vosso amor!

Falou em amor e por isso ficou em ímpetos dolorosos e assim se explica o que ela diz imediatamente:

Ai, meu P., que sofrimento que tanto fere o meu coração! Eu tenho ânsias de voar para Jesus, mas quanto mais voo, mais quero voar; quanto mais me quero aproximar dele, mais Ele me foge, até que desaparece e fica como se não existisse para mim.

Repare-se agora na beleza do que vem a seguir:

Eu fico como uma pombinha batendo as asas: para baixo não quero descer mais, para cima não tenho força, não posso voar. Estou em risco de cair desfalecida.

Ó meu Jesus, ó meu amor, compadecei-Vos da minha dor. Não me deixeis cair; dai-me força para ir ao encontro do vosso divino Coração e nele descansar eternamente.

Ai, meu Padre: que dor, que dor! Quero e não posso; busco a Jesus e não O encontro. Morro de dor, desfaleço e caio. Não posso mais; perdoe-me, sou a pobre Alexandrina.

A 12-III-40:

Estou esmagadinha pela dor. Não vale de nada estender os braços a pedir compaixão: não acho quem se compadeça de mim. O meu coração está ferido e constantemente a sangrar. O sofrimento de hoje é igual no da manhã de ontem, do resto da tarde e da noite. São variados os tormentos que o meu coração sente. Ao receber Jesus sinto o fogo que o consome; arde sem labaredas; queima, mas está coberto de negras cinzas dum luto triste e mortal. Noutros momentos sinto que ele anda a ser cilindrado, com um enorme cilindro da estrada; fica em pó, reduzido a nada.

Meu Jesus, ser nada - porque sou nada - mas ainda que o não fosse, sê-lo-ia de boa vontade por teu amor! Ser nada, para fazer alguma coisa; ser nada para dar vida às almas; sofrer todos os martírios, para que elas sejam salvas.

Estou duvidosa, cheia de incertezas, na mais tremenda escuridão. Mas nestas densas trevas, eu vejo o meu nada aterrador e todo o mundo em ruínas e desordens. O mundo sou eu: tudo se representa em mim.

Ai, meu Jesus! Que tristeza e horror!

Quer saber então o que se passa em meu Coração, mesmo assim no meio de tantas tristezas e amarguras? Tem ânsias, grandes ânsias. Está caído em desânimo, não tem forças para voar: está caído. Sinto-o como a pombinha ferida pelo chumbo. Abre as asas, bate-as, mas bate-as conta o chão: o ferimento não a deixa levantar voo. Mas queria gritar bem alto a Jesus que O amo. Eu queria com a minha própria mão arrancar do peito o coração, assim nestas chamas abrasadoras em que o sinto e ir colocá-lo no Coração do meu Jesus e dizer-Lhe: Aqui tendes a prova do meu amor; guardai-o, guardai-o para sempre. É vosso e da querida Mãezinha.

Ai, meu P., sinto que sou o retrato da pombinha de que falei acima. O chumbo feriu-me por todos os lados. A dor é constante. Com a tristeza, parece-me que me faz agonizar. Tudo me parece mentira, mesmo meu Jesus dizer-me ontem que com um pequeno voo repousava n’Ele para sempre. Parece-me que nunca mais posso voar para Ele nem possuí-Lo.

A noite passei-a muito doentinha e muito alerta. Apesar de muito sofrimento, sentia-me presa a Jesus Sacramentado com fortes cadeias. De boa vontade não dormia um só minuto, para estar alerta, sempre alerta com Jesus Sacramentado. Adeus, perdoe a esta desconsolada que sente a necessidade de estar sempre a escrever para falar de Jesus…

A 13-III-40:

Na manhãzinha de hoje era na dor, na dúvida e na amargura que eu me preparava para receber a Jesus. Veio Ele baixar ao meu coração. Sentia tantas ânsias de O amar! Mas todas ficaram escondidas debaixo da enorme dor que me cobria. Eu não podia nem sabia dizer outra coisa, a não ser:

Meu Jesus, eu quero amar-Vos, meu Jesus, eu quero amar-Vos.

Murmurava isto continuamente mas sem sentir o mínimo bocadinho de amor. Estava inquieta e desanimada. Veio Nosso Senhor e disse-me:

– Paz, paz, minha filha, na tua alma. Tu amas-Me com um amor puro e abrasador que nele podia queimar-se o mun­do inteiro. Coragem, que em pouco te espera o Céu! Aca­ricia-te Jesus e a tua Mãezinha.

A dor que eu sentia antes, tinha desaparecido. Voltou de repente para mais me fazer sofrer. Estava tão ferida e esmagadinha! As ânsias continuavam; o peso esmagador não as deixava sobressair. Mas eu queria amar a Jesus; para Lhe dar a prova do meu amor, queria abrir o peito, arrancar fora o coração, com abraços os mais ternos e beijos os mais doces, com os raios de amor mais abrasador, atirá-lo da terra ao Céu e dizer:

Tomai-o, meu Jesus, é vosso; pertence-Vos só para Vos amar.

Esta prova não me bastava: desejava mais ainda: retalhar todo o meu corpo em bocadinhos; dele tirar o meu sangue até à última gota. Se fosse possível deste meu pobre corpo tirar um mar de sangue, para eu mesma poder escrever com ele em toda a terra:

JESUS, EU AMO-VOS! AMEM TODOS A JESUS!

Ai, meu Padre, queria dizer tudo e não sei dizer nada. Fico inconsolável por não ser capaz de mostrar os meus desejos de amor a Jesus. As minhas ânsias ficam todas debaixo no negro mundo que me esmaga...

 

Depois destas palavras sublimes, fiquemos por aqui, advertindo que cartas parecidas às que aqui deixamos, como amostra, há imensas. A sua leitura basta, a nosso ver, para concluirmos que anda aí o dedo de Deus. É a conclusão a que têm chegado quantos puderam apreciar alguns desses escritos, como por exemplo o Rev. Dr. Molho de Faria, que a propósito nos escrevia de Braga, a 2-III-43:

Li a carta que se dignou de enviar com excertos dos escritos da Alexandrina (acerca da Consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria), em que parece já se vai historiando o acontecimento máximo qual é a Consagração do mundo ao Coração de Maria. Queria dizer-lhe que nos diga ainda muito mais nesta matéria. A causa santa o exige. Creia que o triunfo pleno está próximo. Gostei e admirei, nas cartas que teve a gentileza de me ceder, sobretudo o espírito de simplicidade e máxima confiança em Deus. Há tanta beleza e exactidão em algumas coisas de real dificuldade teológica que, ao sabermos donde procedem, não podemos deixar de ver claramente o dedo de Deus. Há ainda modos de exprimir, figuras de uma tal grandiosidade, ao expor certos desejos e afectos, que logo temos que admitir um sentir altíssimo. Creia que um dia se fará plena justiça.


[1] Formam certamente vários grossos volumes; como se sabe, o autor não conhecia toda a extensão da obra da Alexandrina (nota do editor).
[2] Já anteriormente explicámos porquê.
[3] A razão porque ela a cada passo repete esta frase, é porque Nosso Senhor lhe disse que Lhe dava prazer ouvi-la repetir.
[4] Para compreender estas expressões tão originais, não esquecer que Nosso Senhor lhe dizia que a fez vítima pelo mundo.

   

 

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