12:00 ÀS 13:00 hs. JESUS E DESPOJADO DAS VESTES E CRUCIFICADO.
...
Vós renegastes o Santo e o Justo... Matastes o Príncipe da
vida... (At 3, 14-15)
O
GÓLGOTHA
Jesus, querendo purificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu
fora das portas. Saiamos, pois, a ele fora da entrada, levando a sua
ignomínia. (Heb 13, 12-13)
Conduziram Jesus ao lugar chamado Gólgota, que quer dizer lugar do
crânio. (Mc 15, 22)
DIVIDEM AS SUAS VESTES
...
Repartiram as suas vestes, tirando a sorte sobre elas... (Mc 15, 24)
Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e
fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém,
toda tecida de alto a baixo, não tinha costura. Disseram, pois, uns
aos outros: Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver
de quem será. Assim se cumpria a Escritura: Repartiram entre si as
minhas vestes e deitaram sorte sobre a minha túnica (Sl 21,19). Isso
fizeram os soldados. (Jo 19, 23-24)
O
MOTIVO DA CONDENAÇÃO
“Sou
EU, quem ME sagrei um REI, em Sião, Minha montanha santa...” (Sal 2,
6)
Por
cima de sua cabeça pendia esta inscrição: Este é o rei dos
judeus. (Lc 23, 38)
Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz.
Nela estava escrito: Jesus de Nazaré, rei dos judeus. Muitos dos
judeus leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da
cidade e a inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego.
Os sumos sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos: Não escrevas: Rei
dos judeus, mas sim: Este homem disse ser o rei dos judeus.
Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi. (Jo 19, 19-22)
JESUS É PREGADO NA CRUZ E CONTADO ENTRE OS MALFEITORES
“...
Traspassaram minhas mãos e meus pés: poderia contar todos os meus
ossos....” (Sal 21, 17-18)
“Que
ferimentos são esses em tuas mãos? São ferimentos que recebi na casa
de meus amigos”... (Zac 13, 6)
“...
Gólgotha. Ali o crucificaram...” (Jo 19, 18)
Crucificaram com ele dois bandidos: um à sua direita e outro à
esquerda. [Cumpriu-se assim a passagem da Escritura que diz: Ele foi
contado entre os malfeitores (Is 53,12).] (Mc 15, 27-28)
JESUS É ULTRAJADO NA CRUZ
Eu,
porém, sou um verme, não sou homem, o opróbrio de todos e a abjeção
da plebe. Todos os que me vêem zombam de mim; dizem, meneando a
cabeça: Esperou no Senhor, pois que ele o livre, que o salve, se o
ama. (Sal 21, 7-9)
...Se é rei de Israel, desça agora da cruz e nós creremos nele! (Mt
27, 42)
Os
que iam passando injuriavam-no e abanavam a cabeça, dizendo: Olá! Tu
que destróis o templo e o reedificas em três dias, salva-te a ti
mesmo! Desce da cruz! Desta maneira, escarneciam dele também os
sumos sacerdotes e os escribas, dizendo uns para os outros: Salvou a
outros e a si mesmo não pode salvar! Que o Cristo, rei de Israel,
desça agora da cruz, para que vejamos e creiamos! Também os que
haviam sido crucificados com ele o insultavam. (Mc 15, 29-32)
A
PRIMEIRA PALAVRA NA CRUZ
“Foi
ELE que intercedeu pelos culpados... (Is 53, 12)
E
Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem. (Lc 23,
34)
A
SEGUNDA PALAVRA DE JESUS
“O
justo, Meu Servo, justificará a muitos...” (Is 53,11)
“Ainda hoje estarás coMigo no Paraíso” (Lc 23, 43)
Um
dos malfeitores, ali crucificados, blasfemava contra ele: Se és o
Cristo, salva-te a ti mesmo e salva-nos a nós! Mas o outro o
repreendeu: Nem sequer temes a Deus, tu que sofres no mesmo
suplício? Para nós isto é justo: recebemos o que mereceram os nossos
crimes, mas este não fez mal algum. E acrescentou: Jesus, lembra-te
de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em
verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso. (Lc 23,39-43)
VINHO COM MIRRA E FEL
“Puseram fel no Meu alimento... (Sal 68, 22)
Deram-lhe de beber vinho misturado com fel. Ele provou, mas se
recusou a beber. (Mt 27, 34)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo
as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Os carrascos despem Jesus para a crucificação e oferecem-Lhe
vinagre.
Dirigiram-se então quatro carrascos à masmorra subterrânea, situada
a setenta passos ao norte; Jesus rezava todo o tempo a Deus, pedindo
força e paciência e oferecendo-se mais uma vez em sacrifício
expiatório, pelos pecados dos inimigos. Os carrascos
arrancaram-no para fora e, empurrando, batendo e insultando-O,
levaram-no para o suplício. O povo olhava e insultava; os soldados,
frios e altivos, mantinham a ordem, dando-se ares de importância; os
carrascos, cheios de raiva sanguinária, arrastaram Jesus brutalmente
para o largo do suplício.
Quando
as santas mulheres viram Jesus chegar, deram dinheiro a um homem,
que o devia levar, junto com vinho aromático, aos carrascos, para
que esses o dessem a Jesus a beber. Mas esses criminosos não Lho
deram, mas beberam-no depois. Tinham lá dois vasos de cor parda, dos
quais um continha vinagre misturado com fel e o outro uma espécie de
vinagre, que afirmavam ser vinho, com mirra e absinto; dessa bebida
ofereceram um copo pardo, a Jesus, que apenas o provou, tocando-o
com os lábios, mas não bebeu.
Estavam
no lugar do suplício dezoito carrascos; os seis que O tinham
açoitado, quatro que O conduziram, dois que suspenderam a
extremidade da cruz pelas cordas e seis que O deviam crucificar.
Parte deles estavam ocupados com Jesus, outros com os ladrões,
trabalhando e bebendo alternadamente. Eram homens baixos, robustos,
sujos e meio nus, de feições estranhas, cabelo eriçado, barba rala:
homens abomináveis e bestiais. Serviam a judeus e romanos por
dinheiro.
O
aspecto de tudo isso era mais terrível ainda, porque eu vi o mal, em
figuras visíveis para mim e invisíveis para os outros. Via grandes e
hediondas figuras de demónios, agindo entre todos esses homens
cruéis; era como se auxiliassem em tudo, aconselhando, passando as
ferramentas; havia inúmeras aparições de figuras pequenas e
medonhas, de sapos, serpentes e dragões de muitas garras, vi todas
as espécies de insectos venenosos voarem em redor e escurecerem o
ar.
Entravam na boca e no coração dos assistentes ou pousavam-lhes nos
ombros; eram homens cujos corações estavam cheios de pensamentos de
ódio e maldade ou que proferiam palavras de maldição e escárnio.
Acima do Senhor, porém, vi várias vezes, durante a crucifixão,
aparecerem grandes figuras angélicas, que choravam e aparições
luminosas, nas quais distingui apenas pequenos rostos. Vi aparecer
tais Anjos de compaixão e consolo também sobre a Santíssima Virgem e
todos os bons, confortando e animando-os.
Os
carrascos tiraram então o manto do Senhor, que lhe tinha antes
enrolado em redor do peito; tiraram-Lhe o cinturão, com as cordas e
o próprio cinto. Despiram-no da longa veste de lã branca, passando-a
pela cabeça, pois estava aberta no peito, ligada com correias.
Depois lhe tiraram a longa faixa estreita, que caia do pescoço sobre
os ombros e como não Lhe podiam tirar a túnica sem costuras, por
causa da coroa de espinhos, arrancaram-Lhe a coroa da cabeça,
reabrindo assim todas as feridas; arregaçando depois a túnica,
puxaram-lha, com vis gracejos, pela cabeça ferida e sangrenta.
Lá
estava o Filho do Homem, coberto de sangue, de contusões, de feridas
fechadas ou outras ainda sangrentas, de pisaduras e manchas escuras.
Estava apenas vestido ainda do curto escapulário de lã sobre o peito
e costas e da faixa que cingia os rins. O escapulário de lã aderira
às feridas secas e estava colado com sangue na nova ferida profunda,
que o peso da cruz Lhe fizera no ombro e que Lhe causava um
sofrimento indizível.
Os
carrascos arrancaram-lhe o escapulário impiedosamente do peito e
assim ficou Jesus em sangrenta nudez, horrivelmente dilacerado e
inchado, coberto de chagas. No ombro e nas costas se Lhe viam os
osso, através das feridas e a lã branca do escapulário ainda estava
colada em algumas feridas e no sangue ressecado do peito.
Arrancaram-Lhe então a última faixa de pano da cintura e eis que
ficou de todo nu e curvou-se, cheio de confusão e vergonha; e como
estava a ponto de cair, sob as mãos dos carrascos, sentaram-no sobre
uma pedra, pondo-Lhe novamente a coroa de espinhos sobre a cabeça e
ofereceram-Lhe a beber do outro vaso, que continha vinagre com fel;
mas Jesus desviou a cabeça em silêncio.
Quando,
porém, os carrascos O pegaram pelos braços, com que cobria a nudez e
O levantaram, para estendê-Lo sobre a cruz, ouviram-se gritos de
indignação e descontentamento e os lamentos dos amigos por essa
vergonha e ignomínia.
A Mãe
Santíssima suplicou a Deus com ardor; já estava a ponto de tirar o
véu da cabeça e, abrindo caminho por entre os carrascos, oferecê-lo
ao Divino Filho. Mas Deus ouvira-lhe a oração; pois nesse
momento um homem, vindo da porta e correndo todo o caminho com as
vestes arregaçadas, atravessou o povo e precipitou-se ofegante entre
os carrascos e entregou um pano a Jesus que, agradecendo-lhe, o
aceitou e cobriu a nudez, cingindo-O à moda dos orientais, passando
a parte mais comprida por entre as pernas e ligando-a com a outra em
redor da cintura. Esse benfeitor do Divino Redentor, enviado para
atender à súplica da SS. Virgem, tinha na sua impetuosidade algo de
imperioso; ameaçou os carrascos com o punho e disse apenas: “Tomem
cuidado de não impedir este homem de cobrir-se”. Não falou com
ninguém mais e retirou-se tão rapidamente como tinha vindo.
Era
Jonadab, sobrinho de São José, da região de Belém,
filho daquele irmão a quem José, depois do nascimento de Jesus,
empenhara o jumento. Não era amigo declarado de Jesus; também nesse
dia se tinha mantido afastado e limitara-se observar tudo de longe. Já
quando ouvira contar que Jesus fora despido na flagelação,
ficara muito indignado; depois, quando se aproximou a hora da
crucificação, estava no Templo e sentia uma indizível angústia.
Quando a Mãe de Jesus, no Gólgota, dirigiu o grito da alma a Deus,
sentiu Jonadab de repente um impulso irresistível de correr do Tempo
ao Calvário para cobrir a nudez do Senhor. Sentia na alma uma viva
indignação contra o ato ignominioso de Cam, que rira da nudez de
Noé, embriagado pelo vinho e sentiu-se impelido a correr, como um
novo Sem, para cobrir a nudez do lagareiro. Os crucificadores eram
os Camitas e Jesus pisava as uvas no lagar, para o vinho novo,
quando Jonadab veio cobri-lo. Essa acção foi mais tarde
recompensada, como vi e hei-de contar.
Jesus é pregado na cruz.
Jesus,
imagem viva da dor, foi estendido pelos carrascos sobre a cruz; Ele
próprio se sentou sobre ela e eles brutalmente O deitaram de costas.
Colocaram-Lhe a mão direita sobre o orifício do prego, no braço
direito da cruz e aí lhe amarraram o braço. Um deles se ajoelhou
sobre o santo peito, enquanto outro lhe segurava a mão, que se
estava contraindo e um terceiro colocou o cravo grosso e comprido,
com a ponta limada, sobre essa mão cheia de bênção e cravou-o nela,
com violentas pancadas de um martelo de ferro. Doces, e claros
gemidos ouviram-se da boca do Senhor; o sangue sagrado salpicou
os braços dos carrascos; rasgaram-Lhe os tendões da mão, os quais
foram arrastados, com o prego triangular, para dentro do estreito
orifício. Contei as marteladas, mas esqueci, na minha dor, esse
número. A Santíssima Virgem gemia baixinho e parecia estar sem
sentidos exteriormente; Madalena estava desnorteada.
As
verrumas eram grandes peças de ferro, da foram de um T; não havia
nela nada de madeira. Também os pesados martelos eram, como os
cabos, de ferro e todos de uma peça inteiriça; tinham quase a forma
dos martelos de pau que os marceneiros usam entre nós, trabalhando
com formão.
Os
cravos, cujo aspecto fizera tremer Jesus, eram de tal tamanho que,
seguros pelo punho, excediam em baixo e em cima cerca de uma
polegada. Tinham cabeça chata, da largura de uma moeda de cobre, com
uma elevação cônica no meio. Tinham três gumes; na parte superior
tinham a grossura de um polegar e na parte inferior a de um dedo
pequeno; a ponta fora aguçada com uma lima; cravados na cruz,
vi-lhes a ponta sair um pouco do outro lado dos braços da cruz.
Depois
de terem pregado a mão direita de Nosso Senhor, viram os
crucificadores que a mão esquerda, que tinham também amarrado ao
braço da cruz, não chegava até o orifício do cravo, que tinham
perfurado a duas polegadas distante das pontas dos dedos. Por isso
ataram uma corda ao braço esquerdo do Salvador e, apoiando os pés
sobre a cruz, puxaram a toda força, até que a mão chegou ao orifício
do cravo. Jesus dava gemidos tocantes; pois deslocaram-Lhe
inteiramente os braços das articulações; os ombros, violentamente
distendidos, formavam grandes cavidades axilares, nos cotovelos se
viam as junturas dos ossos.
O peito
levantou-se-Lhe e as pernas encolheram-se sobre o corpo. Os
carrascos ajoelharam-se sobre os braços e o peito, amarram-lhe
fortemente os braços e cravaram-Lhe então cruelmente o segundo prego
na mão esquerda; jorrou alto o sangue e ouviram-se os agudos
gemidos de Jesus, por entre as pancadas do pesado martelo. Os
braços do Senhor estavam tão distendidos, que formavam uma linha
recta e não cobriam mais os braços da cruz, que subiam em linha
obliqua; ficava um espaço livre entre esses e as axilas do Divino
Mártir.
A
SS. Virgem sentiu todas essas torturas com Jesus;
estava de uma palidez cadavérica e fracos gemidos saiam-lhe da
boca. Os fariseus dirigiram insultos e zombarias para o lado onde
ela estava; por isso os amigos conduziram-na para junto das
outras santas mulheres, que estavam um pouco mais afastadas do lugar
do suplício. Madalena estava como louca; feria o rosto de modo que
tinha as faces e os olhos cheios de sangue.
Havia
na cruz, em baixo, talvez a um terço da respectiva altura, uma peça
de madeira, fixa por um prego muito grande, destinada a suportar os
pés de Jesus, afim de que ficasse mais em pé do que suspenso; de
outro modo as mãos teriam sido rasgadas pelo peso do corpo e os pés
não poderiam ser pregados sem quebrá-los. Nessa peça de madeira
tinham perfurado o orifício para o cravo. Tinham também feito uma
cavidade para os calcanhares, como também havia outras, em vários
pontos da cruz, para que o Mártir pudesse ficar suspenso mais tempo
e o peso do corpo não Lhe rasgasse as mãos, fazendo-O cair.
Todo o
corpo de nosso Salvador tinha-se contraído para o alto da cruz, pela
violenta extensão dos braços e os joelhos tinham-se-Lhe dobrado. Os
carrascos lançaram-se então sobre esses e, por meio de cordas,
amarraram-nos ao tronco da cruz; mas pela posição errada dos
orifícios dos cravos, os pés ficavam longe da peça de madeira que os
devia suportar. Então começaram os carrascos a praguejar e insultar.
Alguns julgavam que se deviam furar outros orifícios para os pregos
das mãos; pois mudar o suporte dos pés era difícil. Outros fizeram
horrível troça de Jesus: “Ele não quer estender-se, disseram, mas
nós Lhe ajudaremos”.
Atando
cordas à perna direita, puxaram-na com horrível violência, até o pé
tocar no suporte e amarraram-na à cruz. Foi uma deslocação tão
horrível, que se ouvia estalar o peito de Jesus, que gemia alto: “Ó
meu Deus! Meu Deus!” Tinham-Lhe amarrado também o peito e os
braços, para os pregos não rasgarem as mãos; o ventre
encolheu-se-Lhe inteiramente, as costelas pareciam a ponto de
destacar-se do esterno. Foi uma tortura horrorosa.
Amarraram depois o pé esquerdo com a mesma brutal violência,
colocando-o sobre o pé direito e como os pés não repousavam com
bastante firmeza sobre o suporte, para serem pregados juntos,
perfuraram primeiro o peito do pé esquerdo com um prego mais fino e
de cabeça mais chata do que os cravos, como se fura a sovela. Feito
isso, tomaram o cravo mais comprido que o das mãos, o mais horrível
de todos e, passando-o brutalmente pelo furo feito no pé esquerdo,
atravessaram-lhe a marteladas o direito, cujos ossos estalavam, até
o cravo entrar no orifício do suporte e, através desse, no tronco da
cruz. Olhando de lado a cruz, vi como o prego atravessou os dois
pés.
Essa
tortura era a mais dolorosa de todas, por causa da distensão de todo
o corpo. Contei 36 golpes de martelo, no meio dos gemidos claros e
penetrantes do pobre Salvador; as vozes em redor, que proferiam
insultos e maldições, pareciam-me sombrias e sinistras.
A
Santíssima Virgem tinha voltado ao lugar do suplício;
a deslocação do corpo do Filho adorado, o som das marteladas e os
gemidos de Jesus, causaram-lhe tão veemente dor e compaixão, que
caiu novamente nos braços das companheiras, o que provocou um
ajuntamento de povo.
Então
acorreram alguns fariseus a cavalo, insultando-as e os amigos
afastaram-na outra vez a alguma distância. Durante a crucifixão e
a elevação da cruz, que se lhe seguiu, se ouviam, especialmente
entre as mulheres, gritos de compaixão, como: “Porque a terra não
traga esses miseráveis? Porque não cai fogo do céu, para os
devorar?” - A essas manifestações de amor respondiam os
carrascos com insultos e escárnio.
Os
gemidos que a dor arrancava de Jesus, misturavam-se com contínua
oração; recitava trechos dos salmos e dos profetas, cujas predições
nessa hora cumpria; em todo o caminho da cruz, até à morte, não
cessava de rezar assim e de cumprir as profecias. Ouvi e rezei com
Ele todas essas passagens e às vezes me lembro delas, quando rezo os
salmos; mas fiquei tão acabrunhada com o martírio de meu Esposo
celeste, que não sei mais juntá-las. – Durante esse horrível
suplício, vi Anjos a chorar aparecerem acima de Jesus.
O
comandante da guarda romana fizera pregar no alto da cruz a tábua,
como título que Pilatos escrevera. Os fariseus estavam indignados
porque os romanos se riam alto do título “Rei dos judeus”.
Por isso voltaram alguns fariseus à cidade, depois de ter tomado
medida para uma outra inscrição, para pedir a Pilatos novamente
outro título.
Enquanto Jesus era pregado à cruz, estavam ainda alguns homens a
trabalhar na escavação em que a cruz devia ser colocada; pois era
estreita a cova e a rocha muito dura. Alguns dos carrascos, em vez
de dar a Jesus para beber o vinho aromático trazido pelas santas
mulheres, beberam-no eles mesmos e ficaram embriagados; queimava-lhe
as entranhas e causava-lhes tanta dor nos intestinos, que ficaram
desvairados; insultavam a Jesus, chamando-O de feiticeiro e
enfureciam-se à vista da paciência do Divino Mestre; desceram várias
vezes o Calvário, a correr, para beber leite de jumenta. Havia lá
perto algumas mulheres, que pertenciam a um acampamento de
peregrinos, vindos para a festa da Páscoa, as quais tinham jumentas,
cujo leite vendiam.
Pela
posição do sol era cerca de doze horas e um quarto, quando Jesus foi
crucificado. No momento em que
elevaram a cruz, ouviu-se do Templo o soar de muitas trombetas: Era
a hora em que imolavam o cordeiro pascal.
Elevação da cruz.
Depois
de terem pregado Nosso Senhor à cruz, ataram cordas na parte
superior da mesma, por meio de argolas, lançaram as cordas sobre o
cavalete antes erigido no lado oposto e puxaram a cruz pelas cordas,
de modo que a parte superior se lhe ergueu; alguns dirigiram-se com
paus munidos de ganchos, que fincaram no tronco e fizeram o pé da
cruz entrar na cova. Quando o madeiro chegou à posição vertical,
entrou na escavação com todo o peso e tocou no fundo com um terrível
choque. A cruz tremeu do abalo e Jesus soltou um grito de dor;
pelo peso vertical desceu-lhe o corpo, as feridas
alargaram-se-Lhe, o sangue corria mais abundantemente e os ossos
deslocados entrechocaram-se. Os carrascos ainda sacudiram a cruz,
para a por mais firme e fincaram cinco cunhas na nova, em redor da
cruz: uma na frente, uma do lado direito, outra do lado esquerdo e
duas atrás, onde o madeiro estava um pouco arredondado.
Foi uma
impressão terrível e ao mesmo tempo comovedora, quando, sob os
gritos insultuosos dos carrascos e dos fariseus, como também de
muitos homens do povo, mais afastados, a cruz se elevou, balançando
e entrou estremecendo na escavação; ouviram-se também vozes piedosas
de compaixão, as vozes mais santas da terra: a da Mãe Santíssima,
de João, das amigas e de todos que tinham um coração puro, saudaram
com expressão dolorosa o Verbo eterno, feito carne e elevado sobre a
cruz. Estenderam as mãos ansiosamente como para o segurar,
quando o Santo dos santos, o Esposo de todas as Almas, pregado vivo
na cruz, foi elevado pelas mãos dos pecadores enfurecidos.
Quando,
porém, o madeiro erguido com estrondo, entrou na respectiva cova, houve
um momento de silêncio solene; todo o mundo parecia experimentar uma
sensação nova, nunca até então sentida. O próprio inferno sentiu
assustado o choque do lenho sobre a rocha e levantou-se contra ele,
redobrando nos seus instrumentos humanos o seu furor e os insultos.
Nas almas do purgatório e do limbo, porém, causou alegria e
esperança: soava-lhes como o bater do triunfador às portas da
Redenção. A santa Cruz estava pela primeira vez plantada no meio da
terra, como aquela árvore da vida no Paraíso e das chagas dilatadas
do Cristo corriam quatro rios santos sobre a terra, para expiar a
maldição, que pesava sobre ela e para fertilizar e a tornar um
paraíso do novo Adão.
Quando o nosso Salvador foi elevado na cruz e os gritos de insulto
foram interrompidos por alguns minutos de silencioso espanto,
ouvia-se do Templo o som de muitas trombetas, que anunciavam o
começo da imolação do cordeiro pascal, do
símbolo, interrompendo de um modo solene e significativo os gritos
de furor e de dor, em redor do verdadeiro Cordeiro de Deus,
imolado na cruz. Muitos corações endurecidos foram abalados e
pensaram nas palavras do precursor, João Batista: “Eis aí o
Cordeiro de Deus, que tomou sobre si os pecados do mundo”.
O lugar
onde fora plantada a cruz, estava elevado cerca de dois pés acima do
terreno em redor. Quando a cruz ainda se achava fora da cova,
estavam os pés de Jesus à altura de um homem, mas depois de
introduzida na respectiva escavação, podiam os amigos chegar aos pés
do Mestre, para os abraçar e beijar. Havia um caminho para essa
elevação. O rosto de Jesus estava virado para nordeste.
A
crucificação dos ladrões.
Durante
a crucifixão do Senhor jaziam os ladrões, de costas, com as mãos
ainda amarradas aos madeiros transversais das cruzes, que tinham
sobre a nuca, ao lado do caminho, na encosta oriental do Calvário;
estava com eles na guarda. Suspeitos de terem assassinado uma mulher
judaica, com os filhos, no caminho de Jerusalém a Jope, foram presos
num castelo daquela região, onde morava às vezes Pilatos, por
ocasião das manobras do exército e onde se apresentaram como ricos
negociantes. Tinham estado muito tempo no cárcere, antes do
julgamento e da condenação. Esqueci os pormenores. O ladrão do lado
esquerdo era o mais velho e grande criminoso, o sedutor e mestre do
outro. Geralmente são chamados Dimas e Gesmas; esqueci-lhes os nomes
verdadeiros; vou chamar, por isso, ao bom Dimas e ao mau Gesmas.
Ambos
pertenciam à quadrilha de salteadores que, nas fronteiras do Egito,
tinham dado agasalho à Sagrada Família, com o menino Jesus, na fuga
para o Egipto. Dimas fora o menino morfético que, a conselho de
Maria, fora lavado pela mãe na água em que o menino Jesus se tinha
banhado e que ficara curado no mesmo instante. A caridade e a
protecção que a mãe proporcionara à Sagrada Família, fora
recompensada naquela ocasião pela cura simbólica, que se realizou na
cruz, quando foi limpo pelo sangue de Jesus. Dimas caíra em muitos
crimes, mas não era perverso; não conhecia Jesus, a paciência do
Senhor comoveu-o.
Enquanto jaziam por terra, falava sem cessar de Jesus com o
companheiro: “Maltratam horrivelmente este Galileu, dizia, o que
Ele fez, pregando a nova doutrina, deve se pior do que os nossos
crimes; mas Ele tem grande paciência e poder sobre todos os homens”. –
Gesmas respondeu: “Que poder tem? Se fosse tão poderoso, como
dizem, podia salvar-nos todos”. Desse modo continuavam a falar e
quando a cruz do Senhor foi elevada, vieram carrascos dizer-lhes:
“Agora é a vossa vez” e arrastaram-nos para o lugar do suplício.
Desamarraram-nos dos madeiros transversais a toda a pressa, pois o
sol já se escurecia e havia um movimento na natureza: como se uma
tempestade se aproximasse.
Os
carrascos encostaram escadas às árvores das cruzes e ajustaram os
lenhos transversais em cima, com cavilhas. No entanto deram a beber
aos ladrões vinagre misturado com mirra e vestiram-lhe o gibão já
roto, ataram-lhes cordas nos braços e lançando-as sobre os braços da
cruz, puxaram-nos para cima, obrigando-os, a pancadas e pauladas, a
subir pelos paus que estavam fincados no tronco das cruzes. Nos
madeiros transversais e nos troncos já estavam amarradas as cordas,
que pareciam ser feitas de cortiça torcida.
Os
braços dos condenados foram amarrados aos madeiros transversais;
ataram-lhes os pulsos e cotovelos, como também os joelhos e os pés à
cruz e apertaram-nos com tanta violência, torcendo as cordas por
meio de paus, que os ossos estalavam e o sangue lhes esguichou dos
músculos. Os infelizes soltaram gritos horríveis e Deimas, o bom
ladrão, disse: “Se nos tivésseis tratado como a este Galileu, não
teríeis mais o trabalho de puxar-nos aqui para cima”.
Os carrascos tiram à sorte as vestes de Jesus.
Os
carrascos juntaram as vestes de Jesus no lugar onde tinham jazido os
ladrões e fizeram delas vários lotes, para tirar à sorte. O manto
era mais largo em baixo do quem em cima e tinha várias pregas; sobre
o peito estava dobrado e formava assim bolsos. Rasgaram-no em várias
tiras, como também a longa veste branca, aberta no peito, onde havia
correias para atá-la e distribuíram-nas pelos lotes; assim fizeram
também várias partes da faixa de pano que vestia em volta do
pescoço, do cinto, do escapulário e do pano com que cobria o corpo;
todas estas vestes estavam ensopadas do sangue do Nosso Senhor.
Como,
porém, não chegaram a um acordo a respeito da túnica sem costuras,
que, rasgada em partes, não serviria mais para nada, tomaram uma
tabuleta com algarismos e dados em forma de favas, com marcas, que
trouxeram consigo e jogando esses dados, tiraram à sorte a túnica.
Viu-lhes, porém, um mensageiro de Nicodemos e José de Arimatéia,
dizendo-lhe que ao pé do Calvário havia quem quisesse comprar as
vestes de Jesus; juntaram então depressa todas as vestes e, correndo
para baixo, venderam-nas; assim ficaram essas relíquias com os
cristãos.
Jesus crucificado e os ladrões.
Depois
do violento choque da cruz, a cabeça de Jesus, coroada de espinhos,
foi fortemente abalada e derramou grande abundância de sangue;
também das chagas das mãos e dos pés correu o sangue em torrentes.
Os carrascos subiram então pelas escadas e desataram as cordas com
que tinham amarrado o santo corpo, para que o abalo não o fizesse
cair. O sangue, cuja circulação fora quase impedida pela forte
pressão das cordas e pela posição horizontal, afluiu-Lhe então de
novo por todo o corpo e as chagas, renovando todas as dores e
causando-Lhe um forte atordoamento. Jesus deixou cair a cabeça sobre
o peito e ficou suspenso como morto, cerca de sete minutos.
Houve
um momento de calma. Os carrascos estavam ocupados em repartir as
vestes de Jesus; o som das trombetas perdia-se no ar, todos os
assistentes estavam exaustos de raiva ou de dor. Olhei, cheia de
susto e compaixão, para meu Jesus, meu Salvador, a Salvação do
mundo; vi-O imóvel, desfalecido de dor, como morto e eu também
estava à morte; pensava antes morrer do que viver.
Minha alma estava cheia de amargura, de amor e dor; minha cabeça,
que eu sentia cercada de uma rede de espinhos, fazia-me quase
endoidecer de dor; minhas mãos e meus pés eram como fornalhas
ardentes; dores indizíveis passavam-me, como milhares de raios,
pelas veias e nervos, encontrando-se e lutando em todos os membros
interiores e exteriores de meu corpo, tornando-se uma nova fonte de
sofrimentos. E todos esses terríveis
tormentos não eram senão amor e todo esse fogo penetrante de dores
era contudo uma noite, em que não vi senão meu Esposo, o Esposo de
todas as almas, pregado à cruz e contemplava-O com muita tristeza e
muita consolação.
A
cabeça de Jesus, com a horrível coroa, com o sangue que Lhe enchia
os olhos, os cabelos, a barba e a boca ardente, meio entreaberta,
tinha caído sobre o peito e também mais tarde só podia levantar-se
com indizível tortura, por causa da larga coroa de espinhos. O peito
do Divino Mártir estava violentamente dilatado e alçado; os ombros,
os cotovelos e os pulsos distendidos até saírem fora das
articulações; o sangue corria-Lhe das largas feridas das mãos sobre
os braços; o peito levantado deixava em baixo uma cavidade profunda;
o ventre estava encolhido e diminuído; como os braços, estavam
também as coxas e pernas horrivelmente deslocadas.
Os
membros estavam tão horrivelmente distendidos e os músculos e a pele
a tal ponto esticados, que se podiam contar os ossos. O sangue
escorria-Lhe em redor do enorme prego que Lhe traspassava os pés
sagrados, regando a árvore da cruz. o santo corpo estava todo
coberto de chagas, pisaduras vermelhas, manchas amarelas, pardas e
roxas, inchaços e lugares escoriados. As feridas reabriram-se, pela
violenta distensão dos músculos e sangravam em vários lugares; o
sangue que corria, era a princípio ainda vermelho, mas pouco a pouco
se tornou pálido e aquoso e o santo corpo cada vez mais branco; por
fim, tomou a cor da carne em sangue.
Mas,
apesar de toda essa cruel desfiguração, o corpo de Nosso Senhor na
cruz tinha um aspecto extremamente nobre e comovedor; na verdade, o
Filho de Deus, o Amor Eterno, que se sacrificou no tempo, permaneceu
belo, puro e santo nesse corpo do Cordeiro pascal moribundo,
esmagado pelo peso dos pecados de toda a humanidade.
A pele
da Santíssima Virgem, como a de N. Senhor, tinha por natureza, uma
bela cor ligeiramente amarelada, mesclada de um vermelho
transparente. As fadigas e as viagens do Mestre nos anos anteriores,
lhe tinham tornado as faces, sob os olhos e a cana do nariz um pouco
tostadas pelo sol. Jesus tinha um peito largo e forte, branco e sem
pêlo, enquanto o de João Batista estava todo coberto de pelo ruivo.
Tinha ombros largos e os músculos dos braços bem desenvolvidos; as
coxas eram nervosas e musculosas, os joelhos fortes e robustos, como
os de um homem que tem andado muito e rezado muito de joelhos.
Tinha
as pernas compridas e a barriga das pernas fortes, de muito viajar
em terras montanhosas. Os pés eram belos e bem desenvolvidos, a
planta dos pés tinha-se tornado calosa, porque geralmente andava
descalço por caminhos rudes. As mãos eram de bela forma, com os
dedos longos e delgados, não delicados demais, mas também não como
as de um homem que as emprega em trabalhos pesados. Não tinha o
pescoço curto, mas forte e musculoso. A cabeça tinha boas
proporções, não grande demais; a testa era alta e larga e todo o
rosto de um belo e puro oval. O cabelo, de um castanho avermelhado,
não muito grosso, singelamente repartido no alto da cabeça, caia-Lhe
sobre os ombros; a barba não era comprida, mas aparada em ponta e
repartida sob o queixo.
Agora,
porém, o cabelo fora arrancado em grande parte, o resto colado com
sangue; o corpo era uma só chaga, o peito estava como que
despedaçado, o ventre escavado e encolhido; em vários lugares se
viam as costelas, através da pele lacerada; todo o corpo estava de
tal modo distendido e alongado, que não cobria mais inteiramente o
tronco da cruz.
O
madeiro era um pouco arredondado do lado posterior, na frente liso,
com várias escavações; a largura igualava-lhe mais ou menos a
grossura. As diversas partes da cruz eram de madeira de diferentes
cores, umas pardas, outras amarelas; o tronco era mais escuro, como
madeira que tem estado muito tempo na água.
As
cruzes dos ladrões, trabalhadas mais grosseiramente, foram
instaladas ao lado direito e esquerdo do cume, a tal distância da
cruz de Jesus, que um homem podia passar a cavalo entre elas;
estavam um pouco mais baixo e colocadas de modo que olhavam um para
o outro. Um dos ladrões rezava, o outro insultava Jesus que,
olhando para baixo, disse uma coisa a Dinas.
O
aspecto dos ladrões na cruz era horrendo, especialmente o do que
ficava à esquerda, criminoso enraivecido, embriagado, de cuja boca
só saiam insultos e maldições. Os corpos, pendentes da cruz, estavam
horrivelmente deslocados, inchados e cruelmente amarrados. Os rostos
tornaram-se-lhes roxos e pardos, os lábios escuros, tanto da bebida,
como da pressão do sangue; os olhos inchados e vermelhos, quase a
sair das órbitas. Soltavam gritos e uivos de dor, que lhes causavam
as cordas; Gesmas praguejava e blasfemava.
Os
pregos com que os madeiros transversais foram ajustados ao tronco,
forçavam-nos a curvar a cabeça, moviam-se e torciam-se
convulsivamente na tortura e apesar das pernas estarem fortemente
amarradas, um deles conseguiu puxar um pé para cima, de modo que o
joelho dobrado se lhe ergueu um pouco.
Primeira palavra de Jesus na cruz.
Depois
de crucificar os ladrões e de repartir as vestes do Senhor, juntaram
os carrascos todos os instrumentos e ferramentas e, insultado e
escarnecendo mais uma vez a Jesus, foram-se embora. Também os
fariseus, que ainda estavam, montaram nos cavalos e passando diante
de Jesus, dirigiram-lhe muitas palavras insultuosas e seguiram para
a cidade. Os cem soldados romanos, com os respectivos comandantes,
puseram-se também em mancha, pois veio outro destacamento de
cinquenta soldados romanos, ocupar-lhes o lugar.
Esse
destacamento era comandado por Abenadar, árabe de nascimento, que
mais tarde, no baptismo, recebeu o nome de Ctesifon. O oficial
subalterno que estava com essa tropa, chamava-se Cassius; era também
muitas vezes encarregado por Pilatos de levar mensagens; recebeu
depois o nome de Longinus.
Vieram
também a cavalo doze escribas e alguns anciãos do povo, entre os
quais os que foram pedir mais uma vez outra inscrição para o título
da cruz; Pilatos nem os tinha deixado entrar. Cheios de raiva,
andaram a cavalo em redor do lugar do suplício e expulsaram dali a
Santíssima Virgem, chamando-a de mulher perdida. João levou-a para
junto das outras mulheres, que estavam mais afastadas; Madalena e
Marta ampararam-na nos braços.
Quando,
fazendo a volta da cruz, chegaram diante de Jesus, balançaram a
cabeça, dizendo: “Arre! Impostor! Como é que destróis o Templo e
o reedificas em três dias? Queria sempre socorrer os outros e
agora não se pode salvar a si mesmo. – Se és o Filho de Deus,
desce da cruz. Se é o rei de Israel, então desça da cruz e creremos
nele. Sempre confiava em Deus, que Ele venha salvá-Lo agora”. Os
soldados também zombavam, dizendo: “Se és o rei dos judeus, salva-te
agora”.
Quando
Jesus ainda pendia desmaiado, disse Gesmas, o ladrão à esquerda: “O
demónio abandonou-O”. Um soldado fincou então uma esponja embebida
em vinagre sobre a ponta de uma vara e chegou-a aos lábios de Jesus,
que pareceu chupar um pouco. As zombarias continuavam. O soldado
disse: “Se és o rei dos judeus, salva-te.” Tudo isso se deu enquanto
o destacamento anterior era substituído pelo de Abenadar.
Jesus
levantou um pouco a cabeça e disse: “Meu Pai, perdoai-lhes,
porque não sabem o que fazem”; depois continuou a rezar em
silêncio. Então gritou Gesmas: “Se és o Cristo, salva-te a ti e a
nós”. Escarneciam-no sem cessar; mas Dimas, o ladrão da direita,
ficou muito comovido, ouvindo Jesus rezar pelos inimigos. Quando
Maria ouviu a voz de seu Filho, ninguém mais pôde retê-la: penetrou
no círculo do suplício: João, Salomé e Maria, filha de Cléofas,
seguiram-na. O centurião não as expulsou.
Dimas,
o bom ladrão, obteve pela oração de Jesus uma iluminação Interior,
no momento em que a Santíssima Virgem se aproximou. Reconheceu em
Jesus e em Maria as pessoas que o tinham curado, quando era criança
e exclamou em voz forte e distinta: “O que? É possível que
insulteis Àquele que reza por vós? Ele se cala, sofre com paciência,
reza por vós e vós o cobris de escárnio? Ele é um profeta, é nosso
rei, é o Filho de Deus”. A essa inesperada repreensão da boca de
um miserável assassino, suspenso na cruz, deu-se um tumulto entre os
escarnecedores; apanhando pedras, quiseram apedrejá-lo ali mesmo.
Mas o centurião Abenadar não o permitiu; mandou dispersa-los e
restabeleceu a ordem.
Durante esse tempo a Santíssima Virgem se sentia confortada pela
oração de Jesus. Dimas, porém, disse a
Gesmas, que gritara a Jesus: “Se és o Cristo, salva-te a ti e a nós”
– “Também tu não temes de Deus, apesar de sofreres o mesmo
suplício que Ele? Quanto a nós, é muito justo, pois recebemos o
castigo de nossos crimes; este, porém, não fez mal algum. Pensa
nisto, nesta última hora e converte-te de coração”. Essas
palavras e outras mais disse a Gesmas, pois estava todo comovido e
iluminado pela graça; confessou suas faltas a Jesus e disse: “Senhor,
se me condenardes, será muito justo; mas tende misericórdia de mim”. Respondeu
Jesus: “Experimentarás a Minha misericórdia”. Dimas recebeu,
por um quarto da hora, a graça de um profundo arrependimento.
Tudo
que acabo de contar agora, se deu pela maior parte ao mesmo tempo ou
sucessivamente, entre as doze horas e doze e meia, pelo sol, alguns
minutos depois da exaltação da cruz. Mas dai a pouco mudaram
rapidamente os sentimentos nos corações da maior parte dos
assistentes; pois enquanto o bom ladrão ainda estava falando, eis
que se deu na natureza um fenómeno extraordinário, que encheu de
pavor todos os corações. |