13:00 ÀS 14:00 hs. JESUS NOS DEIXA MARIA POR MÃE.
Derramo-me como água, todos os meus ossos se desconjuntam; meu
coração tornou-se como cera, e derrete-se nas minhas entranhas.
Minha garganta está seca qual barro cozido, pega-se no paladar a
minha língua: vós me reduzistes ao pó da morte. (Sal 21, 15-16)
AS MULHERES PERTO DA CRUZ
“Havia
ali também algumas mulheres que de longe olhavam” (Mt 27, 54)
Achavam-se ali também umas mulheres, observando de longe, entre as
quais Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, o Menor, e de José, e
Salomé, que o tinham seguido e o haviam assistido, quando ele estava
na Galiléia; e muitas outras que haviam subido juntamente com ele a
Jerusalém. (Mc 15, 40-41)
A
MÃE DE JESUS DEBAIXO DA CRUZ
Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino
está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para
muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará
contradições, a fim de serem revelados os pensamentos de muitos
corações... (Lc 2, 34-35)
“E
uma espada transpassará a tua alma”. (Lc 2, 35)
Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe,
Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena. (Jo 19, 25)
A
TERCEIRA PALAVRA DE JESUS NA CRUZ
“Entre penas darás à luz aos teus filhos...” (Gen. 3, 16)
Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o discípulo que amava, disse à
sua mãe: Mulher, eis aí teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí
tua mãe. E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua
casa. (Jo 19, 26-27)
AS TREVAS SOBRE A TERRA
...
Velarei os céus, obscurecerei as estrelas, cobrirei o solo de
nuvens, e a lua cessará de clarear... Sobre a terra estenderei
trevas... (Ez 32, 7-8)
“Escureceu-se o sol...” (Lc 23, 45)
Desde a hora sexta até a nona, cobriu-se toda a terra de trevas. (Mt
27, 45)
A
QUARTA PALAVRA – O ABANDONO DE DEUS
Até
quando, Senhor, de todo vos esquecereis de mim? Por quanto tempo
ainda desviareis de mim os vossos olhares? Até quando aninharei a
angústia na minha alma... Até quando se levantará o meu inimigo
contra mim? Olhai! Ouvi-me, Senhor, ó meu Deus! (Sal 12, 2-4)
Meu
Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mt 27, 46)
E à
hora nona Jesus bradou em alta voz: Elói, Elói, lammá sabactáni?,
que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? (Mc 15,
34)
Pai
Nosso..., Ave Maria..., Glória ao Pai...
Pela
sua dolorosa Paixão; tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu
Jesus, perdão e Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo
as Visões
de Ana Catarina Emmerich
Eclipse do sol.
Segunda e terceira palavra de Jesus na cruz.
Até
pelas 10 horas, quando Pilatos pronunciou a sentença, caíra várias
vezes chuva de pedra; depois, até às 12 horas, o céu estava claro e
havia sol; mas depois do meio dia, apareceu uma neblina vermelha,
sombria, diante do sol. Pela sexta hora, porém, ou como vi pelo sol,
mais ou menos às doze e meia, (a maneira dos judeus de contar as
horas é diferente da nossa) houve um eclipse milagroso do sol. Vi
como isso se deu, mas infelizmente não pude guardá-lo na memória e
não tenho palavras para o exprimir.
A
princípio fui transportada como para fora da terra; vi muitas
divisões no firmamento e os caminhos dos astros, que se cruzavam de
modo maravilhoso. Vi a lua do outro lado da terra; vi-a voar
rapidamente ou dar um salto, como um globo de fogo; depois me achei
novamente em Jerusalém e vi a lua aparecer sobre o monte das
Oliveiras, cheia e pálida, - o sol estava velado pelo nevoeiro, — e
ela se moveu rapidamente do oriente, para se colocar diante do sol.
No
começo, vi no lado oriental do sol, uma lista escura, que tomou em
pouco tempo a forma de uma montanha, cobrindo-o depois inteiramente.
O disco do sol parecia cinzento-escuro, rodeado de um círculo
vermelho, como uma argola de ferro em brasa. O céu tornou-se escuro;
as estrelas tinham um brilho vermelho.
Um
pavor geral apoderou-se dos homens e dos animais, o gado fugiu
mugindo, as aves procuravam um esconderijo e caiam em bandos sobre
as colinas em redor do Calvário; podiam-se apanhá-las com as mãos.
Os zombadores começaram a calar-se; os fariseus tentavam explicar
tudo como fenômeno natural, mas não conseguiram acalmar o povo e
eles mesmos ficaram interiormente apavorados. Todo o mundo
olhava para o céu; muitos batiam no peito e, torcendo as mãos.
Exclamavam: “Que o seu sangue caia sobre os seus assassinos”. Muitos,
de perto e de longe, caíram de joelhos, pedindo perdão a Jesus, que
no meio das dores volvia os olhos para eles.
A
escuridão aumentava, todos olhavam para o céu e o Calvário estava
deserto; ali permaneciam apenas a Mãe de Jesus e os mais íntimos
amigos; Dimas, que estivera mergulhado em profundo arrependimento,
levantou com humilde esperança o rosto para o Salvador e disse:
“Senhor, fazei-me entrar num lugar onde me possais salvar;
lembrai-vos de mim, quando estiverdes no vosso reino”. Jesus
respondeu-lhe: “Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso”.
A Mãe
de Jesus, Madalena, Maria de Cléofas, Maria Helí e João estavam
entre as cruzes dos ladrões, em redor da cruz de Jesus, olhando para
Nosso Senhor. A Santíssima Virgem, em seu amor de mãe, suplicava
interiormente a Jesus que a deixasse morrer com Ele. Então olhou o
Senhor com inefável ternura para a Mãe querida e, volvendo os olhos
para João, disse a Maria: “Mulher, eis aí o teu filho; será mais
teu filho do que se tivesse nascido de ti”. Elogiou ainda João,
dizendo: “Ele teve sempre uma fé sincera e nunca se escandalizou,
a não ser quando a mãe quis que fosse elevado acima dos outros”. A
João, porém, disse: “Eis aí tua Mãe!”
João
abraçou com muito respeito, como um filho piedoso, a Mãe de Jesus,
que tinha tornado também sua Mãe, sob a cruz do Redentor moribundo. A
SS. Virgem ficou tão abalada de dor, após essas solenes disposições
do Filho moribundo, que, caindo nos braços das santas mulheres,
perdeu os sentidos exteriormente; levaram-na para o aterro em frente
à cruz, onde a sentaram por algum tempo e depois a conduziram para
fora do círculo, para junto das outras amigas.
Não sei
se Jesus pronunciou alto todas essas palavras; percebi-as
interiormente, quando, antes de morrer, entregou Maria Santíssima,
como Mãe, ao Apóstolo querido e este, como filho, a sua Mãe. Em tais
contemplações se percebem muitas coisas, que não foram escritas; é
pouco apenas o que pode exprimir a língua humana. O que lá é tão
claro, que se julga compreender por si mesmo, não se sabe explicar
com palavras.
Assim não é de admirar que Jesus, dirigindo-se à Santíssima Virgem,
não dissesse: “Mãe”, mas mulher”; pois que ela ali estava na sua
dignidade de mulher que devia esmagar a cabeça da serpente, naquela
hora em que aquela promessa se realizava, pelo sacrifício do Filho
do Homem, seu próprio filho. Não era admirar lá que Jesus desse João
por filho àquela a quem o Anjo saudava: “Ave Maria, cheia de
graça”, porque o nome de João significa “graça”; pois todos são
o que os respectivos nomes significam e João tornara-se filho de
Deus e Jesus Cristo vivia nele.
Percebia-se que Jesus, naquele momento, dava com aquelas palavras
uma mãe, Maria, a todos que, como João, O recebem e, crendo nEle, se
tornam filhos de Deus, que não foram nascidos do sangue, nem da
vontade da carne, nem da vontade do homem, mas do próprio Deus. Sentia-se
que a mais pura, a mais humilde, a mais obediente de todas as
mulheres, que se tornara a Mãe do Verbo feito de carne, respondendo
ao Anjo: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
vossa palavra!”, agora, ouvindo do Filho moribundo que se devia
tornar Mãe espiritual de outro filho, dizia, obediente e humilde,
as mesmas palavras, no íntimo do coração, dilacerado das dores da
separação: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a
vossa palavra”, aceitando assim por filhos todos os filhos de Deus,
todos os irmãos de Jesus, Tudo isso parece lá tão simples e
necessário, mas aqui é tão diferente, que é mais fácil senti-lo,
pela graça de Deus, do que o exprimir em palavras.
Estado da cidade e do Templo durante o eclipse do sol.
Eram
mais ou menos duas horas e meia, quando fui condizuda à cidade, para
ver o que lá se passava. Encontrei-a cheia de pavor e consternação;
as ruas em trevas, cobertas de nevoeiro; os homens erram cá e lá, às
apalpadelas; muitos estavam prostrados por terra, nos cantos, com a
cabeça coberta, batendo no peito; outros olhavam para o céu ou
estavam sobre os telhados, lamentando-se.
Os
animais mugiam e escondiam-se, os pássaros voavam baixo e caiam. Vi
que Pilatos fizera uma visita a Herodes e que estavam consternados,
no mesmo terraço do qual Herodes, de manhã, assistira ao escárnio de
que Jesus fora alvo. “Isto não é natural”, disseram,“excederam-se
nos maus-tratos infligidos ao Nazareno”. Vi-os depois irem
juntos ao palácio de Pilatos, atravessando o fórum; ambos estavam
muito assustados, indo a passos apressados e cercados de soldados.
Pilatos não ousou olhar para o lado do Gálbata, o tribunal donde
tinha pronunciado a sentença contra Jesus. O fórum estava deserto;
aqui e acolá alguns homens voltavam apressadamente para casa, outros
passavam chorando.
Juntavam-se também alguns grupos de povo nas praças públicas.
Pilatos mandou chamar os anciãos do povo ao palácio e perguntou-lhes
o que significavam aquelas trevas; disse-lhes que as tomava por um
sinal de desgraça iminente; o Deus dos judeus parecia estar irado
porque haviam exigido à força a morte do galileu, que certamente era
profeta e rei dos judeus; enquanto ele, Pilatos, não tinha culpa,
lavara, as mãos, etc.
Os
judeus, porém, ficaram endurecidos, queriam explicar tudo como
fenómeno comum e não se converteram. Converteu-se, contudo, muita
gente, entre outros também todos os soldados que, na véspera, tinham
caído por terra e se levantando, quando prenderam Jesus no monte das
Oliveiras.
No
entanto juntou-se uma multidão de povo diante do palácio de Pilatos
e onde de manhã tinham gritado: “Crucifica-o! crucifica-o!”,
gritavam agora: “Fora o juiz injusto! Que o sangue do Crucificado
caia sobre os seus assassinos!” Pilatos viu-se obrigado a rodear-se
de guardas. Zodóc, que, de manhã, quando Jesus fora conduzido ao
pretório, lhe proclamava alto a inocência, agitou-se e falou com tal
energia diante do palácio, que Pilatos esteve a ponto de mandá-lo
prender.
Pilatos, o miserável desalmado, atribuiu toda a culpa aos judeus:
disse que não tinha nada com isso, que Jesus era o rei, o profeta, o
Santo dos judeus, a quem estes tinham levado à morte e nada tinha
com Ele, nem lhe cabia culpa; os próprios judeus é que lhe tinham
exigido a morte, etc.
No
Templo reinava extremo susto e terror. Estavam ocupados na imolação
do cordeiro pascal, quando veio de repente a escuridão. Tudo estava
em confusão e aqui e acolá se ouviam gritos angustiantes. Os
príncipes dos sacerdotes fizeram tudo para conservar a calma e a
ordem: fizeram acender todas as lâmpadas, apesar de ser meio-dia,
mas a confusão crescia cada vez mais. Vi Anás preso de susto e
terror; corria de um canto a outro, para se esconder. Quando tornei
a sair da cidade, ouvi as grades das janelas das casas tremerem, sem
haver tempestade. A escuridão crescia cada vez mais. Na parte
exterior da cidade, ao noroeste, perto do muro, onde havia muitos
jardins e sepulturas, desabaram algumas entradas de sepulcros, como
se houvesse um tremor de terra.
Abandono de Jesus.
A quarta palavra de Jesus na cruz.
Sobre o
Gólgota fizeram as trevas uma impressão terrível. A horrorosa fúria
dos carrascos, os gritos e maldições na elevação da cruz, os uivos
dos ladrões ao serem amarrados ao madeiro, os insultos dos fariseus
a cavalo, a revezar dos soldados, a barulhenta partida dos carrascos
embriagados, tudo isso diminuíra a princípio um pouco o efeito das
trevas.
Seguiram-se depois as repreensões do ladrão penitente, Dimas e a
raiva dos fariseus contra ele. Mas à medida que crescia a escuridão,
tornavam-se mais pensativos os espectadores, afastando-se da cruz. Foi
então que Jesus recomendou sua Mãe a João e que Maria foi conduzida
a alguma distância do lugar do suplício. Houve um momento se
solene silêncio; o povo estava assustado com as trevas; a maior
parte olhava para o céu; em muitos corações se levantou a voz da
consciência; muitos se arrependeram e, olhando para a cruz, bateram
no peito; pouco a pouco se formaram grupos de pessoas que sentiam
essas mesmas impressões.
Os
fariseus, ocultando o terror, ainda procuravam explicar tudo pelas
leis naturais, mas baixavam cada vez mais a voz e afinal quase não
ousavam mais falar; de vez em quando ainda proferiam uma palavra
insolente, mas soava um tanto forçada. O disco do sol estava meio
escuro, como uma montanha ao luar; estava rodeado de um anel
vermelho. As estrelas tinham um brilho rubro; os pássaros caiam
sobre o Calvário e nas vinhas vizinhas entre os homens e deixavam-se
pegar com a mão; os animais dos arredores mugiam e tremiam; os
cavalos e jumentos dos fariseus apertavam-se uns de encontro aos
outros, baixando as cabeças. O nevoeiro húmido envolvia tudo.
Em
redor da cruz reinava silêncio; todos se tinham afastado, muitos
fugiram para a cidade. O Salvador, naquele infinito martírio,
mergulhado no mais profundo abandono, dirigindo-se ao Pai celestial,
rezava pelos inimigos, impelido pelo amor. Rezava, como durante toda
a Paixão, recitando versos de salmos que nele se cumpriam. Vi
figuras de Anjos em redor dele. quando, porém, a escuridão cresceu e
o terror pesava sobre todas as consciências e todo o povo estava em
sombrio silêncio, ficou Jesus abandonado de todos e privado de toda
a consolação.
Sofria
tudo quanto sofre um pobre homem, aflito e esmagado pelo absoluto
abandono, sem consolação divina ou humana, quando a fé, a esperança
e a caridade, privadas de iluminação e consolo, de visível
assistência, ficam sozinhas no deserto da provação, vivendo de si
mesmas, num infinito martírio. Tal sofrimento não se pode exprimir.
Nessa tortura moral, Jesus nos alcançou a força de resistirmos na
extrema miséria do abandono, quando se rompem todos os laços e
relações com a existência e a vida terrena com o mundo e a natureza
em que vivemos, quando se desfazem também as perspectivas que esta
vida em si nos abre, para outra existência; nessa provação
venceremos, se unirmos nosso abandono com os merecimentos do
abandono de Jesus na cruz.
O
Salvador conquistou-nos os méritos da perseverança, na extrema luta
do absoluto abandono e ofereceu por nós, pecadores, a miséria, a
pobreza, o martírio, o abandono, que sofreu na cruz, de modo que o
homem, unido a Jesus no seio da Igreja, não deve mais desesperar na
hora extrema, quando tudo se escurece e toda a luz e consolação
acaba. Não temos mais de descer nesse
deserto da noite interior, sozinhos e sem protecção. Jesus lançou no
abismo desse mar de amargura, o abandono exterior e interior que
padeceu na cruz e assim não mais deixou os cristãos desamparados no
abandono da morte, quando desaparece toda a consolação. Não há mais
para o cristão nem deserto, nem solidão, nem abandono, nem
desespero, na hora da morte, no último combate; pois o Salvador, a
luz, o caminho e a verdade, também andou por esse caminho tenebroso,
derramando bênçãos e vencendo todos os terrores e erigiu sua cruz
também nesse deserto.
Jesus, inteiramente desamparado e abandonado, ofereceu-se, como faz
o amor, a si mesmo por nós, fez até do abandono um riquíssimo
tesouro; pois se ofereceu, como toda sua vida, seus trabalhos, amor
e sofrimento e a dolorosa experiência de nossa ingratidão, ao Pai
Celestial, por nossa fraqueza e pobreza. Fez
testamento diante de Deus e ofereceu todos os seus merecimentos à
Igreja e aos pecadores. Pensou em todos; naquele abandono estava com
todos, até o fim dos séculos; e assim rezou também por aqueles
hereges que afirmam que sendo Deus, não sentiu as dores da Paixão e
não sofreu ou sofreu menos do que um homem comum em igual martírio.
– Participando dessa oração e sentindo com Ele as angústias,
parecia-me ouvi-Lo dizer, que: “se devia ensinar o contrário, isto
é, que Ele sentiu esse sofrimento do abandono com mais amargura do
que um homem comum, porque estava intimamente unido à Divindade,
porque era verdadeiro Deus e verdadeiro homem e no sentimento da
humanidade abandonado por Deus, bebeu, como Deus-Homem, até o fundo
o cálice do abandono completo”.
E
testemunhou por um grito a dor do abandono, dando assim a todos os
aflitos, que reconhecem a Deus por Pai, a liberdade de uma queixa
cheia de confiança filial. Pelas três horas, Jesus exclamou em alta
voz: “Eli, Eli, lama Sabachtani!”, o que quer dizer: ”Meu Deus,
meu Deus, porque me abandonaste?”
Quando
esse grito de Nosso Senhor interrompeu o angustiante silêncio que
reinava em redor da cruz, os escarnecedores se voltaram novamente
para Ele e um deles disse: “Ele chama Elias”, e outro: “Vamos
ver, se Elias vem ajudá-Lo a descer da cruz”. Quando, porém,
Maria ouviu a voz do Filho, nada mais pôde retê-la; voltou para
junto da cruz, seguida por João, Maria, filha de Cléofas, Madalena e
Salomé.
Enquanto o povo tremia e gemia, vinha passando perto um grupo de
cerca de trinta homens a cavalo, notáveis da Judeia e da região de
Jope, que tinham vindo para a festa; e quando viram Jesus tão
horrivelmente tratado e os sinais ameaçadores que se mostravam na
natureza, exprimiram em alta voz o horror que sentiam, exclamando: “Ai!
desta cidade abominável! Se nela não estivesse o Templo, devia-se
destruí-la a fogo, por se ter tomado culpada de tanta iniquidade”.
As
palavras desses distintos estrangeiros foram como um ponto de apoio
para o povo, que rompeu em murmuração e altos lamentos; os que
tinham os mesmos sentimentos, juntaram-se em grupos. Todos os
presentes formaram dois partidos: uns murmuravam e lamentavam-se, os
outros proferiam insultos e maldições.
Os
fariseus, porém, ficavam cada vez menos arrogantes; temendo um
levantamento do povo, porque também o povo de Jerusalém estava
sobressaltado, aconselharam-se com o centurião de Abenadar; deram-se
ordens para fechar a porta da cidade que dava para o Calvário,
cortando assim toda a comunicação; mandaram também um mensageiro a
Pilatos, para pedir 500 soldados e de Herodes a guarda real, para
impedir uma insurreição. No entanto conseguiu o centurião Abenadar,
pela energia, restabelecer a ordem e calma, proibindo qualquer
insulto a Jesus, para não irritar o povo.
Logo
depois das três horas, o céu começou a clarear-se; a lua afastou-se
gradualmente do sol, para o lado oposto àquele de que viera. O sol
reapareceu, sem brilho, ainda vedado pelo nevoeiro vermelho e a lua
ia descendo rapidamente para o outro lado, como se caísse. Pouco a
pouco o sol readquiriu mais claridade e as estrelas desapareceram;
contudo o dia ainda permanecia sombrio. A
medida que reaparecia a luz, tornavam-se os inimigos escarnecedores
mais arrogantes; foi nessa ocasião que disseram: “Ele chama Elias”.
Abenadar, porém, impôs-lhes silêncio e manteve a ordem. |