15:00 ÀS 16:00 hs. JESUS É TRANSPASSADO PELA LANÇA.
Com efeito, de tal modo Deus
amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele
crer não pereça, mas tenha a vida eterna. (Jo 3, 16)
A
TERRA ESTREMECE
Enlaçavam-se as cadeias da
habitação dos mortos, a própria morte me prendia em suas redes. Na
minha angústia, invoquei o Senhor, gritei para meu Deus: do seu
templo ele ouviu a minha voz, e o meu clamor em sua presença chegou
aos seus ouvidos. A terra vacilou e tremeu, os fundamentos das
montanhas fremiram, abalaram-se, porque Deus se abrasou em
cólera. (Sal 17, 6-8)
“A terra tremeu, fenderam-se
as rochas” (Mt 27, 51)
OS SEPULCROS SE ABREM
“Abrirei vossos túmulos e
vos farei sair deles...” (Ez 37, 12)
“... terá uma posteridade
duradoura...” (Is 53,10)
Os sepulcros se abriram e os
corpos de muitos justos ressuscitaram. (Mt 27, 52)
O
CENTURIÃO DÁ GLÓRIA A DEUS
Não basta que sejas meu
servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de
Israel; vou fazer de ti a luz das nações... (Is 49, 6)
Vendo o centurião o que
acontecia, deu glória a Deus e disse: Na verdade, este homem era um
justo. (Lc 23, 47)
O centurião e seus homens
que montavam guarda a Jesus, diante do estremecimento da terra e de
tudo o que se passava, disseram entre si, possuídos de grande temor:
Verdadeiramente, este homem era Filho de Deus! (Mt 27, 54)
A
MULTIDÃO
Suscitarei sobre a casa de
Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de boa vontade e
de prece, e eles voltarão os seus olhos para mim. Farão lamentações
sobre aquele que traspassaram, como se fosse um filho único;
chorá-lo-ão amargamente como se chora um primogénito! Naquele dia
haverá um grande luto em Jerusalém... (Zc 12, 10-11)
Por sua causa, hão*de
lamentar-se todas as raças da terra... (Apc 1, 7)
E toda a multidão dos que
assistiam a este espectáculo e viam o que se passava, voltou batendo
no peito. (Lc 23, 48)
OS AMIGOS
Os amigos de Jesus, como
também as mulheres que o tinham seguido desde a Galileia,
conservavam-se a certa distância, e observavam estas coisas. (Lc 23,
49)
SANGUE E ÁGUA DO LADO ABERTO DO SALVADOR
Naquele dia jorrará uma
fonte para a casa de Deus e para os habitantes de Jerusalém, que
apagará os seus pecados e suas impurezas... (Zc 13, 1)
Os judeus temeram que os
corpos ficassem na cruz durante o sábado, porque já era a Preparação
e esse sábado era particularmente solene. Rogaram a Pilatos que se
lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. Vieram os soldados e
quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram
crucificados. Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não
lhe quebraram as pernas, mas um dos soldados abriu-lhe o lado com
uma lança e, imediatamente, saiu sangue e água. (Jo 19, 31-34)
O
TESTEMUNHO DO DISCÍPULO
Todos os olhos o verão,
mesmo aqueles que o traspassaram... (Apc 1, 7)
Olharão para aquele que
transpassaram (Zc 12,10). (Jo 19, 37)
O que foi testemunha desse
fato o atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz
a verdade), a fim de que vós creiais. Assim se cumpriu a Escritura:
Nenhum dos seus ossos será quebrado (Ex 12,46). E diz em outra parte
a Escritura: Olharão para aquele que transpassaram (Zc 12,10). (Jo
19, 35-37)
Pai Nosso..., Ave Maria...,
Glória ao Pai...
Pela sua dolorosa Paixão;
tende Misericórdia de nós e do mundo inteiro.
Meu Jesus, perdão e
Misericórdia, pelos méritos de Vossas santas Chagas.
Segundo as Visões
de Anna Catharina Emmerich
O
tremor de terra, aparição de mortos em Jerusalém.
Quando Jesus, com um grito
forte, entregou o espírito nas mãos do Pai celestial, a alma do
Salvador, qual forma luminosa, acompanhada de brilhante cortejo de
Anjos, entrou na terra, ao pé da cruz; entre os Anjos estava também
S. Gabriel. Vi esses Anjos expulsarem grande número de espíritos
maus da terra para o abismo. Jesus, porém, mandou muitas almas
do limbo para que, retomando os corpos, assustassem os impenitentes,
os exortassem a converter-se e dessem testemunho dele.
O tremor de terra, na hora da
morte do Redentor, quando o rochedo do Calvário se fendeu, causou
muitos desmoronamentos e desabamentos em todo o mundo, especialmente
na Palestina e em Jerusalém. Mal o povo na cidade e no Templo
sossegara um pouco, ao desaparecer a escuridão, eis que os abalos do
solo e o estrondo do desabamento dos edifícios, em muitos lugares,
espalharam um terror geral e ainda maior do que dantes. O pavor
chegou ao extremo, quando apareceram os mortos ressuscitados,
andando pelas ruas e admoestando com voz rouca o povo, que fugia,
chorando, em todas as direcções.
No Templo, os príncipes dos
sacerdotes acabavam justamente de restabelecer a ordem e recomeçar
os sacrifícios, suspensos pelo terror das trevas e triunfavam com a
volta da luz, quando de repente tremeu o solo, ouvindo-se um
estrondo de muros a desabar, acompanhado de ruído sibilante do véu
do Templo, que se rasgou de alto a baixo, causando um momento de
mudo terror na imensa multidão, interrompido em diversos lugares por
gritos e lamentos.
Mas a multidão estava tão
habituada à ordem do Templo, o imenso edifício tão repleto de gente,
a ida e vinda dos que ofereciam sacrifícios estava tão bem regulada,
as cerimónias da imolação dos cordeiros e da aspersão do altar como
sangue se desenrolavam tão regularmente, através das longas fileiras
dos sacerdotes, acompanhadas de canto e do alto som das trombetas,
que o susto não produziu logo no principio uma confusão e desordem
geral.
Assim, pois, continuavam os
sacrifícios em algumas partes do imenso edifício do Templo, com as
inúmeras passagens e salas, quando em outra parte já reinava o
espanto e terror e em outros lugares os sacerdotes já conseguiam
acalmar o povo; mas ao aparecimento dos mortos, em várias partes
do Templo, todo o povo se dispersou e o sacrifício foi interrompido,
como se o Templo fosse profanado. Contudo nem isso se deu
repentinamente, de modo que a multidão se tivesse precipitado pelos
degraus abaixo, empurrando e esmagando-se uns aos outros; mas
dissolveu-se gradualmente, saindo em grupos, enquanto outros eram
ainda contidos pelos sacerdotes ou estavam em partes separadas do
Templo. Todavia, manifestava-se o medo e o terror em toda parte, em
diversos graus, de um modo incrível.
Pode-se fazer uma ideia da
desordem e confusão que reinava, imaginando um grande formigueiro,
de tranquilo movimento, em que se jogam pedras ou se remexe com um
pau; enquanto reina confusão num ponto, em outro ainda continua o
movimento e a actividade toda regular e mesmo no lugar onde houve
desarranjo, logo começa a restabelecer-se a ordem.
O sumo-sacerdote Caifás e seu
partido, com audácia desesperada, não perderam a cabeça. Como um
hábil governador de uma cidade revoltada, afastou a confusão,
ameaçando aqui, exortando ali, desunindo os partidos, atraindo
outros com muitas promessas. Devido ao seu endurecimento
diabólico e aparente calma, conseguiu impedir uma perigosa
perturbação geral, fazendo com que a massa do povo não visse
nesses acontecimentos assustadores um testemunho da morte inocente
de Jesus. A guarnição do forte Antónia também fez tudo para
conservar a ordem; deste modo era o terror e a confusão grande, é
verdade, mas cessou a celebração da festa, sem que houvesse tumulto.
O povo dispersou-se, ficando ainda com um oculto pavor, que também
foi pouco a pouco abafado pela ação dos fariseus.
Essa era a situação geral da
cidade; seguem-se agora alguns incidentes particulares, de que ainda
me lembro: As duas grandes colunas situadas à entrada do
Santuário do Templo e entre as quais estava suspensa a magnífica
cortina, afastaram-se no alto, a da esquerda para o sul, a da
direita para o norte; a verga que suportavam, abaixou-se e a grande
cortina partiu-se em duas, de alto e baixo, com um som sibilante e,
caindo as duas partes para os lados, abriu-se o santuário. Essa
cortina era vermelha, azul, branca e amarela; trazia o desenho de
muitas constelações dos astros e também figuras, como, por exemplo,
a da serpente de bronze.
O santuário estava aberto a
todos os olhares. Perto da cela onde Simeão costumava rezar, no muro
ao norte, ao lado do santuário, tombou uma pedra grande e a abóbada
da cela desabou; em várias salas se afundou o solo, umbrais
deslocaram-se a colunas cederam para os lados.
No santuário apareceu,
proferindo palavras de ameaça, o Sumo-Sacerdote Zacarias, que fora
assassinado entre o Templo e o altar; falou também da morte do outro
Zacarias e de João Batista, como em geral da morte dos profetas.
Ele saiu pela abertura que
ficara, onde caiu a pedra na cela de Simeão e falou aos sacerdotes
que estavam no Santo. Dois filhos do piedoso Sumo-sacerdote Simão
o Justo, bisavô do velho sacerdote Simeão que profetizara na
apresentação de Jesus no Templo, apareceram como espíritos grandes,
perto da grande cátedra (cadeira dos doutores), proferindo palavras
severas sobre a morte dos profetas e sobre o sacrifício que ia
cessar; exortaram a todos a que seguissem a doutrina de Jesus
crucificado.
Perto do altar apareceu o
profeta Jeremias, proclamando em voz ameaçadora o fim do sacrifício
antigo e o começo do novo. Essas
aparições e palavras, em lugares onde só Caifás e os sacerdotes as
ouviram, foram negadas ou ocultadas e foi proibido falar nisso, sob
pena de grande excomunhão. Mas ouviu-se ainda um grande ruído;
abriram-se as portas do santo e uma voz gritou: “Saiamos daqui!” Vi
então Anjos, que se retiraram do Templo. O altar do incenso tremeu e
caiu um dos vasos de incenso; o armário que continha os rolos da
Escritura, tombou e os rolos caíram fora, em desordem; a confusão
aumentou, não sabiam mais que hora do dia era.
Nicodemos, José de Arimateia
e muitos outros abandonaram o Templo e foram-se embora. Jaziam
corpos de mortos, em vários lugares; outros mortos ressuscitados
andavam no meio do povo, exortando-o com palavras severas; à voz
dos Anjos que se afastaram do Templo, também eles voltaram às
sepulturas. A grande cátedra, no átrio do Templo, caiu. Vários dos
32 fariseus que tinham ido ao Calvário, mais tarde voltaram, durante
essa confusão e, como se tinham convertido ao pé da cruz, ficaram
ainda mais comovidos com esses sinais, de modo que censuraram com
grande energia a Anás e Caifás, retirando-se depois do Templo.
Anás, o verdadeiro chefe dos
inimigos de Jesus, que desde muito tempo dirigira todas as intrigas
secretas contra o Salvador e os discípulos e que também instruíra os
acusadores, estava quase doido de terror; fugia de um canto para
outro das salas secretas do Templo; vi-o gritando e torcendo-se em
convulsões; levaram-no a um quarto secreto, rodeado de alguns dos
partidários. Caifás deu-lhe uma vez um forte abraço, para a
reanimar; mas em vão; a aparição dos mortos tinha-o levado ao
desespero.
Caifás, apesar de estar também
cheio de pavor, estava de tal modo possesso do demónio do orgulho e
da obstinação, que não deixava perceber nada do susto que sentia.
Cheio de raiva e orgulho, ocultava o medo e mostrava uma testa de
bronze aos sinais ameaçadores da cólera divina. Quando, porém,
apesar de todos os esforços, não pôde mais fazer as cerimónias da
festa, deu ordem de guardar silêncio sobre os prodígios e
aparições de que o povo não tinha conhecimento. Disse e mandou
outros sacerdotes também dizerem que esses sinais de cólera divina
eram provocados pelos partidários do galileu crucificado, que
entraram no Templo sem se terem purificado; que somente os inimigos
da santa lei, a qual Jesus também quisera derrubar, tinham causado
esse terror. Muito se devia também à feitiçaria do galileu que, como
em vida, assim também na morte, perturbava a paz do Templo”. Desse
modo conseguiu acalmar muitos e intimidar outros com ameaças;
muitos, porém, estavam profundamente abalados e ocultavam os
sentimentos. A festa foi adiada, até a purificação do Templo. Muitos
cordeiros foram imolados; o povo dispersou-se pouco a pouco.
O túmulo de Zacarias, sob o
muro do Templo, desabara, arrastando consigo as pedras do muro;
Zacarias saiu do túmulo, mas não voltou mais para lá, não sei onde
depositou de novo os restos mortais. Os filhos ressuscitados de
Simeão o Justo, depositaram os corpos novamente, no túmulo, ao pé do
monte do Templo, na hora em que o corpo de Jesus foi preparado para
a sepultura.
Enquanto tudo isso se
passava no Templo, reinava o mesmo espanto em muitas partes de
Jerusalém. Logo depois das três horas,
ruíram muitos túmulos, particularmente na região dos jardins, ao
noroeste, dentro da cidade. Vi lá, nos túmulos, mortos ainda
envoltos em panos; em outros jaziam esqueletos, com farrapos
apodrecidos, de muitos saia um mau cheiro insuportável.
No tribunal de Caifás desabaram
as escadas em que Jesus fora escarnecido, também parte do fogão do
átrio, onde Pedro começara a negar Jesus. A destruição era tal, que
era preciso procurar outra entrada. Ali apareceu o corpo do
Sumo-sacerdote Simão o Justo, a cuja descendência pertencia Simeão,
que proferiu a profecia, na apresentação do Menino Jesus no Templo. Esse
falou algumas palavras ameaçadoras, a respeito do julgamento injusto
que se fizera ali.
Estavam reunidos alguns membros
do Sinédrio. Os criados que no dia anterior deixaram entrar Pedro e
João, converteram-se e fugiram para as cavernas onde estavam
escondidos os discípulos. No palácio de Pilatos se fendeu a pedra e
afundou-se o solo onde Jesus fora apresentado ao povo por Pilatos.
Todo o edifício tremeu e vacilou; no pátio do tribunal vizinho se
afundou todo o lugar onde estavam sepultados os corpos das inocentes
crianças que Herodes mandara assassinar. Em vários outros lugares da
cidade se fenderam muros, caíram paredes; mas nenhum edifício foi
totalmente destruído.
Pilatos, supersticioso e
confuso, estava preso de terror e incapaz de desempenhar o cargo; o
terremoto abalou-lhe o palácio, o solo tremia-lhe debaixo dos pés,
fugia de uma sala para outra. Os mortos mostravam-se-lhe no átrio do
palácio, lançando-lhe em rosto o julgamento iníquo e a sentença
contraditória. Julgando que fossem os deuses do profeta Jesus,
encerrou-se num quarto secreto do palácio, onde ofereceu incenso e
sacrifícios aos deuses pagãos, fazendo promessas, para que os ídolos
impedissem os deuses do Galileu de fazer-lhe mal. Herodes estava no
palácio, desvairado de pavor e mandara fechar todas as portas.
Foram cerca de cem os mortos,
de todas as épocas, que em Jerusalém e arredores se levantaram dos
sepulcros destruídos e na maior parte se dirigiram, dois a dois, a
diversos pontos da cidade, apresentando-se ao povo, que fugia em
todas as direcções e dando, em algumas palavras, severo testemunho
de Jesus. A maior parte dos túmulos estavam situados na solidão
do vale, fora da cidade; mas havia-os também nos novos bairros da
cidade, especialmente na região dos jardins, ao noroeste, entre a
porta angular e a do Calvário; também em redor e debaixo do Templo
havia muitos túmulos ocultos ou esquecidos.
Nem todos os mortos que pela
destruição dos túmulos ficaram à vista, ressuscitaram; havia muitos
que se tornavam vivíveis só porque estavam numa sepultura comum com
os outros. Muitos, porém, cujas almas Jesus mandara do Limbo à
terra, se levantaram, descobriram o rosto e andavam, como pairando,
pelas ruas, iam às casas dos parentes, entravam nas casas dos
descendentes, censurando-os com palavras ameaçadoras, por terem
tomado parte na morte de Jesus.
Vi as aparições procurarem
juntar-se, conforme as antigas amizades e andar duas a duas pelas
ruas da cidade. Não vi o movimento dos pés sob as longas túnicas
mortuárias, pareciam pairar sobre o solo, sem o tocar; as mãos ou
estavam envoltas em largas faixas de linho, ou escondidas nas largas
mangas pendentes e ligadas em redor dos braços; os véus do rosto
estavam levantados e postos sobre a cabeça; as faces pálidas,
amareladas e secas, destacavam-se das longas barbas; as vozes tinham
um som estranho e incomum. Essas vozes eram a única manifestação
dos corpos, que passavam de lugar em lugar, sem parar e sem se
importar com o que encontravam no caminho; parecia que eram só
vozes.
Estavam diversamente vestidos,
conforme a época da morte e segundo a classe e a idade. Nas
encruzilhadas, onde fora promulgada a sentença de morte contra
Jesus, paravam, proclamando a glória de Jesus e a maldição dos
assassinos. Os homens ficavam longe, escutando-os a tremer e fugiam
quando eles continuavam o caminho. No fórum, diante do palácio de
Pilatos, ouvi-os proferir palavras ameaçadoras; lembro-me da
palavra: “Juiz sanguinário!”
– Todo o povo se ocultou nos
cantos mais escondidos das casas; havia grande medo e susto na
cidade. Pelas quatro horas da tarde voltaram os mortos para os
túmulos. Mas depois da ressurreição de Jesus Cristo ainda
apareceram muitos espíritos, em vários lugares.O sacrifício foi
interrompido; era uma confusão geral; só uma pequena parte do povo
comeu o cordeiro pascal à noite.
Outras aparições depois da morte de Jesus.
Entre os muitos mortos
ressuscitados, que dentro e em redor de Jerusalém se contavam cerca
de cem, não havia nenhum parente de Jesus. Os túmulos ao noroeste
estavam antigamente fora da cidade, mas pelo alargamento da mesma,
ficaram depois dentro dos muros. Tive também visões de diversos
mortos, que em vários lugares da Terra Santa ressuscitaram,
aparecendo aos parentes e dando testemunho de Jesus e da missão
que viera cumprir na terra.
Assim vi Zaboc, homem muito
piedoso, que tinha dado todos os bens aos pobres e ao Templo e
fundado a comunidade dos Essénios, perto de Hebron; foi um dos
últimos profetas antes de Cristo e esperava e anelava pela vinda do
Messias, de quem tinha muitas revelações;
tinha também relações com os antepassados da Sagrada Família. Vi
esse Zadoc, que viveu uns cem anos antes de Jesus, ressuscitar a
aparecer a diversas pessoas, na região de Hebron. Numa visão
anterior vi que foi dos que primeiro depositaram novamente o
respectivo corpo e depois acompanharam a alma de Jesus. Vi também
vários mortos aparecerem aos discípulos do Senhor, escondidos nas
cavernas, exortando-os à fé.
Vi que as trevas e o terremoto
espalharam terror e destruição, não só em Jerusalém e arredores, mas
também em outras partes do país, mesmo em lugares longínquos. Ainda
me lembro dos seguintes casos: Em Tirza desabaram as torres da
cadeia, da qual Jesus resgatara alguns presos e vários outros
edifícios. Na terra do Cabul houve desabamentos em muitos lugares. Em
toda a Galileia, onde Jesus tinha vivido e pregado mais tempo,
vi desabar, em muitos lugares, edifícios, sobretudo muitas casas de
fariseus que tinham perseguido Jesus com mais ódio e que então
estavam todos na festa em Jerusalém e cujas mulheres e filhos
morreram soterrados sob os destroços das casas.
As devastações em redor do lago
de Genezaré (mar de Galiléia) eram consideráveis. Em Cafarnaum
caíram muitíssimos edifícios; a povoação dos escravos, situada entre
Tiberias e os jardins de Zorobabel, Centurião de Cafarnaum, foi
quase completamente destruída.
O rochedo que formava uma
pequena península no lago e fazia parte de belos jardins do
Centurião, perto de Cafarnaum, desmoronou-se todo; o lago entrou
pelo vale a dentro e chegou até perto de Cafarnaum, que dantes
estava distante quase meia hora. A casa de Pedro e a morda da
Santíssima Virgem, entre Cafarnaum e o lago, ficaram intactas. As
águas do mar da Galileia estavam muito agitadas; as margens ruíram
em algumas partes e em outras se levantaram. O lago mudou
consideravelmente de forma, ficando mais ou menos como está hoje e a
configuração das respectivas margens quase não se conhece mais. De
maior importância foram as mudanças na extremidade sudoeste do lago,
logo abaixo do Tariquéia, onde havia um dique comprido e escuro, que
separava o lago de um pântano e dava firme direcção às águas do
Jordão, ao saírem do lago; todo esse dique foi levado pelas águas,
causando vastas destruições.
No lado oriental do lago, onde
os porcos dos Gerazenos se tinham lançado no pântano, afundaram-se
muitas terras, como também em Gergesa, Gerasa e em todo o distrito
de Corazim. Também o monte da segunda multiplicação dos pães sofreu
forte abalo e a pedra sobre a qual fora colocado o pão, partiu-se ao
meio. Dentro e em redor de Panéas desabaram também muitas casas.
Na Decápolis desapareceram
partes inteiras de cidades; muitos lugares na Ásia sofreram grandes
prejuízos, como, por exemplo, Nicéia e principalmente muitos lugares
a leste e nordeste de Panéas. Também na Galileia superior vi grande
destruição e os fariseus encontraram, ao voltar da festa, muita
desgraça em casa. Alguns receberam a notícia já em Jerusalém; foi
por isso que os inimigos de Jesus ficaram tão abatidos, até depois
de Pentecostes e não ousaram tomar medida alguma importante contra a
comunidade do Senhor.
No monte Garizim vi ruir grande
parte do Templo. Havia lá um ídolo em cima de um poço, num pequeno
Templo, cujo telhado, junto com o ídolo, caiu na água do poço. Em
Nazaré desabou metade da sinagoga, da qual os judeus expulsaram
Jesus; também a parte do rochedo da qual quiseram lançá-lo no
abismo, desmoronou-se.
Muitas montanhas, vales e
cidades sofreram forte destruição. O leito do Jordão mudou-se em
várias partes; Pois pelos abalos do litoral do mar da Galileia e
pelas mudanças das correntes dos riachos, formaram-se obstáculos e
mudou-se a corrente das águas, de modo que o leito do Jordão é hoje
muito diferente do que era antes. Em Machérus e em outras cidades de
Herodes, ficou tudo calmo e inalterado; essa região estava fora do
círculo da penitência e da ameaça, como aqueles homens no horto das
Oliveiras, que não caíram e por isso também não se levantaram.
Em algumas regiões, aonde havia
muitos espíritos maus, vi-os em grande número afundar-se na terra,
juntamente com os edifícios e montes destruídos; os tremores de
terra recordaram-me então as convulsões dos possessos, quando o
demónio sente que é obrigado a sair. No momento em que, perto de
Gergesa, se afundou no pântano parte do monte, de onde outrora os
demónios se lançaram no pântano, com a manada de porcos, vi imensa
multidão de maus espíritos cair, como uma nuvem sinistra e
afundar-se com o monte no abismo.
Creio que foi em Nicéia que vi
um acontecimento, de cujos pormenores me lembro só imperfeitamente.
Vi um porto, com muitos navios e numa casa, com uma torre alta,
perto do porto, vi um homem; era pagão, o capitão do porto. Tinha
por obrigação subir muitas vezes à torre e observar o mar, a ver se
chegavam navios ou velar por qualquer acontecimento. Vi que, ouvindo
forte estrondo sobre os navios do porto e temendo a aproximação de
um inimigo, subiu apressadamente à torre; olhando para os navios,
viu-lhes pairar acima grande número de figuras escuras, que, com
vozes lamentosas, lhe gritaram: “Se queres conservar os navios,
leva-os para fora do porto; pois devemos voltar ao abismo; morreu o
grande Pan”.
É o que me lembro ainda
distintamente dessa visão; disseram-lhe outras coisas ainda e
deram-lhe muitas ordens, onde e como devia revelar, numa viagem
marítima iminente, o que lhes tinham dito; exportaram-no também a
receber bem os mensageiros que viriam, anunciando a doutrina e a
morte daquele que nesse momento tinha falecido.
Os maus espíritos foram desse
modo obrigados pelo poder de Deus a avisar esse homem bom,
tornando-se assim núncios de sua própria ignomínia. O capitão do
porto mandou, pois, pôr a seguro os navios, quando estava iminente
uma violenta tempestade; vi então os demónios se lançarem rugindo no
mar e a metade da cidade ficou destruída pelo terremoto. A casa com
a torre ficou intacta. O homem fez depois longas viagens em navio,
cumprindo todas as ordens que recebera e anunciando a morte do
grande Pan, como os demónios tinham chamado ao Senhor; mais tarde
chegou também a Roma, onde se admiram muito daquela narração. Vi
ainda muitas outras coisas desse homem, mas esqueci-as; entre
outras, vi que uma das suas narrativas de viagens, misturada com os
acontecimentos que contei, se propagou muito entre os povos, mas não
me lembro mais da conexão. Creio que tinha um nome semelhante a
Tamus ou Tramus.
O
coração de Jesus trespassado por uma lança. Esmagamento das pernas e
morte dos ladrões.
Durante todo esse tempo reinava
silêncio e tristeza sobre o Gólgota. O povo assustado dispersara-se,
indo esconder-se em casa. A Mãe de Jesus e João, Madalena, Maria,
filha de Cléofas e Salomé estavam, em pé ou sentados, em frente à
cruz, com as cabeças veladas, chorando. Alguns soldados estavam
sentados no barranco, com as lanças fincadas no chão. Cássio, a
cavalo, ia de um lado para outro. Os soldados conversavam do alto do
Calvário com outros que estavam mais em baixo. O céu estava nublado
e toda a natureza parecia abatida e de luto. Vieram então seis
carrascos, subindo o monte Calvário; trouxeram escadas, pás e
cordas, como também pesadas maças de ferro de três gumes, para
esmagar as pernas dos executados.
Quando os carrascos entraram no
círculo do suplício, os parentes de Jesus retiraram-se um pouco. A
Santíssima Virgem foi novamente presa de angústia e receio de que os
verdugos ainda maltratassem o Corpo de Jesus; pois encostaram as
escadas à cruz e subindo, sacudiram o santo Corpo conferindo se
apenas se fingia morto. Como, porém, notassem que o corpo já estava
inteiramente frio e rígido e João, a pedido das mulheres piedosas, a
eles se dirigisse para impedir a crueldade, deixaram provisoriamente
o corpo do Senhor, mas não pareciam convencidos de que estivesse
morto.
Subiram então pelas escadas nas
cruzes dos ladrões; dois esmagaram, com as maças cortantes, os ossos
dos braços acima e abaixo do cotovelo, um terceiro fez o mesmo acima
e nas canelas, abaixo dos joelhos. Gesmas soltou gritos horríveis.
Esmagaram-lhe em três golpes o peito, para acabar de matá-lo. Dimas
gemeu com a tortura e morreu; foi o primeiro mortal que tornou a ver
o Redentor. Os carrascos desataram então as cordas, deixando cair os
corpos no chão e arrastando-os depois com cordas, para o vale entre
o Calvário e o muro da cidade, onde os enterraram.
Os carrascos ainda pareciam
duvidar da morte do Senhor e os parentes de Jesus estavam ainda mais
assustados, pela brutalidade com que haviam procedido e com medo de
que pudessem voltar. Mas Cássio, oficial subalterno, homem de 25
anos, activo e um pouco precipitado, cuja vista curta e cujos olhos
tortos, juntamente com os ares de importância que se dava,
provocavam frequentemente a troça dos subordinados, recebeu de
repente uma inspiração sobrenatural. A crueldade e vil brutalidade
dos carrascos, o medo das santas mulheres e um impulso repentino,
causando por uma graça divina, fizeram-no cumprir uma profecia.
Ajustando a lança, que trazia
em geral dobrada e encurtada, firmou-lhe a ponta e virando o cavalo,
esporeou-o para subir o cume, onde estava a cruz e onde o cavalo
quase não podia virar; vi como o afastou da fenda do rochedo.
Parando assim entre a cruz do bom ladrão e a de Jesus, ao lado
direito do corpo de Nosso Salvador, tomou a lança com ambas as mãos
e introduziu-a com tal força no lado direito do Santo Corpo, através
das entranhas e do coração, que a ponta da lança saiu um pouco do
lado esquerdo, abrindo uma pequena ferida. Quando tirou depois com
força a santa lança, brotou da larga chaga do lado direito do
Redentor um rio de sangue e água que, caindo, banhou o rosto de
Cássio, como uma onda de salvação e graça. Ele saltou do cavalo e,
prostrando-se de joelhos, bateu no peito e confessou a fé em Jesus
em alta voz, diante de todos os presentes.
A Santíssima Virgem e os
outros, cujos olhos estavam sempre fixos no Salvador, viram a súbita
acção do oficial com grande angústia e acompanharam o golpe da lança
com um grito de dor, precipitando-se para a cruz. Maria caiu nos
braços das amigas, como se a lança lhe tivesse transpassado o
próprio coração e sentisse o ferro cortante atravessá-lo de lado a
lado. Cássio, caindo de joelhos, louvava a Deus, pois, iluminado
pela graça, ficou crendo e também os olhos do corpo se lhe curaram e
desde então via tudo claro e distinto. Mas ao mesmo tempo ficaram
todos profundamente comovidos à vista do sangue que, misturando com
água, se juntara, espumante, numa cavidade da rocha, ao pé da cruz;
Cássio, Maria Santíssima, as santas mulheres e João apanharam o
sangue e a água em tigelas, guardando-o depois em frascos e
enxugando-o da rocha com panos.
Cássio estava como que
transformado; tinha recobrado a vista perfeita e profundamente
comovido, curvava-se diante de Deus, com coração humilde. Os
soldados presentes, tocados pelo milagre que se operara nele,
prostraram-se de joelhos, batiam no peito e louvavam a Jesus. O
sangue e a água corriam abundantemente da larga chaga do lado
direito do Salvador, sobre a rocha limpa, onde se juntaram;
apanharam-no, com indizível comoção e as lágrimas de Maria e
Madalena misturavam-se-lhe. Os carrascos, que nesse ínterim
tinham recebido a ordem de Pilatos de não tocar no corpo de Jesus,
que doara a José de Arimateia, para o sepultar, não voltaram mais.
A lança de Cássio, constava de
várias peças, que eram ajustadas uma sobre a outra; quando dobrada,
parecia apenas um bastão, de pouco comprimento. A parte de ferro que
feria, tinha a forma de pêra achatada; quando se queria servir da
lança, enfiava-se-lhe a ponta e abriam se em baixo duas lâminas de
ferro, curvas e movediças.
Tudo isso se passou em redor da
cruz de Jesus, logo depois das quatro horas, quando José de
Arimateia e Nicodemos estavam ocupados em juntar as coisas
necessárias para o enterro. Os criados de José de Arimateia foram,
enviados para limpar o sepulcro e anunciaram aos amigos de Jesus no
Gólgota que José recebera de Pilatos licença para tirar da cruz o
corpo do Mestre e sepultá-lo no seu sepulcro; então voltou João, com
as santas mulheres, à cidade, dirigindo-se ao monte Sião, para que a
Santíssima Virgem pudesse tomar algum alimento e também para buscar
alguns objectos para o enterro. Maria tinha uma pequena habitação
nos edifícios laterais do Cenáculo. Não entraram pela porta mais
próxima, mas, mais ao sul, pela porta que conduz a Belém; pois a
porta para o Calvário estava fechada e ocupada por dentro pelos
soldados que os fariseus tinham requisitado, com medo de um levante
do povo. |