MAIO
13 de Maio de 1944
Nova transformação
na minha alma. Morreu por completo aquele pequenino sopro de vida. Já não sinto
aquela respiração que de longe a longe sentira. Vive em mim a dor e essa de toda
a qualidade e espécie. Morri, morri para o mundo e para as criaturas. Tudo
baixou ao túmulo para ficar para sempre sepultado. Meu Deus, que horror! Já não
vivo, só vive a minha dor amada, só vive o meu inexplicável martírio. Poderá
ele, sem a minha vida, dar a vida às almas? Poderei ser ainda útil à humanidade?
Ó Jesus, ó Jesus, posso assim amar-Vos e consolar o Vosso santíssimo Coração?
Pobre de mim! Depois do ódio e do abandono, depois do esquecimento, do desprezo,
baixei à minha sepultura, já vivo na eternidade e sem que me désseis o meu
Paizinho e sem ter de novo aqui a Santa Missa. Nunca mais, meu Jesus; nunca mais
posso ter alegria, a não ser com os olhos em Vós. Podem de novo darem-me tudo o
que me roubaram, sinto que para mim tudo é morte e que já é tarde para me ser
restituído aquilo que eu mais amava e estimava depois de Vós, ó meu Jesus. Ai a
Santa Missa! O meu director espiritual! E tudo mais, meu Jesus, tudo mais! Que
horror! Como resistir a tanto? Não fui eu, meu Amado, fostes Vós em mim, foi o
Vosso Amor. Obrigada, meu Jesus! Continuai a dispensar-me, dai-me força.
A minha eternidade
não tem luz : é uma eternidade que não Vos ama, que não Vos louva, que não Vos
vê, que não Vos goza. Tremenda eternidade. Não ver a Jesus é uma eternidade de
morte. Só a dor triunfa sobre a morte. É o que vivo na eternidade que sinto.
Seja qual for o estado da minha alma, Jesus, apressai-Vos, cumpri as Vossas
santas promessas. Eu espero, eu espero, confiada por Vosso amor. Dai, Jesus, dai
a vida às almas com a minha morte, com a minha eternidade. Dai-lhes a Vossa
eternidade ; dai-lhes o Céu, o Céu, ó Jesus.
29 de Maio de 1944
Estava em grande
aflição e depois de receber a Jesus, desabafava com Ele mas sem contar obter
resposta. Mas Ele, bom como sempre, dignou-se aliviar-me :
— “Diz, minha
filha, à tua irmãzinha, que estou a ver até que ponto chega a confiança dela em
Mim. Ela desempenha junto do teu Calvário o papel que, junto do meu, desempenhou
minha Bendita Mãe. Diz-lhe que muito espero dela. Se assim não fosse, não a
associava tanto ao teu martírio”.
E, referindo-se a
quem tanto nos fazia sofrer, disse :
— “Vá, tende
coragem. Satanás está raivoso, estende sobre Vós as suas garras infernais.
Confia, ele não vence. Ela é uma insensata : usou para Vós com a maior das
ingratidões, mas perdoai-lhe de todo o Vosso coração, assim como Eu lhe perdoo.
Se soubesse quanto sofro ! Recebe-me friamente, por hábito, por rotina. Que
mágoa para o Meu divino Coração !”
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