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SENTIMENTOS DA ALMA

1952

MARÇO

1º de Março – Primeiro Sábado

Noite de angústia, pela tribulação da dúvida de todo o meu viver; noite de ânsias de amor a Jesus e à Mãezinha, e de me dar toda, toda sem reserva, inteiramente a Ele. Foi nestas ondas dolorosas e consumidoras que eu me preparei para receber a Jesus, e chegou o feliz momento da Sua entrada no meu coração. Não demorou muito tempo a Ele fazer-me sentir a Sua presença real em mim e a dizer-me estas palavras :

 “Dorme, dorme, minha filha, um sono divino nos braços do teu Jesus. Só assim fortalecida podes aguentar e caminhar com tão pesada cruz. Também Eu, esposa amada, estou no teu coração a deliciar-Me por algum tempo. Estou nele com que à sombra de ramos floridos, todos perfumados. São flores de virtude, são perfumes de graça. Aqui refugiado neste coração, que tanto me ama, Eu quero esquecer por algum tempo os crimes com que sou ofendido. Minha filha, minha filha, sofre pelo teu Jesus; ama sempre com loucura de amor o teu Jesus. Com a dor sou desagravado, com o amor esqueço melhor a maldade, a cruel maldade do mundo, de tantos e tantos que se dizem meus amigos.

Diz, minha filha, ao teu Paizinho que Jesus se mantém mais firme do que a rocha. As Suas divinas promessas não falham nunca. Eu amo-o, Eu amo-o com toda a grandeza do meu divino amor. Ele cumpriu e cumprirá sempre a minha divina vontade, e as minhas promessas a seu respeito hão-de cumprir-se. Diz-lhe que ele é o mestre das almas, escolhido por mim, e por mim foi escolhido para guia e amparo da grande vítima deste calvário. Foi contrariada a minha vontade divina. Mas Eu nada deixo sem recompensa ou castigo. Dou-lhe por ti todo o meu amor, graça e força ; dou-lhe por ti toda a minha paz, aquela paz que só do Céu vem.

Diz ao teu médico que o seu lar é uma bolinha dos meus entretimentos; jogo com ela como prova do meu maior amor e para mais, muito mais, a unir a Mim. Oh! como são belos, infinitamente grandes e insondáveis e insondáveis os desígnios do Senhor ! Diz-lhe que ele é ditoso entre os homens; que o Senhor o escolheu para uma nobilíssima missão. Dá-lhe a chuva das minhas graças, bênçãos e amor. Diz-lhe que veja sempre em todas as coisas a vontade santíssima de Jesus. Vem, minha bendita Mãe, dá à nossa filhinha os teus carinhos e o teu amor”.

 Ó Mãezinha, ó Mãezinha das Dores, eu, assim unida Vós, faço penetrar mais no Vosso Santíssimo Coração essas setas. Não quero, não quero ver-Vos com elas, nem com tantos, tantos espinhos. Passai-os, passai-os todos para mim.

 “É assim, é assim, minha filha, que as ofensas, que fazem a Jesus, me ferem também a mim. É para passar para o teu coração os meus sofrimentos que Eu me apresento diante de ti tão magoada e ferida”.

 Ai Mãezinha, ai Mãezinha, não deixeis nada no Vosso Santíssimo Coração que Vos possa ferir ; passai, passai tudo para o meu.

 “Estás pronta, filha querida, a seguir a Jesus, dorida como Eu O segui, no caminho do Calvário, e O acompanhei na maior agonia até que Ele expirasse e fosse sepultado ?”

 Sim, Mãezinha, estou pronta; dai-me a Vossa graça.

 “Sofre, sofre então, filha querida, filha amada de Jesus e de Maria. Repara os Nossos Divinos Corações, que vão ser cravados por mãos cruéis, corações apodrecidos pelos vícios e paixões. Repara-Nos por tantas confissões mal feitas e comunhões sacrílegas. Ó minha filha, minha filha, como Nós vamos ser ofendidos pelos pecadores do mundo e, sobretudo, por muitos, muitos sacerdotes. Minha filha, filha de Jesus, faz sempre a vontade de Jesus, não Lhe negues nenhuma reparação, seja ela como for. Conta com toda a graça e força do Céu. Passo no teu coração um pouquinho de sangue que correu dos espinhos que feriram o Meu. É mais dor para o teu e ao mesmo tempo bálsamo. Tem coragem! Minha filha, minha querida esposa, unido à Minha Bendita Mãe, dou-te as minhas carícias com toda a graça e amor. Dá tudo o que recebes destes Divinos Corações aos que amas, aos que te rodeiam, aos que te amparam. Ponho no teu coração as predilecções que tem o Meu e O de Minha Bendita Mãe. Estimas e amas com todo o amor todos aqueles que Jesus estima e ama. Sofre, sofre, sofre, vai para a dor, vai para a imolação”.

 Obrigada, Jesus, obrigada, Mãezinha, por tanto amor, por tanto conforto, por tudo, tudo o que me dais. Obrigada, obrigada.

7 de Março – Sexta-feira

Se eu, sem desgostar a Jesus, Lhe pudesse dizer que não queria mais os Seus colóquios, não queria ouvir mais uma palavra Sua, de boa vontade o faria. Tenho medo de O ouvir e de comunicar com Ele. Temo e tremo diante de Deus e dos homens. Parece que quero desviar-me de Jesus e não sei como. Vejo ao mesmo tempo e sinto que é impossível esta separação. O que me causa este enfado e temor é eu não me acreditar em mim, nem em nada da minha vida. Minto e iludo-me a mim mesma, minto e iludo a todos os que me são queridos, e ao mundo inteiro. Podendo eu recordar todas as coisas, só não posso recordar o que foi a minha vida com Jesus. Tudo se encobriu e desapareceu com a morte ; neste ponto, parece-me que sei tanto do meu passado como sei do meu futuro. O futuro pertence só a Deus, e o passado morreu. A morte não fala de si, não sabe o que foi a vida. Ai Jesus ! Que ignorância a minha ! Continuo a sentir que tudo quanto me é feito pelos que me são queridos é chorado, é de má vontade. Parece que eles me querem fazer a mim o que eu disse parecer querer fazer a Jesus, separar-me d’Ele por completo. Ai, meu Jesus, não quero, não, essa separação. Queria fugir de todos e ao olhar de toda a gente, só para unir-me a Vós e só a Vossa vida viver. Tive dois combates violentíssimos; eles têm segredos que aqui não posso explicar. Não pude, não, por algum tempo, levantar os olhos para Jesus e para a Mãezinha ; tinha vergonha. Todo o meu corpo era um abismo de podridão, paixões e crimes. Toda a minha vida era uma vida leviana, pensando como e onde ofender a Jesus com as minhas desregradas paixões.

Ao terminar o primeiro combate, vi com os olhos da alma o sagrado vaso com as sagradas partículas ; não de todas, mas de algumas corria sangue com toda a abundância, que banhava as outras, transbordava para fora e corria pelo sacrário, descendo ao altar. No segundo combate, também ao terminar, vi com os olhos da alma dois corações unidos. Soube por graça do Senhor que era o Coração de Jesus e da Mãezinha. Estavam cercados de espinhos, e d’Eles corria muito sangue. O sangue dos dois juntava-se e caía como se fora uma só fonte, mas com a maior das abundâncias. Dizer quanto eu fiquei a sofrer, não posso, é impossível. Sofria por ver Jesus sofrer de tal forma na Eucaristia, e o Seu Divino Coração com O da querida Mãezinha. Sofria por sentir que era eu que assim Os fazia sofrer, com a gravidade e maldade dos meus crimes. Sofri e sofri infinitamente, por ver que eu, sem nenhum arrependimento, queria continuar a mesma vida de vícios, podridão e desvergonha. O meu Horto de ontem foi em todo o dia um contínuo envolvimento em toda a aterra. Todo o meu ser eram cavernas apodrecidas, era uma lepra desfeita. Vi-me presa e maltratada, a caminho dos tribunais. Vi-me no alto do Calvário, a descerem-me da cruz, entregarem-me morta nos braços da Mãezinha. Tudo isto me causava agonia e o suor de sangue. De manhã, depois de açoitada, coroada de espinhos e condenada à morte, caminhei para a montanha. O portador da cruz foi Jesus, eu não podia. O peito arquejava, o coração batia com toda a força. Meu Deus, quanta dor, quantos espinhos variados, fizeram mais dolorosos os meus caminhos! Crucificada na cruz, a Mãezinha permaneceu de pé junto a mim. Os Seus olhares de angústia mais enterneceram o meu coração e o fizeram sangrar. O meu brando moribundo só cessou com o consummatum est, com a entrega do espírito ao Pai. O silêncio da morte reinou no Calvário da minha alma. Jesus veio, não com alegria, mas com a Sua vida fez-me viver e disse-me :

 “Minha filha, minha filha, não podem dormir nem descansar as almas amigas do Senhor. O mundo, o mundo está à boca do abismo, para não dizer à boca do inferno. Alerta! Alerta! Levantem-se, acordem as almas amigas de Jesus. Ó minha filha, ó minha filha, dá-Me o teu amor, a tua reparação. Dá-Me o teu amor e faz que as almas me amem, dá-Me a tua reparação e faz também que elas Me reparem. A tua alma, no auge da dor e da alegria, necessita de amparo, necessita de um coração amigo, terno, compassivo, à semelhança do Meu. Tem coragem e confiança, minha filha. Jesus não te falta e inspirará esse coração amigo a abeirar-se mais e mais de ti. Coragem e confiança, minha filha, na certeza de que Jesus não falta a todo aquele que n’Ele confia. E como há-de faltar à mais querida das minhas esposas e à maior das minhas vítimas? O mundo, o mundo cruel é cruel para Jesus e é cruel para aquelas almas que escolhi para serem a luz e o farol da humanidade. É cruel para aquelas almas que escolhi para serem imoladas à semelhança de Cristo. Dá-Me, dá-Me toda a reparação, sem outra ansiedade, a não ser a de fazer a minha divina vontade. Confia, confia, Jesus to afirma. Faz o que até aqui tens feito. Olha, florinha eucarística, louquinha do Amor divino, acode, acode às almas. Acode, acode ao mundo. O abismo em que estão é de perdição. Leva-o às portas do inferno. Sofre, sofre tudo com alegria, se queres salvar as almas, se queres alegrar Jesus e Maria”.

 Eu quero, quero, Jesus. Primeiro quero consolar-Vos e depois as almas quero salvá-las. Vejo nelas o Vosso sangue. Vejo nelas a Vossa imagem. Sou a Vossa vítima, ó Jesus, sou a Vossa vítima. Não sei se sofro bem, Jesus, mas com certeza não sofro com essa alegria que Vós quereis. Não tenho coragem para mais. Eu alegro-me por sofrer e estou triste na dor. Tenho medo de mim, tenho muito medo de Vos ofender.

 “Alegra-te, minha filha, porque queres a minha divina vontade; sofres, sofres infinitamente porque sofres a minha dor e sofres com o temor de ti mesma. Esse temor agrada-me e comove o Céu. Se o mundo conhecesse o amor do Meu Divino Coração ! Se todos compreendessem quanto me ferem com a gravidade dos seus pecados! Repara-Me, repara-Me. Deixa que o teu Jesus desabafe com esse teu coração amigo. Toda a visão de maldades é tal e qual com sou ofendido. Toda a visão e sentimentos da minha dor são o fruto de tantos e tão horrendos sacrilégios. Leito de paixões, leito de inferno”.

 Perdão, Jesus, perdão, meu Amor. O inferno, o inferno, não, meu Jesus, para nenhum dos Vossos filhos. Crucificai-me, destruí todo o meu ser, mas salvai, salvai as almas.

 “Vem, vem, minha filha, receber a tua vida, receber o sangue do teu Jesus. Passou o sangue virginal, passou a vida do teu Jesus. Passou também a grande infusão do meu amor. Não te deixo sentir o prazer espiritual para reparares por aqueles que os têm carnais e tão desordenados. Pede oração, pede penitência, pede que seja ouvida e atendida a voz do Senhor. Fica na cruz, unida aos sofrimentos de Jesus e aos da tua querida Mãezinha. É para sofreres connosco, compartilhares de toda a nossa dor, que te faço ver e compreender o muito que somos ofendidos e a dor infinita que sofremos. Vai em paz. Coragem, coragem”.

 Obrigada, obrigada, Jesus. Compadecei-Vos de todos os que me são queridos, de todos os que são meus, de todos os que se me recomendam. Obrigada, Jesus, por tudo o que a todos dais.

14 de Março – Sexta-feira

Eu não posso falar, digo só umas palavrinhas, como sinal da minha obediência às ordens de quem pode mandar. Em nada me custa obedecer, só neste sentido me custa imenso. Jesus me aceite tão grande sacrifício. É grande, muito grande, infinitamente grande, a dor e a agonia da minha alma. Parece-me até que não sou eu a sentir esta dor e agonia dentro de mim. Se a minha ignorância soubesse falar, quanto ela poderia dizer ! Estende-se ao mundo, ou melhor, vem-me do mundo tudo isto. E eu não posso consentir que tanta coisa venha ferir o meu querido Jesus, dentro do meu coração. Meu Deus, não posso consentir e Vós consentis que eu Vos ofenda tanto. Ai de mim, ai o que se passa em mim. Perdão, perdão e misericórdia, meu Senhor. A minha vida é sempre uma vida de loucura, até de brutalidade, pelos prazeres carnais. Todos os meus olhares, todo o meu ser são levianos. Dois ataques tremendos levaram-me à maior miséria humana. Não posso, mas também não quero dizer muito, para não escandalizar. Uma força superior a mim obrigava-me a vomitar fora do coração Jesus Sacramentado que tinha recebido. Sentia que Ele antes queria ser dado aos cães. Expulsei-O de mim e, não satisfeita com isso, persegui-O sempre, com o demónio a reinar no trono onde habitava o meu Jesus. Com aquela força infernal não só O persegui, dei-lhe todos os maus tratos, pontapés, açoites e tudo o mais. Ai, como eu vi o meu Jesus! E depois, se por um lado sentia dor infinita, que não podia suportá-la, por outro lado, sem nenhuma pena, queria vingar-me d’Ele, satisfazendo sempre os meus criminosos desejos. Envergonhada de mim mesma, por muito, muito tempo, não fui capaz de levantar os olhos para as imagens de Jesus e da Mãezinha, embora sem que o coração cessasse de Lhes pedir piedade e compaixão. Ai de mim, ai de mim, sozinha, sem ninguém. O dia de ontem foi mais suave para a alma. Só à noite me envolvi toda no solo agonioso do Horto. Revesti-me da podridão de toda a ternura, reguei-a com o meu sangue, enchi-a toda de amor. A noite foi tormentosa para o corpo. O coração e a alma lá se foram unidos a Jesus prisioneiro. Nesta manhã, cedinho ainda, veio Jesus ao meu encontro, de braços abertos, todo ferido e chagado ; imprimiu no meu corpo todas as feridas e coroa de espinhos.com a cruz aos ombros, assim segui para o Calvário. Não era coisa nova o que lá ia sofrer. No decorrer da viagem tudo via, sentia e levava presente. No alto do Calvário, pregada na cruz e esta levantada ao alto, descarregaram sobre mim toda a espécie de insultos. A dor parecia arrancar-me do peito o coração, mas o amor estendia-se a todos e a todos dava o perdão. O meu brado doloroso ecoou tanto, fez tremer toda a montanha, e a cruz estremeceu, escondeu-se o sol, fez-se noite, e, neste momento, com Jesus entreguei ao Pai o meu espírito. Veio depressa a mim com a Sua nova vida e falou-me assim :

 “Vinde a mim todos os que sofreis e entrai no meu Divino Coração. Vinde a mim todos os que ansiais amar-me e bebei nesta fonte que não se esgota. Eu sou amor, amor, infinitamente amor, eternamente amor. Vinde, vinde a Mim todos, consolai também o meu Divino Coração. Dizei-me constantemente que Me amais e pedi-Me constantemente o Meu amor. O Meu Divino Coração quer dar-se, dar-se, quer voar para todos os corações. Minha filha, minha querida filha, faz que Eu seja amado. Sofro tanto, tanto, recebo ofensas sem cessar. Sou cruelmente mal tratado, sacrilegamente ofendido. Dá-Me, dá-me, minha filha, a reparação que te tenho pedido. Faz com os teus sofrimentos que o mundo se conquiste para Mim. Eu quero almas, todas as almas. Eu quero os corações fugitivos, Eu quero as almas que se afastaram de Mim. Vê, esposa minha, o mar de sangue que corre do meu Divino Coração. Ou me dás a tua reparação, ou Eu tenho constantemente este sofrimento”.

 Não, não, meu Jesus, essas lanças como serras dentro do Vosso Divino Coração não posso, não posso consentir em tal. Sim Jesus, dou-Vos toda a reparação contanto que tudo isso cesse e desapareça. Desapareceu o sangue, já vejo Jesus ; a Vossa divina chaga cicatrizou. Em vez de um mar de sangue, vejo um mar de amor, uma infinidade de fogo.

 “É, minha filha, o amor do meu Divino Coração, que até agora estava tão ferido e tanto sangrava. É este amor que Eu quero dar, é todo o amor que Eu quero receber. Não sofro agora, porque cedeste a reparar. Foste, como sempre tens sido, generosa, generosa ao excesso. Só para Mim, só para consolares este Coração, que tanto amas, podias usar de tal generosidade. É verdade que Eu te peço a mais honrosa reparação, mas também é verdade que te dou todas as graças, toda a protecção divina. Nada podias sem Mim. Eu nada posso fazer sem o teu consentimento. Sofre, sofre, se queres ver consolado, muito consolado, deliciado em ti, o teu Jesus. O mundo é ditoso! Portugal é ditoso! Ai dele, ai dele, sem este Calvário. Eu não te digo, não, minha filha, que ele é poupado aos castigos, aos rigores da justiça divina, porque ele é ingrato, ingratíssimo às graças que de Mim recebe, mas prometo, sim, prometo que as almas são salvas aos milhares, aos milhões. Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Passou a gotinha pura, a gotinha virginal. Uniram-se os nossos corações. Ela passou lentamente. É a vida da tua alma, mas não o é menos do teu corpo. Vives da Eucaristia, vives do sangue de Cristo. És esposa, és vítima, a cópia mais fiel da mesma vítima, do mesmo Cristo. Fica, fica na cruz a reparar-Me dia e noite com a tua crucifixão. Fica, fica na cruz, pois só com ela as almas podem salvar-se. Vai em paz. Pede, pede sempre que a voz do Santo Padre se faça ouvir, ecoar estrondosamente. Emendai-vos, filhos meus. Fazei oração, fazei penitência, Jesus o pede. Vai em paz, vai em paz. Tem coragem, tem coragem. Consola o meu Divino Coração e o da minha bendita Mãe”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus.

21 de Março – Sexta-feira

A vida passa, todos os momentos são morte. Quanto mais me esforço por procurar a Jesus e O servir com perfeição, mais Ele se ausenta de mim, mais me envolvo no lodo imundo, numa podridão sem igual. Sinto até que nenhum esforço faço para amar a Jesus, para O servir fielmente, e eu tudo faço para O ofender e condenar-me. Sem a graça e a força do Senhor, o meu viver era desesperador. Não tenho o mais pequenino mérito, porque a morte a tudo me leva, e sou e tenho em mim toda a qualidade de crimes; todo o meu ser é horror, é inferno, é paixão desordenada. Levo a vida a calcar aos pés o meu Senhor, levo a vida a crucificá-Lo, a renovar-Lhe toda a paixão e morte, levo a vida a pensar em leviandades e como e com quem e onde hei-de praticar os meus horrorosos crimes. Ai o que sofro ! Ai, quanto sofre a minha pobre alma! E eu não quero, nem por sombra, desgostar o meu Jesus. É tremenda a reparação que Jesus me pede. Se fosse pelo mundo, ainda que ele me fosse oferecido inteiramente, eu não queria, nem por um só momento, passar por tal. Mas, como é por Jesus e pelas almas, aceito, sim, aceito, custe o que custar. Depois de uma luta tremenda, a qual não explico aqui, eu vi que Jesus era vomitado, e era eu a vomitá-Lo ; vi que Ele era perseguido, e era como se fosse eu a persegui-Lo. Atirei-me a Ele com a maior fúria e loucura, dei-Lhe todos os maus tratos, vi-O todo em sangue e caído por terra. Quando eu, cansada de pecar, de O perseguir e maltratar, O vi levantar-se e, de rosto e olhar tristíssimos fitos em mim, dizer-me :

 “Também os meus amigos me tratam assim. Também aqueles, a quem Eu escolhi para mim e lhes obedeço, Me ofendem desta forma”.

E, num brado, em tom de quem grita muito ao longe, mas penetrando-me toda com os Seus olhares divinos, disse :

 “Também tu, também tu, a quem tanto amei, de quem tanto esperava, Me feres assim ?”

E, chorando, e, soluçando alto, desapareceu. Foi infinita a dor do meu coração, mas o pensamento, o meu espírito criminoso a nada disto cedeu, continuou na mesma. Sem poder sofrer mais, fiquei tristíssima e envergonhada diante de Jesus e da Mãezinha.

Tenho dentro de mim, no coração, uma seara de trigo imensa. As espigas estão louras, mas a tempestade tenta destruí-las, tenta queimá-las, tenta reduzi-las ao nada. E o mesmo se dá com os rebentos fortíssimos, que crescem dos enxertos. Quero sustentá-los, para que não caiam por terra, para que nada sofram com tal fúria tempestuosa. Mas não faço nada, sou uma inútil para todo, para todos. Custa-me tanto o sentimento de tudo o que me dão e fazem por mim. É chorado, dado e feito de má vontade. Seja tudo por amor do meu Jesus. Está mais próxima aquela morte diferente da morte de tudo e de sempre. Tenho tanto medo dela ! Apavoram-me os sofrimentos que ela consigo traz. Foi muito doloroso o meu Horto de ontem. Fiz-me um canal de sangue, a regar toda a terra, o outro que absorvia da mesma terra toda a miséria que ela continha. A Mãezinha das Dores pôs-se em mim e ao meu lado. Vi-me no caminho do Calvário, com o rosto deformado, todo banhado em sangue. Tudo o que ia sofrer me ficou presente. Durante a noite, não podia recordar que a sexta-feira se aproximava. De manhã segui para o Calvário com a cruz aos ombros e com a Mãezinha das Dores no andor do meu peito. Íamos tão unidas que as nossas dores eram uma dor só. No alto da cruz, continuei a ser altar da Mãezinha das Dores. Ela estava no meu coração, e eu sentia o que Ela sofria. Estava de pé, junto da cruz, e eu vi que as lágrimas Lhe regavam o Seu santíssimo rosto. Por mais que eu me esforce, não sou capaz de exprimir aqui a Sua dor e agonia. O Seu santíssimo Coração mirrava, estalava, e tudo se vinha reflectir no meu, assim como as palpitações do Coração Divino de Jesus agonizante. Entreguei com Ele ao Pai o meu espírito. Reinou por um bom intervalo de tempo o silêncio da morte. Jesus demorou-se a dar-me de novo a vida, mas, quando veio, falou-me assim :

 “Escutai, escutai bem: está à porta o mendigo. Jesus bate, Jesus pede, Jesus quer entrar nos vossos corações. Deixai, deixai que Ele entre, deixai-O, deixai-O tomar o trono de realeza. Eu sou Rei, minha filha, e, como Rei, quero reinar em todos os corações. São tão poucos os que me deixam reinar, são tão poucos os que Me amam e são tantos a repelirem-me do seu coração ! Como são cruéis e ingratos ; não querem possuir o seu Deus, não querem amar-Me nem receber o meu amor. Ó minha filha, minha filha, quanta dor, quanta mágoa para o meu Coração Divino ! Dá-Me a reparação que te peço. Atendei, atendei. Jesus imola, Jesus sacrifica a Sua vítima. É o mundo ingrato, é o mundo cruel a exigi-lo. Minha filha, florinha eucarística, faz que Eu seja amado na divina Eucaristia. São tantos e tão graves os sacrilégios ! Dá-Me reparação, minha filha. Ama-Me e faz que Eu seja amado, faz que Eu seja consolado. É um Deus que chama, é um Deus que pede, é um Deus que quer salvar. Coragem, coragem, ó esposa minha. É grande, muito grande, infinitamente grande a tua missão. É grande, é infinita, é a missão de Cristo crucificado. Assemelha-te, minha filha, o mais possível, a Mim, porque te escolhi para a missão a que Eu vim à terra. O mundo, e mais ainda Portugal, é ditoso. O mundo, e mais ainda Portugal, é cruel, é ingrato. É ditoso pelas vítimas que lhe escolhi, e mais ainda pela vítima deste Calvário. É cruel, porque paga o meu amor com ingratidão, não corresponde às graças que de Mim recebe. Quero almas, quero almas, dá-Me as almas”.

 Como, meu Jesus, como, meu Senhor ? Eu que sou uma inútil. Vede que não sou capaz de coisa alguma. Quero e não posso, Jesus, quero e nada faço. Não quero pensar, Jesus, não quero pensar o que Vos vejo sofrer. Pedis-me reparação, dou-Vos reparação e vejo-Vos ferido cruelmente. Não tenho coragem, meu querido Jesus, para Vos ver sofrer tanto. De cada vez sinto ainda mais, Jesus, que sou inútil, e que nada vale a minha reparação.

 “Escuta, minha filha, ouve com atenção o teu Jesus. Eu não sofro como me vêem sofrer. Sofreria assim, se não Me reparasses por tão grandes crimes. Imolo-te desta forma, mostro-Me mais sofredor, para que as almas saibam como sou ofendido. Eu quero que tudo isto se saiba, filha querida. Vem receber a gota do Meu Divino Sangue. Ó mistério ! Ó prodígio ! O Coração de Jesus unido ao coração da Sua vítima. Tornou-se a gotinha do sangue a vida da tua alma e também do teu corpo; passou a vida divina, vives dela; é esta mesma vida que quero que comuniques às almas. É por ti que elas recebem as maiores graças, o maior amor. É por ti que eu convido os pecadores a virem ao Meu Divino Coração. É por ti que o mundo recebe o convite da oração, penitência, emenda de vida. Sou Eu, Jesus, a convidar os filhos Meus a virem a Mim, convido-os pelos lábios da Minha esposa e vítima. Tem coragem, fica na cruz, sofre com alegria. O Senhor é contigo, sempre contigo”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus. Obrigada, obrigada, por tanto amor que me dais.

28 de Março – Sexta-feira

Não posso, mas quero obedecer para provar o meu amor a Jesus ; é a razão por que eu, com todo o sacrifício, digo alguma coisa do muito que me vai na alma. A minha pobre natureza está cansada, geme dia e noite, sob o peso da cruz. Causa-me verdadeiro horror tudo quanto é sofrer. Mas a alma tem uma sede ardentíssima, sede infinita de se dar e a Jesus dar todas as almas. Ela compreende, porque Jesus a faz compreender que é a dor, a cruz, o grande meio de salvação. Eu não posso, ainda que não possa mais, mas confiada na força e graça do meu Senhor, quero tudo e tudo aceito por Seu amor. Se a minha ignorância soubesse dizer o quanto eu suspiro por me dar a Jesus, por sofrer por Ele e Lhe dar todas as almas ! Ah ! Se eu possuísse todos os corações abrasados no mais puro amor para amarem a Jesus, e todos os corpos, o mais dolorosamente martirizados, para Lhe dar toda a reparação, só isto me satisfaria. Pobre de mim, não sou capaz de dizer nada do que me vai na alma, tal é a minha ignorância. A seara imensa que tenho no coração, derrubada pelos ventos, poisa na terra as suas espigas loiras. Envoltas na lama, ficaram quase apodrecidas. Sinto a necessidade infinita de levantá-las e purificá-las de toda a impureza. Tenho que dar-lhes toda a cor e brilho. O mesmo se dá com a vinha já crescida e bem florida. Meu Deus, que tremenda tempestade que tenta destruí-la e arrancá-la pela raiz ! O meu coração cuida dela, rega-a toda com o seu sangue, para mais fundo penetrarem as suas raízes. Continuo a dar ao Senhor a reparação que penso ser Ele que ma pede. Custa-me tanto ! É pavorosa a luta. Todo o meu ser é vício e é maldade. Todos os meus olhares têm o veneno dos mais horrorosos crimes. Gasto quase todos os momentos da vida a pensar a forma mais horrorosa e maldosa de satisfazer os meus criminosos desejos e a calcar aos pés a Lei do Senhor. A minha dor é infinita, e só com a graça d’Ele eu posso vencer tal sofrimento ! Ver o meu querido Jesus a fugir de mim, depois de eu O ter expulsado, e corro, corro atrás d’Ele, com a maior crueldade, a açoitá-Lo, a coroá-Lo de espinhos, a arrastá-Lo pelas cordas ! Sou a carrasco mais bárbara. Calco-O com os meus pés, e parece que tento tirar-Lhe a vida. Jesus grita tanto com tal afronta ! Eu nada digo de quanto O faço sofrer, de quanto O vejo sofrer ! Mas, se eu soubesse exprimir aqui a dor que sinto que Ele tem e o quanto me custa descrever isto, que nada significa e nada mostra do que Jesus sofre, quanto bem podia fazer às almas. Que pena de morte ! Tudo queria poder e saber dizer, por amor a Jesus e para o bem das almas. Foi tristíssimo o meu Horto de quinta-feira. Chorei, chorei, ou melhor, chorou a minha alma, sobre a cidade de Jerusalém. As minhas lágrimas eram lágrimas de pai. Eram um incessante convite ao arrependimento. Era a hora da graça, que não mais voltava ! Já pela noite dentro, repetiu-se a sina do meu coração : ser pomba branca e inocente que percorreu todo o solo do Horto, não poisou no olival, mas envolveu-se na terra. Tinha uns olhares penetrantes, que viam e perscrutavam tudo o que nela encerrava. Cega pelo amor, não se poupou a manchar-se e a entregar-se ao Pai, para pagar e responder pela mesma terra. Neste momento, toda esta se transformou em feras que apavoravam. Todo o meu ser era por elas devorado. Fiz-me agonizar e suar sangue. De manhã, caminhei para o Calvário. Saiu-me ao encontro a Mãezinha e acompanhou-me, longe na aparência, mas unida na realidade. Os nossos corações sofriam num só coração. As nossas lágrimas tinham a mesma amargura, a mesma dor e sentimentos. No alto do Calvário, Ela ficou firme, ao pé da cruz. D’Ela para mim havia um canal de salvação. Tudo passava do meu coração para o d’Ela, ou antes, do Coração de Jesus que estava em mim, e por Ela todas as almas recebiam as graças e os frutos da redenção. Entreguei ao Pai o meu espírito, com as setas d’Ela a atravessarem o meu coração. Depois dum bom intervalo do silêncio da morte, ouvi Jesus a falar-me com toda a ternura e amor.

 “Escutai, Jesus vai falar, Jesus vai chorar, Jesus vai desabafar com a Sua vítima. Venho fugitivo, minha filha. Atacaram-Me, feriram-Me os maus. Entrei no teu coração, nele me refugiei; quero entrar e refugiar-Me em muitos, muitos corações. Ah ! Se pudesse ser, queria entrar, queria refugiar-Me, queria possuir todos os corações. Escutai, escutai o mendigo do amor. Jesus mendiga amor, Jesus mendiga dor, muita dor. Nestas horas, neste tempo angustioso para o Meu Divino Coração, eu quero, sim, eu quero que toda a reparação me seja dada. Eu quero, sim, minha filha, apresentar ao meu Eterno Pai a reparação que me dás e a reparação que por ti me dão muitas almas. A tua vida, minha filha, é uma escola de amor, é uma escola de dor. Eu quero, eu quero, brado bem alto que na tua vida aprenda toda a humanidade. É uma escola sábia, é uma escola sublime, é uma escola toda, toda da vida divina”.

 Oh ! Jesus, Vós sois o Senhor, tocai, movei os corações, para que todos Vos amem e nenhum Vos ofenda. Quantas vezes, meu Jesus, eu sinto em mim grandes desejos de Vos negar a reparação que me pedis. Sabeis muito bem, meu Amor, não é por não querer sofrer, mas é sim o temor, o pavor de Vos ofender. A minha vida, tão duvidosa, leva-me a tudo isto. Perdoai-me, Jesus, perdoai-me.

 “A tua vida, a tua vida, minha filha, foi a luz que caiu do Céu. Vives de Cristo e para Cristo ; vives a vida graça ; vives a vida divina. Dez anos são passados, que eu mudei a tua crucifixão, que eu aumentei mais, muito mais, a tua cruz. Estás cheia, sempre cheia, à Minha semelhança. Eu estou cheio, cheio de ser ofendido. Todas as transformações da tua alma têm o seu significado. Sentes-te cheia e tens saudade da alimentação. Eu estou cheio de ser ofendido e sinto a saudade infinita de possuir todos os corações dos que Me ofendem”.

 Não chores, Jesus, não chores ; quero chorar eu as Tuas lágrimas, meu Amor. Não chores, Jesus, não chores, eu farei todo o possível ; eu quero sofrer tudo, tudo, para Vos dar as almas, todas as almas. Aceito tudo e tudo estreito ao meu coração, mas cessai as Vossa lágrimas; não me poupeis e dai-me a graça e força.

 “Coragem, coragem, Minha vítima amada. Não duvides da tua vida; é só obra Minha, é só obra Minha. Eu choro, Eu choro, porque não posso, não posso com tantos crimes; não há reparação que chegue para aplacar a justiça de Meu Pai. Quero vítimas, quero vítimas, quero amor, quero corações cheios de amor. Dá-me, Minha filha, reparação, esta reparação que te repugna, que te apavora. Aquelas almas, aquelas almas, sem falar do mundo inteiro, sem falar do pobre Portugal ! É ditoso, porque te possui. É pobre, porque não corresponde. Aquelas almas, aquelas almas, ai aquelas almas, Minha filha! Como não hei-de Eu chorar ? Ocupavam um grande lugar no Meu Divino Coração. Fugiram-Me e agora reina nelas Satanás. Renovam, dia e noite, a Minha Sagrada Paixão. Repara-Me, repara-Me com heroísmo e alegria”.

 Sim, Jesus, tudo por Vosso amor, tudo para a salvação das almas.

 “Vem receber a gota do Meu Divino Sangue. Levou-te a vida, levou-te a paz, levou-te amor”.

Uniram-se os corações das duas vítimas. A vítima de há vinte séculos, com a vítima de hoje. Parece, Jesus, que me fez adormecer. É verdade, é verdade. O meu coração ficou mergulhado em paz e amor e ficou com mais vida.

 “Fica, fica então na tua cruz, nesta cruz que te vai conduzir ao Paraíso. Nesta cruz que é a salvação de milhões e milhões de almas. Fica em paz. Já que tudo Me dás, pede-Me sempre o que quiseres”.

Jesus, Jesus, tenho no meu coração todas as minhas intenções, tudo quanto desejo. Vede e atendei aos meus pedidos e às minhas preces.

 “Coragem, coragem e confiança, confiança no teu Senhor”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus.

   

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