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SENTIMENTOS DA ALMA

1952

MAIO

2 de Maio – Sexta-feira

 “O Meu Divino Coração é amor, amor, só amor para com os homens. A retribuição destes é de ingratidão, maldades e crimes. Sou amor e amor venho pedir. Sou amor que consome e na mesma intensidade quero ser consumido. Como a borboleta louca ao redor da chama, anda o Meu coração ao redor, a bater à porta dos corações. A borboleta ama tanto, tanto, chega a consumir-se, a dar a vida. Eu amo mais, muito mais, infinitamente mais. E, por não serem abertas as portas dos corações, por não Me darem lugar em suas moradas, sofro, sofro tanto ! Se não fosse Deus, morreria de dor. Uns recusam-Me, porque estão pervertidos ; as suas consciências calejadas rejeitam-Me por completo; outros não Me atendem ainda, porque querem continuar nas suas paixões desordenadas. O inferno, o inferno, está aberto para eles. Outros recusam-me, porque não Me conhecem. Ainda mais outros não Me dão entrada, porque não querem sofrer. Querem flores, mas sem espinhos. Querem alegrias sem serem intercaladas pelas tristezas. Eu sou Jesus e como Jesus venho pedir-vos, venho mendigar; escutai e atendei a este mendigo divino. Venho a tiritar de frio, quero aquecer-Me nos vossos corações. Dai-Me amor, fazei com que Eu seja amado. Minha filha, minha filha, Jesus está no teu coração, à sombra de arbustos floridos. Jesus está no teu coração, como jardineiro cuidadoso, cuidando e deliciando-Se com as flores. Aqui estou bem, aqui estou bem. Eu não Me delicio na tua dor, delicio-Me no fruto do teu sofrimento. Eu não quero fazer-te sofrer, mas quero salvar os filhos Meus. Dá-Me, dá-Me a tua dor. Deixa que eu faça de todo o teu ser uma bolinha dorida, uma bolinha ferida, em cada momento do dia e da noite. Já que te deste a Mim, com toda a generosidade e com todo o heroísmo, deixas de sofrer enquanto estiveres na terra, quando o homem deixar de pecar”.

 Está bem, meu Jesus, está bem. Tudo o que fazeis é bem feito e é por amor. Vós sois o Senhor, e eu uma criatura Vossa. Vós sois tudo, e eu sou nada. Mas, ó meu doce Amor, tudo Vos entrego e aceito e estreito ao meu pobre coração. Entrego-Vos todo o meu viver, aceito toda a dor que me dais. Aceito-a, abraço-a só por Vosso Amor. Vede, Jesus, que não tenho nenhuma força para sofrer. Conto convosco, é de Vós que espero toda a graça.

 “Vem, vem então receber a gota do Meu Divino Sangue. O Coração Divino de Jesus, unido ao da Sua vítima, formou um só coração. A gotinha do sangue correu. Levou para ti a vida, a vida divina, a graça divina, o amor divino. És forte, nada temas; tens contigo a força divina. Onde está a vida divina, está a verdadeira vida. Onde está o poder supremo, está a vitória e o triunfo de todas as coisas. Fica na cruz, minha filha. O mundo louco, o mundo perverso, desafia, desafia a justiça de Meu pai. Fica na cruz, o mundo louco, o mundo desvairado, não é salvo sem a tua imolação, sem a tua reparação. Não quero queixar-Me mais, por hoje, para não ficares em maior dor. Coragem, coragem. Alegra o teu Jesus”.

 Obrigada, obrigada, meu Amor.

3 de Maio – Primeiro Sábado

 “Minha filha, minha filha, o bom jardineiro, de manhãzinha, quando aparece o sol, cuida a sério das suas flores. Limpa-as de todos os vermes. Rega-as para o sol ardente não as queimar. Eu estou aqui, Eu estou aqui a cuidar deste jardim formoso; a prepará-lo mais e mais para as Minhas delícias, para o Meu lugar de contínua habitação. O sol sou Eu, o jardineiro sou Eu, o mendigo sou Eu. Venho aquecer-te, venho fortificar-te, venho pedir-te. Quero queimar-te com os raios do sol fortíssimo, que é o Meu amor. Quero fortificar-te para mais, sempre mais, poderes resistir á dor. Quero pedir-te reparação, reparação. Um martírio doloroso e contínuo. A tua cabeça não pode deixar de sentir os dolorosos espinhos. O teu coração deve estar sempre deles cercado. As lanças, as setas e punhais não podem sair dele. Tem que ser completa a tua cruz, todo o teu calvário. Os pecadores ferem-Me muitíssimo, mas os desertados e milhares, milhares de almas consagradas a Mim, ah! essas ferem-me muito mais ainda. Nunca se pode esperar coisa boa dos grandes inimigos, mas quando vêm as afrontas dos amigos, as ofensas mais cruéis e dores mais pungentes, ah! então o coração sangra, sangra, não pode deixar de sangrar, e tu, que és a minha vítima mais amada, não podes deixar de sofrer comigo. Dá-Me dor, dá-Me dor. Minha filha, és vítima do mundo, do mundo inteiro, mas és mais, muito mais, dos sacerdotes, que, às dezenas, às centenas, aos milhares, renovam a minha Sagrada Paixão. Diz ao teu Paizinho que se associe sempre, sempre, à tua dor. Que repare tais crimes, tais crueldades, praticados com a maior loucura, com a maior malícia que se pode imaginar.

Diz, diz ao teu Paizinho que se não importe da forma como o faço sofrer. Que atenda bem, que esta reparação é precisa, e que o Mestre se tem de adaptar aos seus alunos, assim como eles ao seu Mestre. Diz-lhe que só escolho para esta reparação, para reparação tão delicada, as almas puras, as almas fortes, as almas enamoradas de Mim. Dá-lhe, dá-lhe o Meu amor divino. Dá-lhe, dá-lhe toda a minha força e graça e a certeza de que Jesus está sempre nele e ao seu lado; de que Jesus caminha com ele e fala nos seus lábios. Diz-lhe, diz-lhe todas estas verdades.

Diz ao teu médico que ele é o querido do Meu Coração Divino, e queridos são todos os seus rebentos. Os espinhos de hoje, que são as rosas de amanhã. As tristezas presentes são as glórias da eternidade. Ele tem que sofrer, e sofrer muito, porque o amo, porque é nobre a sua missão. Dá-lhe a certeza do amparo e protecção do Céu. Dá-lhe a certeza de que está com todos os seus. Ao abrigo do manto de Jesus e de Maria. Dá-lhe amor, dá-lhe amor, com toda a abundância. Vem, minha Bendita Mãe. Está exausta a Nossa filhinha. Vem enriquecê-la, para que fique mais forte. Vem acariciá-la, para que suporte com mais coragem a sua dor. Minha filha, minha filha, dá-Me as tuas mãos, quero colocar nelas as minhas graças. És a mensageira de Jesus e de Maria. És a distribuidora das riquezas do Nosso amor. É por ti que as almas são enriquecidas”.

 Ó Mãezinha, ó Mãezinha, já estou outra. O sol apareceu, o sol brilhou; o peso das Vossas graças é tanto que só convosco posso aguentá-lo.

 “Fica com elas, minha filha, e distribui-as. Fica com elas e enriquece a todos. Dá-as, em primeiro lugar, a quem te rodeia, a quem amas com todo o coração, com toda a tua alma. Todo o teu afecto e amor a esses corações é fruto do Nosso afecto e do Nosso amor. Ama-as, porque também Nós as amamos. Dá a todos os que te pertencem, dá a todos os que se aproximam de ti, espalha-as em espírito pelo mundo inteiro. Sê sempre a semeadora de todas as riquezas celestes. Já o és na terra e, em breve, muito em breve, continuas a ser no Céu. És a semeadora do Rei do amor e da Sua Bendita Mãe. Sou, sou, minha filha, a tua querida Mãe do Céu. Recebe, minha querida filha, todas as carícias do Céu. Nada negues a Jesus, faz sempre tudo o que Ele te pedir. Sê sempre generosa; a tua querida Mãezinha é contigo. Repara os Nossos Divinos Corações, consola-os. Repara o Eterno Pai, continuamente ultrajado. Escuta agora Jesus; repara-Me, minha filha, na Eucaristia. Ai ! tantos crimes, tantos crimes, tantas comunhões sacrílegas ! Repara-Me, repara a Santíssima Trindade. Três Deuses num só Deus. Três amores num só amor”.

 Vou reparar-Vos, Jesus, vou sofrer tudo, se eu puder, com a maior perfeição, mas não fiqueis triste, não choreis, meu Jesus, porque eu amo-Vos e sou Vossa, sempre a Vossa vítima. Obrigada, Jesus. Obrigada, Mãezinha, pelas Vossas carícias, pelas Vossas graças, pelo Vosso amor. Ai, Mãezinha, queria ir convosco para o Paraíso.

 “Tem coragem, minha filha, não demora muito. Venho buscar-te, levo-te em meus braços, envolvida no manto”.

 Obrigada, Mãezinha, obrigada, Mãezinha, obrigada, Jesus, meu terno e doce amor.

9 de Maio – Sexta-feira

 “Escutai, escutai. Oh ! como é eterna e doce a voz que Vos chama. Escutai, escutai, é Jesus que Vos chama, é Jesus que vai pedir-Vos. Eu sou ternura, doçura e amor. Escutai, escutai, depois de tanto amar, depois de tanto bater e pedir, não sou atendido, não cedem às instâncias do Meu Divino Coração. Dai-Me amor, dai-Me amor. Reparai este Divino Coração, que todo Ele é riqueza. Riqueza infinita, riqueza que quer dar-Se para enriquecer todas as almas, todos os corações. A guerra das paixões desencadeou-se. O mundo, o cruel mundo não deixa de ofender-Me. A desonestidade, as paixões, a ambição, a avareza, os bailes, os cinemas. Ai, minha filha, ai, minha filha, não posso dizer mais, nem quero entristecer o teu coração, tão sofredor. Basta, basta, sou Eu que digo que basta. Não podes ser crucificada com maior intensidade”.

 Ó Jesus, ó meu querido Jesus doloroso, Vós não quereis entristecer-me, Vós não quereis aumentar mais o meu sofrimento, e eu sinto que mais não posso sofrer, meu Jesus. Eu não preciso de maiores desabafos, já compreendo tudo. O meu pobre coração tem o sentimento e a visão da Vossa dor infinita. Não posso, não posso, Jesus, sentir mais a Vossa dor; morro, se não me valeis, morro, se não me amparais. O Vosso amparo, Divino Jesus, levantou-se. Eu estava caída. Nas Vossas santíssimas mãos, inclinada no Vosso santo lado, sinto-me mais forte, mas a dor não cessa. Não sou eu a sofrer, sois sempre Vós, por mim eu não resistia. A vontade está pronta, e eu sou sempre a Vossa vítima.

 “Coragem, minha filha, fica mergulhada neste abismo infinito da dor. Fica nesta noite tenebrosa, nesta amargura sem fim. É o sofrimento do teu Jesus. É este o estado a que os homens O reduzem. É esta a retribuição que Me dão por tanto amor. Sofre, sofre. Compra-Me as almas com a moeda dador, que é a moeda mais cara e agradável aos olhos do Senhor. Sofre, sofre, conquista para Mim as almas. Eu faço que aos milhares elas venham junto de ti, porque és a depositária das minhas graças e riquezas. Quero que lhas comuniques, é por ti que elas tudo recebem. É encantadora, é nobilíssima a tua missão. Vem, florinha eucarística, receber a gota do Meu Divino Sangue. Recebe, violeta florida, recebe, estrela e farol do mundo, é esta ávida que te faz viver com a Eucaristia. Faz com que muitas almas Me amem, naquele sacramento de amor, Me amem e Me desagravem. Faz que o Meu Divino Coração seja amado com O da minha Mãe bendita, amados e não ofendidos. Fica na cruz, fica com alegria; pede, pede sempre oração e penitência, pede para que Eu não seja ofendido. Vou pedir-te nestes dias mais reparação, aquela reparação que tão custosa é à tua alma e ao teu coração. Dá-Ma, dá-Ma com alegria, é pelas mesmas almas que estão na boca do leão, às portas do inferno. Tem coragem, o Senhor é contigo. Fica com a minha paz, dá a minha paz”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus. Atiro para Vós as minhas intenções, como uma chuva de flores. Aceitai-as, meu Amor. Obrigada, meu Jesus. Sou sempre a Vossa vítima, atendei às minhas preces.

16 de Maio – Sexta-feira

Parece que o meu coração tem que dar o sangue para ditar estas linhas, tal é o meu sacrifício. Tornou-se por completo inútil todo o meu viver. É um horror o sentimento da minha alma. Não sei, não sei, porque não tenho caído no desespero; Nosso Senhor dá o martírio, imola-me, como Lhe apraz, mas vem ao mesmo tempo sustentar-me, vencer em mim, fazer por vezes que todo o meu sofrer seja gozo. É gozar sem consolação, mas é gozo, porque não sei nem posso viver fora do sofrimento. O coração e alma sangram, e, ao mesmo tempo, toda a minha felicidade está na amargura, está no meu Calvário. Esforço-me por encobrir quanto sofro com o sorriso, mas este meu sorriso, esta minha alegria, não vai de fora para dentro, mas sim vem de dentro para fora. O amor, a alegria pelo sofrimento estão ligados aos muitos sofrimentos, ao doloroso martírio que em mim se passa. Mas este sofrer todo é inferior à loucura de amor que tenho pela dor. Não posso viver sem dor, embora sinta que caminho de rasto, que abandonei a cruz, que sou inútil para tudo, tudo o que é de Jesus, para toda a vida do Céu. Tenho tido as minhas lutas, para dar a Jesus a reparação que Ele tem pedido. Todo o meu ser é crime, matéria e podridão. Tudo em mim é maldade e ânsia de pecar. Depois de um horroroso combate, em que mais parecia o inferno do que outra coisa, senti ainda como que se Jesus viesse muito triste, com o Seu Divino Coração a sangrar, a sangrar muito, mas cheio de amor e misericórdia, buscar-me para os Seus santíssimos braços. Louca pelos prazeres, tentei fugir-Lhe e Ele dizia-me :

 “Não me fujas, vê para o que te escolhi, não calques aos pés a minha Lei. (Sem nada mais poder ditar, segue-se o êxtase). Jesus fala do tabernáculo das suas delícias. Dá a Sua paz e dá o Seu amor. Vou queimar-te, vou consumir-te, minha filha, nas chamas, no fogo do Meu Amor Divino. Tem coragem, tem coragem, porque o Senhor é contigo. Confia que foste criada para grandes coisas. A tua missão tão nobre e tão bem desempenhada é o encanto, é a alegria do Paraíso. Todo o teu viver é permitido por Jesus. Não duvides, não duvides. O teu Calvário é o mais semelhante ao Calvário de Cristo crucificado. A tua vida de cada momento do dia e da noite é a renovação, é a cópia mais fiel da vida de Jesus, da Sua origem dolorosa para o Calvário. Continua, continua com alegria a minha obra redentora. Os crimes do mundo fazem eclipsar-se o sol e esconderem-se as estrelas. O coração do teu esposo Jesus não pode mais, não pode aguentar tanta dor. O Eterno Pai quer destruir, quer deixar cair a Sua justiça vingadora”.

 Que peso, Jesus, que peso que me esmaga! Todo o meu ser parece desaparecer dos olhares do Senhor. Jesus, Jesus, fica sem vida o meu coração. Se não fosse o amor, o fogo, que no princípio lhe colocaste, já não vivia, já não vivia, meu Jesus.

 “Eu sabia bem, minha filha, tudo o que te ia dar, tudo o que te ia fazer deles. É Jesus a viver em ti, é Ele a falar, a sofrer e a operar tudo em ti. O inferno, o inferno, minha filha, é horroroso, mas é mais horroroso ainda, mais, muito mais, a maldade com que o Senhor é ofendido. Aquele Senhor que amou tanto, até dar a vida! Dá-Me a reparação, dá-Ma toda, minha filha. Confia em Mim, confia nas palavras daqueles que te confortam por Mim”.

 Quase não posso, Jesus. Pode haver maior inferno do que aquele que por vezes se passa no meu corpo e na minha alma? E depois as minhas dúvidas, ai, as minhas dúvidas! Ai! tanto temor!

 “Não há maior inferno, não, minha filha, é esse mesmo, tudo quanto sentes são tormentos do inferno. Não é outra coisa senão a tua missão de vítima. Não é outro o fim, senão evitar as almas de caírem lá. A inutilidade que sentes de todo o teu viver é a inutilidade de milhares e milhares de almas, inúteis para o bem, inúteis para a vida do Senhor. Úteis ao mundo, aos prazeres, às vaidades, a tudo o que é pecado, a tudo o que são vícios, úteis a Satanás. Sofre, sofre, que bem depressa vens receber a recompensa”.

 Não é isso, Jesus, que me dá mais força para sofrer. Sofro por Vosso amor, sofro por amor das almas, porque Vós as amais. A recompensa, meu Amor, perdoai-me, mas não me ilude. Sois Vós, sois Vós, e tudo é por Vós. Só tenho pena de não saber sofrer melhor. Só tenho pena de não prender todas as almas, todos os corações, dentro do Vosso Divino Coração. Queria roubá-las a Satanás.

 “Faz o que fizeste até aqui. O inferno, Satanás, está raivoso. Que ódio, que ódio infernal ! Não temas, não temas, não te deixo pecar. Nunca, nunca serás por ele derrotado. A tua missão nobre, nobilíssima, continua no Céu. Lá não sentirás os efeitos da sua raiva. De lá, todas as almas, que tanto amas, vão ser por ti orvalhadas com orvalho celeste, que vem fecundar, que vem penetrar em todo o meu ser. Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Passou a gotinha divina, juntou-se ao incêndio de amor. Sem este alimento não vivias. Sem este conforto não resistias a tanta dor, não aguentavas o peso da cruz. Fica nela bem crucificada. Aperto-te bem os cravos. Brada por Mim só com o coração. Pede-Me quanto quiseres. Muito te peço e muito te dou”.

 Jesus, vede todas as minhas intenções, que neste momento tenho presente. São muitas, não são, Jesus ? Despachai-as, despachai-as todas, Vós sois infinitamente rico, dai-nos a Vossa riqueza. Dai-nos a Vossa graça e amor.

 “Faça-se como queres, vai em paz”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus.

23 de Maio – Sexta-feira

Por não ter podido, não tenho falado do muito que me vai na alma. Hoje, por não poder ainda, quase nada vou dizer. Digo muito e afinal sinto que não é nada, e apenas a minha inutilidade em todas as coisas do Senhor, em tudo quanto podia repará-Lo, consolá-Lo e amá-Lo. Sinto como se esta inutilidade fosse para sempre. Parece que foi para mim inútil a vinda de Jesus à terra. A Sua vida, o Seu Calvário. Não tenho para Lhe dar a mínima coisinha. Nas quintas e sextas-feiras era inútil todo o meu sofrer. Eu ia forçada a acompanhar Jesus; ia pior do que se fosse de rasto a acompanhar os Seus passos. Ele ajudava-me a levar a cruz, e eu atirava-a fora dos meus ombros. Aborreci-a, odiava-a e não queria a ajuda de Jesus. É do nascimento à morte do Senhor que se manifesta a minha inutilidade. E, depois da morte, o meu ódio contra Ele. Parece-me que os meus lábios, olhos e ouvidos, todo o meu ser há-de faiscar fogo, e o meu coração não saberá fazer outra coisa a não ser odiar e com os lábios amaldiçoar a Deus. Não sei se nunca saberei dizer o que sofro. A minha ignorância nada conhece e nada pode manifestar saber. Não soube assistir às Santas Missas que no meu quarto se celebraram. Pedi à Mãezinha, de alma e coração, que Ela suprisse toda a minha falta e deficiência, porque eu era a filhinha mais pobre, mais doentinha de alma que Ela tinha. Uma só coisa me resta, Mãezinha : o abandono, mas sim um abandono confiado. Senti, sexta-feira, uma humilhação tão grande, no meio da minha inutilidade e aborrecimento, se não era ódio a todo o Calvário, ver-me rodeada de pessoas. Dava-me a ideia e o sentimento de que eu era bruxa, sem nada disso conhecer. Mas tudo queria, aceitava e amava por amor de Jesus e às almas. Num brado dolorosíssimo, com o coração sem sangue, entreguei ao Pai o meu espírito. Neste momento, com a vida, pareceu-me entregar-lhe a humanidade. Pouco tempo depois, com a nova vida de Jesus ouvi a Sua voz :

 “Procurai a Jesus, as Suas coisas, a Sua Lei. Deixai o pecado, deixai o mundo, deixai Satanás. Ide ao encontro de Jesus, porque à vossa busca anda Ele. Ide ao encontro de Jesus. Ele anda, corre sempre, sempre à vossa procura. Jesus avisa, Jesus fala dentro do coração e pelos lábios da Sua vítima. está entre vós, como outrora entre os Apóstolos. Enchei-vos das Suas graças, dos Seus tesouros, do Seu amor. Estou triste, triste, choro com dor, estou ferido com os pecados do mundo. Sangra, sangra tanto o Meu Divino Coração. Fala-se tanto do amor de Jesus, da Sua doutrina, de toda a Sua obra ! Mas amá-Lo, observá-Lo, cumprir fielmente os preceitos do Senhor !... Não é coisa tão basta, tão frequente como parece. É piedade infecciosa, é amor nojento, é amor criminoso, criminoso, criminoso, minha filha”.

 Oh ! Jesus, ó Jesus, vejo que a Vossa sacrossanta cabeça está cercada de grandes e penetrantes espinhos. Dela cai uma chuva de sangue. Os Vossos divinos olhos são dois regatos de lágrimas. Como poderei eu ficar indiferente a tudo isto ? Não, Jesus. Não posso deixar de sofrer. Ai que dor, ai que dor no meu coração ! Que noite tempestuosa e negra na minha alma !

 “São assim, minha filha, são assim os corações, as consciências de muitas almas que se aproximam de Mim. De muitas, de muitas, bem Me compreendes, que vão mais além do que isso. São os corações, são as consciências de milhões e milhões de pecadores. Não se convertem, não deixam de pecar. Não aceitam a cruz”.

 Jesus, Jesus, meu amor. Estreito-Vos ao meu coração. Derramai sobre ele esse sangue e essas lágrimas. Fazei, Jesus, que eu seja um depósito seguro de tudo isto. Eu não quero que se perca uma só gota do Vosso sangue divino, nem uma só lágrima derramada dos Vossos santíssimos olhos. Eu quero, sim, Jesus, que seja de proveito para as almas, para que todas se convertam, para que todas Vos amem com amor puro e santo, para que todas sejam salvas.

 “Tu és, minha filha, mais que um depósito, tu és cofre riquíssimo, tu és tabernáculo do Rei do Céu. É por ti que as almas são enriquecidas, é por ti que elas recebem a sua felicidade. Dei-te tudo, para que tudo lhes dês. Dá-Me, dá-Me a tua reparação. É com ela, com os méritos da minha Bendita Mãe e da minha Santa Paixão que Eu sustento o braço do Meu Eterno Pai. Ele pende, pende, esmaga, quer cair sobre a terra culpada. O mundo, pobre mundo ; o Portugal ingrato, ingrato e cruel ! Vem, vem, minha filha, recebe a gota do meu Divino Sangue. Uniram-se, uniram-se nas minhas veias. O sangue que trouxe do ventre de minha Mãe. O sangue que te dá a vida, o alimento que te faz viver. É a força, é a vitória da tua cruz”.

 Ó Jesus, com a gotinha do Vosso sangue desapareceu a dor, desapareceu a noite. Tem luz, tem vida, sente agora o meu coração. Muito obrigada, Jesus. Estou mais forte.

 “Foi para isso, filha querida, foi para que ficasses mais forte que ta dei. Fica na cruz. A dor vem já. A noite aparece. Os crimes do mundo fazem a noite, roubam a luz ao sol, o brilho às estrelas. Fica na cruz, dá-Me a tua reparação. Dá-ma, dá-ma sempre, por bem pouco tempo ma dás. Do Céu continuas a tua missão, a missão para que foste escolhida, para que foste criada. Fica na cruz, pede sempre oração, penitência e emenda de vida. Fica na cruz. Coragem”.

 Obrigada, obrigada, meu Jesus.

30 de Maio – Sexta-feira

Tenho medo, fico por vezes apavorada com a minha inutilidade. É um tormento de more e morte desesperada. Invoco com os lábios, e o mais das vezes com o coração, o nome de Jesus e O da Mãezinha. É com Eles que eu conto; é o amor e força dos Seus Divinos Corações que eu combato. Confio n’Eles e com Eles espero não cair no desespero. Só tenho inutilidade para o pecado. Estou sempre louca pelos prazeres, pelas paixões. A minha alma sente e tem por vezes visões horrorosas de todas as maldades. E tem o conhecimento da gravidade de todos os actos. Não quero pecar, digo que antes quero o inferno do que por um só momento ofender a Jesus. E ao mesmo tempo tenho pena quando não satisfaço os meus desejos, quando não peco com aquela maldade, com aquela satisfação a que me leva a paixão desordenada, a malícia infernal. Parece que quero pecar e por várias circunstâncias sou interrompida no pecado, fico desorientada e a pensar só naquilo que tentei e não pude conseguir. Parece que tudo quero, mas na realidade não quero. Oh ! não, isso não, pecar contra o meu Senhor ! Já dentro da novena do Espírito Santo, no meio desta tormenta, a minha alma teve um conforto com a visão do Paraíso. De cima, por entre uma nuvem branca, sobressaía uma pomba de asas abertas, com a alvura da neve. Dela saíam uns raios finíssimos, doirados, que vinham pousar sobre o meu coração. Esta visão foi lindíssima, mas pouco demorada. Fiquei mais forte para triunfar no meu Calvário. A minha inutilidade continua, a minha ignorância nada sabe dizer, e as minhas forças nada me permitem. O meu coração não deixará de bradar e de pedir auxílio ao Céu. Só para a maldade sou útil. Inútil para viver para Jesus, inútil para o Horto e para o Calvário. Hoje, quando seguia para o cimo da montanha, sentia-me de tal forma inútil e separada do Calvário, que me parecia que umas muralhas, levantadas da terra ao Céu, me separavam de Jesus, da cruz, do Calvário, com todos os méritos que nele alcançou Jesus. Foi inútil o Seu sangue e a Sua morte para mim, assim como foi inútil para tudo. Expirei fora d’Ele, e como que a amaldiçoar a Sua Lei e os meus dias. Momentos depois, desceu até mim, transformou a minha alma, deu-me luz, deu-me paz e falou-me assim :

 “Jesus, como pomba branca, esvoaça, entra e sai fora do tabernáculo da Sua esposa, sem nunca se ausentar dele. É este coração tabernáculo do Rei Divino, tabernáculo do Rei de amor. Eu quero permanecer aqui, minha filha, não posso separar-me. Sou Jesus, não posso viver sem as delícias deste coração”.

 Dizei, Jesus, dizei tudo.

 “Não posso, não, minha filha, viver, passar sem esta sombra deliciosa, sem este perfume de tão variadas virtudes”.

 Falais bem, Jesus, falais como Deus, sois a sabedoria infinita. Vós sois as delícias, Vós sois a sombra, Vós sois as virtudes onde desejais esconder-Vos. Não Vos ausenteis, não, meu Jesus. Ai de mim, sem Vós.

 “Nunca, nunca me ausentei de ti, desde o momento do teu baptismo. Aqui vivi, aqui permaneci. Aqui continuo a minha morada até ao último momento. Sempre aqui vivi como afirmo. Como poderia agora deixar de viver, nas horas mais dolorosas, na fase mais aflitiva da tua vida? É aflitivo, é pavoroso o estado da tua alma. Lembra-te, recorda sempre, mina filha, que é aflitiva a hora que passa, que é pavoroso o viver das almas, o viver do mundo. Os crimes, os crimes! Que mar, que mar agitadíssimo! Sofre, sofre, se não queres ver sangrar o Coração do teu Jesus. Se não O queres ver chorar, se não queres ver correr o sangue da Sua sacrossanta cabeça”.

 Não quero, não, meu Jesus, não quero ver-Vos sofrer. Nada posso por mim, mas convosco tudo venço. Quero sofrer, quero sofrer até à última. Mas ai! Se eu pudesse passar sem voltar a ver as Vossa lágrimas, nem o Vosso Divino Coração a sangrar!

 “Coragem, coragem, minha filha. Quando te mostrar o meu sofrimento, é para o evitar em mim, é para te levar à compaixão! É para te firmar mais e mais na tua missão sublime. Sou a sabedoria que tudo compreende. Sou o Rei que tudo governa. Instruo-te com a minha ciência, faço-te reinar com o meu reinado. És grande, és bela aos olhos do Senhor. És poderosa com o poder supremo. Tem coragem. São os crimes do mundo a exigir tão dura reparação. Tem coragem sê sempre fiel, fidelíssima ao teu Senhor. Eu quero as almas, as almas, minha filha. Não as deixes fugir. O inferno ameaça submergir, como mar tempestuoso. Satanás quer levá-las consigo, quer engoli-las. Acode-lhes, acode-lhes”.

 Senhor meu, Senhor meu ! Meu Jesus, meu doce Amor, que quereis que eu faça? Com a Vossa graça não desistirei nunca, sou a Vossa vítima, sou a Vossa vítima.

 “Dá-me a tua dor, a reparação, minha filha; dá-me o teu martírio, dá-me a tua crucifixão sem cessar. Deixa cair sobre ti, e não sobre as almas, a justiça do meu Pai. Ai delas, se Ele descarrega como merecem. Perdem-se eternamente. Deixa, deixa que ela pese sobre ti, que és vítima para as salvar”.

 Ó Jesus, ó Jesus, já não sou eu, parece que com tal peso desapareci. O meu ser foi esmagado, mas a alma, essa foi iluminada e viveu para Vós, meu Jesus, mais, muito mais.

 “Fica certa de que és útil para as almas. És útil para as coisas de Deus. És utilíssima para tudo. Tem coragem, tem coragem. O Céu espera-te. É grande, infinitamente grande, a recompensa. Vem receber a gota do meu Divino Sangue. Passei o meu Divino Coração para dentro do teu. Nele deixei a gotinha do meu. Já corre nas tuas veias. É a tua vida. É a vida divina que te faz viver. Vives com o alimento celeste. Fica na cruz. Fala às almas, fala ao mundo. Fala das tristezas de Jesus. Fala dos seus queixumes. Diz-lhes quanto sofre o coração que tanto amou e tanto ama. Pede oração, penitência e emenda de vida. Fica na cruz, pede tudo ao teu Jesus. Não desanimes nas tuas preces. Jesus não falta, Jesus não falta”.

 Lembro-Vos aqui tudo. Está aberto o meu coração. Lede o que lá está presente. Ficai comigo para sempre, meu Jesus. Obrigada, obrigada, meu Jesus.

   

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