JULHO
4 de Julho – Sexta-feira
Parece-me que já
basta de falar de mim, apesar de ter imensa necessidade de desabafar; faço para
obedecer, mas representa para mim um enorme sacrifício. Queria esconder-me e
fugir aos olhares de todos. Busco a glória do Senhor e o bem das almas; não é a
minha glória nem os louvores das criaturas. É por isso que sinto a necessidade
de refugiar-me e desaparecer para sempre. É um martírio, é uma humilhação quase
constante, ao ver-me rodeada das pessoas. Enquanto elas falam, o coração
sangra-se de dor, por reconhecer o que sou, e sentir que sou a alma mais
pobrezinha, mais enferma, que Jesus tem na terra. Se todas as criaturas, que se
abeiram de mim, me conhecessem, fugiam, nem de longe queriam ver. A minha
inutilidade continua a ser um doloroso pavor para a alma. Sofro muito, mas tudo
inútil. O meu amor inútil é. Não posso pensar, nem sei como vencer tal
inutilidade! Inútil para a vida e para as coisas de Jesus, útil para o pecado e
para todas as obras de Satanás; nas minhas tremendas lutas não tenho dó nenhum
de Jesus. Falta-me a pena de O ofender, revolto-me contra Ele, contra o Céu,
calco aos pés os Seus direitos, a Sua Lei, saio do pecado sempre insatisfeita,
desejosa de mais e mais pecar, e sempre presente aos meus olhos e ao meu
espírito, as pessoas, o lugar e a maldade do meu pecar. Sou insaciável nos meus
prazeres. Parece que nem diminuem de noite; desvio os meus olhos dos
instrumentos que me levam ao crime e à morte. E, depois de tudo isto, sofro por
não sofrer, sinto dor por me ter faltado a dor na ocasião de pecar. E então é
tão grande, tão grande, como o próprio Jesus. É uma dor infinita! Se eu não
fosse ignorante, se eu fosse sábia, quantas coisas podia dizer ! Mas até para
isto sou inútil, estou morta para todo o bem. Eu sou como um vidro de cristal,
quebro por tudo e por nada. Sofro indizivelmente com as mais pequeninas coisas,
que com certeza nunca levam o fim de me ofender. Mesmo nesta inutilidade, o
coração sangra, a dor é pungente, e tudo me fere ; por todos os lados vêm os
espinhos a trespassar todo o meu ser. Chego a pensar que é mimo, e o meu
amor-próprio a causa de tudo isto. Ó meu Deus, ó Jesus, ó Mãezinha,
compadecei-Vos de mim. Por vezes, o meu coração abre-se como que um vulcão de
fogo. Quer queimar a humanidade inteira e absorvê-la toda em si. Mas aqui entra
a inutilidade, e nada posso fazer. Não quis saber do Horto, não quis vê-lo nem
ouvir o que nele se passava. Com esta cruel ingratidão senti que alguém dele me
fitava, e esse Alguém era Jesus. Se eu soubesse dizer a ternura dos Seus
olhares ! Que convite tão meigo, que chamamento tão profundo ! Passei o tempo a
sentir a Sua dor pelo meu proceder. Hoje, na viagem para o Calvário, não fiz
outra coisa senão fugir d’Ele. Tinha em mim como que dois caminhos: um pelo qual
fugia e outro que seguia para o Calvário, pelo qual caminhava Jesus escorrendo
sangue e conduzindo o pesado madeiro. Ele fitava-me e convidava-me com o Seu
silêncio a segui-Lo. A dor infinita continuou a pungir e a aniquilar-me o
coração. Desfazia-me em dor, mas sem ser minha esta dor; minha era só a
inutilidade. O sangue e o suor banhavam o corpo sacrossanto de Jesus. Ele ia
mesmo desfalecido ao terminar a montanha. No alto do Calvário, Jesus estava
pregado na cruz. Eu não quis unir-me a Ele; longe, muito longe, não O queria
fitar. O Coração Divino de Jesus era para mim um chamamento e um brado contínuo.
Fechei os olhos, cerrei os ouvidos, para não O ver nem O ouvir. Jesus expirou, e
eu na minha inutilidade não quis aproveitar-me d’Ele, não expirei com Ele. Houve
por algum tempo o silêncio da morte. Após esse silêncio, veio Jesus a mim
ressuscitado, entrou no meu coração, fez-me viver a Sua vida e falou-me assim :
— “Abri o
tabernáculo da minha habitação. Abri as portas e sentei-me nele, delicioso, um
incêndio de amor, rodeado de inúmeras virtudes. Está certo, minha esposa,
convence-te, filha querida, só assim posso esquecer por algum tempo tantos
crimes que com tão grande gravidade sou ofendido. Este coração tem a pureza dos
anjos, os ardores dos querubins. Estou bem, estou bem, minha filha, não posso
ausentar-me de ti. Fugi do mundo, fugi dos pecadores, para em ti viver,
descansar. Aqui fico, com que esquecido de tantos, tantos crimes, de tantas,
tantas maldades que em si encerram toda a maldade, toda a malícia humana”.
— Ó Jesus, ó Jesus,
deliciai-Vos, deliciai-Vos, não com o que é meu, mas com o que é Vosso. Eu
quisera, sim, Jesus, quisera poder fazer-Vos esquecer de todos os crimes
praticados. Primeiro por Vosso amor, porque Vos amo, e amando-Vos não Vos posso
ver ofendido; depois, Jesus, depois, para Vos salvar as almas, as almas
caríssimas, as almas que custaram o preço infinito do Vosso Divino Sangue. Quero
e não posso, Jesus. Ah! Se fosse possível, eu a nada me poupava. Mas, ai de mim,
pobre de mim, na minha inutilidade.
— “Sofre assim,
filha minha, florinha eucarística, sofre assim, porque és vítima. A tua
inutilidade é para que o meu sangue divino, toda a minha Paixão e morte seja
útil a essas almas. Tu salvas, salvas almas, almas sem conta. São milhões,
milhões, milhões por esse mundo além, a quem o teu sofrimento abre as portas do
Céu. Há tantas que não querem salvar-se ! Há tantas que desperdiçam os meus
dons, as minhas graças ! Sofre, sofre, minha filha. O mundo exige o teu
sofrimento. Só as vítimas o podem salvar. Só as vítimas podem aplacar a justiça
de meu Pai. Tenho tão poucas ! O número das que se deixam imolar com amor e
heroísmo é tão pequenino! Dá-Me, dá-Me, minha filha, o teu coração. Renova a tua
oferta. Dá-Mo com todos os corações dos homens. Tenho fome, tenho sede; fome e
sede devoradoras, fome e sede infinitas. Sacia-Me, sacia-Me, consola-Me”.
— Ó Jesus, ó meu
querido Amor, já sabeis que todo o meu coração Vos pertence e não e grande
coisa, Jesus. É o mais pequenino e pobrezinho que tendes na terra. Não só Vos
renovo a oferta dele, mas a oferta de todo o meu ser. É Vosso o coração e a
alma; é Vosso o meu corpo inteiramente. Fazei dele um farrapo humano, fazei dele
o que Vos aprouver. Junto à minha pobreza miserável, ofereço-Vos todos os
corações dos que mais amo, todos os corações dos que me pertencem, todos os
corações dos filhos Vossos. Eu quero, Jesus, quero fechá-los para sempre dentro
do Vosso Amantíssimo Coração, justos e pecadores. Uns para mais se afervorarem,
mais Vos amarem e santificarem. Outros para se converterem e se salvarem. Tomai
conta, Jesus, tudo é Vosso, eu sou a Vossa vítima.
— “Vem, minha
filha, minha querida filha, receber a gota do meu divino sangue. Estão unidos,
estão unidos, não só para passar a gota do sangue que te leva a vida, mas sim
para mais te enriquecer, para mais te fortalecer, para mais e mais a Mim poderes
dar”.
— Ó Jesus, é bem
doce a Vossa paz. É bem forte o Vosso amor. Sede sempre comigo e salvai todos os
filhos Vossos.
— “Vai em paz,
minha filha, vai em paz. Fica na cruz, na cruz da vitória, na cruz de triunfo e
de salvação. Diz ao mundo, pede às almas, diz-lhes quanto as amo. Pede-lhes que
se convertam. Que não pequem, que não pequem, que não pequem e todas venham
habitar para sempre no meu Divino Coração. Coragem, coragem, vai em paz e dá a
minha paz”.
— Obrigada,
obrigada, meu Jesus.
De ontem para hoje,
o meu coração ficou numa tristeza e dor infinitas! Era um abismo de dor sem fim.
Nesta manhã, quando me preparava para a vinda de Jesus, o meu coração fez-se
como que um leão faminto. Estava aberto pelos punhais, mas mais se abriu com a
fome insaciável. Tinha fome de Jesus. Só Ele podia satisfazê-lo. Esperei a Sua
vinda na maior ansiedade. Ele veio. Não recusou a entrada. Deu-se todo a mim,
sem desprezar a minha grande miséria. Encheu-me, matou-me a fome e falou-me
assim :
— “Minha filha,
minha filha, braseiro de amor, coração em chamas vivas. Eu estou aqui para mais
te abrasar, para mais te incendiar, para mais te consumir. Venho saciar a tua
sede e fome de amor, como tu sacias a minha. Tu amas-Me, minha filha, amas-Me no
gelo, amas-Me nas trevas e na morte, amas-Me, amas-Me mesmo na eternidade. Tu
és, à minha semelhança, a vida das almas, como Eu o sou na Eucaristia. Eu dou-Me
a elas com o Meu corpo e sangue. Tu dás-te por elas na dor, no martírio. Sofre,
sofre, minha filha, a dor é amor. A dor é só isso. Repara, repara o Coração
Divino do teu Jesus, o Coração Imaculado da tua Mãezinha. Repara, repara a
justiça de Meu Eterno Pai. Sê sempre a escora forte e inabalável. Eu estou
triste, muito triste, minha filha. Tenho o Meu Divino Coração a sangrar !”
— Ai, meu Jesus,
ai, meu Jesus, tantos punhais! Como cabem todos numa só chaga! Já sei, Jesus,
bendito sejais, fizeste-me compreender. O coração em si é pequenino para tantos
punhais, mas é grande, porque é Vosso, é infinito. Não adianta nada, meu Jesus,
nada adianta o meu sofrer. O sangue corre tanto, tanto do Vosso Coração Divino !
Como é que Vos deixais ferir assim ?
— “Se tu visses, se
tu pudesses ver a crueldade com que Me foram cravados estes punhais! Se tu
soubesses, se tu pudesse ver as almas negras e apodrecidas que se abeiram de
Mim ! Receberam-Me nos seus corações em inferno, fizeram-Me baixar do Céu à
terra. Ó minha filha, minha filha, quanto eu sofro ! Sofre tu agora, sofre tu
sempre, arranca-Me estes punhais, cicatriza-Me estas chagas”.
— Arranco, arranco,
meu Jesus, e cravo-os no meu coração. Deixai-os estar sempre aqui e não
sofrereis mais, meu doce Amor. Ofereço-Vos o Vosso próprio e o da querida
Mãezinha, para ser o bálsamo dessas feridas.
— “Estou curado,
estou curado, minha pomba bela, louquinha de Jesus, louquinha das almas, flor
tenra e mimosa, flor delicada e perfumada da Eucaristia. Minha filha, diz ao teu
Paizinho que o Meu Divino Coração é fonte cristalina, é fonte insaciável de
bênçãos, graças e amor para ele. Diz-lhe, diz-lhe que é todo meu o seu coração,
e que é todo dele o Meu. Diz-lhe que sou fiel à minhas divinas promessas, não
falto, não falto. Hão-de cumprir-se as ordens do Senhor, mas só à custa de
muita, muita dor. Tudo é preciso para a missão nobre, para a missão bela, bela
que lhe escolheu Jesus. Dá-lhe amor, amor em Meu nome, como o maior mimo, o mimo
mais precioso do Céu. Diz, diz ao teu médico que espremo o seu coração como uma
uva na prensa do lagar. Quero para Mim todo o suco. Escolhi-o para grandes
coisas. Quero torná-lo, pelo sofrimento, digno de tão alta dignidade. Eu amo-o,
Eu amo-o com o seu jardim florido. Diz-lhe que todas as suas flores hão-de ser
colhidas para Mim, para a minha bendita Mãe. Infunde-lhe coragem e confiança.
Dá-lhe todas as bênçãos, graças e amor de Jesus.
Vem, minha bendita
Mãe. Acaricia, fortalece a nossa filhinha.”
— “Minha filha,
minha querida filha, aqui no Meu regaço, estreitada por Mim ao Meu Santíssimo
Coração, envolvida no Meu manto, escuta as minhas palavras : Meu manto de Rainha
transformou-se em manto triste de dor. Olha para o centro do Meu peito. Vês como
está o Meu Santíssimo Coração, tão cercado de espinhos ! Todo ele é dor, todo
ele é dor, todo ele está em ferida”
— Ai, Mãezinha,
tantas gotas de sangue por cada ferida desses espinhos! Passai-os para mim, ou
deixai, deixai que eu os tire.
— “Aqui O tens,
filha querida, vítima amada de Jesus. Aqui O tens às tuas ordens. Foi ferido com
O de Jesus. As almas, que O feriaram a Ele, feriram-Me a Mim”.
— Ai, Mãezinha ! Já
estão todos, todos no meu coração. Enleei-os à volta dos punhais. E agora
faço-Vos como a Jesus, dou-Vos o Vosso amor e o d’Ele para curar o Vosso
Santíssimo Coração. Abraçada a Vós, repito-Vos muitas vezes: amo-Vos, amo-Vos,
Mãezinha. Amo-Vos e amo Jesus por todos os que Vos não amam. Ao menos, ao menos
com os meus desejos, já que mais não posso. Sede, sede a minha força.
— “Ó minha filha, ó
esposa predilecta de Jesus, também Eu te amo, amo, amo. Amo-te com todo o amor
do Meu Santíssimo Coração. Amo-te e afirmo-te que Jesus te ama com toda a
loucura de amor. És a vítima mais querida dos nossos Divinos Corações. És a
esposa mais amada de Jesus. És a filha mais predilecta do Eterno Pai. Recebe,
esposa minha, todo o amor do teu Jesus, todas as carícias da tua Mãezinha.
Enche-te, fortalece-te com toda a fortaleza celeste. Dá a todos os que amas o
amor do nosso Divino Coração; dá-lhes todos os carinhos, a nossa paz, força e
protecção. Vai, vai fazer cair pelo mundo esta chuva de graças, todo este
incêndio de amor e pede, pede aos corações do poder remédio para as praias,
remédio para os cinemas e casinos, remédio para as desonestidades, remédio para
a devassidão. Haja ordem, haja ordem, haja justiça. Pede-lhes, pede-lhes que não
ofendam o Senhor. Pede-lhes, pede-lhes que se reconciliem com Ele, que não
pequem mais. O Eterno Pai está irado contra a terra. Haja emenda de vida para
haver perdão. Coragem, coragem; Jesus e Maria estão contigo, sempre contigo. Vai
em paz”.
— Deixai, Jesus,
deixai, Mãezinha, que Vos abrace, que Vos estreite na despedida; estreito-Vos ao
meu pobre coração. Obrigada, Jesus; obrigada, Mãezinha.
Passo a minha vida,
gasto o meu tempo na inutilidade. Quantos espinhos, quantas feridas me nascem
daqui! Quanta amargura, profunda e dolorosa amargura, sai desta inutilidade!
Tenho sede de me dar, de me consumir no amor de Jesus, de me entregar toda ao
Seu serviço; não descansar nem um só momento, sem fazer bem às almas. Tenho
fome, fome devoradora, fome infinita de as fechar todas no meu coração, para
assim as fechar e introduzir para sempre no Coração Divino de Jesus. Mas, ó meu
Jesus, sinto que é em vão todo este sentimento. A minha inutilidade não me deixa
nem um momento ser útil para a vida do Senhor, para o bem das almas. Está num
mar de sangue o meu coração. Está todo chagado e ferido. Não se lhe pode tocar.
A sua dor atinge o Coração Divino do Senhor. A minha pobre natureza não tem
coragem nem forças para mais. A vontade quer subir, subir sempre; não quer parar
de se dar, de se entregar totalmente à Divina Providência. Mas a inutilidade
impede tudo isto. Nada valho, nada sou, a não ser miséria e podridão nojentas.
Jesus, Mãezinha, sede a minha força. A Vós me abandono tal qual sou. Toda a
minha confiança está em Vós. É neste abandono que está toda a minha entrega e
aceitação. Caí no inferno. Foi tremenda a luta. A alma gritou num brado, como se
ouvisse a humanidade inteira. Foi um pavor infernal. Estava perdida, sem
remédio. Depois de me entregar a todos os vícios, aos crimes mais hediondos,
precipitei-me naquele abismo. Senti em mim todo o desespero das almas e maldades
dos demónios. Que horror, que horror ! Ninguém me salvou de lá. Precipitei-me só
por culpa minha. Premeditei tudo bem, fiz várias tentativas para me entregar ao
vício, sem nada conseguir. Sempre levada e faminta das maldades, consegui os
meus maus intentos, maldições, tudo ; escarrei no Senhor e calquei aos pés toas
as minhas vestes e toda a Sua Lei. Era digna do inferno. Só nele podia receber a
punição de toda a minha vida criminosa. Nada disse e nada mais sei dizer.
Impede-o a minha ignorância. Terminada a luta, o pavor da alma continuou, até os
próprios lábios não queriam calar-se; soltei gemidos. Jesus sou a Vossa vítima.
Ai ! Não posso pensar na dor que causei ao meu Jesus, quanto O fiz sofrer. Ai !
Ai ! O que é uma ofensa feita ao meu Senhor ! E o que é o mundo, o mundo do
pecado contínuo. Se eu pudesse, à custa de todo o meu sangue, pagá-los todos
para alegrar a Jesus e dar-Lhe as almas! Foi triste, dolorosíssimo, o meu Horto
de ontem. Sempre na inutilidade e sempre apavorada com o meu viver, com a
aproximação do dia de sexta-feira. Queria poder sair de tudo isto, mas não
posso. Respirava mais fundo; na minha inutilidade, mais me unia ao Senhor. Era
já de noite e o Céu pousou sobre mim. Estava cheio de nuvens negras e era mais
duro do que o rochedo. Estava fechado para mim. Não podia lá entrar, só por ele
tinha que ser esmagada. Principiei a ser amor, só amor, todo o meu ser era amor,
mas este ser, que encerrava amor infinito, não era meu. Entreguei-me ao Céu,
para a vida da terra. Hoje tive a Santa Missa no meu quarto. Não soube assistir
a ela. Como de costume, pedi à Mãezinha que suprisse a minha falta. A alma
seguiu a viagem para o Calvário. Eu inútil e ela sofredora. Eu surda e cega para
toda a vida de Jesus, mas ela sentia todas as torturas e sofrimentos do meu
Senhor. A noite, a dor, a amargura transformaram-se em pavor com a aproximação
da montanha. Eu inútil à volta do mundo, mergulhada na lama, e o coração numa
dor infinita sangrava e não cessava o seu brado. Era o brado de Jesus, era Ele
quem chamava, era Ele quem por mim sofria. Do alto da cruz Ele continuava a
sofrer. Foi tremenda a Sua agonia ! O Seu brado era contínuo. O Seu sangue
divino regava o solo, enquanto que eu a fugir d’Ele, como se Ele por mim morrer
não fora. De vez em quando o meu coração e a minha alma sentiam os meus
tormentos. A agonia de Jesus era a minha, mas logo na minha inutilidade me
desviava, parecia que para fora do mundo. Jesus expirou e, logo após a Sua
morte, passou pelo meu coração; foi Ele que serviu de escada às almas generosas
que O desciam da cruz. Algum tempo depois, senti-O já vivo e triunfante dentro
em mim e ouvi a Sua voz :
— “Jesus vai falar,
Jesus pede como mendigo no Seu tabernáculo de amor. Jesus quer salvar os homens,
todo foi por eles. Jesus quer salvar os homens e emprega todos os meios para
essa obra redentora. Vim a este Calvário, por intermédio da minha vítima
querida. É a continuação da obra do Calvário de há vinte séculos. Estou aqui,
estou aqui para chamar, estou aqui para pedir. Vinde, filhos meus, vinde a Mim
todos, vinde ao meu divino Coração buscar bálsamo para todas as vossas feridas.
Eu quero curar-vos e esquecer-Me do muito que Me ofendestes. Escutai, escutai,
fala-vos Jesus : criei o Céu para vosso gozo, o inferno para punição. Vinde a
Mim, vinde a Mim, não pequeis mais. Não deixeis perder uma só gota do meu sangue
divino. Escutai, escutai, preparai-vos para a batalha. Enchei-vos de Jesus para
estardes fortes. O Eterno Pai, o Eterno Pai vai aplicar a Sua justiça sobre a
terra com todo o Seu rigor. Pobre mundo que não atende à voz de Jesus e à voz da
Sua Bendita Mãe. Pobre Portugal que não corresponde ao amor de Jesus”.
— Ó Jesus, ó Jesus,
donde vem tanto sangue? Parece um regato a correr! Já vejo, já vejo, é do Vosso
Divino Coração. A tanto sangue juntam-se as lágrimas que vejo claramente
correr-Vos sobre as faces. Rolam uma após outra. Não choreis, não choreis,
Jesus. Venho ao meu pobre coração buscar o meu frio amor. Que ele Vos leve
bálsamo, Jesus, para fazer cicatrizar a chaga do Vosso Amantíssimo Coração. Que
ele sirva de lenço, de um pobre lencinho, para Vos enxugar as lágrimas. Fazei
que chore, Jesus, fazei que eu derrame todo o meu sangue. Basta que Vós o
derrameis no Calvário. Agora quero ser sempre a Vossa vítima.
— “Coragem, então,
minha filha querida. Coragem para todos os espinhos, coragem para todas as
setas, que são as de minha Bendita Mãe. Coragem para todos os punhais. Coragem
para toda a Paixão. A tua vida é a vida de Cristo. A tua missão nobilíssima é a
missão escolhida por Jesus. Deixa, deixa, minha filha, o mundo humilhar-te,
caluniar-te, perseguir-te. Assim foi a minha vida. Quero, quero em tudo
assemelhar-te a Mim. Quero-te imolada por Meu amor e por amor às almas, assim
como Eu fui imolado por teu amor e por amor de todas as almas. Vem receber a
gota do Meu Divino Sangue. Jesus uniu o Seu Divino Coração ao coração da Sua
vítima querida, ao coração da Sua florinha eucarística. Passou, passou, minha
filha, a gotinha do sangue. Levou-te mais vida, mais paz, mais coragem e amor. É
o teu alimento. Este alimento levou-te novas graças. Quero que as distribuas.
Dá-as, dá-as com abundância. Não cesses de as semear. Fá-las cair sobre as
almas, sobre todos os corações, como chuva e orvalho celestes. É sempre o amor
de Jesus. É sempre Jesus a atrair, a chamar, a querer perdoar. Fica na cruz,
minha filha. Coragem, coragem para tudo. Vai em paz”.
― Obrigada,
meu Jesus, por tudo quanto me destes. Não me falteis com a Vossa graça e força.
Meu Amor. Lembrai-Vos de todas minhas intenções. Obrigada, obrigada, Jesus. Meu
Amor.
Queria desaparecer
da face da terra; é a necessidade que sente a minha alma. Não posso ser vista
pelo Senhor, tal é a podridão que vejo, tal é o nojo que sinto de mim mesma. O
meu coração, a minha alma, quase me fazem outra coisa, a não ser bradar ao Céu.
Mas este não fala nem atende. Está fechado, não penetra lá dentro o meu brado.
Pavoroso martírio! Retomo coragem, sem saber como, sem o sentimento de onde ela
me venha. Em espírito, atiro-me para os braços da Mãezinha e de Jesus e
imediatamente esforço-me por me agarrar, por me prender bem nos Seus divinos
braços. A luta vem, a tempestade tenta arrancar-me, destruir toda a escora, todo
o meu apoio. A minha inutilidade leva-me quase a perder toda a confiança. Se há
algum bem, algum acto bom, não me pertence. O pecado, os crimes mais horrendos,
são só meus, sou eu a sua autora. Sou útil só para tudo quanto há de mau e
criminoso. Tenho medo, muito medo, de descrever os sentimentos da minha alma.
Não serei eu a causa da perdição de muitas almas ? Não mancharei eu a castidade
dos seus olhos e ouvidos ? Ó meu Deus, ó meu Deus, compadecei-Vos de mim. Com
tudo isto, não posso deixar de querer amar, louca e apaixonadamente, a Jesus.
Não posso estar por mais tempo na terra, queria voar para o Céu. Mergulhada no
lodo e na lama, estou presa à terra, não posso desprender-me dela. Tive uma luta
pavorosa ! A minha ignorância não permite eu dizer alguma coisa do que ela foi.
Mas também me parece ser mais prudente não me esclarecer. Eu não queria, meu
Deus, não queria ofender o meu Jesus, mas parece-me ofendê-Lo tanto que até não
queria comungar ! Pude reconciliar-me e consegui ficar mais sossegada. Depois de
terminar a grande luta, vi com os olhos da alma o meu Jesus em tamanho natural,
muito triste, a fitar-me com ternura e a dizer-me :
— “Olha quem eu
sou, vê para o que te escolhi, porque me feres assim ?”
E eu, por resposta,
escarrei-Lhe no rosto. E Jesus caía por terra. Tomou a cruz, transformou-Se em
Senhor dos Passos. Caminhava coroado de espinhos, e o sangue a correr-Lhe com
toda a abundância. Persegui-O por muito tempo. Atirava-me a Ele com fera. Fi-Lo
cair por terra e arrastei-O com as cordas. Compreendi bem a cena de ontem. Logo
de manhãzinha, apavorou-me a aproximação do Horto e do Calvário. Era já de
noite; senti que fortes cadeias me enleavam ao solo do Horto, e logo medonhas
feras principiaram-me a calcar, a levar ao aniquilamento. Desceu a justiça do
Senhor sobre mim. Não compreendi o significado de tais feras, mas hoje senti e
compreendi claramente que era eu, que eram os pecados que me sobrecarregaram. Só
acompanhei hoje a Jesus na viagem do Calvário, para O perseguir e maltratar. No
cimo da montanha, Jesus ficou pregado na cruz, e eu na minha inutilidade fugi
d’Ele, não O acompanhei na Sua agonia. Rejeitei-O, preferi sempre a Satanás, não
quis expirar com o meu Senhor. Morri, sim, mas separada d’Ele. Pouco depois,
veio o meu Jesus dar-me a vida e falou-me assim :
— “Quem tem fome e
sede do amor de Jesus escuta a Sua voz. O Coração Divino de Jesus quer dar-Se,
dar-Se inteiramente. O Coração Divino de Jesus vem pedir-vos, pedir-vos com o
Seu amor infinito. Pede como um mendigo miserável. O miserável pede o pão para o
corpo; Jesus pede-vos amor, Jesus pede-vos, pede-vos com instância ; não pequeis
mais, não pequeis mais. Calcai aos pés as vaidades, os prazeres, tudo o que é
pecaminoso. É Jesus quem fala, é Jesus quem pede com todo o amor, com toda a
ternura do Seu Divino Coração. Arrepiai caminho, arrepiai caminho, segui o
Senhor. Tenho sede e quero matar a sede. Dai-me amor, dai-me amor, aquele amor
puro, aquele amor santo. Vim do Céu, vim do Céu, desci a este Calvário, entrei
neste tabernáculo, é dele que eu manifesto o meu amor infinito. É daqui que eu
mostro claramente a minha loucura de amor das almas. Reparai bem e vede se
podeis queixar-vos do amor e misericórdia de Jesus. Estou no Calvário das minhas
delícias, como outrora no Calvário das dores. Não posso morrer nem sofrer mais.
Imolo, faço sofrer a minha vítima; por mim e pelas almas, ela há-de de dar a sua
vida. Escolhi-a para mim, mas por amor dos pobres pecadores. É alta, alta, é
sublime esta missão. Coragem, coragem, minha filha. O peso das tuas humilhações
manifesta grandeza de amor. Tu amas, amas, amas o meu Divino Coração. Amas, amas
e conduzes a mim as ovelhas extraviadas. São tantas, é tão grande, é imensamente
grande o rebanho a fugir-me !”
— Ó Jesus, se eu
pudesse, Jesus, correr o mundo, correr toda a humanidade! Queria deitar o laço a
todas as almas, a todas as ovelhinhas fugidas. Queria conduzi-las todas ao Vosso
Divino Coração. Eu queria, Jesus, à semelhança do pescador, deitar o anzol, mas
mais, mais, ser mais feliz do que ele, queria apanhá-las todas, não queria
deixar fugir nenhuma. Ai, Jesus, sois Vós, sois Vós, são elas, meu Amor, que me
levam a deixar-me imolar, humilhar, a deixar-me sacrificar tanto ! É bem, doce
Jesus, é bem doce ser humilhada por Vós. Não repareis nos meus desfalecimentos.
Sou a Vossa filha mais pobrezinha. Só a vontade está pronta, só essa quer
dar-se, dar-se, desaparecer. Desaparecer sob o peso da dor. Desaparecer, ser
esmagada com todas as humilhações.
— “Nada mais quero,
minha filha, nada mais exijo de ti. Estou à espera, estou à espera e já cansado
de esperar. Já é tempo, já é tempo de o sol brilhar para sempre. Tem coragem. Os
homens vão contra a vontade do Senhor, opõem-se a ela. Opõem-se à salvação das
almas, das almas por quem dei o sangue. Estou desgostoso, estou triste. Eu dou o
remédio, não permitem que ele seja aplicado. Minha filha, florinha eucarística,
farol do mundo, dá-me a tua dor, deixa-me que te imole, que te sacrifique
sempre, sempre, nesta cruz. Recebe a gota do meu Divino Sangue. Reparai bem no
prodígio maravilhoso. Jesus alimenta a sua esposa e vítima. Dá-lhe o Seu sangue
para que ela seja também a vossa vida. Minha filha, minha filha, é a tua vida o
meu Divino Sangue. É o teu alimento a minha Eucaristia. Vive da graça, para que
as almas vivam só a graça. Vive do amor, para ateares o amor. És depositária de
todas as riquezas do meu Coração Amorosíssimo. Distribui-as. Enriquece todos os
corações da humanidade. Vinde a mim, vinde a mim, ó filhos meus. Vai em paz, vai
em paz, minha filha. Pede oração e penitência. Não cesses de as pedir. É esta a
vontade Jesus. É mais um aviso do Seu Misericordiosíssimo Coração. Coragem,
coragem”.
— Obrigada, Jesus,
muito obrigada. Lembrai-Vos das minhas intenções, perdoai, perdoai ao mundo
inteiro.
Não sei como dizer
alguma coisa daquele tudo que me vai na alma. É o meu segundo Calvário. Só me
obriga a força da santa obediência. Tenho que fazer um grande esforço.
Escasseiam-me as forças. As trevas não me deixam ver. A ignorância e a
inutilidade põem termo a tudo, são o remate de todo o meu viver. É como que um
desenlace. Terminei para tudo como se nunca principiasse. Ó meu Deus, ó meu
Deus, se não fosse a minha confiança em Vós, se eu em Vós não esperasse, o que
seria já de mim ? O meu coração é como um chafariz. Por maior que seja seca, não
deixa de deitar água. Ele sangra, sangra, plantado na maior agonia da alma ;
agonizam os dois. O brado é contínuo. O Céu não se abre. A minha voz não penetra
no Coração do Senhor, perde-se na vasta podridão e imundice de toda a
humanidade. Quando comungo, agarro-me a Jesus, mas só com os olhares e os braços
da Fé. Creio, Jesus, creio que sou Vossa, creio que estais em mim. E eu
confesso-me a mais pobre e miserável das Vossas filhas. Eu não sou digna de Vós,
de Vos possuir, mas não quero desesperar, a Vós me entrego, só confiada no Vosso
perdão e misericórdia. Quando os espinhos me penetram mais fundo, quando as
contradições e as humilhações me esmagam, eu digo: bendito seja o Senhor, seja
tudo por Vosso amor e para salvação das almas. Hei-de vingar-me, meu Jesus,
pedindo-Vos na terra e no Céu por todos quantos me faziam sofrer. Ontem, no meio
da minha agonia, pude da minha cama divisar um bocadinho do Céu. As nuvens
negras e carregadas quase me encobriam. Outras, mais negras e carregadas,
estavam na minha alma. Em tudo via o meu Horto, com o transporte para o
Calvário. O meu espírito, fortalecido com uma força estranha, foi penetrar além
das nuvens que vedavam o firmamento. Queria ver o Céu. Ai, que saudades do Céu !
Se eu pudesse transportar-me lá para fora, para o contemplar melhor! Mas não
posso, faça-se a vontade de Nosso Senhor. O Céu que foi criado para mim ! Lá
habita a Santíssima Trindade: também eu A tenho na minha alma, e todos os
corações em graça. Adorei-A em toda a terra, transportei-me para os sacrários. A
minha adoração continuou por toda a parte, onde Jesus habita sacramentado. Ó meu
Jesus, eu queria que o meu amor fosse como a luz que não se apaga, como a brisa
que não cessa e penetra em toda a parte. Fazei que o meu amor penetre e vá calar
em todo o lugar onde habitais sacramentado. Amo-Vos, amo-Vos eternamente.
Pareceu-me que acordei de um sono, interrompida pela inutilidade. Vi logo o
Horto unido ao Calvário. Pareceu-me não serem para mim os seus frutos. Tinha que
sofrer, tinha que aguentar. Prolongou-se o sofrimento pela noite fora. E hoje
assim continuei na viagem para o Calvário. Foi avivado por uma tremenda luta,
daquelas lutas mais penosas à minha alma, a todo o meu ser. Eu, sempre louca
pelo pecado, atirei-me para ele, revoltada contra o Senhor, escarnecendo-O e
calcando aos pés a Sua Lei. Eu era a origem de toda a maldade, de todos os
vícios. E, ao mesmo tempo, pareceu-me atirar-me a mim mesma, para me salvar.
Queria livrar-me de tão irremediável perdição. Quis salvar-me e quis continuar
na mesma podridão, mas de tal forma embrutecida que só nela pensava, só dela
vivia. Fui caminhando para o fim da montanha, na mesma inutilidade, mas a sentir
a dor infinita de Jesus, por me ver assim. Ele mostrava-me o sangue por mim
derramado, e eu, mais dura do que o rochedo, fechava os olhos para nada ver.
Durante o tempo da agonia, foi só Jesus o mártir da cruz. Eu não quis saber
d’Ele. O Calvário foi para mim como se nunca existisse. Jesus expirou e eu
expirei fora d’Ele. Não foi, mas pareceu eterna a nossa separação. Passaram
alguns minutos nesta separação e morte irremediável. Jesus veio dar-me a vida
perdida, remediar aquilo que parecia não ter remédio. Falou-me desta forma :
— “Está chagado o
meu Divino Coração. Está apunhalado e cercado de espinhos. Reparai, reparai bem,
reparai e dizei a quem preferis : quereis Jesus ou Satanás ? Ansiais o Céu, com
o seu gozo e amor infinito, ou Satanás, o seu inferno, tormento pavoroso ? Jesus
está chagado, profundamente chagado. É sangue, só sangue o seu Divino coração. Ó
filhos meus, filhos meus ! Quereis o meu Amor, quereis o Paraíso? Vinde a mim,
vinde a mim. Vinde a mim, deixai o pecado. Vinde a mim, deixai o mundo com as
suas lições. Deixai o pecado, arrepiai caminho. Satanás não cessa a sua tarefa.
E vós, filhos meus, filhos meus, cedeis aos seus enganos. Preferis que ele reine
em vossos corações. Expulsais-me a mim, o doce Jesus, do trono em que habitava.
Ó minha filha, minha vítima querida, sê sempre generosa. Dá-me a reparação,
dá-me a reparação, dá-me o bálsamo para esta coração tão ferido”.
— Se eu pudesse,
Jesus, se eu tivesse que Vos dar! Se eu possuísse aquele amor digno de Vós !
Nada mais queria na terra : amar a Jesus, sofrer por Jesus, amar a Jesus, salvar
todas as almas. Ah ! meu Amor, não queria mais nada. Estou certa, Jesus, estou
certa, meu Amor, que todas as feridas do Vosso coração eram cicatrizadas. Se eu
Vos amasse, Jesus, e sofresse com perfeição, era o bálsamo suficiente.
Encontrava em mim o Vosso Amorosíssimo Coração a alegria e a consolação. É tão
mesquinho e frio o meu amor! Chega até a não ser nada. Mas eu quero ver o Vosso
Divino Coração sem sangue, sem feridas. Aceitai todo o amor do Paraíso, Jesus,
como se esse amor fosse meu. Aceitai todo o amor das almas justas, das almas
santas da terra, como se esse amor fosse meu. Estou certa de que assim já não
sofreis mais.
— “Repara, repara
para mim, minha filha. Vê que já sou o teu Jesus, todo belo, todo amor. Vê que
já não sangra este coração que tanto amou e ama. Foi no teu Calvário que eu
encontrei o meu bálsamo. Foi no teu coração, florinha eucarística, que eu me
alegrei. Sofre, sofre, esposa querida. Esconde a tua dor, esconde-te em mim.
Fala às almas, fala às almas, diz-lhes quanto as amo. Fala às almas, fala às
almas, conta-lhes as tristezas de Jesus. Fala às almas, fala ao mundo, diz-lhes
que está irado o meu Eterno Pai. Penitência, penitência, penitência e emenda de
vida. Penitência, penitência, amor à Lei do Senhor. Vem, minha filha, vem
receber a gota do meu Divino Sangue. Alimento divino, alimento celeste ! É a
vida de que tu vives. Jesus cuida da Sua vítima, mais do que das avezinhas do
Céu. Minha filha, minha filha, a tua vida está em Cristo, é de Cristo. Vives em
mim e eu em ti. É por ti, farol luminoso, que me comunico às almas, que lhes dou
as minhas riquezas, os meus tesouros infinitos. O mundo não te conhece. Também a
mim não me conheceu, e outros vivem como se não me conhecessem. Vai em paz e dá
a minha paz. Vai em paz e dá a minha vida com o meu amor. Deixa que te esmaguem,
deixa que te humilhem e sofre por mim. Fica na cruz, fica na cruz”.
— Fico, Jesus, e
fico contente. É da cruz que eu Vos peço todas as graças para todos os que me
são queridos, para os que são meus, para todos os que de mim aproximam e, por
fim, para o mundo inteiro, para o mundo inteiro : todo ele é Vosso.
— “Vai em paz,
minha filha. É aceite a tua prece. Coragem, coragem”.
— Obrigada,
obrigada, meu Jesus.
|