SETEMBRO
Jesus muito pede ao
meu corpo e à minha alma e muito lhe dá ! Pede ao corpo dores triturantes,
dores, por vezes, posso dizer, quase insuportáveis, e à alma tristezas,
angústias, agonias mortais. Mas dá ao coração a ânsia, a saudade, o amor de
Jesus, por Jesus, e Este dá ao corpo e dá à alma a vida, a força para a tudo
resistir. Os sofrimentos da alma são mais dolorosos ainda do que os do corpo. Ai
de mim, ai de mim ! Se não fosse Jesus a viver, a triunfar na minha cruz, no meu
Calvário ! A inutilidade é para mim o assassino mais cruel. As ânsias de me dar
a Jesus, de sofrer por Ele e pelas almas são tão grandes, são mais do que
imensas, não são minhas, são infinitas, são de Jesus. E a inutilidade rouba-me a
mim, rouba o próprio Jesus, porque rouba tudo o que Ele em mim deposita. Fito os
olhos no crucifixo, no Coração Divino de Jesus, e em espírito no Céu o digo :
estou aqui, Jesus, para fazer a Vossa Divina vontade. Fazei-a Vós em mim e por
mim. Brincai, manejai com este inútil instrumento, como Vos aprouver. A alma
chora, o coração sangra. O meu Calvário chega da terra ao Céu. Mas quero, quero
a dor, as humilhações, os desprezos e tudo o mais, meu Jesus, tudo o mais, todos
os espinhos que me cravam, tudo quanto me leva à agonia e à morte. Quero, porque
Vós o quereis ; quero, porque amo as almas, que são Vossas; quero, porque Vos
amo sem sentir o Vosso amor. Creio, creio, espero e confio. Parece que não cesso
de pensar no pecado e nas formas mais maliciosas de o praticar. Parece que eu
mesma sou o mundo, e todo ele está podre, dentro de mim. A minha alma vê-o
apavorada. Não posso falar, mas a minha alma também não sabe, na sua ignorância,
exprimir este pavor. Todo ele é ruína, todo ele é morte. A quinta-feira de ontem
trouxe-me um horto doloroso ao máximo. Jesus veio de encontro a mim, não
para me dar consolação, mas para imprimir em mim todas as Suas chagas. Todo o
meu ser ficou Cristo, a vida sofredora de Cristo. Os cravos, que trespassavam as
Suas mãos e pés, trespassaram os meus. A lança e a dor do Seu Divino Coração
foram as minhas. Não eram de ferro os cravos, nem a lança; eram de fogo, fogo
que queimava e tudo trespassava. E assim, toda Cristo, caí no solo do Horto,
envolvi-me toda nele. Desapareceu toda a vida de Cristo, para ficar a ser o lodo
e a podridão mais nojenta. Desceu sobre mim o peso da justiça divina; foi o
cálice da mais tremenda amargura ! Pareceu-me chegar ao máximo, não poder ir
mais além. Nesta manhã, depois de uma luta, dum combate de vícios e de crimes,
em que eu ouvi, não com os ouvidos do corpo, mas com os da alma, um tropel maior
do que se fosse dum exército, e era na verdade um exército de demónios, que se
lançaram a mim, a despedaçar-me a carne e as próprias roupas, a tentarem
levar-me em corpo e alma para o inferno. Quem me libertou deles, só Deus o sabe,
mas foi sem dúvida a Sua misericórdia, infinita misericórdia. Vi então Jesus,
preso à coluna, a ser açoitado e em seguida coroado de espinhos. Senti as Suas
dores, atingiram-me da cabeça aos pés. Em seguida, caminhou com a cruz para o
Calvário. Eu também tinha a minha cruz; não a levei, levou-a Jesus por mim,
enquanto que eu seguia o caminho da inutilidade. Quanto sofreu o meu Jesus !
Como o Seu sangue divino regava os caminhos da amargura ! O Calvário continua a
ser regado com o mesmo sangue divino. E eu, com olhares só do inferno,
desprezava toda a Lei do Senhor e todos os méritos do Calvário. No cimo do
Calvário, a cruz ficou plantada em mim, e eu sentia-me como se fora uma bola. O
sangue de Jesus caía sobre mim, e do Seu Divino Coração saíam raios doirados,
brilhantes como o sol. Penetravam toda a bola em que eu estava formada. Davam-me
a vida que eles mesmo tinham. Os meus olhares infernais contemplavam a cruz e
tudo isto. Jesus, ao ver os meus olhares maldosos, bradava sem cessar e expirou
na dor mais dolorosa. Momentos após a Sua morte, Ele veio cheio de luz e vida e
falou-me assim :
— “Aqui está Deus.
Está aqui o Céu. Aqui está Jesus, aqui está o amor. Amei tanto, amei
infinitamente, amei sem limites. Amei e não sou amado. Amei e não sou
retribuído. Venho pedir amor, venho pedir amor, venho pedir amor. É Jesus o
pedinte, é Jesus o mendigante. Peço amor por amor. Quero ser amado, para que o
meu Eterno Pai perdoe. Ele está irado, irado contra a terra. É justa, é santa, é
divina a Sua indignação. O mundo, o mundo, minha filha, o mundo, os pecadores
são a causa do teu martírio, da tua imolação dolorosa, da tua crucifixão
sangrenta. Escutai, escutai, atende, mundo cruel. Escutai, escutai, atendei,
pecadores ingratos. É o Senhor que vos chama, é o Senhor da terra e do Céu, o
Senhor que tudo criou. O Senhor, a quem haveis de dar contas de toda a vossa
vida. Minha filha, minha querida filha, Jesus está no teu coração, está sempre,
sempre sem te abandonar. Ele habita na tua inutilidade. Ele reina na tua morte.
Ele triunfa em ti, em todo o teu sofrer. Alegra-te, alegra-te, o Céu está por
ti, muito pertinho de ti”.
— Sim, Jesus, sim,
meu Amor. Confio, confio. Não está perto, está mesmo em mim, porque o Céu sois
Vós. Mas o Céu, meu Jesus, o Céu, a que Vos referi, sinto que ele está tão
longe, parece não ser para mim.
— “Essa ausência,
esse temor, minha filha, não é teu. É uma escolha do martírio, fui Eu quem o
escolheu, e sabes para que assim o exijo ? Porque as almas o exigem de Mim. É
para que elas o não percam eternamente, é para que elas não se ausentem de Mim
para sempre, para sempre, por toda a eternidade. Os crimes são tantos, tantos, ó
minha filha ! Eu faço que tu os conheças, para veres a necessidade de reparação,
para te encorajares a mais e mais sofrer, a mais e mais reparares”.
— Está bem, meu
Jesus, eu estou pronta. Pronta para sofrer, pronta para reparar. Quem reparará
por mim, Jesus? Eu tenho tantos pecados, meu Jesus! Nunca Vos digo que aceiteis
os meus sofrimentos em desconto deles. Perdoai-me, perdoai-me.
— “Tu tens, sim,
minha filha, muitos, muitos, tens em ti todos os crimes da humanidade, como
outrora Eu os tive no Horto e no Calvário. As tuas faltas formam apenas um véu
que encobre as maravilhas e grandezas do Senhor. Oh! Como é bela a tua alma,
como é encantador o teu viver !”
— Está bem, meu
Jesus, todos os encantos estão naquilo que é Vosso. Eu, como sou inútil, como
nada tenho, nada há em mim que Vos possa encantar.
— “Se o mundo
soubesse, se o mundo conhecesse a riqueza que aqui está encerrada ! Se as almas
bebessem todas nesta fonte cristalina ! Beber nesta fonte é beber em Jesus, é
beber no Céu. E Eu quero dar-Me, dar-Me, e é por ti que Eu me dou, minha filha.
É pelos teus lábios que Eu falo e peço. Evite o pecado quem o pode evitar. Evite
as ocasiões e os lugares do pecado quem tem poder para o fazer. Fale o Santo
Padre, fale aos homens do poder. De que vos valem os lugares que ocupais, se
condenais a vossa alma, se não defendeis a sério as causas e os direitos do
Senhor ? Fale o Santo Padre, fale ao mundo inteiro. Quem ouve o Papa ouve
Cristo. Quem atende ao Papa atende a Cristo. Quem atende obedece, salva a sua
alma. Recebe, minha filha, a gota do Meu Divino Sangue. Introduzi no teu coração
o Meu Divino Coração. Nele deixo ficar uma gota mais forte do Meu Preciosíssimo
Sangue. Tens necessidade de mais forte alimento, para mais sofreres”.
— Ó Jesus, o Vosso
Divino Coração é grande como o Céu e grande deixou o meu. Obrigada, bendito
sejais. Jesus, lembrai-Vos de todos os que eu amo, de todos quantos me
pertencem, de todos quantos querem as minhas pobres orações. Lembrai-Vos dos
meus inimigos que tanto me ferem. Perdoai-lhes, Jesus. Lembrai-Vos do mundo
inteiro e ao mundo inteiro perdoai.
— “Vai em paz,
minha filha, vai em paz; sorri sempre à tua dor, à tua cruz”.
— Obrigada,
obrigada, meu Jesus.
Esperei Jesus numa
fome insaciável. Só Ele podia satisfazer o meu coração. Quanto mais O amo,
quanta mais fome sentia d’Ele, mais longe O via e sentia de mim. Ele veio.
Pareceu-me que encheu toda a casa. Baixou ao meu coração. Logo a minha fome
devoradora ficou saciada. Aqueceu-me com o Seu amor, iluminou-me com a Sua luz,
e muito unidinhos, numa união que parecia inseparável. Após alguns momentos,
ouvi a Sua voz :
— “Minha filha,
minha filha, sou paz, sou doçura, sou amor. Quero-te mergulhada nesta paz.
Quero-te nela, numa inundação completa. Eu não quero, minha filha, que nenhum
dos teus sofrimentos te tirem a paz, que só de Deus vem. O Senhor é contigo.
Jesus está no teu coração. É o agricultor deste terreno mimoso. É o jardineiro
deste jardim formoso. Escondo-me, perco-me entre tão variadas flores. Delicio-me
no seu perfume. Ó minha filha, se houvesse muitos corações onde Eu pudesse
deliciar-me !... Se houvesse muitos corações que me amassem loucamente! Se
houvesse muitas almas reparadoras, o meu Eterno Pai não castigava com todo o
peso da Sua justiça divina. A terra é culpada; os pecadores viciaram-se nos seus
crimes. O mundo, o mundo é só digno de punição divina”.
— Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, perdoai, perdoai hoje, perdoai sempre. É certo que merecemos sobre
nós toda a justiça, mas olhai, meu Jesus, dizei ao Vosso Eterno Pai que olhe
para a Sua divina misericórdia. Pedi-Lhe, pedi-Lhe que perdoe, e perdoai Vós
também. Usai para nós toda a misericórdia. Utilizai-Vos da vingança do amor.
— “Sofre, sofre,
minha filha. Dá à Santíssima Trindade toda a reparação. Dá-Nos toda a consolação
e alegria. Dá-Nos todo o amor, como se fora o amor de todos os corações. Diz a o
teu paizinho que o Senhor é recto e é infalível nas Suas promessas. Eu amo-o e
não falho. Amo-o e não falto ao que prometi. Sou recto com os que procedem mal.
Sou justo com os que vão contra a minha Santíssima Vontade, com os que se opõem
a ela. É justo, é justo o meu castigo. Hão-de ser justas as minas contas.
Diz-lhe que o amo, que o amo, que lhe dou todo o amor e que o quero com toda a
minha paz. Que se encha de mim, da minha ternura, da minha paz, do meu amor. Que
se encha da medicina divina, que é a medicina das almas. Ele é mestre e guia
delas. Escolhi-o, escolhi-o para isso. É a missão mais árdua e mais espinhosa.
Que tenha coragem, que tenha coragem ! É contado no número dos meus santos. É o
eleito do senhor. Diz, minha filha, ao teu médico que mãos à obra, mãos à causa
do Senhor. Olhos no Céu, confiança inabalável em Deus. Eu quero, eu quero que se
faça a justiça, a justiça divina à causa mais justa, à causa maior que Jesus tem
na terra. Haja luz. Faça-se toda a luz. São as almas, são as almas. É Jesus que
assim o quer, é o mundo a exigi-lo. Faça-se luz. As almas são minhas, necessitam
de luz. Haja luz. Faça-se luz. As almas são minhas. A causa deste Calvário é a
de maior salvação. Ai dos que julgam mal, ai dos que se opõem, porque também
hão-de ser julgados por mim. Tudo o que eu permito e faço é do mais alto e
elevado valor. Dá, dá ao teu médico e Meu queridíssimo filho a chuva das minhas
graças, a efusão do meu amor. Que as faça cair sobre o seu jardim florido, que o
incendeie em todas as minhas chamas. Vem, minha Mãe bendita, vem, vem ó Virgem
das Dores. Une-te à nossa filhinha. Conforta-a, conforta-a. Minha filhinha,
minha filhinha, esposa predilecta do meu Jesus, olha para mim. Vê quanto Eu
sofro, vê os espinhos que cercam o Meu Santíssimo Coração. Vê as setas que O
trespassam. Anima-te, alegra-te comigo. Jesus assemelhou-te a Ele e
assemelhou-te também a Mim. Seja essa a causa da tua alegria. O pai e a mãe
alegram-se com os filhos que os parecem. E os filhos, se amam verdadeiramente os
pais, alegram-se por se parecerem com eles. Une-te, minha filha, une-te às
minhas dores. Aceita as minhas setas, recebe os meus espinhos. Suaviza as dores
do Meu Divino Coração, suaviza as dores do Coração Divino de Jesus”.
— Sou eu, Mãezinha,
com toda a alegria que as tiro do Vosso Coração Santíssimo para o meu. Sou eu a
enlear em mim os espinhos que cercam o Vosso. Quero sofrer por Jesus. Quero
sofrer por Vós, para salvar as almas. Quero alegrar a Jesus e alegrar-Vos a Vós,
para que as almas vivam alegres, eternamente. Ó Mãezinha, ó Mãezinha, o Vosso
Santíssimo Coração confortou-me tanto! Encheu-me de Vós! Os Vossos lábios
puseram nos meus toda a doçura.
— “Recebe em
uníssono as minhas carícias com as de Jesus”.
— Obrigada, Jesus,
obrigada, Mãezinha. Não quero deixar, nestes momentos de tanta felicidade, de
lembrar aos Vossos Santíssimos Corações todos os corações do mundo inteiro,
todos os corações amigos e inimigos, conhecidos e não conhecidos, fiéis e
infiéis, o mundo inteiro.
— “Coragem,
coragem, minha filha, sofre tudo. Dá-Nos, dá-Nos toda a reparação. Dá-Nos tudo
quanto te pedimos e em troca leva, como desejas, tudo o que é Nosso, para os que
amas, para os que te pertencem, para o mundo inteiro”.
— Obrigada, Jesus,
obrigada, Mãezinha.
Parece-me que vi
cair por terra o próprio Céu, com todas as suas grandezas, maravilhas e riquezas
infinitas. Vi como que destruído tudo o que é do Senhor. Tal foi a dor que
senti, tal foi o punhal que foi cravado no meu coração ! Saiu certo o
pressentimento da minha alma, que já há tempos me consumia. Eu esperava alguma
coisa, sem saber o quê. Eu tinha, e tenho medo, de tudo e de todos, e com razão.
As coisas surgem, os sofrimentos vêm, muitas vezes daqueles que menos esperava.
Apesar de que, desta vez, era daqui que eu os pressentia. Nova proibição me foi
feita. Meu Deus, que ódio contra mim ! E a quem eu mais ofendo, meu Jesus, é a
Vós. É por fraqueza, porque eu só queria amar-Vos. Ao meu próximo procuro não o
ferir. Mas eu quero sofrer inocente toda a vida e não culpada um só momento. No
primeiro sábado, depois do colóquio com Jesus e com a Mãezinha, pelas Suas
palavras divinas, fiquei convencida de que algum sofrimento de novo ia surgir.
Contudo, a minha alma estava forte e cantava à espera do que Jesus lhe enviava.
Foi ao cair da tarde que uma carta me veio trazer a notícia da proibição. Foi
tão aguda a punhalada que me deixou o coração vazado de um lado ao outro. E mais
ainda : senti como se esse mesmo punhal estivesse preso em árvores e eu presa a
ele, sujeita ao rigor de toda a tempestade, baloiçada pelos ventos o mais
pavorosamente. Não chorei. Com os olhos fitos no Céu, louvava e bendizia ao
Senhor. Durante a noite, nas horas mais agitadas, quando a tempestade tudo
destruía, quando as ondas do sofrimento me submergiam, eu, só com o coração,
porque com os lábios não podia, dizia : meu Deus, meu Deus, valei-me, Jesus, sou
a Vossa vítima, Mãezinha, vinde em meu auxílio. Ah ! Se eu sofresse sozinha !
Mas oh ! Quantos sofrem por minha causa ! A minha vida mais parecia aquilo que
sempre sinto: só ilusão, engano e mentira. Mas tudo isto sem eu querer. Não
tinha ninguém por mim, nem no Céu nem na terra. Depois de tomar a resolução de
participar a notícia ao meu santo médico, porque me parecia sentir alívio se ele
compartilhasse da minha dor, outra ideia me surgiu ; foi um impulso fortíssimo
da alma e do coração. Vou escrever ao Santo Padre e ao sr. Cardeal, vou
contar-lhes a minha vida, dizer-lhes quanto sofro, pedir-lhes as suas bênçãos,
dizer-lhes que se compadeçam de mim e que me tomem por filha, que me dispensem a
sua amizade, que sejam eles por mim. Meu Deus, não quero acusar ninguém. Quero
sofrer sozinha, convosco, no silêncio, abandonada e ignorada por todos. Não
queria escrever mais, não queria receber mais visitas, viver só, mesmo só nesta
noite tenebrosa, na noite total, na inutilidade de tudo. Quando assim sofria,
não sentia consolação, mas, no íntimo da minha alma, reinava a paz. Ela nascia
como nasce o sol, crescia, enchia-me. E, no meio deste abandono, o meu coração
ficava como que preso ao Céu por uma cadeia de fogo. A alma parecia ter braços,
os quais se abraçavam fortemente ao Senhor, sem O ver, sem O sentir; baloiçava
ao rigor do vento, na brisa da tempestade. Parecia-me que a cadeia do coração e
os braços da alma eram levados por uma força infinita para o ar. A alma
compreendia que era o sofrimento que mais a aproximava do Senhor. A inutilidade
roubava-me todo o sabor que daqui podia tirar. No Domingo, depois da Sagrada
Comunhão, quando no mar da minha amargura eu pedia a Jesus que não deixasse
enganar-me ninguém, pareceu-me ouvir d’Ele estas palavras :
— “Minha filha, não
sou Eu o Caminho, a Verdade e a Vida ? Confia, Eu sou a Verdade suma. Vives de
mim, vives a minha vida. Não te enganas. Poderia Eu deixar enganar-se uma esposa
querida, que tanto assemelhei a Mim ? Confia, tem coragem”.
Muitos espinhos
surgiram deste sofrimento. Tenho-os recebido por amor a Jesus e às almas,
repetindo sempre a minha oferta de vítima. Custou-me a desistir da resolução
tomada, de não escrever mais. Obedeci por amor. Continuo a mesma vida, enquanto
assim aprouver ao Senhor. Cheguei a dizer a alguém: se é meu amigo, não me
obrigue a escrever mais. O amor a Jesus venceu-me. Que Ele me perdoe os meus
desânimos e desfalecimentos. A doença inesperada do meu santo médico, a quem
tanto devo pelo seu amparo, aumentou-me o sofrimento. Adoeceria por minha
causa ? Afligir-se-ia com as minhas coisas ? Ó Jesus, curai-o, Vós sois o médico
divino. Tenho tantos desalentos e tentações contra a Fé ! Não só sinto em mim
todo o número de pecados com toda a sua maldade, como sinto e quase chego a
convencer-me por alguns momentos que não vale a pena sofrer, que nada existe,
morrendo eu tudo acaba. Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso, criador do Céu e da
terra. Aparta-te de mim, maldito, não quero ofender ao Senhor. Creio em tudo o
que ensina a Santa Igreja Católica. A custo tenho abatido a minha vontade de
escrever ao Santo Padre e a Sua Eminência o Sr. Cardeal, tal é a necessidade que
tenho de encontrar um coração amigo, no qual eu possa descansar. Estou sempre a
receber espinhos e lançadas para o meu coração. Ai quanto se sofre ! Como Nosso
Senhor é grande, como Ele é bom ! Oh ! Quanto eu podia aproveitar, se soubesse
amar e abraçar a minha cruz ! A tempestade não cessa. O meu Horto de ontem foi
um vendaval derrotador. Fiquei no solo do Horto, presa com fortes grilhões de
ferro. Eu caminhava sob o peso da dor, como um pequenino verme sob o peso da
terra. Caíram sobre mim toda a espécie de feras, destruíram o meu corpo,
chuparam-me todo o sangue. Durante a noite, fiz-me prisioneira com Jesus, e de
manhã Ele seguiu sozinho para o Calvário. Vi-O caminhar, levando aos ombros a
cruz, mas não O quis acompanhar. Fiquei na inutilidade. Veio a Mãezinha da
Dores, tomou-me o coração, fê-lo sofredor como o d’Ela e seguiu a Jesus,
lacrimosa. O meu coração chorava também. Juntaram-se no Calvário. Jesus na cruz
e eu com a Mãezinha ao pé. Sofríamos a mesma dor e agonia, juntavam-se as nossa
lágrimas mo Seu preciosíssimo sangue que regava o Calvário. Os olhos da Mãezinha
levavam os meus a fitar Jesus na cruz. As Suas lágrimas passavam pelos meus
olhos. A Sua dor no meu coração, ao mesmo tempo que com ela, murmurava : “Tu és
meu Filho, Eu sou tua Mãe. A minha agonia é a tua agonia”. Num prolongado brado,
agonizei. Ressuscitei da morte com a voz de Jesus, que dizia :
— “Do silêncio da
morte rompe a voz de Jesus. O que vem Ele dizer, o que vem Ele pedir ? Vem dizer
que está triste, muito triste. Vem pedir a uns corações que O amem mais, muito
mais, e a outros que deixem de O ofender. Escutai, escutai, é Jesus quem fala
pelos lábios da Sua vítima. Escutai, escutai. É Ele quem pede no coração da Sua
esposa amada. Eu tenho sede de amor, Eu tenho sede das almas. O meu Coração está
triste e muito triste, porque muito é ofendido. Está triste o meu Coração,
porque triste está o meu Eterno Pai. Amai a Jesus, amai as coisas de Jesus, amai
a Lei do Senhor. Deixai o pecado, detestai o pecado. Odiai, odiai para sempre o
pecado. Minha filha, minha filha, estou todo chagado, todo em sangue. Os
pecados, os pecados são os meus açoites, descarnam as minha carnes santíssimas.
Sou descarnado, sou despedaçado. Ó minha filha, ó minha filha, as maldades, os
crimes abriram-Me o peito, alancearam-Me o coração. Olha como ele sangra! Repara
nesta chaga tão profunda !”
— Eu vejo, Jesus,
vejo o peito e sinto as Vossas chagas. Sinto as minhas carnes despedaçadas, como
vejo as Vossas. Sinto o meu coração aberto e a sangrar, como vejo o Vosso. Que
fontanário de sangue ! De nada vale o que eu tenho sofrido, nem o que sofro, meu
Jesus. Se valesse alguma coisa o meu sofrimento, Vós não sofreríeis assim !
— “É isso mesmo,
minha filha, é isso que Jesus quer que tu compreendas. Tudo isto Eu tinha
sofrido, se tu não tivesses desta forma reparado. Sofre, sofre com alegria e
heroicidade. Repara sempre o Meu Divino Coração, para que Ele não sofra o que tu
sofres e o que te parece eu sofrer. Sofre, para que Jesus se alegre, sofre, para
que Jesus perdoe. A tua dor, minha filha, a tua reparação leva-me a esquecer os
pecados do mundo. A tua dor, o teu martírio levam o Meu Divino Coração à
compaixão pelos pecadores. Sou Pai, quero perdoar. Sou Senhor, quero ser
servido. Servi a Lei do Senhor, conduzi as almas a Jesus. Tenho sede, sede deste
coração amoroso. Dai-Me almas. Ide à busca, ide à conquista das almas”.
— Ó Jesus, ó Jesus,
se eu pudesse arrancá-las todas ao demónio ! Se eu pudesse fechar para sempre as
suas garras malditas ! As almas, Jesus, as almas !... Que pena eu tenho das
almas ! Amo-as tanto, porque são Vossas filhas, amo-as, porque Vós as amais,
amo-as, porque custaram o preço do Vosso Divino Sangue.
— “Coragem,
coragem, minha filha. A tua dor tem força para tudo o que tu queres, para todas
as tuas ânsias. Ela tem a força de Jesus, e as tuas ânsias são de Jesus. Vem
receber a gota do Meu Divino Sangue. Introduzi no teu coração o tubo doirado. A
ele uni o Meu Divino Coração, e a gota do sangue passou. Foi gota maior, mais
forte ainda. Para o aumento da dor, mais necessitas da força e vida divina. Eu
permiti que a tua dor fosse aumentada. Eu consenti no teu Calvário mais
doloroso, porque a gravidade dos crimes assim o exige. Os homens vão contra a
vontade santíssima do Senhor. Eu permito, eu consinto, para o bem das almas. Se
não fossem estas, eu punia-os no mesmo momento. Tem coragem, minha filha. O
Senhor está contigo. Jesus vela por ti. Jesus vence, vence e triunfa em ti. Vai
em paz. Vai em paz. Dá a minha paz. Dá-a em nome de Jesus. Dá-a com o amor de
Jesus. Pede aos pecadores emenda de vida. Pede ao mundo oração e penitência”.
― Obrigada,
meu Jesus. Não Vos separeis de mim. Lembro-Vos neste momento as minhas grandes
intenções. Peço-Vos perdão para o mundo inteiro.
Não há remédio para
mim, nem para o corpo, nem para a alma. As minhas dores não são suavizadas. O
corpo está num fogo, numa dor só. Não posso falar. A alma está na noite mais
tenebrosa, na mais tormentosa agonia. É um mar agitadíssimo, e eu envolta nas
ondas, não tenho quem me valha, não tenho salvação. Quando me cravam punhais
mais agudos, e os espinhos me surgem, de novo penetram mais fundo, fico louca,
louca de dor, a perder aquela vida, que já só parece morte. A alma agoniza, o
coração sangra e, ao mesmo tempo, parece romper em hinos de louvor e
agradecimento ao Senhor. Jesus, eu amo-Vos, sou a Vossa vítima, seja tudo por
Vosso amor. Salvam-se as almas. Sem sentir alegria, sem sentir consolação, sinto
que, no meu íntimo, ao mesmo tempo que sangro e agonizo, sinto paz, uma paz que
alimenta, que dá a vida. Por momentos, todo o meu ser se mergulha nela. A
inutilidade mete-se logo a roubar-me todo o sabor; nada chego a saborear. Ó
vontade do meu Deus, só tu és a minha vontade, custe o que custar. Não quero
outro viver, Senhor, a não ser aquele que para mim escolheste. E, assim
abandonada a Jesus e à Mãezinha, passo os dias à espera do meu grande dia, do
meu Céu. Se a minha ignorância me deixasse falar do que sinto em mim, no coração
e na alma, nas ânsias de sofrer, nas ânsias de amar e de dar almas a Jesus, não
podia calar-me, parece que tinha de falar sempre, enquanto o mundo durasse. Não
posso e não sei. Mas o brado da minha alma parece que no silêncio da minha
ignorância fala à humanidade inteira a dizer-lhe tudo, a mostrar-lhe tudo, a
pedir-lhe para amar e não ofender o Senhor. Ontem, passei o dia nas amarguras
que ficam ditas, mas sem pensar no Horto, sem viver dele uma vida inteira.
Principiei a sentir uma dor profunda. Apoderou-se tanto de mim que quase não
resistia. Era superior às minhas forças, parecia que me arrancava o peito e as
entranhas. Fiquei esmagada sobre aquele solo duro e ali derramei o meu sangue.
Se por um lado sofria, pelo outro vivia indiferente a tudo. E assim passei hoje
a viagem do Calvário, na indiferença e na inutilidade, fugitiva e desaproveitada
de todos os sofrimentos de Jesus. Quase ao terminar da montanha, a dor era tão
dolorosa e profunda e eu sem saber como, principiei eu a cravar punhais no meu
coração, um após outro. Era eu, era no meu coração e não era a mim que feria.
Não, não era, era a Jesus que eu apunhalava. Fui eu que O crucifiquei na cruz.
Fui eu a cuspir-Lhe e a escarrar-Lhe no Seu santíssimo rosto. Fui eu que O fiz
agonizar. Só no momento de Ele expirar é que eu juntei o meu brado ao Seu e com
tal força que o Céu rasgou-se. Toda a terra escureceu, fez-se noite. Jesus
expirou e por uns momentos pareceu-me também passar pela morte. Jesus, a
verdadeira vida, deu entrada no meu coração. Pareceu que abriu portas e janelas,
iluminou-o todo e falou-me assim :
— “O mundo dorme
num sono profundo, mas pavoroso sono. Os pecadores dormem no sono dos vícios e
das paixões. Os pecadores dormem no sono da perdição, o sono que os leva ao
inferno. Minha filha, minha filha, estou no teu coração. Estou em ti para
desabafar, estou em ti para conformar-te. Tem coragem, tem coragem, é
indispensável a tua dor. Acorda, acorda, desperta os pecadores deste sono de
perdição. Ai deles, ai deles, minha filha. Sofre, sofre, alegra o meu Divino
Coração. Repara o Meu Divino Coração. Eu quero oferecer ao meu Eterno Pai uma
reparação que aplaque a Sua divina justiça. Minha filha, minha filha, se os
pecadores não exigissem tal sofrimento, Eu não consentia, Eu não dava tanta
larga aos homens que se opõem contra a minha divina vontade”.
— Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, eu sinto que Vós estais no meu coração, mas não me pareceis aquele
Jesus cheio de ternura, de bondade e amor. Sinto que a minha alma Vos vê como
juiz, mas um juiz severo e justiceiro. Ó Jesus, ó Jesus, parece-me, sinto que
tenho medo de Vós. Não recebo nenhum conforto… oh ! se eu pudesse fugir-Vos !
— “Paz, paz, paz,
minha filha à tua alma. Amor, amor, amor do teu Jesus para o teu coração. Eu
quero, por ti, mostrar ao mundo o que será o julgamento de cada pecador, de cada
alma. Eu quero, mesmo que nos colóquios mais íntimos comigo tu repares o meu
Divino Coração. Se os pecadores pudessem fugir-Me no seu momento final !...
repara, repara, para que Eu não seja obrigado a mandá-los apartarem-se de Mim
eternamente. Minha filha, minha filha, é dolorosa a minha dor. É triste,
tristíssimo o meu desabafo. Minha filha, minha filha, tenho que assemelhar-te a
Mim. Tem que ser dolorosa, profunda, a tua dor. Tem que ser triste, tristíssimo
o teu Calvário. Tem coragem, tem coragem, Jesus ampara-te, Jesus vela por ti”.
— Ó meu Jesus, ai
meu Amor, tantas vezes desfaleço ! Por tantas vezes, chego quase a duvidar de
Vós, da Vossa vida em mim. Perdoai-me, perdoai-me. Não me deixeis sozinha.
— “Coragem,
coragem, minha pomba bela, florinha eucarística. Vejo o teu coração, vejo a tua
alma, vejo as tuas ânsias. Sim, sim, neste Calvário, encontrei uma vítima
heróica. Sim, sim, neste Calvário, encontrei uma verdadeira esposa, uma alma
mais altamente imolada”.
— Ó meu Jesus, ó
meu Jesus, neste Calvário encontrastes a alma mais pobrezinha, mais cheia de
misérias, mas também cheia de querer cumprir a Vossa Santíssima Vontade com toda
a perfeição, cheia, cheíssima de ânsias de Vos amar e de Vos dar a todas as
almas. Sou pobrezinha, enriquecei-me, Jesus. Fazei de mim o que Vos aprouver.
— “Vem receber a
gota do meu Divino Sangue. Já passou para o teu coração o alimento divino.
Levou-te a vida de que vives. Levou-te o amor com que suportas toda a dor. Tem
coragem, tem coragem, o teu Calvário é semelhante ao de Jesus. É Calvário de
resgate, é Calvário de salvação. Fica na cruz. Triunfa nela com o teu sorriso.
Esconde nela toda a dor que Eu te enviar. Vai em paz, minha filha, vai em paz.
Dá a minha paz, dá o meu amor a todos quantos se abeiram de ti. Pede ao mundo,
minha filha, que arrepie caminho, que volte para Jesus”.
— Ó Jesus, muito
obrigada. Lembro-Vos todas as minhas intenções. Sabeis bem por onde principio e
por onde acabo.
— “Coragem,
coragem, minha filha, na tua missão nobilíssima”.
— Obrigada, Jesus,
obrigada, Jesus.
Parece que vivo
fora de Deus, fora de tudo o que Lhe pertence. O mundo traiçoeiro, enganador,
com todos os seus crimes, está dentro de mim, e eu em tudo o que é matéria e
podridão estou transformada. Passo o meu tempo a apunhalar o Coração Divino de
Jesus. Se eu pudesse mostrar o ódio que parece existir dentro de mim contra
Ele ! Se as almas pudessem ver como eu sou cruel, como escarro no rosto
santíssimo de Jesus, como eu o açoito e renovo toda a Sua Santa Paixão! Que
escândalo, que escândalo ! Como elas se apavoravam de mim! Só eu sou criminosa
no mundo. Só eu sou loucura nas paixões e veneno para as almas. A minha alma vê
a maior parte da humanidade a desfazer-se na lepra do pecado, a cair morta e
envenenada por mim. Meu Deus o que eu sou! O que é o pecado ! Que contas Vos
poderei eu dar de tantos crimes! Ai de mim, sou esmagada pela justiça do Senhor.
Todo o meu ser fica por ela desfeito no solo da terra. Ai de mim, que sou só
pecado e inutilidade para o bem. Nada em mim de bom se aproveita. A noite é
tenebrosa, o abandono é do Céu e da terra. Não posso fazer outra coisa a não ser
abandonar-me à Providência e confiar, confiar sempre, sem o sentimento de que
confio e tudo espero do Senhor. É tremenda a minha maldade. Os meus olhares têm
o veneno de todo o inferno. Todos os meus sentidos são faíscas de fogo infernal,
com a maior maldade para todos os crimes. Parece-me que nenhum pecado para mim é
oculto, e que conheço toda a gravidade com que eles são feitos. Uma dor pungente
e infinita invadiu-me o coração e a alma. Esta chora lágrimas de sangue. Meu
Deus, não faço outra coisa senão falar de dor, sem nada dizer, devido à minha
ignorância. Ânsias de perfeição e amor não me faltam, enchem mais que o mundo,
parece-me que são ânsias do Céu. Não tem fim, mas a inutilidade rouba-lhe o
saber. No esquecimento e na inutilidade passei o meu dia de ontem, mas numa
tristeza e agonia indizíveis. Era já noite e apresentou-se diante do meu coração
uma bola que representava e continha o mundo. Senti por ela um amor louco, uma
infinita atracção. Quis entrar nela, principiei a rodá-la. Não tinha entrada. Só
o meu sangue podia amolecê-la, a ponto de eu entrar e nela poder viver e reinar.
As veias romperam-se, banhei a terra com o sangue. Tudo isto me abriu o caminho
para o Calvário. Os meus braços foram despregados da cruz, e ao mesmo tempo o
coração serviu de escada por onde foi descido Jesus. Ai, quanto sofri! As horas
da noite foram um Calvário de sofrimento. Uni-me a Jesus na Eucaristia, pedi-Lhe
que a Ele me prendesse, como Ele foi preso na noite da Sua Santa Paixão. De
manhã segui atrás d’Ele para o Calvário. Segui-O não por compaixão nem amor, mas
sim odienta e perseguidora. Não fiz outra coisa senão açoitá-Lo, arrastá-Lo e
atirar-me sobre Ele e sobre a cruz. O amantíssimo Jesus não podia respirar. A
cada momento parecia-me perder a vida. No cimo da montanha, Ele ficou pregado na
cruz. E eu continuei contra Ele, com um ódio infernal! Ele olhava-me com olhares
de ternura e convite. O meu ódio mais se enfurecia, e, em recompensa de tanto
amor, escarrava-lhe no rosto. Jesus rompeu num brado doloroso, que fez
estremecer toda a terra. Num dado momento senti como se o Seu Divino Coração
saísse para fora do peito e viesse de encontro ao meu. Parecia mesmo que Jesus
queria devorar-me. Ainda resisti ao Seu amor infinito ; causei a Jesus uma dor
mortal. Foi num brado dolorosíssimo que Ele expirou. Eu não morri com Ele, mas
parecia-me desaparecer da face da terra. Não levou muito tempo que Jesus
entrasse no meu coração, triunfante da morte e com a Sua luz, com a Sua graça;
iluminou-me, fortaleceu-me e falou-me assim :
— “Andam por tão
longe as almas. Andam tão fugitivas do Meu coração divino. Abeiram-se de Mim só
para Me apunhalarem, só para Me fazerem sofrer. Eu tenho sede, Eu tenho sede, Eu
quero beber nos seus corações. Tenho ânsias de ser amado. Eu quero possuir em
Mim a humanidade inteira. Eis os teus sofrimentos, eis os teus sentimentos. Tudo
o que em ti se passa é obra de Deus, é a vida de Jesus. Os teus sentimentos são
os sentimentos de Jesus. As tuas ânsias as Suas ânsias, a tua dor a Sua dor. Eu
anseio ser amado, sofro por ser ofendido. Tu anseias dar-me as almas. Sofres
porque elas Me fogem. És vítima, minha filha, és vítima. Este Calvário é
semelhante ao de há vinte séculos. A vítima imolada foi cópia tirada da
inocente, de Jesus. Coragem, minha filha, as tuas incompreensões são provas do
amor de Jesus. Tens de ser odiada e perseguida. Eu fui perseguido na minha vida
na terra, sou perseguido, maltratado agora nos sacrários. Essa perseguição chega
ainda ao Céu. Todos os crimes do mundo ferem o Meu divino coração. Toda a
maldade dos homens desafia a justiça do Meu Eterno Pai. Alerta, alerta, é Jesus
que previne, é Jesus que avisa, é Jesus que pede. Alerta, alerta. Não vos
descuideis, filhos meus. Não tendes tempo de olhar para trás. O Pai, que vos
avisa, ama-vos mais que todos os pais da terra. O Senhor, que vos chama, quer
dar-vos o Seu reino. Ó minha filha, sofre, sofre, minha filha, minha querida
esposa. Minha esposa, a quem dei e dou o título de florinha eucarística. Esposa,
a quem dei e dou o título de Mãe dos pecadores, de Mãe da humanidade. A mãe dá
o sangue a seus filhos e quantas vezes a própria vida. Sofre, sofre, deixa-te
imolar. Os pecadores perdem-se, os pecadores condenam-se eternamente. Quem fala
é Jesus, quem avisa é o Juiz que os condena. Sofre, sofre, minha filha, para que
Eu não lhes lavre a sentença de condenação eterna”.
— Ó Jesus, ó Jesus,
sofro quanto me dais. Nada recuso. É só por Vosso amor e para Vos salvar as
almas. Bem sabeis que não é com o fim da glória que me espera. Sofro mal, bem
sei que sofro, meu Jesus. Perdoai-me. Não sei, nem tenho forças para sofrer
melhor.
— “Tem confiança.
Minha filha, estou pronto a auxiliar-te. Auxilio-te porque é grande, é grande,
imensamente grande a tua a tua cruz. Auxilio-te, porque para muito te escolhi.
Auxilio-te, porque é árdua e dificílima a tua missão”.
— Conto convosco,
Jesus, conto convosco. A minha alma vê não sei o quê.
Tudo em desordem, tudo a destruir-se. Tenho visto, Jesus, por tantas vezes, ao
menos durante a noite, destruição igual a esta.
— “Sim, sim, minha
filha, muitas vezes te tenho mostrado, à tua alma, esta destruição. São ameaças
do Céu. A justiça do Senhor, que vai descendo sobre a terra. Ai dela, ai das
almas, se não se convertem! Vem receber a gota do Meu Divino Sangue. Estão
unidos os nossos corações. Está unido o nosso amor. Passa a gotinha de sangue,
passa lentamente. Enche-te da minha vida, da minha graça, do meu amor. Fica na
tua cruz. Tens muito que sofrer, minha filha. Tens muitas almas a salvar”.
— Jesus, sou a
Vossa vítima. Dai-me força, dai-me força, sem Vós não posso. Lembrai-Vos dos
meus pedidos. Atendei às minhas preces. Atendei, atendei, atendei, meu Jesus.
Perdoai ao mundo. Obrigada, meu Jesus, obrigada, meu amor.
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